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3 PERMACOHAB: Idealizando um caminho permacultural em COHABs

3.1 Refletindo as Questões Ambientais e a Permacultura

Ao pensarmos a gênese das questões ambientais, nos deparamos com SILVA (2013, p. 28) que remonta o início da mudança de ótica sobre o planeta Terra, desde o século I, onde as doutrinas judaico-cristãs adentraram as culturas ocidentais e mudaram a visão da Mãe Terra (Gaia) para uma visão da Terra como uma natureza concedida ao homem para que nela reinasse, a dominasse. A partir desse início de transição, a Mãe Terra foi se tornando uma mercadoria e por consequência foi determinando uma separação dos humanos com a natureza, assim passamos a pensar a humanidade como um ente separado ao seu planeta, como dominadores e colonizadores deste planeta.

“Desta forma, o desígnio de “dominar” a natureza começou a tomar corpo a partir do final do século XV e início do século XVI, quando em decorrência das grandes navegações e dos avanços ocorridos no campo da física e da astronomia, verificou-se o começo da conquista técnica e cientifica da “realidade”, engendrando uma série de transformações na forma de pensar e produzir o mundo por parte dos europeus.” (SILVA, 2013, p.27)

Assim, a partir das grandes navegações, primeira fase da globalização, fomos explorando a terra e seus recursos sem tomar dimensão da nossa ligação existencial com este planeta, ampliando a separação entre seres humanos e a natureza.

“Os efeitos da interferência “humana” sobre a natureza, como a depredação dos bens naturais globais (terra, ar, água e a biosfera e a proliferação da degradação ambiental, foram se acumulando e se complexificando ao longo da geografia histórica do capitalismo, mormente a partir da segunda metade do século XX, quando as enormes mudanças quantitativas verificadas na época implicaram uma mudança qualitativa no impacto ambiental e nas potenciais consequências não pretendidas (HARVEY, 2006. apud SILVA, 2013, p. 36)”

103 O debate ambiental começa a ganhar proporções a partir da revolução industrial, onde a degradação dos ambientes passou a ser uma preocupação ao desenvolvimento capitalista. Vivemos após as revoluções industriais uma crise socioambiental que traz diversas consequências para o planeta e os seres vivos que o habitam. Diante dessa visão da insustentabilidade da produção capitalista do espaço, que age em um sistema linear sem pensar as futuras gerações, foi que começaram a nascer diversos movimentos ambientalistas em todo o mundo, que passaram a se organizar para pressionar os governos a tomar decisões sobre a necessária guinada para rumos mais sustentáveis, pensando em uma continuidade da humanidade no planeta Terra. Houve importantes encontros internacionais para tratar das questões ecológicas do planeta, a “primeira conferência mundial sobre o Homem e o Meio Ambiente” em Estocolmo foi em 1972, a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento” ECO 92 e a Rio+20 em 2012. Nesta última conferência mundial foi possível a nossa participação na Cúpula dos Povos, espaço de grande aprendizado. Todos estes são movimentos de grande relevância para a organização e articulação das pautas ambientais no mundo.

Foi nesse contexto de revolução da contracultura, oposição ao sistema capitalista e seus padrões de desenvolvimento, que nasceu a Permacultura, como uma espacialização de alternativas sustentáveis, que transcendem os discursos através da ação.

Segundo SILVA (2013, p.20) o termo Permacultura foi alcunhado primeiramente em 1974 pelos australianos Bill Mollinson e David Holmgren e diz respeito a edificação de espaços resilientes e sustentáveis, feita com base em uma série de princípios – éticos e de “design” – específicos. Os formuladores da teoria da permacultura eram acadêmicos que observaram tanto técnicas de povos tradicionais quanto técnicas mais modernas ligadas a sustentabilidade. Sobre os princípios éticos, existe um tripé da ética permacultural, cuidar do

planeta Terra, cuidar das pessoas e distribuir os excedentes.

Além deste tripé ético, existem outras formas de organização da permacultura desenvolvidas por Mollinson e Holmgren. Elas foram expressas no esquema denominado Flor da Permacultura, que possibilita o aprendizado da permacultura de uma forma didática aos estudantes interessados em seu desenvolvimento.

104 Imagem 46 – Flor da Permacultura

Fonte : www.ipoema.org.br

Como podemos observar na flor da permacultura, além dos três princípios éticos centrais, existem sete pétalas que guiam o desenvolvimento das ações permaculturais, são elas: ferramentas e tecnologias, educação e cultura,

saúde e bem-estar espiritual, economia e finanças, posse da terra e governo comunitário, manejo da terra e da natureza e espaço construído.

Muitas pessoas acabam relacionando a permacultura a este último aspecto, a construção, que é o campo mais visível da organização permacultural. Existem além das pétalas, 12 princípios que regem as ações: observe e interaja, capte

e armazene energia, obtenha rendimento, pratique a autoregulação e aceite feedback, use e valorize os serviços e recursos renováveis, não produza desperdícios, design partindo de padrões para chegar aos detalhes, integrar ao invés de segregar, use soluções pequenas e lentas, use e valorize a diversidade, use as bordas e valorize os elementos marginais e use criativamente as respostas as mudanças (www.ipoema.org.br).

Todos estes princípios e formas de organização guiam os permacultores que organizam ações coletivas em espaços destinados a construção de utopias possíveis.

Existe uma inegável crise ambiental em curso, juntamente com crises sociais e humanas, que exigem da humanidade guinadas no comportamento insustentável. Caso continuemos no mesmo caminho da insustentabilidade caminharemos rumo ao completo desequilíbrio da vida no planeta,

105 sobrecarregando os ecossistemas através da avassaladora destruição da natureza, em desmatamento, queimadas e grandes projetos antrópicos (Barragens, Mineração). É nesse contexto que a Permacultura se apresenta como uma possível alternativa a crise socioambiental.