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5 A TRAMITAÇÃO DA MEDIDA PROVISÓRIA 746/2016 E SEU CONTEXTO

5.5 O currículo do Ensino Médio

No que se refere ao currículo do Ensino Médio, a Medida Provisória nº 746/2016 trouxe outra proposta que gerou inúmeros debates, quando definia que apenas três disciplinas seriam obrigatórias nos três anos: Português e Matemática. Além disso, Inglês passaria a ser a única língua estrangeira com oferta mandatória da BNCC. Com isso seriam extintas do currículo disciplinas como Educação Física, Artes, Filosofia e Sociologia, ao mesmo tempo em que o estudo da língua estrangeira ficaria mais restrito. Em contraposição a essa perspectiva que se apontava na Medida Provisória nº 746/2016, foram apresentadas várias Emendas na Comissão Mista. O maior número de propostas dessa natureza foi relacionado à Educação Física, com 61 ECMs.

Várias propostas contrárias a essa retirada foram apresentadas, porém, na maioria das vezes, com a diretriz de que a oferta desse componente curricular seria obrigatória em todo o ensino médio, mas a participação do aluno seria facultativa.

Vanessa Grazziotin (PCdoB) foi veemente contra a proposta de retirada da disciplina Educação Física e defendeu sua manutenção no currículo devido à contribuição pedagógica e para a saúde da juventude.

Parece-nos um desserviço eliminar a obrigatoriedade da educação física na última etapa da educação básica, pois o sobrepeso e a obesidade vêm se tornando questão de saúde pública relevante, que pode ser minimizada, entre outras medidas, pela atividade física regular e pela educação para o movimento realizada no ensino médio.

Não se pode ignorar que uma característica marcante do crescimento epidêmico do excesso de peso é o aumento da incidência em idades cada vez mais precoces. Em 2004, a estimativa era de que 10% das crianças e adolescentes do mundo apresentavam excesso de peso. Dentre essas crianças, 25% eram obesas. É preciso, assim, desenvolver e ampliar políticas públicas que contribuam para a diminuição desses índices. Atuar na educação básica, promovendo a alimentação saudável, o gosto pelos esportes e pelas atividades físicas em geral, bem como a reflexão e o entendimento das manifestações culturais que envolvem movimento, pode contribuir para que as pessoas tenham vidas mais longas e mais saudáveis. Dentro desse contexto, desobrigar a educação física nas escolas pode causar impactos nocivos à saúde bastante significativos.

Além desse aspecto de saúde pública, há que se considerar também a dimensão pedagógica. O art. 205 da Constituição Federal prevê que a educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. A Carta Magna é bastante clara: o desenvolvimento deve ser pleno, o que demanda o contato com saberes de toda ordem. Esse contato, por sua vez, exige articulação e integralidade. A compartimentalização é bastante insidiosa, pois impede que pontes entre conhecimentos, habilidades e atitudes de diferentes áreas se relacionem e propiciem mudanças de comportamento e inovação.

Quando se trata de educação, se a compartimentalização já é prejudicial, a eliminação de um determinado aspecto desse conjunto de saberes pode ser

catastrófica. Afinal, é preciso trabalhar mente e corpo, que são indissociáveis. É preciso oferecer contextos didáticos que propiciem um amplo leque de experiências, que não se esgotam apenas ao aspecto cognitivo: há dimensões motoras e emocionais que precisam ser levadas em conta, sob o risco de se inviabilizar o desenvolvimento pleno preconizado pela Constituição Federal. (CÂMARA DOS DEPUTADOS, 2016b, ECM 18).

Mesmo entre os parlamentares que compunham a base do governo, discordaram da retirada dessa disciplina como obrigatória no ensino médio, a exemplo de Otávio Leite (PSDB), que justificava sua importância na seguinte perspectiva:

A relevância da educação física é indiscutível – “Mens sana in corpore sano”. Por meio dessa disciplina e sob a orientação de profissionais de Educação Física, as crianças e os jovens aprendem e se preparam para desenvolver as habilidades de ser, conviver, conhecer e fazer - exatamente os quatro pilares que dão base ao ensino, segundo a Unesco. (CÂMARA DOS DEPUTADOS, 2016b, ECM 27, grifos no original).

