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4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.2 Estudo 2 – O funcionamento de linguagem e do processo de amadurecimento

4.2.2 Díade M2-B2

A análise da ocorrência dos comportamentos propostos partindo da perspectiva enunciativa também foi analisada em 3 minutos de filmagens selecionados, tendo como critério os momentos de maior vigilância do bebê e possibilidade de interação com sua mãe.

Categoria 1ª Etapa (23 dias) 2ª Etapa (80 dias) 3ª Etapa (120 dias)

Narrativa materna partindo da demanda do bebê Homologia Mãe-bebê Interpretância 1 - - 1 - -

Narrativa materna com gesto homólogo - - 1

Fala com bebê: com manhês sem manhês

- 1 -

- 2 -

Fala sobre o bebê 10 4 -

Interpretação não verbal 6 6 -

Contato não verbal 7 3 2

Vocalização NI, NII, NIII - - 1NI

Gesto/choro do Bebê 7 6 -

Quadro 21 – Síntese comportamentos Enunciativo-Comunicativos M2-B2

As ocorrências sinalizadas no quadro 21 são representativas do padrão comunicativo de M2. Conforme já exposto no estudo 1, M2 mantém-se, predominantemente, calada e

aparenta constrangimento durante toda a visita e, em especial, quando está sendo filmada. As homologias, a interpretância e as falas com o bebê e sobre o bebê estão presentes desde os primeiros contatos da mãe com o ele, mas pouco representativas em termos de expressão numérica. Ainda assim, M2 demonstra-se mais à vontade para falar sobre o bebê do que com o bebê e, podemos inferir que a fala dirigida ao bebê exige mais recursos simbólicos e de linguagem da mãe e, até mesmo a sua criatividade, pois ela precisa supor no bebê uma pessoa e um alocutário que ainda não há.

Além disso, se comparado o quadro 21 com 19, de M1B1 observa-se que as ocorrências de todas as categorias não aumentam no decorrer das etapas, exceto no que se refere à vocalização do bebê, que aparece pela primeira vez na terceira etapa, evidenciando o seu processo de amadurecimento. Quando questionada pela pesquisadora, na segunda etapa da coleta de dados, a respeito das vocalizações do bebê, M2 respondeu que ele falava: “Ele faz ãããããã”, o que sugere que em outros momentos, sem a filmadora pode haver mais interação verbal entre a mãe e o bebê.

Nesse caso, a interpretação não verbal e o contato não verbal são categorias mais presentes nas três etapas, o que demonstra que a experiência mãe-bebê de mutualidade se expressa nessa mãe em termos não verbais, ou seja, ela cuida de seu bebê predominantemente não verbalmente, ao menos diante da câmera. O cuidado fornecido por M2 ao seu bebê parece ser satisfatório, no que se refere a um ambiente que favorece o processo de amadurecimento do bebê e, por conseguinte, a integração psicossomática. Porém, caso o padrão de interação verbal da mãe com o bebê expresso durante as filmagens seja representativo da interação em todos os momentos, é possível que o bebê tenha um acesso mais restrito à língua por meio de sua principal cuidadora, fato que pode levar a algum atraso/distúrbio12 de linguagem.

Na terceira etapa de coleta de dados, M2 questionou a pesquisadora a respeito dos serviços gratuitos de atendimento fonoaudiológico e de educação especial, ofertados no município, pois o seu filho mais velho, de quatorze anos apresentava distúrbio de linguagem e dificuldades escolares e sua filha de três anos também apresentava distúrbio de linguagem. Em ambos os casos, os problemas foram identificados pelas professoras, que solicitaram que M2 buscasse os atendimentos o quanto antes. Esse dado parece relevante, pois sugere que há

