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D EFINI˙ˆO DA G RELHA DE A N`LISE I NTERPRETATIVA

7. O S P ROCEDIMENTOS E A D EFINI˙ˆO DA G RELHA DE A N`LISE INTERPRETATIVA

7.2 D EFINI˙ˆO DA G RELHA DE A N`LISE I NTERPRETATIVA

Da matriz conceptual do T.A.T. que foi atØ aqui ilustrada, ergueremos agora a grelha que servirÆ de anÆlise aos trechos da narrativa que compıe a obra em anÆlise, O

Teatro de Sabbath.

Para a compormos, utilizaremos os aspectos centrais de cada sØrie da folha de

decomposiªo do T.A.T. Ainda que para isso precisemos aqui explorÆ-la, aquilo que hÆ

de mais importante a reter deste exerccio Ø o facto de que, aps o fazermos, poderemos salientar aqueles que serªo as modalidades de tratamento dos conflitos patentes no

material evocado. Esta anÆlise do trabalho psquico que Ø, afinal, a elaboraªo do

discurso, irÆ ter em conta a natureza, a variedade, o peso dos principais procedimentos utilizados pelo sujeito, mas tambØm a sua articula ªo com outros tipos de procedimentos, inclusivamente de outro registo. A atenªo a estes movimentos irÆ permitir a apreciaªo da «qualidade do processo associativo, ao ter em conta as relaıes entre representaıes,

afectos e mecanismos de defesa (do ponto de vista tpico, econmicos e dinmico» (Shentoub, 1997/1999, p.82). E serÆ s aps este tr abalho que esperamos conseguiremos aferir com maior perspicÆcia o tipo de problemÆtica abordada a cada momento em particular, e finalmente no cmputo gera l da obra.

SerÆ este trabalho de anÆlise, procedido pela acªo reflexiva da interpretaªo que comportarÆ em si, necessariamente, as hipteses referentes organizaªo psquica do sujeito, que constituirÆ o verdadeiro corpo e mØrito do trabalho.

Ainda antes de iniciarmos entªo a definiªo da grel ha, uma palavra s para a visibilidade dos mecanismos de defesa na elaboraªo do discurso. Com Shentoub a evocar a definiªo de Widlcher, fazemo-lo tambØm, compreendendo que vai de encontro ao nosso propsito de parcimnia: «um conjunto de o peraıes cuja finalidade Ø reduzir um conflito intrapsquico ao tornar inacessvel e xperiŒncia consciente um dos elementos do conflito. Os mecanismos de defesa serª o os diferentes tipos de operaıes nos quais se pode especificar a defesa, isto Ø, as formas clnicas destas operaıes defensivas» (1971-72, p.14, citado por Shentoub, 1997/1999, p.86). depois a prpria Shentoub que refere que «a actividade defensiva existe em qualquer organizaªo psquica, que ela seja normal ou patolgica» (Shent oub, 1997/1999, p.86). O discurso, como jÆ anteriormente foi elaborado, nªo obstante ser um produto do inconsciente, alicera-se nas suas trocas com o inconsciente, ao longo de movimentos regredientes e progredientes, colhendo e sendo reflexo dos conflitos que formam o tema principal patente no discurso do sujeito. Segundo esta ordem de ideias, a anÆlise destes mecanismos de defesa, mais do que de constituir um bom indicador diagnstico, instam criaªo de um esquema de organizaªo psquica espec fica do sujeito discursivo.

A designaªo de grelha segundo o dicionÆrio portu guŒs, numa das possveis traduªo do seu significado, passa por «esquema no qual a informaªo Ø disposta e organizada em linhas e colunas». Assim, e imagem da folha de decomposiªo original do T.A.T., usaremos esta grelha essencialmente como um instrumento de trabalho que possa ser sensvel ao espectro das modalidades de f uncionamento numa dada organizaªo psquica e que, basicamente, as possa organizar e a judar a pensar. Por isso, e imagem do que temos feito atØ aqui com a nossa apropriaªo deste mØtodo projectivo, iremos

percorrer as vÆrias categorias de procedimentos existentes na dita folha de decomposiªo, acentuando os seus elementos definidores, como o preconizaram Shentoub e os seus colaboradores. Iremos primeiramente introduzir de modo muito breve o nœcleo de cada uma destas sØries para, de seguida, estabeleceremos entªo o alcance de cada uma delas. Estaremos sempre cientes de que todos estes movimentos podem estar pontualmente presentes em qualquer modalidade de organizaªo ps quica, com a maior incidŒncia de algum deles a dever merecer um estudo mais atento.

