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7.2. Lei 11.232/05: Cumprimento da sentença

7.2.1 Das principais alterações da lei 11.232/05

7.2.1.2 Cumprimento da sentença

Esta é a parte mais sensível da mudança do processo de execução para uma nova fase, de cumprimento da sentença, agora como um simples procedimento do processo de conhecimento, estando regulado do artigo 475-I ao 475-R do Código de Processo Civil.

José Eduardo Carreira Alvim, discorrendo sobre a nova modalidade de cumprimento de sentença, afirma que:

Segundo as novas regras, na execução de sentença por quantia certa: a) não há mais ação nem processo de execução, senão simples pedido (ou requerimento) e procedimento executório; b) não há mais embargos do devedor, senão simples impugnação do pedido; c) não há mais sentença senão simples decisão.108

O artigo 475 I, diz que esta nova fase de cumprimento da sentença deve ser feita nos termos dos artigos 461 e 461 A do CPC, que dizem respeito às obrigações de fazer e não fazer, e, em tratando de execução por quantia certa, nos termos dos demais artigos deste capítulo (capítulo X, que regulamenta o cumprimento da sentença).

O §1º do artigo 475-I do Código de Processo Civil, informa a situação em que a execução é definitiva ou provisória, consistindo esta na execução fundada em decisão pendente de recurso recebido apenas no efeito devolutivo.

Novidade é a possibilidade prevista no §2º do artigo 475-I de que se promova, simultaneamente, a execução de parte líquida e a liquidação da parte ilíquida do julgado, o que por certo adiantará o andamento da ação pelo fato de não deixar parada a execução do crédito líquido aguardando uma liquidação de sentença que, como vimos, pode envolver perícia e outros elementos que, invariavelmente, atrasarão o cumprimento da parte que não carece da liquidação.

Entretanto, a grande inovação em busca da tão almejada celeridade processual fica por conta do artigo 475-J do CPC, ao determinar que “caso o devedor, condenado ao pagamento de quantia certa ou já fixada em liquidação, não o efetue no prazo de quinze dias, o montante da condenação será acrescido de multa no percentual de dez por cento e, a requerimento do credor e observado o disposto no art. 614, inciso II desta lei109, expedir-se-á mandado de penhora e avaliação”.

Tal regramento tem por claro objetivo em coagir o devedor ao pagamento de sua obrigação pecuniária dentro do prazo de 15 dias determinado pela lei, sob pena de aplicação de multa de 10% sobre o valor do débito e a expedição de mandado de penhora, com o qual os julgadores estão acrescentando mais 10% de honorários, tal qual era feito no antigo processo de execução de título judicial de quantia certa.

Esta multa é incondicionada, não se tratando, no caso, de astreinte, mas sim de pena, assemelhando-se à multa por descumprimento de contrato (inadimplência). Todavia, esta multa não incide no caso de execução provisória, já que incompatível o ato de recorrer e ser penalizado pelo não pagamento do débito ainda passível de recurso, mesmo que sem efeito suspensivo.

109 Art. 614. Cumpre ao credor, ao requerer a execução, pedir a citação do devedor e instruir a petição inicial:...

II - com o demonstrativo do débito atualizado até a data da propositura da ação, quando se tratar de execução por quantia certa;

Desta forma, o “prejuízo” do devedor em não pagando o valor devido no prazo assinalado pode chegar a 20% do valor do débito, fora as correções legais, como juros e correção monetária.

Com isto, busca o legislador evitar que o credor passe por todo o tortuoso processo executivo para ver a satisfação do seu crédito.

A discussão que se passou a travar na doutrina é o marco inicial da contagem do prazo de 15 dias para o pagamento espontâneo do crédito, findo o qual, incidirá a multa.

Alguns, como Athos Gusmão Carneiro, sustentam que o prazo para pagamento inicia automaticamente a contar da data em que a sentença ou acórdão se torne exeqüível, por ter transitado em julgado ou porque pendente recurso sem efeito suspensivo.

Tal posicionamento seria o mais coerente com a lógica da celeridade que se busca imprimir aos processos, porém, não há como concordar com esta corrente.

É que o cumprimento da sentença trata-se de novo “procedimento” dentro do processo de execução, sendo que, para ter início este novo procedimento, torna-se necessário o protocolo de petição neste sentido, bem como a juntada de memória de cálculos.

Assim, o cumprimento da sentença depende de iniciativa da parte, devendo haver, então, a posterior intimação da parte adversa para que cumpra a sentença no prazo legal, findo o qual incidirá a multa de 10% sobre o valor que se busca receber.

Em não pagando o crédito dentro do prazo de 10 dias, além de incidir a multa de 10% sobre o débito, será expedido mandado de penhora e avaliação, do qual será a parte intimada de imediato através de seu advogado, ou pessoalmente, na falta deste, abrindo prazo para apresentar impugnação no prazo de 15 dias.

Há também novidade pelo fato de que o próprio oficial de justiça fará a avaliação dos bens penhorados, exceto para o caso em que esta depender de conhecimentos técnicos, sendo, neste caso, enviado a perito que entregará o laudo dentro de “breve prazo”.110

Também o artigo 475-J §3° do CPC, possibilitou ao credor, desde logo, a indicação dos bens a serem penhorados e, em não havendo a indicação, serão penhorados ou arrolados os bens encontrados pelo oficial.

O §4º do mesmo artigo determina a aplicação da multa apenas sobre os valores não depositados no prazo de 15 dias, já que, havendo pagamento parcial, sobre este não incide a multa de que trata o caput do dispositivo em análise.

Não há prazo para o requerimento do cumprimento da sentença, porém, não sendo requerida a execução no prazo de seis meses, os autos serão arquivados, podendo ser desarquivados a qualquer momento por requerimento da parte.