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A LGUNS A SPECTOS F INAIS NA A N`LISE DO T EXTO E A L EGIBILIDADE

7. O S P ROCEDIMENTOS E A D EFINI˙ˆO DA G RELHA DE A N`LISE INTERPRETATIVA

7.3 A LGUNS A SPECTOS F INAIS NA A N`LISE DO T EXTO E A L EGIBILIDADE

Dado que nªo usaremos uma folha de decomposiªo com o Ø sugerido aquando da aplicaªo do T.A.T., o agrupamento dos procedimento s psquicos serÆ feito directamente, ou seja, ao longo da anÆlise do trecho narrativo. Assim, tendo em conta toda a elaboraªo prØvia sobre estes mesmos procedimentos, procuraremos lanar a nossa apreciaªo da organizaªo defensiva no seio do funcionamento psq uico. Mais ainda do que a aplicaªo mais costumeira do T.A.T. poderÆ fazer prever, a exploraªo que, de seguida, iremos empreender nesta tese nªo poderÆ apenas consistir numa simples enumeraªo dos procedimentos presentes no texto. Ela exigirÆ, como procura sempre fazer o psiclogo, a definiªo de um possvel sentido, neste caso atribudo ao texto como o seria junto de um

indivduo num contexto especificamente clnico.

Nªo deixaremos nunca de ter em conta dois critØrios capitais sublinhados por Shentoub para que a anÆlise seja bem conduzida: a frequŒncia com que surgem os procedimentos psquicos e/ou o seu peso no processo associativo. Pesaremos a massividade dos movimentos defensivos, pensando-os na sua carga e especificidade psicopatolgica e no seu contacto com a Pulsªo de M orte.

SerÆ, indubitavelmente, o sentir do conjunto de procedimentos evidenciados pelo sujeito do texto, «a sua natureza, bem como a sua articulaªo com procedimentos da mesma sØrie ou de outra sØrie» (Shentoub, 1997/1999, p.151), que nos irÆ verdadeiramente permitir aceder ao leque defensivo usado pelo sujeito. SerÆ nesta variedade de procedimentos do discurso que procuraremos um estilo predominante e as condutas psquicas que lhe sªo subjacentes, de modo a interpretÆ-lo, mais do que em termos psicopatolgicos, de modo a formar uma hipt ese de organizaªo psquica. Este sentir que referimos vai, conforme estamos em crer, muito de encontro qualidade da

legibilidade como definida por Shentoub.

Esta noªo de legibilidade Ø destacada a partir dos escritos de AndrØ Green, «que, ao servir-se da metÆfora da escrita para dar conta do movimento de uma sessªo de anÆlise, escreve: «Em suma, o critØrio de Œxito reside aqui, nªo tanto na construªo do conteœdo do texto, mas na construªo do prprio tex to, nas formaıes dos traos da sua escrita»» (Green, 1973, p.206, citado por Shentoub, 1997/1999, p.153).

SerÆ tambØm a partir desta premissa, em analogia ao que fez Shentoub com o T.A.T., que iremos entªo apreciar a qualidade e os efeitos dos procedimentos do discurso, com especial atenªo ao arranjo e expressªo das r epresentaıes e mobilizaªo dos afectos. Estes movimentos serªo o mecanismo mais pr ximo que teremos para atentar ligaªo entre os imperativos conscientes e a fantas matizaªo, dado que se inscrevem no trabalho de elaboraªo do relato e possuem um certo valor de desimpedimento. A relaªo que estÆ em causa Ø a de comunicabilidade entre o sujeito e o seu mundo interno, assim como o sujeito e o outro.

PorØm, quando pudermos perceber que existe um sobrepeso numa dada categoria de procedimentos, e atestarmos que este demonstra uma luta entre a irrupªo fantasmÆtica nªo elaborÆvel e as modalidades defensivas, Ø provÆvel que nos estejamos a acercar de um nœcleo importante da organizaªo psquica do suj eito. Comprovamo-lo atravØs do estudo da energia investida neste tipo de defesa mais especfica que parece, efectivamente, baixar o limiar da angœstia ficand o evidente o valor econmico da defesa. A defesa pode, deste modo, «encontrar-se mais ou menos subtrada aos processos secundÆrios, ou atØ mesmo fantasmatizaªo» (Shent oub, 1997/1999, p.153). O relato torna-se, subsequentemente, empobrecido, entrecortado pelos mecanismos defensivos e

atØ desorganizado, momentnea ou definitivamente. A legibilidade permite-nos dar conta de eventuais alteraıes, transitrias ou efectivas, na relaªo de comunicabilidade do sujeito com o seu mundo interno e/ou com o outro.

Quando o sujeito demonstra uma maior especificidade na escolha dos procedimentos, ou quando aparenta se escoar de um a forma estabelecida, associado a uma inibiªo importante, a construªo da sua respos ta estarÆ condicionada pelos riscos de invasªo pelos processos primÆrios. SerÆ atravØs da legibilidade que iremos aferir a existŒncia de perturbaıes eventualmente graves na relaªo de comunicabilidade do sujeito consigo prprio e com o outro.

Shentoub e seus colaboradores, no Manual de Utilizaªo do TAT , a nossa principal referŒncia para a construªo deste trabal ho, sintetiza os principais valores da legibilidade:

A legibilidade Ø sinnima de um trabalho de ligaªo quando: (...)

os procedimentos em acªo estªo presentes de um mo do flexvel, variado e sªo suficientemente slidos para participar na elabora ªo do relato;

os afectos ligados s representaıes aparecem modu lados em funªo das variaıes do estmulo;

a ressonncia fantasmÆtica estÆ em relaªo com as solicitaıes latentes da imagem.

Num continuum regrediente, a legibilidade altera-se e, no limite, deteriora-se: um impacte fantasmÆtico muito forte (...) precipita defesas igualmente macias, o que perturba e, eventualmente, desorganiza o curso do pensamento. A natureza dos procedimentos em acªo, o seu valor econmico e din mico e, sobretudo, as suas constelaıes, sªo outros tantos testemunhos das mod alidades do funcionamento psquico.

A legibilidade Ø igualmente considerada alterada se as histrias, aparentemente construdas, se revelam desprovidas de qualquer res sonncia fantasmÆtica (1997/1999, p.154).

Nªo devemos deixar de referir que a legibilidade po de oscilar ao longo da obra, da mesma forma que faz ao longo de todo o protocolo quando estamos no T.A.T.. PorØm, Ø indispensÆvel que estejamos atentos ao estabelecimento de retomas associativas quando,

de facto, movimentos de inibiªo ou de aparente des organizaªo do pensamento urgem do discurso (Op.Cit., p.154).

Neste caso, Shentoub postula entªo a presena de um a «organizaªo susceptvel

de mudana », mostrando a verdadeira funªo plÆstica da organi zaªo psquica o

exerccio de abertura variedade associado mobil idade dos mecanismos de defesa.