Outros parlamentares buscaram nos exemplos de diferentes países as bases para justificar sua defesa pela manutenção da disciplina Educação Física no currículo do Ensino Médio. Nesse sentido Lasier Martins (PDT), que destacava que

Os méritos da atividade esportiva não são poucos, mas se pode observar pela experiência dos Estados Unidos, que ela tem, também, um caráter de formação do indivíduo, ao cultivar atitudes como liderança, iniciativa, trabalho em equipe, disciplina e incentivo ao esforço individual. (CÂMARA DOS DEPUTADOS, 2016b, ECM 54).

Na mesma perspectiva, Evandro Roman (PSD), citando alguns dos países que eram apresentados como exemplos de uma educação de qualidade, assim argumentou:

O consenso acerca da importância da Educação Física é de tal dimensão, que perpassa diferenças culturais, sendo essa disciplina obrigatória nos currículos de nível médio de países como Portugal, Espanha, França, Alemanha, Inglaterra, Finlândia, quase todos os estados dos EUA, Japão, China, entre outros. (CÂMARA DOS DEPUTADOS, 2016b, ECM 110).

Há também menções aos mais diversos aspectos positivos da prática de exercícios como auxílio na prevenção de situações de doença e problemas sociais de amplas origens, como o uso de drogas, violência, entre outros. Essa foi a abordagem dada por Felipe Bornier (PROS), ao argumentar em favor da manutenção da disciplina Educação Física: “a pratica do esporte é um dos assuntos mais tratados nos jornais brasileiros, com o foco nas crianças e

jovens, auxiliando estes estudantes a saírem da violência das ruas” (CÂMARA DOS DEPUTADOS, 2016b, ECM 220).

Ainda no escopo dos argumentos em torno de aspectos relativos à saúde, Chico Lopes (PSOL) (CÂMARA DOS DEPUTADOS, 2016b, ECM 153) destaca sua preocupação com o sedentarismo, alertando para o fato de que mais de 70% dos jovens sofrem com esse mal na atualidade na sociedade brasileira. Para Gorete Pereira (PR), a questão da obesidade, outro problema brasileiro que não pode ser negligenciado, e a retirada dessa disciplina contribuiria para agravar ainda mais esse quadro. Nesse sentido, em sua ECM, ela ressalta que:

Segundo pesquisas divulgadas pela Revista Época, o Brasil está na 5ª posição entre os países com mais obesos no mundo. O levantamento revela que a obesidade está interligada a uma série de danos à saúde. Além disso, os estudos mostram que a obesidade é o terceiro problema de saúde pública que mais demanda gastos da economia brasileira, estando à frente até do tabagismo. Estima-se que os gastos giram em torno de R$ 110 bilhões, o que equivale a 2,4% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. (CÂMARA DOS DEPUTADOS, 2016b, ECM 256).

Do mesmo modo, na base dos argumentos em favor da manutenção da disciplina Educação Física no currículo do Ensino Médio, estava a menção aos Jogos Olímpicos que ocorreram no ano de 2016. Por vezes, a experiência das olimpíadas no Brasil era avocada como justificativa em torno desse tema. A íntegra do documento apresentado pelo senador Romário (PSB), que representa bem o que foi expresso nas emendas que fizeram essa associação.

No ano em que sediamos os Jogos Olímpicos e os Paralímpicos, acompanhamos práticas desportivas variadas que reforçaram a importância deste movimento para a valorização do esporte, em geral, e a construção de um mundo melhor, de paz e congraçamento. Neste mesmo ano, nos surpreendemos com a eliminação da obrigatoriedade, estabelecida por lei, das aulas de educação física no ensino médio. Há, pelo menos, três fortes razões que comprovam a importância da atividade física na vida de jovens estudantes. A primeira, e mais evidente delas, é a saúde. Dados da Organização das Nações Unidas (ONU) revelam que para dólar investido no esporte, são economizados cerca de três dólares nas ações de saúde. Isso porque o esporte previne doenças, logo, o incentivo a prática esportiva poderá ser determinante para que o estudante se torne um adulto mais saudável ou que venha a se tornar um atleta de alto rendimento. Entendo que a escola é o ambiente de iniciação ideal, a partir da elementar e saudável prática da educação física, que poderá se tornar motivadora para que nossa juventude se interesse pela carreira de desportista.

