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Fonte: elaborado pela autora e confeccionado pela responsável técnica a partir dos dados da AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS (ANA). Plano estratégico de recursos hídricos dos afluentes da margem direita do rio Amazonas: resumo executivo. Brasília: ANA, 2012. Disponível em: https://drive.google.com/file/d/1oejTVGKHiO0cKZk66SrynE6DbVRfXL3N/view. Acesso em: 05 de mai. 2018.

O mapa mostra a malha que integra o interior do Peru e da Bolívia ao curso do rio Amazonas, por meio dos rios Ucayali e Madeira. O rio Ucayali corta o interior do Peru, o que facilitaria a comunicação entre os departamentos administrativos e estimularia o comércio. O rio Madeira, como já comentamos quando discutimos as teses do Tenente Maury, liga a Bolívia ao rio Amazonas, permitindo àquele país acesso ao oceano Atlântico. O trajeto completo entre os rios Amazonas e Madeira colocava essa rota nas proximidades da Cisplatina, o que interessava também à Inglaterra.

Se a situação econômica do Peru não era significativa para que o Império se interessasse pelo incremento do comércio bilateral, o mesmo não relatava o Encarregado dos Negócios Estrangeiros, Duarte da Ponte Ribeiro, sobre a Bolívia, cujas riquezas iam da fertilidade das terras de Cochabamba à abundância de minérios, apesar da pobreza que assolava o país. No mesmo sentido foram postos os comentários em relação ao Equador. Quanto ao Chile, o quadro era mais favorável, especialmente pelas atividades de Valparaíso. Mas devemos considerar que os apontamentos de Ponte Ribeiro sobre a inocuidade do acordo de comércio entre o Brasil e o Peru ou a Bolívia tinham em conta os interesses exportadores da classe agrária brasileira, dividida entre plantadores de cana e de café. Os comerciantes do Pará e Rio Negro comercializavam com essas nações desde os tempos coloniais, como fundamentamos no primeiro capítulo desse trabalho. Os emissários do Império, nas representações estrangeiras, estavam associados aos projetos da classe agrária, ligada à centralização do poder no Rio de Janeiro e os “negócios estrangeiros” eram avaliados segundo os interesses que favoreciam à consolidação de um modelo agroexportador.

Embora a presença de Duarte da Ponte Ribeiro no Peru tenha sido uma manifestação de aproximação diplomática, seus préstimos ao Império renderiam informações importantes. Ao final da missão, o Império tinha em suas mãos um relatório completo das atividades comerciais, dos hábitos e costumes, da composição política, das forças militares e das pretensões das nações sul-americanas em relação ao Brasil. Neste último aspecto, Duarte da Ponte Ribeiro foi incisivo quanto às pretensões de Simon Bolívar e seus seguidores, antagonistas do modelo político imperial e que nutria rivalidade para com o Brasil247. Além disso, atribuía o estado lamentável

247 A afirmação está em consonância com as fontes e expressa a crença de João Duarte da Ponte Ribeiro. De fato, Simon Bolivar não expressou publicamente sua aversão ao Império do Brasil. Essa ideia é posterior, quando o pensamento republicano se tornou hegemônico entre os países hispânicos. Simon Bolívar faleceu em dezembro de 1830, mas o sentimento republicano e a formação de Confederações entre países sul-americanos parecia, a Duarte da Ponte Ribeiro, resultar dos movimentos bolivarianos. Lembre-se que foi sob o comando de Bolívar que se iniciaram os combates contra o poder espanhol na América do Sul, com a independência da Venezuela, seguida da Colômbia e do Equador. As tentativas de unificar os países sul-americanos permaneceram latentes nas fronteiras com o Brasil. As ideias tinham sido fortalecidas no Congresso do Panamá, ocorrido em junho1826 e se alinhavam

das repúblicas andinas aos exageros dos planos de unificar a região e às ideias liberais, como a libertação dos escravos em troca de participação nas guerras, fato que arrasou a produção agrícola do Peru, em sua opinião. Seu texto era, ainda, carregado de uma suspeita sobre a predominância da cultura indígena nos países andinos, principalmente na Bolívia, que ao seu entendimento, tinha pouca influência da cultura espanhola.

