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FOTO 44 – VISTA DA ABÓBADA JUNTO AOS PROTÓTIPOS–UFPR CAMPUS

3. REVISÃO DE LITERATURA

3.2 déficit habitacional BRASILEIRo

O início do século XXI desponta com as cidades como palco de grandes transformações e como espaço aglutinador dos antagonismos, dos conflitos, das contradições e também das mais diversas manifestações criativas do homem. Segundo França et al. (2002), a cidade moderna concentra, ao mesmo tempo, o poder, a riqueza, o maior número de oportunidades de emprego, mas, também, as maiores carências em relação à habitação.

As cidades concentram alto número de pessoas que migraram do campo para os grandes centros urbanos em busca de melhores condições de vida. Esta tendência de crescimento acelerado traz consigo a deterioração das condições de vida destas populações, principalmente as de baixa renda. E dentre as más condições de vida se encontra a baixa qualidade das habitações.

A inadequação das moradias, que incrementa o déficit habitacional, se referem àquelas moradias sem condições de uso devido principalmente à precariedade da construção ou à deterioração da mesma.

O déficit habitacional pode ocorrer por reposição de estoque ou por incremento de estoque. No primeiro caso se encontram as construções que não apresentam parede de alvenaria ou de madeira aparelhada, resultando em desconforto para seus usuários. Também se encontram no primeiro grupo as construções que sofreram desgaste físico, considerado como limite para a necessidade de reposição de estoque 50 anos de construção.

O déficit habitacional por incremento de estoque atenderia as famílias que coabitam com seus familiares e as habitações improvisadas, aquelas destinadas para outros fins.

De acordo com o mesmo autor, podemos considerar a somatória dos totais referentes às coabitações familiares, aos domicílios improvisados e aos rústicos como sendo o déficit habitacional básico.

habitacionais, de acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em Censo realizado no ano de 2005. O maior índice está concentrado na Região Norte, com 22,9%; seguido da Região Nordeste, 20,6 %; Centro-Oeste, com 14,0%; Sudeste, com 12,2%; e o menor índice Sul, 10,4% (FJP, 2006, p.38-39).

Acrescentando-se a esses dados os casos de déficit habitacional, por situação do domicílio, esses números passam de 5.374.380 novas moradias, em 1991, para 7.902.699 unidades habitacionais, em 2005 (GRÁFICO 1), significando um aumento de 47,0% em uma década e meia (FJP, 2006, p.84).

0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 7000 8000 9000 1991 2000 2004 2005 (m il do m ic ílios )

Total Urbano Rural

GRÁFICO 1 – EVOLUÇÃO DO DÉFICIT HABITACIONAL, POR SITUAÇÃO DO DOMICÍLIO NO BRASIL – 1991/2000/2004-2005

FONTE: FJP (2006, P.84)

Ainda segundo a FJP (2006, p.87), o Brasil precisaria construir as 7.902.609 casas para suprir o déficit habitacional do país, considerando as moradias precárias, os que dividem a casa com outras famílias, ou que comprometem grande parcela de seus rendimentos com o aluguel.

O Gráfico 2 mostra a participação destes componentes entre 1991 a 2005 no Brasil e nas regiões metropolitanas.

34,6 24,0 19,7 18,8 9,3 9,0 58,2 56,1 56,8 69,8 65,4 59,3 7,2 18,2 23,5 11,5 22,0 31,7 0% 20% 40% 60% 80% 100% 1991 2000 2005 1991 2000 2005 Brasil Regiões Metropolitanas habitação precária coabitação familiar ônus excessivo com aluguel

GRÁFICO 2 – EVOLUÇÃO DA PARTICIPAÇÃO DOS COMPONENTES DO DÉFICIT HABITACIONAL – BRASIL E REGIÕES METROPOLITANAS – 1991/2000/2005 FONTE: FJP (2006, P.89)

De acordo com dados da Companhia de Habitação do Paraná – COHAPAR, em 2006 o Paraná precisava de 260.600 casas para acabar com a falta de moradias (MARTINS, 2006).

No caso específico da Região Metropolitana de Curitiba, percebe-se o mesmo problema de crescimento pela migração de pessoas em busca de empregos e qualidade de vida, gerando o crescimento desordenado de assentamentos espontâneos e marginalizados.

De acordo com os dados do IBGE de 2000 (apud Curitiba em Dados, 2008), o número de domicílios em aglomerados subnormais passa, de um total de 28.239, em 1991, para 37.752, em 2000.