Por isso, causa perplexidade a proposta da MPV nº 746, de 2016, que faculta esta prática para alunos do ensino médio, cerceando, quem sabe, a revelação de talentos, que não despontam pela falta de incentivo e oportunidades.

A segunda razão para manter a disciplina no currículo são os benefícios do esporte na capacidade cognitiva. Atividade física na fase escolar total é importante recurso para complementação do ensino pedagógico, contribuindo, também, para o desenvolvimento e raciocínio intelectuais dos estudantes. Entre os educadores há

consenso de que o processo de ensino e aprendizagem deve considerar, além da dimensão cognitiva, os aspectos motores, afetivos ou os emocionais.

Por fim, destaco aqui o importante papel do esporte na inclusão social. Jovens carentes de todo o Brasil projetam no esporte o sonho de uma vida melhor. Além disso, não devemos menosprezar a enorme capacidade do esporte de afastar o jovem de atos ilícitos, da violência e das drogas. Mais uma vez recorro à Olimpíada para confirmar essa tese. Dois medalhistas deixaram registrados esse exemplo. Rafaela Silva, medalha de ouro no judô, carioca que cresceu na favela Cidade de Deus, e Robson Conceição, ouro no boxe, nascido em Salvador, no bairro humilde de Boa Vista de São Caetano. A história de vida e superação dos dois atletas ganhou o Brasil. De estados distantes, Rio de Janeiro e Bahia, mas com histórias tão próximas. Origem humilde, moradores de bairros pobres e violentos, vítimas das circunstâncias, cresceram brigando na rua, até o esporte mudar os seus destinos. Não se pode ignorar que a pessoa é um todo constituído por razão, corpo e emoção. A própria Constituição Federal, em seu artigo 205, estabelece que a educação deve visar ao pleno desenvolvimento da pessoa. Ignorar isso nas escolas, centrando o trabalho apenas na dimensão cognitiva, é desconsiderar que essa mesma dimensão cognitiva pode receber aportes significativos quando é aplicada em sinergia com o trabalho em outras dimensões.

É preciso criar ambientes didáticos dinâmicos e articulados, nos quais o português e a matemática, arte e filosofia, educação física e ciências sejam tratados de forma interdisciplinar e complementar. Criar hierarquias e desobrigar os sistemas de ministrar disciplinas fundamentais é prestar um desserviço à Nação. (CÂMARA DOS DEPUTADOS, 2016b, ECM 434).

Outro componente curricular objeto de muitas ECM foi a contestação da retirada de Artes do currículo, com 45 emendas propondo a revisão do tema.

A proposta retirada da Arte movimentou uma grande parcela de parlamentares, pois eles compreendem que é inaceitável deixar de fornecer para os estudantes uma dimensão maior do conhecimento artístico, que também proporciona uma formação completa do ser humano, além de colocá-lo em contato com a produção desenvolvida ao longo da história humana e que deve ser preservada e perpetuada ao longo das gerações.

Dois grupos de emendas que defendiam a Arte como componente curricular obrigatório no currículo se destacaram por terem sido enviadas em bloco, com o mesmo texto. O primeiro deles (ECMS 91, 104 e 351, de João Fernando Coutinho, Átila Lira e Danilo Cabral, respectivamente, todos do PSB) diz respeito àqueles parlamentares que concordam com o aspecto da flexibilização da reforma, mas acreditam que a arte deveria estar presente no currículo como forma de coerência com o teor da reforma, e justificam:

A presente emenda tem por objetivo restaurar o ensino da Arte no Ensino Médio, cuja obrigatoriedade foi retirada pela Medida Provisória nº 746, de 2016.

O conhecimento da arte, no processo de aproximação entre educação e cultura, permite a compreensão do mundo e ensina que é possível transformar, criar a partir de inúmeras experiências; ensina, portanto, que é preciso estar aberto às possibilidades, ser flexível. E flexibilidade é condição fundamental para aprender. Essa visão é perfeitamente coerente com a reforma do Ensino Médio que a MP nº746/2016 pretende induzir.

Com vistas a ampliar o leque de possibilidades sobre a “arte” de que trata a LDB, bem como reforçar sua necessidade no currículo escolar da educação básica, a Lei nº 13.278, de 2016, estabeleceu que: “§ 6o As artes visuais, a dança, a música e o teatro são as linguagens que constituirão o componente curricular de que trata o § 2º deste artigo.”