Pelo facto das duas primeiras categorias remeterem para processos de elaboraªo do discurso que sublinham um registo defensivo neurtico com o grande Œnfase no recalcamento e uma conflitualizaªo marcadamente intrapsquica, podemos apontar, nestes casos, a existŒncia segura de um espao interno constitudo e bem diferenciado do mundo exterior. PorØm, a sØrie A exibe um conflito onde o pensamento Ø portador do desejo e da defesa, ao passo que a B transmite uma ideia de encenaªo das relaıes interpessoais, com a labilidade a colorir o confronto entre as instncias, e com o corpo a ser o palco do conflito, usado como instrumento de seduªo.

AtravØs da sØrie C podemos observar a forma como o sujeito pode delinear um estratØgia de evitamento do conflito, com a distin ªo em relaªo s duas categorias anteriores de que esta se divide em cinco sØries (a C/C Ø inerente aplicaªo do teste, pelo que Ø abordada apenas nalguns pontos chave): a sØrie C/Fo arruma os movimentos discursivos de arranjo fbico, nos quais dominam o evitamento e a fuga, com as narrativas a manter uma certa espessura simblica, ou seja, ressonncia fantasmÆtica. Esta premissa nªo invalida, ainda assim, que estes procedimentos possam estar associados a outros tipos de modalidade de funcionamento psquico que nªo a neurtica; a sØrie C/N engloba os procedimentos mais associados s modali dades narcsicas do funcionamento psquico e, em concreto, para o sobre investimento da polaridade narcsica do fantasma, com um especial acento na expressªo co rporal. Podem, no entanto, ser espaos de conflito dramatizado mas elaborado secun dariamente, ou de retracªo libidinal narcsica ao invØs do conflito pulsional; a sØrie C/M patenteia os mecanismos antidepressivos de tipo manaco, despejando represe ntaıes e afectos melanclicos ou, em sentido inverso, sobreinvestido-os num apelo ao outro; a sØrie C/C Ø aqui apenas abordada na sua face mais ligada tendŒncia para a descarga e diminuiªo da excitaªo e

tensªo; e finalmente a sØrie C/Fa, agrupa os procedimentos do registo factual, com Œnfase no exterior que compensa um mundo interno empobrecido, realando, quando existe uma maior evidŒncia deste tipo de procedimento, um tipo de personalidade operatria, desprovida de capacidade fantasmÆtica ressoante, se assim podemos dizer.

na œltima categoria de procedimentos, a E, onde residem aqueles movimentos catalizados por erupıes ou disrupıes fantasmÆtica s sem aparente controlo ou mediaªo. Sªo modalidades de pensamento saturadas em processo primÆrio, e quando recorrentes, podem conjugar um funcionamento assumidamente patolgico, no limite psictico. A traduªo da utilizaªo exclusiva deste tipo de proc edimentos ilustra falhas graves na ancoragem na realidade externa e, desde logo, na capacidade de ligar afectos e representaıes, e infere absolutas limitaıes no ac esso ao simblico e consequente capacidade de comunicar.