12 Na literatura clássica fonoaudiológica sobre nosografia da linguagem na infância, os termos atraso e distúrbio

são diferenciados pelo fato de no primeiro caso não haver sinais fisiopatológicos e apenas uma aquisição ou apropriação tardia da linguagem. Já o distúrbio é um termo utilizado quando se evidenciam dificuldades de processamento da linguagem ou psíquicas (intelectuais ou psicoafetivas). No caso de B2 não cabe ainda esse tipo de distinção, embora seus irmãos sejam diagnosticados como possuindo distúrbio. Para maiores discussões do conceito de distúrbio consultar as teses de Surreaux (2006) e Cardoso (2010).

uma predisposição a distúrbio de linguagem em âmbito familiar, e se pode pensar que M2, por ter poucos recursos de linguagem e simbolização, pode estar dispendendo um cuidado mais silencioso e menos criativo aos filhos. Discutir sobre o quanto fatores genéticos e epigenéticos colaboram para o surgimento de distúrbios de linguagem, ultrapassa os objetivos desta Tese. Por hora, pode-se hipotetizar que, nesse caso, há um padrão de interação não verbal marcado no cuidado materno que pode estar sendo um gatilho para que uma predisposição genética se expresse, ou mesmo, que induza a atrasos na evolução da linguagem das crianças. O distúrbio de linguagem identificado nos irmãos reforça a primeira hipótese.

O quadro 22, exposto a seguir também demonstra poucas iniciativas de M2 para a interação com B2 e cabe ressaltar que o bebê estava no colo de sua mãe durante toda a filmagem nas três etapas, sendo que nas duas últimas etapas, M2 o segurou de costas para ela, dificultando ainda mais a interação entre eles. Em nenhum momento, foi solicitado que M2 segurasse o seu bebê de outro modo, pois se entendeu que a maneira como segurava o bebê era habitual e também representativa do seu desejo de não interagir visualmente com o bebê.

Bebê 1ª Etapa (23 dias) 2ª Etapa (80 dias) 3ª Etapa (120 dias)

Comportamentos com objetos - - -

Orientação a pessoas - 4 2

Receptividade a pessoas - 1 6

Busca pessoas - - -

Intersubjetividade - - -

Vocalização - - 1

Mãe 1ª. Etapa 2ª. Etapa 3ª. Etapa

Gestos e demonstrações - - -

Regulação excitando - - -

Regulação excitando verbal - - -

Regulação excitando não verbal - - -

Regulação acalmando - - -

Regulação acalmando verbal - 1 -

Regulação acalmando não verbal 6 6 -

Toque - - -

Vocalização - 3 -

Quadro 22 – Síntese dos comportamentos da Escala Mãe-Bebê (SAINT-GEORGES et al., 2011), M2B2.

Na análise do quadro 22, percebe-se em B2 a orientação a pessoas e a receptividade a pessoas como elementos presentes partindo para uma segunda etapa e que evidenciam que seu interesse pelas pessoas está condizente com o que é esperado para a sua idade. Na primeira etapa da coleta, B2 estava sendo amamentado por mais de um minuto e, em seguida

adormeceu, atendendo à regulação não verbal da mãe para acalmá-lo. Por essa razão, não há nenhuma ocorrência marcada nos comportamentos de B2 na primeira etapa. Já nas etapas seguintes, B2 estava acordado e esperto, mas, como já exposto, foi segurado por sua mãe de costas para ela, fato que reduz a possibilidade de interação entre a mãe e o bebê. Nessas etapas, a orientação e a receptividade a pessoas foram observadas na relação do bebê com a pesquisadora e com suas irmãs, que estavam presentes na terceira etapa de coleta.

O padrão de interação de M2 com seu bebê que é, predominantemente, não verbal na presença da pesquisadora, o que foi confirmado também pelo maior número de regulações não verbais da mãe e menor número de vocalizações, quando comparada às demais mães participantes do estudo. Esse fato foi observado na análise qualitativa realizada em todas as filmagens. Comportamento do bebê com objetos também não foram observados já que não foram introduzidos objetos espontaneamente.