Os habitantes dessa República não excedem a 800.000; conservam, em geral, a casta indígena, como as de Cusco e Puno; a espanhola estava ali pouco cruzada, e não havia escravatura. É notável a antipatia deste povo com os brancos; por vezes se tem amotinado contra eles e feito mortandade, sem mais distinção que a cor: o último levantamento foi na Paz em 1811, de que poucos escaparam. Não obstante estes atos de ferocidade, esta Nação, como a peruana, se distingue das demais suas irmãs, por um certo grau de civilização e docilidade. São robustos, pouco viciosos, e só os das grandes cidades gastam luxo.248

Os países hispânicos foram concebidos pela diplomacia de Ponte Ribeiro como herdeiros da barbárie indígena, considerados em comparação com o ideal de civilização branca e europeia adotado pela classe política brasileira. Nota-se, na sua descrição, uma tentativa de hierarquizar o grau de civilização dos povos hispânicos da América, no qual Peru e Bolívia ganharam destaque por apresentar “um certo grau de civilização”. Certamente podemos depreender do excerto que o Brasil, ou pelo menos a classe dirigente, era concebida como superior a esses povos.

Na sequência, frisou a predominância dos brancos no Chile e a prosperidade e estabilidade que o país mantinha, mesmo num período tão difícil, sugerindo uma estreita relação entre a origem racial da população e o seu desenvolvimento social e econômico:

A república chilena tem quase um milhão de habitantes; dos quais 200.000 pouco mais ou menos, são índios convertidos que vivem entre o Maule e o Biobio, e alguns em Valdívia, Chiloé, e Cordilheira. Nenhuma das novas repúblicas têm povoação tão homogênea, robusta, e laboriosa.249

Suas conclusões resultavam de análises que combinavam os fatores geográficos, a

com a política de afastar as nações europeias do continente americano. O período foi marcado pela formação de confederações como a Grã-colômbia (Colômbia, Venezuela, Equador e Panamá) e a Confederação Peru-Bolívia. No sul, os movimentos de Bolívar não surtiram efeito, mas a Argentina se esforçava por reunir o antigo Vice-reino do Prata, com tentativas de integrar o Paraguai, o Uruguai, a Bolívia e o Chile, sob o governo estabelecido em Buenos Aires.

248 PONTE RIBEIRO, op. cit., 2002, p. 150. 249 Ibidem, p. 153.

constituição étnica da população e os interesses políticos regionais. Seus apontamentos estavam carregados das concepções raciais difundidas na época, as quais supunham a superioridade dos hábitos e costumes europeus (brancos), civilizados, em relação ao modo de vida de indígenas e negros. Caracterizou as repúblicas andinas que faziam fronteira com o Brasil como desorganizadas politicamente, deficitárias por causa das lutas separatistas e da interpretação peculiar que se fazia das ideias liberais250. Supunha, por isso, que aquelas repúblicas não representariam qualquer ameaça para o Império do Brasil. Para ele, as ideias liberais que ali se difundiam apenas contribuíam para que a situação das repúblicas se agravasse, especialmente porque eram guiadas por homens contraditórios, que pregavam os ideais liberais, mas agiam de modo autoritário e violento. As forças armadas eram indisciplinadas e divididas entre as posições políticas deixadas por Simon Bolívar, na intenção de manter a Gran-Colombia, e o crescimento da influência do presidente boliviano Andrés de Santa Cruz.

Encerrada a sua missão em 1832, sem que qualquer tratado fosse proposto, João Duarte da Ponte Ribeiro foi novamente designado em 1836 para ser o Encarregado de Negócios no Peru. Mas a conjuntura da América do Sul estava mais aguda que antes e os interesses do Brasil eram diferentes. Nesse ano, Bolívia e Peru iniciavam a formação de uma confederação, a qual instava pela demarcação de fronteiras e reivindicava que o Tratado de Santo Ildefonso (1777) fosse adotado como critério para definição de limites das fronteiras com o Brasil251. O encarregado recebeu instruções para recusar esse critério e cuidar para que nenhuma propriedade brasileira fosse usurpada em nome do tratado de limites. O cuidado se dava em virtude da expansão da Província de Mato Grosso e da evasão de escravos que fugiam das propriedades brasileiras e adentravam em terras bolivianas. Ponte Ribeiro observava com interesse o fato de que a saída para o Oceano Pacífico da Bolívia estava ameaçada pela rivalidade que encetara com o Chile, o que poderia significar a tentativa de buscar uma rota alternativa para atingir o Atlântico pelas fronteiras brasileiras.

