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Tamarineiro I: criado em 1984 pelo INCRA, localizado no município de Corumbá, área de 3.797 hectares O governo federal optou por adquirir a área do grupo

4.2.3. A CUT/MS e a fundação do DETR

A fundação da Central Única dos Trabalhadores no Mato Grosso do Sul (CUT-MS), bem como do Departamento Estadual dos Trabalhadores Rurais (DETR) é fruto de um processo de organização que tem início nos anos de 1980. Este período foi marcado pela necessidade de se formar o sindicalismo rural autêntico, um sindicalismo de base comprometido com a luta dos trabalhadores. Havia, contudo, um grupo de sindicalistas insatisfeitos com o rumo que os sindicatos estavam tomando, qual seja, o sindicalismo de cúpula, extremamente voltado à organização da estrutura e ao assistencialismo (CPT, 1993).

A partir desta insatisfação, nasce a idéia de fundar novos sindicatos articuladores entre si que, por se diferenciarem na concepção dos chamados “pelegos”, passaram a ser considerados “autênticos”.

Por conseguinte, acirra-se a disputa envolvendo a fundação de novos sindicatos dos trabalhadores rurais, em 1985, entre os sindicalistas autênticos e a FETAGRI/MS. Os sindicalistas autênticos contavam com franco apoio da CPT/MS.

Embora neste período houvesse discussões acerca da fundação da Central Única dos Trabalhadores (CUT) em Mato Grosso do Sul, inclusive formando uma Comissão Pró-CUT/MS, ela não veio a acontecer, principalmente em virtude de divergências internas que levaram os sindicalistas de oposição a separarem-se em dois grupos: oposição Sindical e Alternativa Sindical. “Esta divisão serviu apenas para o enfraquecimento da oposição sindical no Estado” (CPT, 1993, p.28). Como resultado de uma análise conjuntural, houve um período de fusão das duas correntes para concorrer à eleição na FETAGRI/MS, contudo a adesão dura apenas o tempo da disputa.

A derrota para a chapa da situação levou, posteriormente, o sindicalismo rural autêntico a criar, na cidade de Campo Grande, em 08/07/1988, a CUT/MS. Este contexto de formação oficial da CUT/MS sela definitivamente a junção das duas correntes, bem como a resolução51 da principal divergência que naquele momento referia-se à questão da assessoria da CPT, aceita pela Alternativa Sindical e rechaçada pela Oposição Sindical. Como conseqüência desta fusão, organiza-se, em 1991, o Primeiro Congresso Estadual da CUT/MS e tem início o trabalho de fundação do DETR/CUT, que ocorre em 1992, tendo o seguinte plano de lutas: Reforma Agrária, Luta pela Terra, Pequena Produção (CPT, 1993).

Todavia, nos primeiros anos após sua fundação, o DETR/CUT acaba por dedicar-se exclusivamente, através de convênio com a CPT/MS, às reuniões e aos encontros regionais, visando discutir a viabilidade da pequena produção.

51 A resolução das divergências foi entendida como aumento da tolerância às diferenças, já que a influência da CPT continua existindo junto a alguns grupos como, por exemplo, os assentados do projeto Terra Solidária, organizado pela DETR-CUT.

O trabalho do DETR/CUT, neste período, segundo Almeida52, ficava restrito, porque era voltado para os associados; por conseguinte, havia um crivo em relação a seu público, situação que colocava o sem-terra fora de seu espectro de atuação. Entretanto, a partir de junho de 1998, o DETR/CUT muda sua estratégia e passa a filiar e a organizar trabalhadores rurais sem-terra com vistas a ações sincronizadas de ocupação de fazendas e formação de acampamentos no Estado, mudança que está diretamente relacionada com a disputa pela representação sindical.

Para reativar o DETR foi feito uma programação com vários STRs e no dia 1º de junho de 1998 estava programado 14 ocupações no Estado só que vazou algumas informações entre os próprios companheiros e a GOE na época conseguiu impedir quatro. No dia 1º de junho amanheceu dez ocupações de fazendas no Estado e deu muita notícia, imprensa, polícia, delegado, juiz, promotor de justiça. E no dia 02 de junho, no outro dia, fizemos uma ocupação na Assembléia Legislativa que entupiu de gente dentro e fora da Assembléia, foi entregue vários documentos para os deputados estaduais e daí pra frente chegamos onde estamos na nossa caminhada. Até hoje fizemos várias ocupações e filiamos mais sindicatos de trabalhadores rurais lutando sempre pela terra e o bem-estar de todas as pessoas humildes que trabalhou a vida inteira. E criamos o nosso jeito de trabalhar e lutar (ALMEIDA).

