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Capítulo V- Experiência-Chave transversal aos dois níveis educativos

1. A articulação curricular entre a Educação Pré-Escolar e o º Ciclo do Ensino Básico

1.1. O currículo na Educação Pré-Escolar

A Educação Pré-Escolar surgiu nos documentos legais em Fevereiro de 1997 e por isso, só a partir dessa data é que se começou a falar em currículo. Ao considerá-la “a primeira etapa da educação básica no processo de educação ao longo da vida”, a Lei- Quadro da Educação Pré-Escolar teve que forçosamente definir vários objetivos pedagógicos:

a) Promover o desenvolvimento pessoal e social da criança com base em experiências de vida democrática numa perspetiva de educação para a cidadania;

b) Fomentar a inserção da criança em grupos sociais diversos, no respeito pela pluralidade das culturas, favorecendo uma progressiva consciência como membro da sociedade;

c) Contribuir para a igualdade de oportunidades no acesso à escola e para o sucesso da aprendizagem;

d) Estimular o desenvolvimento global da criança no respeito pelas suas características individuais, incutindo comportamentos que favoreçam aprendizagens significativas e diferenciadas;

e) Desenvolver a expressão e a comunicação através de linguagens múltiplas como meios de relação, de informação, de sensibilização estética e de compreensão do mundo;

f) Despertar a curiosidade e o pensamento crítico;

g) Proporcionar à criança ocasiões de bem-estar e de segurança, nomeadamente no âmbito da saúde individual e coletiva;

h) Proceder à despistagem de inadaptações, deficiências ou precocidades e promover a melhor orientação e encaminhamento da criança;

i) Incentivar a participação das famílias no processo educativo e estabelecer relações de efetiva colaboração com a comunidade.

Para além da Lei-Quadro, também em 1997, foram publicadas as OCEPE, com o intuito de ser encontrada uma referência comum para toda a educação de infância. Segundo o ME (1997, p.13), estas “constituem um conjunto de princípios para apoiar

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o educador nas decisões sobre a sua prática, ou seja, para conduzir o processo educativo a desenvolver com as crianças” e também uma referência comum para todos os educadores de infância da Rede Nacional de Educação Pré-Escolar, na medida em que organizam a componente educativa. Contudo, definem-se por não ser “um programa, pois adotam uma perspetiva mais centrada em indicações para o educador do que na previsão de aprendizagens a realizar pelas crianças” (Id./Ibid.).

As OCEPE, enquanto quadro de referência para todos os educadores, pretendem contribuir para uma melhoria da qualidade da educação pré-escolar, e por isso assentam em quatro fundamentos: no reconhecimento da criança, como sujeito do processo educativo; na interligação permanente entre o desenvolvimento e a aprendizagem; na articulação de conteúdos e na resposta a todas as crianças. Como suporte desses fundamentos, o desenvolvimento curricular, da responsabilidade do educador deverá ter em conta, os objetivos gerais enunciados na Lei- Quadro da Educação Pré-Escolar, a organização do ambiente educativo, as áreas de conteúdos, a continuidade educativa e a intencionalidade pedagógica. Para tal, e segundo as OCEPE, a sua intervenção profissional deverá passar por diferentes etapas interligadas que se vão sucedendo e aprofundando, “estas são: observar, planear, agir, avaliar, comunicar e articular”. (Cruz A. , 2012, p. 17)

Neste sentido, as OCEPE decorrem no âmbito de uma matriz socio construtivista, uma vez que nos remetem para a construção de um currículo realizado com as crianças e não para as crianças e, têm por base relacionar as diferentes áreas do conteúdo. Ao serem contextualizadas, permitem construir a identidade da criança.

Por forma a explicitar as condições indicadas nas OCEPE que permitem o sucesso escolar, o Governo definiu metas de aprendizagem para as diferentes áreas e disciplinas do ensino básico e, enunciou também as aprendizagens que as crianças deverão ter realizado no final da educação pré-escolar, com o intuito de a aproximar do ensino básico. Segundo o ME (2010), estas surgiram com o intuito de contribuir para o sucesso escolar e por isso, constituem-se “como um auxiliar de trabalho docente, na vertente deliberativa, colectiva e individual, oferecendo um referencial comum de resultados a alcançar pelos alunos e de sugestões estratégicas de trabalho e

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de avaliação que possam orientar e apoiar a acção docente, devidamente diferenciada, no sentido do sucesso das aprendizagens.” Porém, não pretendem esgotar ou limitar as oportunidades e experiências de aprendizagem, que podem e devem ser proporcionadas no jardim de infância (Id./Ibid.).

As metas de aprendizagem para a Educação Pré-Escolar permitem aos educadores e aos professores de 1.º CEB perceber que aprendizagens a criança já adquiriu e apoiar novas aprendizagens, no entanto e para que tal ocorra, necessitam de um diálogo constante entre ambos. Neste sentido, facilitam a continuidade entre os dois níveis educativos (Cruz A. , 2012).

Assim, a educação pré-escolar tem vindo cada vez mais a ser considerada a primeira etapa da educação básica, na medida “em que se articula com o sistema nacional de educação, nomeadamente com o ensino básico.” (Formosinho, 2013, p.10)

Neste enquadramento, surgiu inevitavelmente a questão do currículo na educação pré- escolar. Segundo Marchão (2012, p. 38) o currículo na Educação Pré-Escolar é “ (…) o conjunto de atividades planeadas ou não, estruturadas e suportadas nas Orientações Curriculares para a Educação Pré-Escolar que permitem o desenvolvimento e a aprendizagem da criança bem como o seu bem-estar.”. Assim, este surge de um plano de intenções pensadas na criança, tendo em conta o que para ela é mais significativo. Uma vez apoiado em práticas desenvolvimentais, contextual e culturalmente adequadas, encoraja a criança a escolher e a aprender através de experiências ativas com pessoas, materiais, acontecimentos, ideias, e por isso dá espaço às “cem linguagens” da criança (Portugal & Laevers, 2010). Por tudo isto, é-me possível afirmar que o currículo na Educação Pré-Escolar corresponde às experiências de aprendizagem que a mesma vivencia através de atividades, experiências, interações, descobertas, etc. A ideia de currículo na Educação Pré-Escolar é, pois uma linha circular abrangente, por se caracterizar por uma etapa, onde a criança pode aprender a aprender.

Importa ainda referir que independentemente da sua intenção sempre que elabora um currículo, o educador deve definir os objetivos que pretende alcançar, os conteúdos que quer transmitir e os processos de avaliação (Gaspar, 1990, cit. por Serra, 2004).

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Assim, enquanto instrumento, o currículo clarifica a sequência de propostas de ensino e de aprendizagem e como tal, o educador deve pensá-lo em função dos eixos interligados, com vista à construção de aprendizagens significativas e integradas. Quer a publicação da Lei-Quadro, quer a das OCEPE ou até mesmo a das Metas de Aprendizagem para a Educação Pré-Escolar foram uma consequência lógica da sua integração progressiva no Sistema Nacional de Educação. Segundo Formosinho (2013, p.10) “se é considerado importante que as crianças de cinco, quatro e três anos frequentem a pré-escola é porque, nela e através dela, se desenvolvem competências e destrezas, se aprendem normas e valores, se promovem atitudes úteis para o desenvolvimento das crianças, para a sua inserção social, para o sucesso na escola e para a sua cidadania presente e futura.”

Por permitir o desenvolvimento contextualizado de diferentes currículos, opções pedagógicas e práticas de avaliação, o currículo na Educação Pré-Escolar é mais lato e por consequente, diferencia-se do currículo no 1.º CEB.