Mas hÆ uma ressalva no que respeita modalidade de organizaªo psquica que pode utilizar, fortuitamente, este tipo de procedimentos. Um aparelho psquico que seja capaz, flexvel no contacto com os seus fantasmas e afectos mais primitivos, que autorize a visitaªo e a circulaªo dos mesmos sem que se de sorganize, Ø tambØm capaz do derradeiro acto de criar.

i. a sØrie A

Como jÆ foi referido, o sujeito procura, atravØs destes procedimentos, a elaboraªo do conflito intrapessoal. O seu discurso Ø banal, por vezes demasiado articulado ou intelectualizado, utiliza recursos a referŒncias literÆrias, culturais e mesmo onricas. Quando este tipo de discurso Ø usado, podemos ver o conflito ser reduzido a um quadro socialmente permitido e ao senso comum, permitindo um distanciamento dos afectos e representaıes inerentes, buscando a uma soluªo. Ressalva-se um aspecto importante: «se recurso s referŒncias sociais, c ulturais, etc. nªo se acompanha de uma ressonncia fantasmÆtica e da elaboraªo do conflit o, nªo se estÆ mais no registo A mas num registo C, em que a inibiªo revelarÆ um modo de funcionamento dito factual» (Shentoub, 1997/1990, p.92), em forma de uma colagem. Esta referŒncia ao senso comum, deve ainda dizer-se, permite o encontro de um compromisso entre o princpio da realidade e os prprios desejos.

Esta tendŒncia para o distanciamento das inerŒncias afectivas do conflito pode surgir de mœltiplas formas e atravØs de variadas estratØgias. Quando o sujeito Ø descrito como investindo um quadro perceptivo, o deslocamento de atenªo para o pormenor que lhe Ø intrnseco pode encobrir o isolamento de afectos ligados ao conflito pulsional. No entanto, Ø preciso aferir se este tipo de movimento remete efectivamente para o controlo do conflito ou se, por outro lado, evidencia uma inibiªo em elaborÆ-lo (registo factual). TambØm as precauıes verbais como talv ez, diramos que, podemos imaginar que, tenho a impressªo de que permitem que o sujeito se escuse de certo modo problemÆtica, nªo se comprometendo com a afi rmaªo directa, um movimento anÆlogo insistŒncia num relato fictcio. Este procedimento pode relevar de uma interpretaªo de uma fantasia, mas mesmo tendo em c onta as precauıes verbais, Ø o sucesso ou insucesso da expressªo pulsional que dev e ser averiguado.

Outros mecanismo comuns, na senda da lgica dos jÆ referidos, podem ter outros contornos. A formulaªo frÆsica que evidencia a pro cura de um afastamento tŒmporo- espacial mais ou menos longo, permite ao sujeito que se aparte de situaıes em que exista dificuldade de elaboraªo. Este movimento surge no relato manifesto, assim como a aparente necessidade de precisªo no emprego de data s ou idades, etc. travando manifestaıes de afecto como a depressiva, por exem plo. Outros procedimento mais subliminares, como a hesitaªo entre interpretaıes diferentes perante a resoluªo de um dado tema, ou o vai e vem entre a expressªo pulsion al principalmente a agressiva e a defesa sob a forma mais usual do isolamento, dene gaªo, anulaªo ou deslocamento num podem tambØm ser utilizados no mbito desta cat egoria de procedimentos. Ainda a ruminaªo dos conteœdos que bloqueia a progressªo d o relato, a anulaªo da evocaªo conflitual, os elementos de tipo formaªo reactiva (limpeza, ordem, ajuda, dever, economia, etc.), a intelectualizaªo e a mudana br usca de direcªo no curso do discurso sªo todos procedimentos que obedecem ao distanciame nto e isolamento do conflito. O que importa Ø que o afecto seja expressado de forma limitada (a mnima ).

ii. a sØrie B

Quando o discurso Ø produto de uma criaªo mais pes soal, com inclusªo da esfera da fantasia e/ou de referŒncias a personagens ausentes, com identificaıes flexveis e

difundidas e ainda com a presena de expressıes ver balizadas de afectos variados, este pode tornar-se cØnico. Este tipo de modalidade de discurso permite ao sujeito o exerccio do jogo de associaıes entre representaıes e afectos, fantasmas e persona gens reais, atribuindo-lhes diversas posiıes mas sendo capaz d e manter uma identidade estÆvel enquanto descreve sentimentos e atitudes. Isto Ø prova de flexibilidade psquica e capacidade de modulaªo dos afectos, marcas do proc esso secundÆrio.