O deslocamento entre o Rio de Janeiro e o Peru era feito pela rota do Prata e Duarte da Ponte Ribeiro fez pouso em Montevidéu e Buenos Aires, antes de seguir para sua Missão. De lá, prestou serviço de informações sobre as relações entre os revoltosos do Rio Grande e o governo de Buenos Aires. O episódio que culminou com a perda da Província Cisplatina pôs o

250 Especialmente quando analisou a situação do Peru, Duarte da Ponte Ribeiro demonstrava espanto pela forma como a autonomia política das localidades estava apoiada nos interesses de classe, muitas vezes contrário ao poder do chefe político da República. No caso do Chile, as relações entre os proprietários de terras e os trabalhadores pobres foram descritas como uma relação de dependência e senhorio, como uma permanência do modelo colonial, ainda que o regime político fosse o republicano. Cf. PONTE RIBEIRO, op. cit., 2002, p. 149-153.

Império em condição de refletir sobre uma política de acordos de comércio com os países da América do Sul, na intenção de manter a sua presença na Bacia do Prata. Embora estivesse a caminho da Bolívia para seguir ao Peru, observava também as negociações com o Chile, na intenção de garantir o tráfego de navios estrangeiros e nacionais, carregados com produtos brasileiros, pelos caminhos do Prata. O governo instalado em Buenos Aires demonstrava que pretendia unir todas as repúblicas cisplatinas, incluindo a Bolívia, e exercer total controle sobre a navegação. Para Duarte da Ponte Ribeiro, Juan Manuel Rosas era o maior inimigo do Império do Brasil:

Sob a sua influência se formou o projeto de uma magna federação das províncias argentinas, Estado Oriental e a província de S. Pedro do Sul, com o Congresso e governo geral em Buenos Aires. Neste plano foram iniciados os incautos brasileiros por Lavalleja, Garzón e outros chefes, que emigraram ao nosso território. De Buenos Aires têm saído, antes e depois da revolução, armas e munições para os rebeldes; mas tudo comprado por particulares à custa dos revolucionários e embarcado como às escondidas das autoridades.252

Na sequência, citava o nome dos brasileiros envolvidos com os planos de Juan Manuel Rosas e indicava que Buenos Aires não tinha pretensões de fornecer diretamente apoio a Bento Gonçalves, apesar de ser afeito à integração da Província de São Pedro à suposta Confederação que se pretendia instalar no Prata. O documento continha anotações nas laterais que informaram que o ofício foi encaminhado ao Presidente da Província de São Pedro do Rio Grande, em caráter reservado, para ciência da situação. Ao mesmo tempo que revelava a conspiração, indicava a insatisfação de alguns informantes de Bento Gonçalves com a postura duvidosa de Buenos Aires, os quais estariam dispostos a retomar sua posição monarquista se fossem anistiados.

Seguindo seu destino, havia sido instruído a conduzir as negociações para um tratado de comércio com o Peru, sem que isso implicasse em reciprocidade de vantagens. Essa advertência se dava em decorrência da existência de tratados estabelecidos com os países europeus por ocasião do reconhecimento da independência do Brasil, especialmente o realizado com a Inglaterra, os quais comprometiam as arrecadações tributárias. É interessante que o Ministro dos Negócios Estrangeiros sugeriu que as negociações se dessem nos moldes do

252 Ofício, 13 de setembro de 1836, AHI 202/02/04. In: PONTE RIBEIRO. João Duarte. Missão brasileira a Peru- Bolívia (1836-39). In: Cadernos CHDD, ano 10, n. 18, 1º semestre de 2011, p. 165-501. Brasília: FUNAG-CHDD, 2011, p. 175-176. Disponível em: http://funag.gov.br/loja/download/891-Cadernos_do_CHDD_N_18.pdf. Acesso em: 25 de agosto de 2018.

tratado celebrado com os Estados Unidos em 1828, o qual reconhecia os direitos de navegação, comércio e proteção para pessoas e navios das partes contratantes, mas vedava a navegação de cabotagem.253 Isso significava que ficavam vedadas quaisquer tentativas de negociantes estrangeiros atuarem no comércio interno brasileiro e, por conseguinte, mantinha a interdição de navegação fluvial.

