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Cultura organizacional nas instituições de caráter público

PALAVRAS-CHAVE QUANTIDADE DE PESQUISAS

2.2.1 Cultura organizacional nas instituições de caráter público

Segundo Dias (1998), as organizações públicas têm como objetivo prestar serviços para a sociedade, e podem ser consideradas como sistemas dinâmicos, extremamente complexos, interdependentes e inter-relacionados coerentemente, envolvendo informações e seus fluxos, estruturas organizacionais, pessoas e tecnologias. Elas cumprem suas funções, buscando maior eficiência da máquina pública e melhor atendimento para a sociedade.

De acordo com Lopes Júnior et al. (2011), a cultura organizacional do setor público apresenta particularidades que merecem análises específicas. Os autores citam Drucker (2006), que atribuiu às organizações públicas um caráter estratégico para o desenvolvimento econômico, social, cultural e político de um povo, razão pela qual os serviços por elas prestados ganham importância significativa e reconhecida pela sociedade, em busca da melhoria do desempenho dessas organizações (LOPES JÚNIOR et al., 2011, p. 1827).

Considera-se também que

[...] as organizações de serviços públicos dependem em maior grau do que as demais do ambiente sociopolítico: seu quadro de funcionamento é regulado externamente à organização. As organizações públicas podem ter autonomia na direção dos seus negócios, mas, inicialmente, seu mandato vem do governo, seus objetivos são fixados por uma autoridade externa (DUSSAULT, 1992, p. 13).

Para o autor, as organizações públicas são mais suscetíveis à interferência do poder político, visto serem geridos pelo poder público. Elas têm como missão maior a prestação de serviços à comunidade, o que, na prática, se revela contrário à constante limitação de recursos disponibilizados pelo Estado e, quando eles existem, ficam condicionados aos interesses políticos (DUSSAULT, 1992). Na prática, essas interferências do setor político sobre as organizações ficam evidenciadas com as sucessivas trocas de ministros da área de Ciência e Tecnologia a quem se subordina o Instituto de Pesquisas em questão neste estudo.

Esta questão pode ser ilustrada, conforme quadro 6, sobre os ministros da área de Ciência e Tecnologia, no período de 1985 a 2015, constatam-se as mudanças de status desse ministério, que deixa de ser o Ministério da Ciência e Tecnologia para se tornar uma Secretaria subordinada ao Ministério do Desenvolvimento da Indústria e Comércio, de 29 de

64 março de 1989 a 29 de novembro de 1989, passando, em seguida, no período de 28 de novembro de 1989 a 14 de março de 1990, a ser simplesmente uma Secretaria Especial da Ciência e Tecnologia, e, voltando a ser ligada diretamente à Presidência da República, nomeada de Secretaria da Ciência e Tecnologia, assim permanecendo no período de 15 de março de 1990 a primeiro de outubro de 1992, retomando o status de Ministério da Ciência e Tecnologia a partir 27 de outubro de 1992.

No intervalo de 15 de março de 1985 a 31 de dezembro de 2014, totalizaram-se 18 titulares diferentes à frente da área de Ciência e Tecnologia, culminando com a posse do 19º ministro da República, em 1º de janeiro de 2015, nomeado pela Presidenta Dilma Rousseff, no início de seu segundo mandato presidencial.

65 Quadro 6 – Ministros da Área de Ciência, Tecnologia e Inovação – 1985 – 2015

NOME ÓRGÃO INÍCIO FIM PRESIDENTE

1 Renato Archer Ministério da Ciência e Tecnologia Mar/85 Out/87 José Sarney 2 Luiz Henrique da Silveira Ministério da Ciência e Tecnologia Out/87 Jul/88 José Sarney 3 Luiz André Rico Vicente Ministério da Ciência e Tecnologia Jul/88 Ago/88 José Sarney 4 Ralph Biasi Ministério da Ciência e Tecnologia Ago/88 Jan/89 José Sarney 5 Roberto Cardoso Alves Ministério da Ciência e Tecnologia Jan/89 Mar/89 José Sarney