Por outro lado, esta categoria de procedimentos inclui tambØm outros movimentos que prosseguem a mesma lgica, mas onde o acesso elaboraªo consciente estÆ mais comprometido, e a fantasia deambula mais liberta, ainda que nem sempre integrada. A precipitaªo no discurso, uma das marcas desta cate goria de procedimentos, pode servir o

recalcamento de representaıes ou afectos inconscientes mais ca rregados. Do mesmo

modo, um discurso excessivamente fabulado (ainda que nªo no extremo do hermetismo) pode atestar uma erupªo pulsional mais intensa, co nsequŒncia de um tema mais reverberante para o sujeito.

Um dos aspectos mais importantes a reter sobre esta sØrie Ø ao contrÆrio da sØrie A com a sua maior incidŒncia no intrapsiquismo o acento inscrito nas relaıes interpessoais. a ambivalŒncia entre o desejo do o utro e a defesa que se obstrui entre ambos que mais facilmente Ø notada nestes registos. Com esta ambivalŒncia, vem igualmente uma exacerbaªo do afecto atravØs do lin guagem, que se torna facilmente

dramatizada, devido alternncia entre estados emocionais opo stos e o vai e vem entre

desejos contraditrios, com a soluªo a responder, grosso modo, ao principio do prazer (omnipotŒncia do desejo) em detrimento da realidade. O uso de exclamaıes, comentÆrios, digressıes e apreciaıes pessoais sªo todas marcas deste desejo mal contido pelo objecto de amor, assim como do estabelecimento de rivalidades, o que instaura a revivŒncia do conflito edipiano. Tal cenÆrio pode mesmo chegar a uma erotizaªo exacerbada das relaıes, com uma evidente invasªo d a temÆtica sexual ou de um simbolismo transparente. Ainda pegando nesta reapariªo do dipo, questıes como a insistŒncia nos pormenores narcsicos, ainda que com uma valŒncia relacional, mostram o propsito principal de seduªo no discurso do sujei to, que muitas vezes pode ainda usar um agir corporal com essa agenda. PorØm, este objecto de amor, no que toca ao sexo e

idade das personagens, pode surgir algo instÆvel, relevando de dificuldades identificatrias.

iii. a sØrie C

Como jÆ foi aflorado mais acima, a sØrie C dispıe um conjunto de subcategorias, por assim dizer, que mostram sob diferentes luzes a estratØgia de evitamento do conflito como eixo central.

Assim, comeando pela sØrie C/Fo, esta mostra-nos q ue silŒncios importantes ao longo do mesmo discurso, assim como uma tendŒncia geral restriªo na abordagem ao conflito, dªo conta de uma expressªo banalizada, mas sobretudo fugidia dos afectos o sujeito estÆ como que inibido. Encontram-se tambØm nesta sØrie a tendŒncia para nªo revestir com maior densidade os relatos de outros personagens. No fundo, conferir-lhes estatuto familiar ou social ou qualquer aspecto que possa evocar representaıes de relaıes demasiado precisas, pois estas encontram-s e demasiado carregadas no plano pulsional (libidinal e/ou agressivo). Este toada vaga e andina, mais do que provar incapacidade de encarar o conflito, reala as dific uldade de referŒncia identitÆria, com o sujeito a apresentar uma sentida dificuldade em precisar o motivo dos actos ou mesmo as prprias relaıes entre si e as personagens.