Por aglomerados subnormais, entende-se:

“conjunto constituído por, no mínimo, 51 unidades habitacionais (barracas, casas, ...) ocupando ou tendo ocupado, até período recente, terrenos de propriedade alheia (pública ou particular) dispostos, em geral, de forma desordenada e densa, e carentes, em sua maioria, de serviços públicos essenciais. É ocupação desordenada aquela que quando da sua implantação não houvesse posse de terra ou título de terra ou título de propriedade”. Censo Demográfico 1991 – IBGE, Contagem da População 1996 – IBGE (apud Curitiba em Dados, 2004).

condição de moradia, localizada em unidades como, por exemplo, loja, fábrica, prédio em construção servindo de moradia para o pessoal de obra, embarcações, carroças, vagões de estrada de ferro, barracas, grutas, etc.”, Curitiba apresentava um total de 1.018, em 2000, segundo Curitiba em Dados (2004).

Atualmente, na Região Metropolitana de Curitiba – RMC, formada por vinte e seis Municípios (FIGURAS 1 - 2): São José dos Pinhais, Pinhais, Colombo, Almirante Tamandaré, Campo Magro, Campo Largo, Araucária, Fazenda Rio Grande, Piraquara, Mandirituba, Contenda, Lapa, Quitandinha, Tijucas do Sul, Agudos do Sul, Itaperuçu, Rio Branco do Sul, Bocaiúva do Sul, Campina Grande do Sul, Quatro Barras, Cerro Azul, Dr. Ulysses, Tunas do Paraná, Quatro Barras, Balsa Nova e Adrianópolis, o déficit estimado de domicílios é de 75.668 habitações (IBGE, 2001).

FIGURA 1 – LOCALIZAÇÃO DE CURITIBA NA AMÉRICA DO SUL, NO BRASIL, NO PARANÁ E EM RELAÇÃO À REGIÃO METROPOLITANA

FIGURA 2 – EXPANSÃO URBANA DE CURITIBA E REGIÃO METROPOLITANA EM 2002 FONTE: PMC (2004)

O déficit habitacional é um problema preocupante e que tende a se agravar com o passar do tempo caso não sejam adotadas algumas medidas que venham a atenuar estas estatísticas. Este déficit está diretamente relacionado com a população de baixa renda.

De acordo com Abiko (apud Soares et. al., 2003), as principais causas desta dificuldade ao acesso à moradia própria são:

1) A crise econômica, que gera desemprego e diminuição da renda; 2) Ausência de políticas públicas para a habitação social;

3) A indisponibilidade física e financeira de terrenos adequados a esse fim; 4) Os custos e a qualidade dos materiais de construção.

Essa dificuldade com relação à habitação acarreta o aumento de moradias precárias nas periferias das cidades, como as favelas3, cortiços4 dentre outros.

Consta na Constituição da República Federativa do Brasil:

“Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a desamparados, na forma desta Constituição.

...Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:

...IX – Promover programas de construção de moradias e a melhoria das condições habitacionais e de saneamento básico; (OLIVEIRA, 2001)”.

De acordo com a Lei n° 10.27/2001, denominada Estatuto da Cidade, em seu artigo 2°, inciso I, fica estabelecido como uma das diretrizes gerais a “garantia do direito a cidades sustentáveis entendido como o direito à terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer, para as presentes e futuras gerações”.

Esta realidade destaca a importância na busca por soluções que ofereçam às populações de baixa renda alternativas para construções mais viáveis de maneira a tornar mais moradias por meio de sua própria força de trabalho ou através de mutirões. Devido à baixa renda familiar, é preciso pensar em soluções que sejam ao mesmo tempo tecnologicamente apropriadas, isto é, que atendam às necessidades destas populações sem, no entanto, comprometer as perspectivas de vida das

3 Aglomerado de pelo menos cinqüenta domicílios – na sua maioria carentes de infra-estrutura – e

localizados em terrenos não pertencentes aos moradores...A favela se constitui numa ocupação juridicamente “ilegal” de terras (RODRIGUES, p. 36, 1994).

4 Habitações coletivas, em imóveis com pouca ou nenhuma conservação, de idade média de

gerações futuras, como uma forma de combate à pobreza.

A criatividade deve vir em auxílio do profissional ligado à área de projetos e obras, de modo a viabilizar a superação de entraves legal-burocráticos e a baratear os custos das obras, principalmente as de menor porte, através de inovações tecnológicas e de gestão viáveis (FJP,2002 p.11).