Em vista disso, entendemos que a Emenda proposta merece o apoio das Senhoras e Senhores Parlamentares, pois aperfeiçoa a Medida Provisória nº 746, de 2016. (CÂMARA DOS DEPUTADOS, 2016b, ECMs 91, 104 e 351).

Ainda com este mesmo viés, temos a deputada Mara Gabrilli (PSDB), que acreditando nos preceitos que levaram à elaboração da medida provisória, traz a posição da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) para corroborar sua posição contrária a esse ponto da reforma, manifestando-se textualmente na ECM 472, que

O ensino da arte assumiu relevância em meio às reformas educacionais que originaram a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional como importante disciplina para a formação humana e para expandir a educação básica. Suas funções são imprescindíveis no desenvolvimento da criatividade e na promoção da inovação, no fortalecimento dos processos de aprendizagem, de produção de conhecimento, de cultura, e de tomada de decisão, e tem o papel fundamental de conectar os interesses dos estudantes, os saberes comunitários e os conhecimentos acadêmicos. Outra função social da arte que a UNESCO defende é a de despertar o orgulho da própria cultura e o respeito pelos outros povos, com vistas a uma “convivência em paz”. Por fim, para a UNESCO, não basta ao estudante “saber fazer”, ou seja, possuir competências voltadas para o trabalho. Ele precisa desenvolver atitudes e comportamentos: precisa “aprender a ser”. Os alunos do ensino médio não devem ser excluídos desses saberes e competências. (CÂMARA DOS DEPUTADOS, 2016b, ECM 472).

Já outros quatro proponentes lembraram os direitos dos jovens e abordaram outra série de aspectos positivos que o ensino da arte pode trazer para a vida desses estudantes, que dependem da atuação do Estado em lhes proporcionar melhores condições de desenvolvimento pessoal. Foram eles Angelim, Marcom, Bohn Gass e Luizianne Lins, todos do PT, com o seguinte texto:

Mantém o ensino da arte no ensino médio, que capacita os estudantes ir além na compreensão da realidade para criticá-la e modificá-la. A retirada do ensino da arte no Ensino Médio retrocede no Estatuto da Criança e do Adolescente, que garante que as instituições educativas assegurem o direito das crianças e adolescentes à cultura, às artes, à brincadeira, à convivência e à interação. O ensino da arte permite que os estudantes desenvolvam a capacidade de explorar, de expressar e se conhecer e através dessas capacidades formarem-se cidadãos criativos, sensíveis, críticos e solidários.

O componente curricular Arte engloba quatro diferentes subcomponentes: artes visuais, dança, teatro e música, bem como de suas práticas integradas (como, por exemplo, a performance, a instalação, a videoarte, o circo, a videodança, a ópera etc.). Cada subcomponente tem seu próprio contexto, objeto e estatuto, constituindo- se em um campo que, ao mesmo tempo que compõe transdisciplinarmente a área da Arte, tem uma singularidade que exige abordagens específicas e especializadas. A Arte articula diferentes formas de cognição: saberes do corpo, da sensibilidade, da

intuição, da emoção etc., constituindo um universo conceitual e de práticas singulares, que contribuem para que o estudante possa lidar com a complexidade do mundo, por meio do pensamento artístico. Retirar a disciplina de Arte do Ensino Médio representa um retrocesso no direito das crianças e adolescentes. (CÂMARA DOS DEPUTADOS, 2016b, ECMs 123, 296, 359 e 537).

Por sua vez, houve emendas mais agressivas à Reforma e ao governo no geral, como se observa no trecho da justificativa do senador do PT, Paulo Paim, que, para demonstrar sua insatisfação quanto à retirada da disciplina do hall daquelas indispensáveis, diz que

Os tecnocratas do MEC consideram que as classes populares não precisam ter acesso à cultura e às artes, bem como jamais poderão despontar como atletas de alto nível ou simplesmente não precisam de conhecimento e prática acompanhada de exercícios físicos ou mesmo de socialização através do esporte. (CÂMARA DOS DEPUTADOS, 2016b, ECM 366).

