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Cultura pop e mídia de massa

No documento Colagem nos meios imagéticos contemporâneos (páginas 110-112)

CAPÍTULO 3: COLAGEM CONTEMPORÂNEA

3.1. COLAGENS RECORRENTES

3.1.3. Cultura pop e mídia de massa

Desde o aparecimento da colagem na arte moderna, este procedimento esteve relaciona- do à cultura de massa, sobretudo, por apropriar-se de textos e imagens oriundos de publicações de grande circulação e da publicidade.

Este fato tornou-se ainda mais evidente no universo da Arte Pop, quando retratos de ce- lebridades do cinema, fragmentos de revistas em quadrinhos e embalagens passaram a integrar os materiais componentes da arte de maneira crítica e/ou irônica.

Com o crescimento exponencial da importância dos meios de comunicação de massa e das novas tecnologias, as colagens contemporâneas passaram a trabalhar ainda mais as questões relacionadas ao consumismo, ao excesso, à reciclagem e à exposição da privacidade.

Os artistas escolhidos para exemplificar este tema na colagem atual, Kirstine Roepstorff, Tom Friedman e Patrick Hamilton trazem à tona a importância da imagem na sociedade atual, conforme nos coloca Guy Debord:

Quando o mundo real se transforma em simples imagens, as simples imagens tornam-se seres reais e motivações eficientes de um comportamento hipnóti- co. O espetáculo, como tendência a fazer ver (por diferentes mediações espe- cializadas) o mundo já não se pode tocar diretamente, serve-se da visão como o sentido privilegiado da pessoa humana – o que em outras épocas fora o tato; o sentido mais abstrato, e mais sujeito à mistificação, corresponde à abstração generalizada da sociedade atual (DEBORD, 1997, p. 18).

Para Kirstine Roepstorff, toda imagem é importante, mesmo que não pareça. Dessa maneira, a artista dinamarquesa cria complexas narrativas plásticas com as representações vi- suais disponíveis na mídia. Ela incorpora imagens de notícias tão facilmente quanto materi- ais históricos e imagens publicitárias, num processo de dimensionamento mecânico, fotocópia, recorte, composição e edição das obras finais.

Assim, ela explora a realidade dada, mesmo sabendo que esta é apenas uma construção. Além do papel, Roepstorff utiliza tecidos, couro e alumínio brilhante, o que dá ao trabalho final certa fisicalidade, senso de realidade e identidade, ao mesmo tempo, contribuindo para uma aparência por vezes caleidoscópica e visualmente esmagadora.96

Quando Roepstorff usa diamantes, flores e pérolas em suas obras não se deve entender estes objetos como mera decoração feminina. Estes enfeites são usados como imagens em si mesmas. Diamantes tradicionalmente representam um alto valor econômico. Como flores tam- bém são metáforas banais para valores transcendentes como a eternidade, fé, virtude e amor. 96

Informações extraídas do artigo It’s not the eye of the needle de Detta von Jouanne. Disponível em: http://www. flashartonline.com/interno.php?pagina=articolo_det&id_art=486&det=ok&title=KIRSTINE-ROEPSTORFF

Com alegorizações como estas, a artista reflete sobre temas como o desejo, a idolatria, a beleza, o sucesso e o poder a partir de perspectivas diferentes, extrapolando mentiras a fim de que o espectador lembre-se de que estas também são produtos da nossa sociedade.

Tom Friedman, por sua vez, transforma detritos cotidianos - pasta de dentes, spaghetti, aparas de borracha, plástico, canudos - em trabalhos extraordinários e irreconhecíveis. Entre suas obras representativas estão: uma esfera moldada a partir de mais de 1000 gomas de mascar usadas, um auto-retrato esculpido a partir de comprimidos de aspirina e uma escultura feita a partir de 30.000 palitos de dente. Além de transformar objetos comuns em objetos de arte, o artista causa profunda estranheza por meio das peças que cria.98

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Informações extraídas do artigo Queen of Diamonds de Cecilie Høgsbro. Disponível em: http://www.christina- wilson.net/template/t02.php?menuId=29

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Informações disponíveis em: http://www.frieze.com/shows/review/tom_friedman/

Figura 68: Kristine Roepstorff Eight Hanging, 2007

Da série It’s Not The Eye Of The Needle that Changed’,

técnica mista de colagem em duas partes, papéis variados sobre painel de madeira, 320 x 295 cm

Saatchi Gallery, Londres

Figura 69: Tom Friedman Mandala, 2008

impressão a partir de colagem, 106,68 x 132,08cm Five Colleges and Historic Deerfield Museum Consortium, Massachusetts

Seguindo a tradição da fotomontagem dadaísta, celebridades e políticos são satirizados em muitos dos trabalhos, nos quais cria quimeras humanas a fim de apontar as monstruosidades da vida contemporânea. Os trabalhos de Friedman apresentam ainda influências minimalistas e conceituais.

No trabalho Mandala (fig. 69), o artista transforma produtos de consumo em uma ima- gem transcendental. Sua arte é lúdica, porém meticulosamente pensada, caracterizada por uma atenção especial ao processo e ao uso de materiais efêmeros. Friedman também exibe um inter- esse quase científico sobre os sistemas de representação.

Outro artista que pode ser elencado nesta temática é Patrick Hamilton, que no ano de 2011 esteve na mostra Álbum: coletiva de fotografia contemporânea99, promovida pela Galeria Baró, em São Paulo.

O artista belga radicado no Chile cria trabalhos multimídias em que se esconde uma análise da estética da sedução usada nos contextos de consumo. Assim, ele apropria-se de for- mas advindas do design, da publicidade, da indústria do entretenimento e da moda, que seriam, para ele, um inventário da época pós-moderna. A contraposição de opostos articula este dis- curso e mostra as incoerências da globalização. (fig. 70)

Ele se interessa em analisar as relações difusas que ocorrem entre publicidade, trabalho, violência, lazer, e poder. E falo-nos ainda de uma “cosmetização cultural” que tem ocorrido nas sociedades de consumo.100

Dessa maneira, o “artista atua como um cirurgião que encontra imagens no corpus cultural, disseca-os e cola-os juntos para formar uma imagem ou emblema central”101. Suas produções utilizam-se de suportes pouco convencionais - serras, facas, espátulas -, que geram metáforas e suscitam reflexões acerca de conflitos sociais, militares e estereótipos culturais.

No documento Colagem nos meios imagéticos contemporâneos (páginas 110-112)

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