O andamento das negociações foi obliterado pelos conflitos criados em torno da formação da Confederação Peru-Boliviana e seus litígios com o Chile, pelo controle da saída marítima do território boliviano. De acordo com Heraclio Bonilla, a Bolívia tinha pequena participação no mercado externo, empobrecida pelos últimos anos de domínio espanhol e pelas lutas de independência. O mercado de importações era dominado pela Inglaterra, cujo comércio fluía pelo contorno do Cabo Horn até o porto de Arica, no Atacama, que concentrava dois terços das importações254. Em 1829, Andrés de Santa Cruz ascendeu ao poder e iniciou uma administração que pretendia reorganizar a economia boliviana e criar condições para que pudesse lançar seus produtos no mercado estrangeiro. Consolidava a aliança com o Peru e formou a Confederação Peru-Bolívia em 1835, depois de intervir nas disputas entre caudilhos peruanos, assumindo o poder e se autodenominando “o Protetor”.

As reformas de Santa Cruz alertaram o governo do Chile sobre a possível interferência da Confederação nos seus interesses, especialmente sobre o controle dos portos do Pacífico. Até então, o porto de Valparaíso controlava as ligações entre a Europa e a Costa sul americana do Pacífico e a política de reforma dos portos da Bolívia e do Peru poderiam afetar o predomínio chileno. Declarou a guerra em dezembro de 1836, conseguindo a adesão de Buenos Aires à causa em 1837, sob a alegação de que a união entre Peru e Bolívia punha em risco a liberdade das novas repúblicas255.

Esse conflito afetava o acordo que estava sendo negociado entre o Brasil e os chilenos, os quais começaram a tecer desconfianças sobre a posição política do Império junto às nações hispânicas.256 A missão diplomática de Ponte Ribeiro estava imbricada com a questão do Prata e a elaboração de um acordo com o Peru dependeria de acertar negociações com a Bolívia, desvanecer as desconfianças do governo chileno e contornar as intrigas deflagradas pelo

253 Cf. BRASIL. Tratado de Amizade Navegação e Commércio entre o Senhor D. Pedro I, Imperador do Brasil, e os Estados-Unidos da América, assignado no Rio de Janeiro em 12 de Dezembro de 1828, e ratificado na referida data, e pela dos Estados Unidos em 17 de Março de 1829, Art. III. Disponível em: http://dai-mre.serpro.gov.br/atos- internacionais/bilaterais/1828/b_9/. Acesso em 17 de setembro de 2017.

254 BONILLA, op. cit., p. 570-571. 255 Ibidem, p. 575.

256 Cf. KLEIN, Herbert S. A Bolívia da Guerra do Pacífico à Guerra do Chaco – 1880-1932. In: BETHEL, op. cit., p. 377-412.

governo de Buenos Aires.

Esse era o contexto que se formara na América do Sul, que acabou conduzindo para a discussão sobre as fronteiras e navegação do rio Amazonas. Como vimos afirmando desde o início desse trabalho, as dificuldades enfrentadas no Prata levaram à concepção de que o rio Amazonas seria uma saída alternativa para acessar os mercados das repúblicas latinas voltadas para o Pacífico.

Nesse sentido, as motivações que conduziram às negociações da fronteira amazônica e a navegação do rio Amazonas foram acentuadas pelas disputas entre os países sul-americanos e as pressões da Inglaterra para manter sua preponderância na região. Assomou-se a este quadro, o avanço dos negociantes dos Estados Unidos da América, que tentavam entrar na América do Sul pela rota do Caribe. Se na primeira missão de Duarte da Ponte Ribeiro havia a indicação de que um tratado de comércio com as duas nações era infrutífero, agora, o quadro de tensões políticas da região empurrava o Brasil para definir uma política de fronteiras e navegação com os países hispânicos, antes que as pretensões de Buenos Aires conduzissem à situação de submissão do Brasil ao governo ali estabelecido para trafegar no extremo Sul.

