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CAPÍTULO II OUTRAS BRINCADEIRAS

2.2 Cultura da convergência

2.2.2 Cultura participativa

A expressão “cultura participativa” pode ser tratada com inúmeros significados e abordada em diferentes campos, seja na Comunicação, na Educação, no Marketing, entre outros. Para Fechine (2014),

Fala-se em ‘cultura participativa’ para tratar de ações transmídias, de fandom, de jornalismo cidadão, de ativismo político, de engajamento cívico nas mídias digitais. Hoje, a expressão ‘cultura participativa’ é utilizada para tratar de um leque tão grande de manifestações que mais adequado seria nos referirmos a ‘culturas participativas’, realçando com o emprego do plural a ideia de que não estamos diante de um fenômeno único nem tampouco de um conceito monolítico. Estamos, ao contrário, diante de um mosaico de manifestações sustentadas pelo desejo de uma intervenção mais direta nos processos, quer sejam eles de caráter político, quer sejam motivados pelo consumo cultural (FECHINE, 2014, p. 10).

Nesse trabalho, adotamos como norte as referências de Henri Jenkins (2006, 2009), que entende as pessoas consumidoras de mídia, fãs, como possíveis membros de uma rede, que interagem entre si para criar e compartilhar novos conteúdos. Assim, o público fica empoderado a ponto de interferir na constituição da mídia, como no exemplo das fan fictions (ficção de fã), citado por Jenkins.

A expressão cultura participativa contrasta com noções mais antigas sobre a passividade dos espectadores dos meios de comunicação. Em vez de falar sobre produtores e consumidores de mídia como ocupantes de papéis separados, podemos agora considerá-los como participantes interagindo de acordo com um novo conjunto de regras,

37 que nenhum de nós entende por completo. Nem todos os participantes são criados iguais. Corporações – e mesmo indivíduos dentro das corporações da mídia – ainda exercem maior poder do que qualquer consumidor individual, ou mesmo um conjunto de consumidores. E alguns consumidores têm mais habilidades para participar dessa cultura emergente do que outros (JENKINS, 2009, p. 30).

Interessa-nos a forma pela qual essas pessoas, com habilidades diferentes em relação à apropriação das tecnologias de comunicação, interferem ou não na cultura midiática de seu tempo. Entendemos que essa interferência está diretamente relacionada com a possibilidade de comunidades de fãs capturarem “[...] amostras de diálogos no vídeo, resumir episódios, discutir sobre roteiros, criar fan fiction (ficção de fã), gravar suas próprias trilhas sonoras, fazer seus próprios filmes – e distribuir tudo isso ao mundo inteiro pela Internet” (JENKINS, 2009, p. 44).

Numa cultura participativa, a comunidade inteira assume uma parte da responsabilidade em ajudar os iniciantes na Internet. Muitos jovens autores começaram a redigir histórias sozinhos, como uma reação espontânea a uma cultura popular. Para esses jovens escritores, o próximo passo foi a descoberta da fan fiction na Internet, que forneceu modelos alternativos do que significava ser autor. No início, eles talvez apenas lessem as histórias, mas as comunidades fornecem muitos estímulos para que os leitores atravessem o último limiar para a redação e apresentação de suas próprias histórias. E depois que um fã apresenta uma história, o feedback que recebe o inspira a escrever mais e melhor (JENKINS, 2009, p. 251).

Para Jenkins (2006), uma cultura participativa deve reunir cinco características: 1) Varrer as barreiras para participação artística e incentivar o engajamento cívico; 2) Apoiar a criação e o compartilhamento como outras pessoas; 3) Haver algum tipo de orientação informal, em que pessoas com mais conhecimento sobre determinado assunto possam ajudar outras a terem acesso a esse conhecimento; 4) Ser formada por pessoas que acreditem que suas contribuições são importantes ao coletivo em questão; 5) Ser constituída por membros com alguma ligação social.

Nem todos os membros precisam contribuir, mas todos devem acreditar que são livres para contribuir quando estiverem prontos e que suas contribuições serão devidamente valorizadas. Em tal mundo, muitos vão se envolver mais superficialmente, alguns vão cavar mais profundamente, e outros ainda vão dominar as habilidades que são mais valorizadas dentro da comunidade. A própria comunidade, no entanto, fornece fortes incentivos para a expressão criativa e participação ativa. Historicamente, temos valorizado a escrita criativa

38 ou aulas de arte não só porque ajudam a identificar e formar futuros escritores artistas, mas também porque o processo criativo é valioso próprio; cada criança merece a chance de se expressar através de palavras, sons e imagens, mesmo que a maioria nunca escreva ou desenhe profissionalmente. Com isso, acreditamos que haja significativas mudanças na maneira como os jovens pensam sobre si mesmos e como eles olham para o trabalho criado por outros. (JENKINS, 2006, p. 6, tradução livre).

Jenkins (2006) conta da necessidade de incentivar jovens no desenvolvimento de habilidades e conhecimentos, estruturas éticas e de autoconfiança necessárias para a imersão plena na cultura participativa. Entretanto, ele lembra que muitos desses jovens já são agentes da cultura participativa ao promoverem algumas formas de participação, como: Afiliações: constituem associações em comunidades on-line, como Facebook ou clãs de jogos – adiciono aqui os grupos do WhatsApp, não existentes em 2006; Expressões: cunhando novas versões de forma criativa, como

fan fiction, blogs e outros; Colaboração na resolução de problemas: formando equipes

para completar tarefas e desenvolver novos conhecimentos, como Wikipédia e

spoiling; Circulações: alteram o fluxo de mídia, utilizando blogs e outros.

Para o bem ou para o mal, essa é a democracia na era da cultura da convergência. Nós, que nos preocupamos com o futuro da cultura participativa como um mecanismo para promover a diversidade e capacitar a democracia, não faremos nenhum bem ao mundo se ignorarmos o modo como nossa cultura atual está longe desses objetivos (JENKINS, 2009, p. 369).

Percebemos aí os enormes desafios que a cultura participativa traz para o cotidiano escolar e as relações de ensino e aprendizagem. Na análise dos dados desta pesquisa, um de nossos desafios é o entendimento dessas relações.

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