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2 PENSANDO A HABITAÇÃO POPULAR URBANA: Gingando entre

2.3 Déficit Habitacional no Brasil em mapas e gráficos

Ao realizar o estudo sobre o déficit habitacional acessamos dados e análises estatísticas de dois órgãos, são eles o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e a Fundação João Pinheiro, o primeiro é um órgão federal e o segundo do estado de Minas Gerais. No decorrer do texto vamos mudando as escalas de análise. Primeiramente apresentamos dados sobre o déficit habitacional no Brasil, de 2007 a 2015.

Gráfico 01 – Déficit habitacional no Brasil entre os anos 2007 e 2015. Fonte: Fundação João Pinheiro

Podemos observar que não há uma grande diferenciação no déficit de 2007 para o ano de 2015, e que ocorreu um pico de crescimento em 2010. Ou seja, aparentemente não estamos conseguindo solucionar o déficit no país com a aplicação das políticas públicas em curso e, o déficit continua próximo a 10%. São dez por cento de quase 200 milhões de habitantes, o que daria um total de 20 milhões de pessoas sem moradia no país.

A seguir analisamos o déficit por regiões do Brasil, analisando a ruralidade e urbanidade dos déficits.

54 Gráfico 02 – Déficit habitacional no Brasil por Região

Fonte: Fundação João Pinheiro

Podemos observar na leitura do gráfico que a região sudeste tem o maior déficit do país em meio urbano e o menor em meio rural, já a região nordeste tem o maior déficit em meio rural e o menor em meio urbano. As regiões sul e centro-oeste também têm pequenos déficits em meio rural e grandes em meio urbano. A região norte do país tem um déficit comparado ao da região nordeste, com grande expressividade no meio rural, porém a grande maioria em meio urbano, cerca de 70%. Observamos a seguir o déficit por estados da federação.

MAPA 01 – Déficit habitacional no Brasil por Regiões em 2015. Fonte: Fundação João Pinheiro

Através do mapa apresentado anteriormente podemos visualizar a distribuição do déficit habitacional no Brasil e notar a sua maior concentração na população da região sudeste. Também é possível averiguar a pequena proporção do déficit nos estados do centro-oeste. As regiões sul, nordeste e

55 norte apresentam índices expressivos do déficit. Porém na região norte existem alguns estados com índices pouco expressivos do déficit, como: Tocantins, Amapá, Roraima, Rondônia e Acre. No gráfico a seguir podemos observar o déficit relativo por estados.

Gráfico 03 – Déficit Habitacional Relativo por Estado Fonte: Fundação João Pinheiro

Observamos no gráfico apresentado anteriormente que o estado com a maior proporção relativa do déficit habitacional é o estado do Maranhão, com cerca de 20% da população sem habitação. Dentre os estados da região norte destacam-se no índice do déficit os estados do Amazonas e Pará, atingindo de 12,5% a 15% da população sem habitação. O estado de São Paulo, apesar de ter a maior população de pessoas sem habitação no Brasil, em termos relativos, ou seja, dividindo pela população total, ele apresenta um pequeno índice no déficit de pouco menos de 10% da população sem habitação, Minas Gerais segue a mesma lógica porém com um índice um pouco menor, chegando perto de 7,5%.

A análise relativa do déficit é importante para entendermos que existe uma discrepância em alguns estados. Alguns fatores podem acarretar na concentração relativa do déficit como a desigualdade social, a concentração fundiária, a alta especulação imobiliária, falta da implantação de políticas habitacionais, desalinhamento de políticas habitacionais nacionais e estaduais, falta de interesse público na resolução dos problemas habitacionais, entre outros fatores, como a falta de infraestrutura e a logística onerosa.

A seguir apresentamos o gráfico que aborda a relação entre o déficit por estado e a quantidade de imóveis com potencial de ocupação.

56 Gráfico 04 – Comparação entre déficit de moradias e total de imóveis com potencial de

ocupação por Estado em 2015 Fonte: Fundação João Pinheiro

Os únicos estados da federação cujo déficit é maior do que a quantidade de moradias potenciais são: Maranhão, Pará, Amazonas, Distrito Federal, Paraíba, Amapá e Acre. Nesses estados justifica-se a construção de novas moradias. Em todas as outras unidades da federação há uma quantidade de moradias potenciais de ocupação maior do que o déficit. Nestes estados poderíamos resolver os problemas habitacionais sem a construção de tantas habitações novas, pois já existem moradias potenciais.

Porém existem empecilhos no processo de aquisição das casas já existentes, visto que, há um forte interesse das construtoras na produção de novas moradias e, as empreiteiras já demonstraram através dos noticiários ter o comando dos rumos do Estado (OAS, ODEBRECH, CAMARGO CORREA, ANDRADE GUTIERREZ). Estas empreiteiras foram listadas em casos de corrupção, onde influenciaram através de propinas ganhos em licitações públicas e a formulação e aprovação de leis de seus interesses. O que podemos afirmar é que existe uma forte ligação entre as empreiteiras da construção civil e a administração pública no Brasil, onde os interesses da população por vezes são diminuídos.

O problema da habitação não será resolvido se as soluções partirem apenas de interesses de empreiteiras da construção civil, a união entre a população, cientistas, terceiro setor, juntamente com a articulação entre municípios, estados e governo federal, podem fazer surgir alternativas para amenizar esse panorama social que afeta o povo brasileiro.

57 Necessitamos buscar pelas soluções horizontais enquanto criticamos as verticalidades que favorecem os atores hegemônicos que Milton Santos afirma como egoístas e utilitárias, que fazem da democracia, uma democracia de Mercado.

“Com a presente democracia de Mercado, o território é suporte de redes que transportam as verticalidades, isto é, regras e normas egoísticas e utilitárias (do ponto de vista dos atores hegemônicos), enquanto as horizontalidades levam em conta a totalidade dos atores e das ações.” (SANTOS, 2006, p. 175)

O programa “Minha Casa, Minha Vida” é um projeto de políticas habitacionais dedicado a solução do déficit habitacional, a seguir analisaremos este projeto, avaliando a implantação através dos estudos e trabalhos de pesquisa em campo.