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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E HIPÓTESES DE PESQUISA

2.2. MEDIADORES DA RELAÇÃO ORIENTAÇÃO PARA O

2.2.2. Cultura Inovadora

A cultura inovadora, conforme Hurley e Hult (1998, p. 44), “é a noção de abertura a novas ideias como um aspecto da cultura de uma empresa”. Nessa linha, é destacado que a cultura inovadora é uma medida da orientação da organização para a inovação (HURLEY; HULT, 1998). Em termos mais específicos, a cultura inovadora é definida como uma faceta da cultura organizacional que reflete o quanto a empresa considera novos padrões; aceita e estimula novas abordagens direcionadas às necessidades do mercado; incentiva práticas que contestem suposições e premissas atuais; favorece atitudes pró-ativas; e, fomenta decisões que envolvem riscos (AUGUSTO; COELHO, 2009).

A literatura enfatiza que a cultura inovadora, quando combinada com outros recursos e propriedades estruturais da firma, gera uma maior capacidade de inovação, isto é, uma maior habilidade de adotar e introduzir novos processos, produtos ou ideias de forma bem- sucedida na organização (HULT; HURLEY; KNIGHT, 2004; HURLEY; HULT, 1998). No que tange a este assunto, é salientado que quanto maior a capacidade de inovação de uma empresa, mais ela é capaz de desenvolver e obter vantagens competitivas sustentáveis e alcançar maiores níveis de desempenho (HURLEY; HULT, 1998).

Neste sentido, a cultura inovadora é geralmente proposta como um pré-requisito e como um componente-chave para o sucesso e para a sobrevivência das companhias (HULT; HURLEY; KNIGHT, 2004; RHEE; PARK; LEE, 2010). Uma organização conduzida pela

cultura inovadora pode revelar uma série de atividades importantes para a inovação, como treinamento de empregados, pesquisas de mercado e investimentos em desenvolvimento de novos produtos (AUH; MENGUC, 2005). Na verdade, é por meio da cultura inovadora que os gestores idealizam soluções para os desafios e problemas empresariais, buscando contribuir com a performance e com a eficácia da empresa (HULT; HURLEY; KNIGHT, 2004).

Com base nessa perspectiva, vale destacar que o grau de cultura inovadora do empreendimento depende do quanto a administração adquire e age sobre as informações de mercado (AUGUSTO; COELHO, 2009; HULT; HURLEY; KNIGHT, 2004). Em linhas gerais, organizações inclinadas a desenvolver um comportamento inovador, com uma capacidade de inovar, são as que realmente atuam sobre a inteligência coletada, traduzindo o conhecimento obtido em ações práticas que podem resultar em produtos radicais ou incrementais (AUGUSTO; COELHO, 2009; HULT; HURLEY; KNIGHT, 2004).

É interessante notar que, na esfera acadêmica, existe uma distinção entre o construto de cultura inovadora e o fenômeno da orientação para o empreendedorismo (HULT; HURLEY; KNIGHT, 2004; RHEE; PARK; LEE, 2010). Essa diferenciação é apoiada na visão de que a orientação para o empreendedorismo é um construto baseado em atitudes que buscam determinados tipos de comportamentos, como a pró-atividade, enquanto que a cultura inovadora é um construto baseado em um comportamento que possui o propósito de atingir resultados e objetivos (HULT; HURLEY; KNIGHT, 2004; RHEE; PARK; LEE, 2010).

Outra divergência está relacionada às escalas de medição. A cultura inovadora normalmente é operacionalizada a partir de cinco itens propostos por Hurley e Hult (1998), por exemplo: “Na nossa empresa, inovações técnicas, baseadas em resultados de pesquisas, são facilmente aceitas”. Contrariamente, a inovatividade, representante da orientação para o empreendedorismo, é geralmente mensurada através de três itens elaborados por Covin e Slevin (1989), sendo um deles: “Em geral, os principais gestores da nossa empresa dão forte ênfase em pesquisa e desenvolvimento, liderança tecnológica e inovações”.

Neste panorama, a literatura estabelece que a orientação para o empreendedorismo pode ser considerada como um antecedente da cultura inovadora (RHEE; PARK; LEE, 2010). A premissa básica neste delineamento é que empresas orientadas para o empreendedorismo podem não necessariamente gerar automaticamente resultados positivos (RHEE; PARK; LEE, 2010). Como a orientação para o empreendedorismo é percebida como uma atitude direcionada para a busca de oportunidades, ao invés de um comportamento dirigido a ações inovadoras, é possível que seja necessária a inclusão de outro construto comportamental na equação, como a cultura inovadora (RHEE; PARK; LEE, 2010).

Partindo desse pressuposto, pode ser postulado que a orientação para o empreendedorismo, principalmente com sua propensão à pró-atividade e a assumir riscos, influencie positivamente a cultura inovadora e a capacidade da empresa inovar (RHEE; PARK; LEE, 2010). Essa capacidade, por sua vez, provavelmente vai permitir que as organizações desenvolvam uma vantagem competitiva, fundamental para atingir resultados de performance superiores (RHEE; PARK; LEE, 2010). Logo, a cultura inovadora pode ser um mediador estratégico no link entre orientação para o empreendedorismo e performance.

Hult, Hurley e Knight (2004) fortalecem essa visão ao defender que a cultura inovadora é um meio para mudar a organização. Para os autores, as empresas precisam adotar inovações que facilitem o alcance de algum tipo de vantagem competitiva, a fim de contribuir com o desempenho organizacional (HULT; HURLEY; KNIGHT, 2004). Hult, Hurley e Knight (2004), além disso, sustentam que a orientação para o empreendedorismo desempenha um papel chave no desenvolvimento e manutenção da cultura inovadora, independente do nível de turbulência existente no mercado.

De fato, um achado significativo do trabalho de Hult, Hurley e Knight (2004) é que a cultura inovadora atua como um mediador parcial na relação entre a orientação para o empreendedorismo e a performance empresarial. A justificativa para essas associações está embasada no fato de que a orientação para o empreendedorismo, ao incorporar as qualidades de pró-atividade, agressividade e iniciativa, pode impulsionar a criação de vários projetos de inovação que podem melhorar a performance (HULT; HURLEY; KNIGHT, 2004). Assim, a orientação para o empreendedorismo pode ser concebida como a faísca que inflama a empresa a estabelecer novos negócios ou renovar negócios atuais (HULT; HURLEY; KNIGHT, 2004). Como a cultura inovadora é um importante determinante da performance empresarial, é tarefa da gestão desenhar e implementar uma cultura organizacional que englobe a orientação para o empreendedorismo (HULT; HURLEY; KNIGHT, 2004). Portanto, em consonância com a perspectiva de Hult, Hurley e Knight (2004), espera-se que a cultura inovadora seja uma variável mediadora parcial na relação entre orientação para o empreendedorismo e performance. Essas considerações sustentam a inserção da seguinte hipótese no modelo:

Hipótese 3. A relação entre orientação para o empreendedorismo e performance organizacional é mediada parcialmente pela cultura inovadora.

2.3. MODERADORES DA RELAÇÃO ORIENTAÇÃO PARA O