Este elenco prossegue com a sØrie C/N, que evidencia problemÆticas acentuadas no que concerne inevitÆvel contenda entre o sujeito e o outro, e no acesso a este outro. Este Ø um discurso cuja maior marca Ø a Œnfase na experiŒncia subjectiva na sua

dimensªo nªo-relacional (nªo confundir, portanto, com os movimentos da sØrie B), com

o sujeito da histria a colocar o foco maior de inv estimento energØtico em si. As descriıes de pensamentos, emoıes vivŒncias , c aractersticas fsicas ocupam todo o seu linguarejar, com a presena do outro a surgir d e modo algo annimo e em busca ou a servir de apoio. Este outro, objecto, como que serve um propsito , um desgnio

funcional para o sujeito e, desacreditado, unidimensional, teria essa como sua œnica e

derradeira missªo, a da ser ajudado (ou ajudar, a destrina Ø menor do que partida seria fÆcil de supor) por este sujeito. As referŒncias pessoais ou autobiogrÆficas sucedem-se neste tipo de discurso, com as descriıes nªo apena s das suas faanhas tendencialmente exacerbadas mas da sua prpria existŒncia a compo rem o ritmo. A linguagem Ø

autocentrada, menos censora que encomiÆstica, e os pormenores que qualificam o objecto tŒm como funªo assegurar as referŒncias identitÆrias na relaªo com o si-prprio, idealmente bom, potente, belo, mas tambØm o contrÆrio. Ademais, o afecto estÆ presente, mas o sujeito como que «coloca-o em exergo, erige-o e mostra-o (...)» (Op.Cit., p. 121), inundando atØ a dimensªo do outro, que talvez nªo o seja ou chegue a ser. este prprio afecto que chega a moldar a postura corporal do sujeito, com as qualidades sensoriais a assomarem dimensªo lingustica, tªo prximas que estªo do consciente, do toque da

pele. As sensaıes de calor e de frio deixam de ser apenas metÆforas, metonmias, para

desenharem a sensaªo fenomenolgica, o real subjec tivo (passe a contradiªo) frÆgil, sente-se. A insistŒncia Ø de resto feita sobre toda a dimensªo definidora dos limites e dos contornos: «curvas, pele, vØus, superfcies, etc. a fronteira dentro/fora que Ø invertida» (Op.Cit., p. 123).

Com este objecto a perfilar-se unidimensionalmente, o sujeito tende a evocÆ-lo como uma cpia simØtrica, estabelecendo uma relaªo especular que nªo se dÆ confusªo identitÆria, mas cujos elementos sªo idŒnticos. Unidimensional tenderÆ a ser igualmente o tempo, imvel, sem o alcance do devir existencial e histrico, que permite a suspensªo do trabalho activo de construir um percur so cronolgico pessoal que integre as inevitabilidades.

Numa linha muito prxima a esta œltima (talvez seja m apenas modalidades de um mesmo tipo de procedimentos), surge a sØrie C/M. Com um maior enfoque no desenho do objecto, e sobretudo na sua falta, Ø frequente este definir-se essencialmente atravØs da sua funªo de anÆclise e de suporte, inevitavelmente idealizado, positiva ou negativamente, colmatando a falha do sujeito. TambØm a troa, a pi ada ou o humor integrado no discurso, desde que integrados na narrativa, permitem ao sujeito a fuga ao afecto depressivo atravØs de uma defesa manaca.

A sØrie C/C, abordada apenas na perspectiva de alguns dos seus procedimentos, surge assim retratada pelo facto de ser conjugar muitos aspectos inerente ao prprio teste. Assim, sublinhamos apenas nesta categoria de procedimentos a utilizaªo da ironia e escÆrnio, que tenda a ridicularizar, a diminuir a importncia da situaªo em que o sujeito estÆ inserido, transpondo para o exterior a responsabilidade da modalidade do discurso e do mal-estar que o sujeito sente.

Ainda dentro deste leque prximo de procedimento qu e privilegiam o evitamento do conflito, surge a sØrie C/Fa que enfatiza o mundo exterior, o real factual. As circunstncias deste discurso estªo envoltas na res triªo e na fuga, na necessidade de permanecer num estado aconflitual. A emergŒncia pulsional Ø, pois, rejeitada, e a acªo narrada pelo sujeito estÆ inscrita no quotidiano, no actual e no concreto, cerceando qualquer hiptese de conflito. Ao contrÆrio de outras sØries, em particular a A e a B, hÆ uma importante luta contra a eventual erotizaªo da s relaıes e a dramatizaªo Ø inexistente. A vida encontra-se «empacotada em esquemas estereotipados da vida quotidiana, ficando presa na rede uma realidade externa que vem amordaar qualquer expressªo dos afectos e ocultar qualquer desejo lib idinal». Descreve-se entªo o fazer procedimental, que obedece «ordem de um Superego exterior, a um alguØm, ou a um Ideal de Ego. O interdito nªo emana de um Supereg o interiorizado, e o desejo do sujeito nªo Ø tido em conta» (Op.Cit., p.129), mas antes a convenªo, que serve como sada mediante a necessidade de envolvimento pessoa l. Os afectos sªo, neste registo, de absoluto acordo com o que Ø habitual e que bem parece.