6

Décio Leal Secretaria do Ministério do Desenvolvimento

da Indústria e Comércio Mar/89 Nov/89 José Sarney Décio Leal Secretaria Especial da Ciência e Tecnologia Nov/89 Mar/90 José Sarney 7 José Goldemberg Secretaria da Ciência e Tecnologia

(ligada à Presidência da República) Mar/90 Ago/91 Fernando Collor de Mello 8 Edson Machado de Sousa Secretaria da Ciência e Tecnologia

(ligada à Presidência da República) Ago/91 Abr/92 Fernando Collor de Mello 9 Hélio Jaguaribe Ministério da Ciência e Tecnologia Abr/92 Out/92 Fernando Collor de Mello

10

José Israel Vargas Ministério da Ciência e Tecnologia Out/92 Jan/95 Itamar Franco José Israel Vargas Ministério da Ciência e Tecnologia Jan/95 Jan/99 Fernando Henrique Cardoso 11 Bresser Pereira Ministério da Ciência e Tecnologia Jan/99 Jul/99 Fernando Henrique Cardoso 12 Ronaldo Mota Sardenberg Ministério da Ciência e Tecnologia Jul/99 Dez/02 Fernando Henrique Cardoso 13 Roberto Amaral Ministério da Ciência e Tecnologia Jan/03 Jan/04 Luiz Inácio Lula da Silva 14 Eduardo Campos Ministério da Ciência e Tecnologia Jan/04 Jul/05 Luiz Inácio Lula da Silva 15 Sérgio Machado Rezende Ministério da Ciência e Tecnologia Jul/05 Dez/10 Luiz Inácio Lula da Silva

16

Aloizio Mercadante Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação Jan/11 Ago/11 Dilma Rousseff Aloizio Mercadante Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação Ago/11 Jan/12 Dilma Rousseff 17 Marco Antonio Raupp Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação Jan/12 Mar/14 Dilma Rousseff Clelio Campolina Diniz Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação Mar/14 Jan/15 Dilma Rousseff 18 Aldo Rebelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação Jan/15 - Dilma Rousseff

Fonte: Elaborado pelo autor (2015)

Não foi objeto desta investigação mensurar como essas mudanças sucessivas ao longo dos anos impactaram o desenvolvimento dos projetos da área e se afetaram, coletiva e individualmente, os servidores do Instituto de Pesquisas em questão. Contudo, conforme será detalhado na discussão, há indicativos presentes nas falas dos participantes da pesquisa que sugerem prejuízos aos rumos da Instituição, aos servidores e, por conseguinte, ao desenvolvimento científico nacional. Cabe nesta direção o alerta feito por Pires e Macedo, (2006),

66 O desenho organizacional público, na realidade brasileira, normalmente é com formas bastante complexas e níveis hierárquicos múltiplos. Essa estrutura demonstra um paternalismo que gera um alto controle de movimentação de pessoal e da distribuição de empregos, cargos e comissões dentro da lógica dos interesses políticos dominantes. [...] são estruturas altamente estáveis, que resistem de forma generalizada a mudanças de procedimentos e implantação de novas tecnologias. A cultura da interferência política e administrativa vigente pode ser caracterizada como predominantemente regida por um governo de poucas pessoas e patrimonialista e, também, burocrática e corporativista. É esta cultura que orienta a prática das organizações públicas.

Pires e Macêdo (2006) discutem aspectos que possibilitam contextualizar a cultura organizacional das organizações públicas no Brasil. Como outros autores, utilizam-se de diferentes abordagens de cultura organizacional, especificamente de Fleury (1987) e Schein (2001). Contudo, é necessário conhecer a cultura que produz os atores de tal contexto, ou seja, aqueles que são os servidores públicos brasileiros.