No período analisado para a pesquisa, o DETR-CUT/MS organizou 03 assentamentos e 22 acampamentos, com 2.508 famílias. Sua representatividade entre os sindicatos também tem crescido e, no momento da pesquisa, somavam 20 STRs filiados (em 1998 eram apenas 04). Por outro lado, suas formas de luta têm sido aparentemente as mesmas do MST, embora seus objetivos sejam outros. Na verdade, em virtude de sua área de atuação, leia-se organização, ficar bastante restrita a esfera de atuação do STR sua principal bandeira de luta acaba sendo a disputa pelos STRs e pela formação da Federação da Agricultura 52 ALMEIDA, W.A. (Coordenador Geral da Juventude do DETR-CUT/MS) Comunicação Pessoal, 19/04/2001.

Familiar do Mato Grosso do Sul (FAF/MS), disputa que se dá necessariamente no marco institucional, ao contrário do MST. Neste sentido, acirra-se o embate pela representação sindical no campo, visto que a FETAGRI mantém-se como oposição à CUT no Estado, a despeito da filiação da CONTAG a esta Central.

O debate da CUT acerca da criação da Federação da Agricultura Familiar traz consigo a regionalização dos sindicatos como estratégia organizativa. Portanto, os Sindicatos dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (Sintraf’s53) seriam a base organizativa

da FAF/MS, por sua vez, o sindicato atuaria nas chamadas microrregiões da agricultura familiar, dimensionando a luta sindical, logo, ultrapassando o caráter municipal que ela tem hoje. Assim, a luta pela terra se torna mais um meio do que um fim.

Destarte, além das campanhas de sindicalização e filiação dos STRs à CUT/MS, outra ação junto aos assentados tem obtido relevo, haja vista, a criação do modelo de assentamento misto que concilia área individual e coletiva54. Os projetos escolhidos em parceria com o governo estadual são:

- Assentamento São Tomé: teve início em 2000 e possui 40 famílias trabalhando em regime semi-coletivo, leia-se, modelo misto.

- Assentamento Terra Solidária: teve início em 2000, é composto por 38 famílias e a forma de trabalho tem sido coletiva e semi-coletiva. A produção pretende ser orgânica, embora no período da pesquisa essa realidade não tenha se confirmado.

Em resumo, a estratégia de luta, segundo o Relatório de Planejamento DETR/MS/2000, é “consolidar uma organização estadual da agricultura familiar do MS, que

53 No término desta pesquisa, um Sintraf’s estava em exercício na cidade de Campo Grande. Outras iniciativas neste sentido foram bloqueadas mediante liminares impetradas pela FETAGRI.

54 No trabalho de campo, que será melhor detalhado no capítulo cinco e seis, constatamos que, no assentamento São Tomé, não houve trabalho coletivo no sentido pleno do termo, que é divisão dos resultados baseado na igualdade da quantidade de trabalho (divisão de acordo com as horas trabalhadas). No assentamento Terra Solidária, somente o grupo ligado a COAAMS relatou ter realizado trabalho coletivo na acepção do termo.

lute pela Reforma Agrária e pela construção do projeto alternativo de desenvolvimento rural sustentável e solidário”.

Como forma de avaliarmos as principais formas de luta, de acordo com os diferentes agentes, apresentamos os gráficos 13, 14, e 15. O gráfico 13 revela a ocupação de prédios públicos, seguida da obstrução de rodovias e de bancos como as principais formas de luta das organizações. Geralmente, a escolha destes locais está ligada à agilização de medidas institucionais e a reivindicações imediatas que necessitam, para sua resolução rápida, de manifestações públicas de impacto que sensibilizem a opinião pública como um todo. A ocupação de bancos ocorre em função basicamente da liberação de créditos para o assentamento.

Gráfico 13: Principais Locais de Manifestações/2000-BR 114

61

54

Prédios Rodovias Bancos

Fonte: Ministério do Desenvolvimento Agrário e Ouvidoria Agrária Nacional/2001.

O gráfico 14 evidencia a presença hegemônica do MST nas manifestações, e o gráfico 15 é complementar ao destacar as principais reivindicações por organização social, com destaque para o MST. Por conseguinte, como apontam os dados, é a amplitude do entendimento da luta pela terra e, portanto, de suas ações que faz do MST o mais importante movimento da história camponesa do Brasil.

Gráfico 14: Atuação dos Movimentos Sociais nas Manifestações/2000-BR 201 107 64 62 36 27 10 MST CONTAG CUT MPA MAB CPT Outros

Fonte: Ministério do Desenvolvimento Agrário e Ouvidoria Agrária Nacional/2001.

Gráfico 15: Principais Reivindicações por Movimento Social/ 2000

29 31 21 32 42 12 4 7 5 14 23 13 82 8 41 36 4 6 5 2 9

Pronaf Saúde Estradas Assentamento Educação

MST MPA CUT CONTAG Outros