iv. a sØrie E

A œltima sØrie descrita por Shentoub descreve os movimentos do discurso em que estÆ presente a emergŒncia do processo primÆrio. um discurso muitas vezes bizarro, desadequado, dado que salta por cima de problemÆticas que podem assolam directamente o sujeito. O conflito Ø muitas vezes deslocado, reaparecendo numa actividade substitutiva menos intensa, com o afecto ou atØ qualquer vnculo objectal a ser perfeitamente negado. O sujeito como que descobre elementos raros ou me smo falsos na realidade externa ou noutras personagens, um mecanismo frequentemente ordem da anulaªo da representaªo ligada morte e destruiªo que o o utro e o conflito com o outro lhe evoca. Estas ligaıes bizarras sªo muitas vezes jus tificadas de forma aparentemente arbitrÆria, uma lgica muito ligada condensaªo i nerente ao funcionamento em processo primÆrio. A fragilidade sensorial descrita na sØrie C/N Ø aqui vivida de forma quase ou mesmo catastrfica, com o sujeito a ser «r eenviado, de forma macia, a uma realidade qual adere fortemente, sem que uma tal interpretaªo seja sugerida (...). Esta realidade, sentida e vivenciada como perigosa, mesmo persecutria, manifesta-se por um ataque ao nvel dos sentidos, que provoca um verdad eiro mal-estar, num movimento em

que objecto e sujeito, realidade interna e r ealidade externa se encontram confundidos» (Op.Cit., p. 135). Isto dÆ azo a relatos delirantes, infiltrados por alucinaıes auditivas imprimidas pelo fantasma, que pode atØ surgir sob a forma de um anomalia ou doena percebida em si ou nas personagens descritas . Os objectos resultam degenerados, deteriorados, partidos, estragados, em suma, ilustrando um fenmeno possivelmente descrito por fragmentaªo. Estes movimentos mostram ainda a forma carregada como o sujeito percepciona a realidade, carregada do fantasma que Ø colocado, projectado no objecto, o que pode resultar em fabulaıes extravag antes e absolutamente inadequadas. O discurso Ø de um simbolismo abstracto e hermØtico, mas muitas vezes tambØm pejado de um expressionismo cru, ligado a uma temÆtica sexual ou agressiva com cenÆrios de assassinatos, violaıes, incesto e onde o afecto es tÆ ausente ou surge de forma subjugante, inintegrÆvel.

Nesta œltima modalidade, as representaıes surgem m acias, ligadas a qualquer problemÆtica com a incapacidade, o fim, o sucesso megalmano, o medo, a morte, a destruiªo e a perseguiªo a serem os temas mais re correntes. Nªo existe distncia no contacto com a realidade exterior e interior e a identificaªo projectiva Ø a lei estabelecida. Do mesmo modo, a perseveraªo de quai squer temas maiores Ø um movimento facilmente constatÆvel em qualquer discurso, impondo-se apesar das variaıes de estmulo. Os temas mais explorados pel a perseveraªo sªo os da ordem da culpabilidade e da castraªo num registo neurtico, da ordem da perda no registo narcsico e da ordem da destruiªo no registo da ps icose.

TambØm a confusªo de identidades ou telescopagem de papeis integra este grupo de procedimentos. Quando lemos o discurso narrado e as personagens a descritas surgem confundidas, mesmo amalgamadas numa œnica representaªo e se torna praticamente