A correspondência do plenipotenciário revelou a sua capacidade de observação dos movimentos políticos da região. Enquanto os conflitos se alastravam por pelo cone sul da América, Duarte da Ponte Ribeiro estudava a melhor forma de propor um tratado de comércio à Confederação Peru-Bolívia. Em 1837, o governo dos Estados Unidos, e também o da Inglaterra, haviam proposto um tratado com a Confederação, mas ambos ainda não tinham sido ratificados. Ponte Ribeiro aguardava que esses tratados viessem a público para fazer a sua proposta:

Ainda que o dos Estados Unidos seja o melhor que até agora se tem feito com estas repúblicas, estou informado de que o negociador inglês pretende fazer- lhe algumas adições úteis. Um e outro me servirão de guia no que for

compatível com a nossa política e situação geográfica.257

Os tratados da Confederação Peru-Bolívia com os Estados Unidos e com a Inglaterra foram ratificados em 1838, o que levou Ponte Ribeiro a vivenciar embaraços. A Confederação exigia que o Encarregado apresentasse um acordo pelo Brasil, e ficava cada vez mais difícil sustentar a postergação, que a essa altura consideramos como parte das estratégias da política adotada pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros para as negociações dos limites com as

repúblicas vizinhas, ao longo do Primeiro Reinado e da Regência. Especificamente, o ato de postergar estava diretamente relacionado a estudar a melhor forma de conduzir a questão, para o que os préstimos de Duarte da Ponte Ribeiro foram fundamentais. O Império agia em prol de manter sua atuação no Prata e garantir que as propriedades de brasileiros nas fronteiras não fossem atingidas pelas disputas entre os países hispânicos. Mas o desenvolvimento das tensões levou à posição de se interpor aos interesses de Buenos Aires, colocando-o na situação de negociar com os países circunvizinhos à Argentina, o que implicava, ainda, em manter sua influência sobre o Uruguai.

Ao início de sua segunda missão diplomática nos países andinos, a ideia era dirimir a questão das fronteiras por meio de um acordo de comércio, de forma a recusar o Tratado de Santo Ildefonso e empregar o princípio uti possidetis em favor das propriedades brasileiras instaladas nas fronteiras do Mato Grosso. Mas as tensões que se estabeleceram, levaram o Império a se preocupar com o trânsito de suas mercadorias e navios nos litorais dos países hispânicos. Desde 1836, quando eclodiu o conflito entre a Confederação e o Chile, o Ministro dos Negócios Estrangeiros do Império modificou as instruções dadas ao plenipotenciário, solicitando que adicionasse os princípios do “direito das gentes”258 nas negociações do Tratado com o Peru, a fim de garantir que as relações com o Chile não fossem afetadas pelos conflitos. Esse acréscimo seria muito importante para a política de fronteiras, como veremos adiante.

As negociações com a Bolívia, o Peru e o Chile teriam que aguardar também a passagem das conturbações que se davam no Brasil. Haviam diversos conflitos internos que eram a prioridade da Coroa brasileira e a estadia de Duarte da Ponte Ribeiro estava sujeita à transição da regência de Feijó para Araujo Lima, para prosseguir com suas negociações. No que concernia à questão da Bolívia, haviam impasses muito difíceis de serem resolvidos, especialmente, a fuga de escravos pela fronteira do Mato Grosso e do Grão-Pará criava dificuldades para elaborar as cláusulas referentes à extradição:

Por todas as circunstâncias referidas, conhecerá V. Exa. o estado desta negociação para determinar o que tiver a bem. Permita-me, porém, que eu declare a V. Exa. que não sei como colocar no tratado de comércio, seja com o Peru ou extensivo à Bolívia, um artigo para a extradição dos criminosos:

258 O “direito das gentes” foi também reivindicado por Silvestre Rebello na argumentação contra a intervenção dos cidadãos norte-americanos na primeira Guerra Cisplatina. De acordo com este princípio, as negociações entre as

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