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1. TRANSPARÊNCIA, CUSTOS E EFICIÊNCIA

1.4. Custos de transação e o direito tributário

1.4.2. Custos com arrecadação tributária do Fisco

Os custos de transação tributários também são suportados pelo Fisco, sendo o objetivo principal da tributação a arrecadação de recursos para custeio da manutenção do Estado e prestação de serviços públicos. Entretanto, para fins de consecução da arrecadação oriunda da aplicação da norma de incidência tributária de obrigação principal (BERTOLUCCI, 2006), terá que criar estruturas para a constituição do crédito tributário (tanto para autoconstituição quanto para lançamento tributário), efetiva arrecadação e cobrança, manutenção e julgamento de divergências, o que Bertolucci classifica como custos operacionais tributários, neste caso, arcados pelo Estado (indiretamente pelo contribuinte).

Seguindo Ronald Coase, o Estado (o governo) é uma superfirma (especialíssima), pois é capaz de influenciar a utilização dos fatores de produção

mediante decisões administrativas (COASE, 2017, p. 117), como para o Tesouro a pseudomercadoria obtida do mercado seria justamente o recurso financeiro dos

43 Tempo é dinheiro, efetivamente, segundo os dados sobre o ano calendário de 2015, pelo projeto

Doing business do Banco Mundial, o Brasil é a nação que mais gasta horas por ano para

cumprimento de suas obrigações tributárias (principais e instrumentais, em conjunto com restituições), 1958 horas por ano, estando em último lugar na listagem, com quase o dobro de horas do penúltimo (Bolívia) onde se gasta 1025 horas por ano. Interessante é a comparação com países com PIB próximo ao do Brasil em 2015 (US$ 1,80 trilhões): Índia (US$ 2,08 trilhões) onde o gasto é de 275,4 horas por ano; Itália (US$ 1,82 trilhões) onde o gasto é de 238 horas por ano; e o Canadá (US$ 1,55 trilhões) onde o gasto é de 131 horas por ano (THE WORLD BANK, 2017 e FUNAG, 2019). Deve-se constar que a Secretaria da Receita Federal do Brasil contestou tal publicação, informando que tal pesquisa não teria observado alterações ocorridas naquele ano (SPED Fiscal) bem como adotou dados quanto às atividades de importação e exportação que não poderiam ser aplicadas de forma geral, assim informa que em estudos prévios há o tempo gasto com o cumprimento de obrigações tributárias seria de 600 horas por ano (BRASIL, Secretaria da Receita Federal, 2016), o qual sairia da pior posição e subindo 8 pontos, melhor que a República do Congo, com 602 pontos, e pior que o Vietnã, com 498 pontos.

tributos. Os custos operacionais tributários do Fisco seriam os seus custos de

transação, pois ao contrário dos agentes de mercado, não haveria produção de

qualquer mercadoria a ser transacionada pelo Estado, apenas recolhimento de recursos financeiros.

Entretanto, como alertado por Bertolucci e verificado pela literatura a respeito, há pouquíssimos estudos voltados aos custos do Estado com a arrecadação (sentido lato). A causa dessa ausência seria variada, desde preferências da

academia, ausência de métodos de aferição e transparência dos gastos, dificuldade

de obtenção e separação de dados a respeito (BERTOLUCCI, 2006).

Mesmo assim, os custos operacionais seriam os decorrentes para manutenção e funcionamento de vários órgãos do Estado com funções envolventes à matéria tributária. No caso da União, seriam: no Poder Executivo, a Secretaria da Receita Federal do Brasil, Conselho Administrativo de Recursos Fiscais e a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional; no Poder Legislativo, apesar de relevância no processo de institucionalização da norma tributária, os custos com tal atividade são diluídos; no Poder Judiciário, há relevante atribuição tributária, em especial no julgamento e execução fiscal, mas, por não tratar exclusivamente com o assunto, há dificuldades de apuração.

Superando as dificuldades, Bertolucci estimou o custo de arrecadação tributária do Fisco Federal, considerando os custos anuais e proporcionais com a atividade tributária da Secretaria da Receita Federal (SRF), Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN), o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) – antes da Lei n. 11.457/2007, que uniu as áreas de custeio com a SRF– e o Poder Judiciário Federal (incluindo tribunais superiores). Em 2003, a porcentagem dos custos operacionais de arrecadação foi de 1,35% do total de tributos arrecadados e 0,36% do PIB, enquanto o custo operacional tributário das empresas foi de 0,75% do PIB44.

Na tentativa também de atualizar minimamente tais custos do Fisco, utilizaram-se os anos de 2014-2016. Contudo, não se têm as quantificações específicas dos gastos públicos com os órgãos de justiça em atribuição de julgamento (revisão) e execuções de tributos. O estudo de Bertolucci não abordou

os gastos com revisão administrativa dos lançamentos tributários realizada pelos antigos Conselhos de Contribuintes do Ministério da Fazenda, hoje unidos sob um único conselho (CARF). Assim, não serão abordados nesta atualização. Utilizar-se- ão os dados obtidos no Portal da Transparência referentes à Secretaria da Receita Federal do Brasil (SRFB – a Lei n. 11.457/2007 alterou o seu nome, aumentou a sua estrutura e aglutinou as funções arrecadatórias do INSS) e à Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional45, o que gerou a seguinte tabela:

Tabela 1.4.2.a

Tabela Comparativa Despesas Realizadas com Arrecadação Tributária e PIB em 2014-2016

2014 2015 2016 PIB R$ 5.778.952.000.000,00 R$ 6.000.572.000.000,00 R$ 6.266.895.000.000,00 Despesas SRFB R$ 2.032.570.182,46 R$ 1.844.686.112,76 R$ 2.093.721.090,40 Desp./PIB 0,0352% 0,0307% 0,0334% Despesas PGFN R$ 167.130.533,55 R$ 287.748.907,13 R$ 261.739.819,61 Desp./PIB 0,0029% 0,0048% 0,0042% Despesas Totais R$ 2.199.700.716,01 R$ 2.132.435.019,89 R$ 2.355.460.910,01 Desp./PIB Totais 0,0381% 0,0355% 0,0376%

Os resultados de Bertolucci (2006), ano de 2003, considerando somente as atividades de arrecadação do Poder Executivo, geraram a seguinte comparação:

Tabela 1.4.2.b

Tabela Comparativa Despesas Realizadas com Arrecadação Tributária e PIB em 2003 (Bertolucci)

PIB R$ 1.514.924.000.000,00 Despesas SRFB R$ 3.903.000.000,00 Desp./PIB 0,2576% Despesas PGFN R$ 181.000.000,00 Desp./PIB 0,0119%

45 Exclui-se da análise o Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, em razão de não ter sido

utilizado nos estudos de Bertolucci em 2003. Também, os valores utilizados foram somente os referentes aos valores efetivamente pagos e restos a pagar, pois representariam efetivamente as despesas pagas com competência no ano de 2016.

Despesas Totais R$ 4.084.000.000,00

Desp./PIB 0,2696%

Ao confrontarem-se as despesas realizadas por cada órgão pode-se afirmar que houve real redução de custos para a arrecadação federal, de 0,2696% do PIB em 2003, para 0,0367% do PIB em 2016. O que pode ser até explicado pelo aumento de métodos informacionais, alterações de procedimento e inteligência fiscal que têm sido tomadas desde antes de 2003 (BARROS DE CARVALHO, 2018, p. 103-104). Contudo, tal redução de custos teria sido inversa em desfavor dos contribuintes, fato provavelmente resultante das transferências de ônus de apuração e aumento das obrigações instrumentais (CARVALHO, 2018, p. 211).