As propostas em torno dessas duas disciplinas foram atendidas e a menção a elas no texto final foi modificada. Na MP, haviam sido consideradas como obrigatórias apenas nos ensinos Infantil e Fundamental, enquanto no PLV ficou estabelecido que as mesmas seriam componentes curriculares obrigatórios de toda a educação básica13.

As pressões pelo retorno dessas disciplinas se fizeram presentes dentro e fora da CM e revelam a luta contra as intenções mais perversas que se escondem por trás de um discurso de preocupação com o jovem, como aponta Moll (2017, p. 69-70):

Em pleno século XXI, com experiências e reflexões pedagógicas mundo afora, apontando percursos escolares qualificados pela relação com os temas da cidadania, pela realização de experiências de médio e longo prazo de pesquisa, pela relação com circuitos de cinema, teatro, literatura, museus e poesia, pela incursão pelas novas mídias, pelas relações escola-comunidade, é inconcebível que se imagine fazer mais com menos recursos, menos formação de professores, menos escuta das comunidades educacionais.

Exemplifica isso a intenção deliberada da reforma quando retira a promoção do “desenvolvimento cultural dos estudantes” e a “Educação Física” da LDBEN. Mesmo que os movimentos posteriores de profissionais e de diferentes grupos tenham mudado essa proposição, a intencionalidade explicitada pode ser pensada nos seguintes termos: por que investir em desenvolvimento pleno – mesmo que assim esteja nominado na Constituição Federal – se muitos destes estudantes não serão sequer incorporados ao “mercado”, se eles são os que sobrarão no rearranjo das forças produtivas tão ávidas de diminuir custos e ampliar ganhos?

Também Filosofia e Sociologia seriam extintas enquanto componentes curriculares obrigatórios no Ensino Médio. Essa alteração provocou uma série de reivindicações e severas

13 Ressaltando novamente que trata-se nessa análise apenas do processo de modificação da MP para formulação do PLV, resultante do processo da CM. Essas duas disciplinas perderam o caráter de componente curricular obrigatório no texto final da Lei 13.415, depois de tramitar nas etapas posteriores àquela que é abordada nesse trabalho. Assim, passarão a serem ofertadas como “estudos e práticas”.

críticas por parte daqueles que viam aquelas áreas do conhecimento como imprescindíveis no processo de formação humana. De acordo com essa visão, houve 23 ECMs que visavam restabelecer a situação anterior.

Em boa medida, aqueles que se posicionaram contrários a essa proposta defendiam que, para uma formação humana completa, a educação deve contemplar as disciplinas de Sociologia e Filosofia, uma vez que elas são fundamentais para proporcionar uma dimensão real dos processos e fatores que envolvem os problemas sociais, a fim de promover mudanças e uma nova visão do mundo, além de desenvolver um pensamento crítico, provocar reflexões e um maior desenvolvimento do ser humano.

A defesa feita pela deputada Maria do Rosário Nunes (PT), por meio da emenda 503, resume o que a maior parte daqueles que pediam o retorno da obrigatoriedade das disciplinas em questão expressavam:

Segundo a ótica da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), os conhecimentos de filosofia e sociologia são justificados como: “necessários ao exercício da cidadania”, centrais para a constituição de um processo educacional consistente e de qualidade na formação humanística de jovens que, se deseja, sejam cidadãos éticos, críticos, sujeitos e protagonistas. São, portanto, relevantes, e não por outro motivo o legislador reconheceu sua importância ao destaca-los nominalmente. Tal como os demais componentes da educação básica, devem contribuir para uma das finalidades do ensino médio que é a de: “aprimoramento como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico” (art. 35, inciso II, da LDB). E ainda mais especificamente, seguir a diretriz de: “difusão de valores fundamentais ao interesse social, aos direitos e deveres dos cidadãos, de respeito ao bem comum e à ordem democrática” (art. 27, inciso I, da LDB).

Outro ponto a considerar é que mesmo antes da adoção da lei federal, o ensino de filosofia e de sociologia já era oferecido pela maioria das redes de escolas públicas estaduais, e em muitas escolas particulares. Tal dado demonstra por um lado sua relevância, ao mesmo tempo em que nos indica que, caso a não-obrigatoriedade do ensino de filosofia e sociologia disposta na MP se mantenha, reforçará uma situação desigual no acesso ao conhecimento dessas áreas, pois alguns estados e unidades de ensino privadas seguirão a oferece-las, e outros não.