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S OLICITA˙ES L ATENTES NOS C ARTES TAT: A S P ROBLEM`TICAS

7. O S P ROCEDIMENTOS E A D EFINI˙ˆO DA G RELHA DE A N`LISE INTERPRETATIVA

7.1 S OLICITA˙ES L ATENTES NOS C ARTES TAT: A S P ROBLEM`TICAS

Nªo iremos, agora, voltar a referir a importncia s obretudo relacional dos cartıes no processo-T.A.T., mas iremos sim salientar, um pouco en passant, quais as principais solicitaıes latentes dos mesmos. Propomo-nos a est e exerccio por um motivo especfico: as situaıes que os cartıes descrevem, apesar de indeterminadas e ambguas, remetem para conflitos considerados universais «s ituaıes humanas clÆssicas», no dizer de Murray (citado por Shentoub, 1997/1990, p.49) para qualquer um de ns, pelo que uma exposiªo destas solicitaıes evocadas pelos ca rtıes pode ajudar-nos, sugerindo direcıes a seguir aquando da anÆlise final do noss o texto. Poderemos, com base nelas, inscrever os principais registos conflituais do sujeito em anÆlise.

Nªo iremos fazer menªo ao material manifesto, i.e. a imagem objectivamente traada, focando-nos mais nas reactivaıes inconsci entes que este material evoca. Deste modo, procuraremos elencar quais as principais solicitaıes latentes dos cartıes 1, 2, 3BM, 4, 5, 6BM, 7BM, 8BM, 10, 11, 13B, 13MF, e 19. Escolhemos estes cartıes pelo facto de, excepªo do cartªo 16 (que dispıe uma i magem em branco), serem estes os indicados para a aplicaªo desta prova em homens ad ultos, como Ø o caso de Sabbath, a nossa personagem principal e objecto de estudo.

Assinalamos desde logo a questªo da gestªo da capacidade ou incapacidade de sucesso, perante uma tarefa que se pode afigurar como difcil ou mesmo impossvel, o que tambØm permite aferir o nvel de maturidade e de avaliaªo das dificuldade que o real impıe ao sujeito remetendo para uma eventual vivŒ ncia da angœstia de castraªo . Esta questªo estÆ ainda intimamente ligada constituiª o slida da identidade, a capacidade do sujeito de se situar inteiro face a um objecto inteiro. Deve ser investigada nª o apenas no seu valor da potŒncia ou impotŒncia (tŒ-la ou nªo a ter), mas sobretudo como

plataforma de acesso fruiªo e ao prazer , integrando o objecto de desejo e a forma como Ø investido.

Quando a crispaªo narcsica e a luta antidepressiv a sobressaem nos movimentos do sujeito, elas podem revelar de um evitamento da angœstia de castraªo na afirmaªo de uma posiªo de omnipotŒncia. O princpio do prazer expressa-se de forma megalomanaca, negando em absoluto quaisquer sentim entos de imaturidade e impotŒncia. Num sentido inverso, a mesma problemÆtica pode estar patente em sentimentos de insuficiŒncia do investimento de si, com os afectos depressivos a mostrarem a sua cara.

Ademais, a importncia da investigaªo do conflito edipiano Ø basilar , com a questªo da estabilidade da identidade na sua diferenciaªo com os outros a ser a mais premente dentro deste conflito, nas componentes de sexo e de geraªo . O conflito deve desenrolar-se em termos triangulares, com a presen a de relaıes exclusivamente duais a merecerem particular atenªo devido suscitaªo de relaıes de dependŒncia , que configuram entidades relacionais œnicas. Se os processos identitÆrios nªo estiverem suficientemente bem constitudos, pode surgir uma p seudotriangulaªo, seja atravØs da confusªo dos papØis (telescopagem) ou da clivagem entre um bom e um mau objecto que vem substituir-se diferena de sexos..

De referir a necessidade de conduzir a investigaªo da forma a aferir como o sujeito vive o conflito pulsional no seio da relaª o heterossexual adulta, em particular quando os membros manifestam movimentos diferentes agressivos e/ou libidinais. Este duplo movimento funda a ambivalŒncia jÆ referida mais acima, com a ligaªo entre ambas as pulsıes a dever ser possvel, com espao p ara o terceiro elemento ser integrado.

Para que isto suceda, Ø necessÆria a referida boa integraªo dos laos afectivos , com o conflito inerente aos mesmos a desenhar-se entre desejos e defesas. Num duplo movimento pulsional, o desejo libidinal pelo sexo oposto e a rivalidade com o objecto homossexual devem estar presentes, assim como algumas evocaıes depressivas que se devem ao peso dos interditos, sobretudo aqueles ligados ao incesto. Quando as evocaıes depressivas sªo mais manifestas, estas podem dever- se a dificuldades na revivŒncia da

perda, na expressªo da renœncia dos primeiros objecto de amor. Isto terÆ consequŒncias

de forma dolorosa, e com a gestªo da agressividade a ser mal efectuada. No limite psictico, os fantasmas da cena primitiva provar-se -iam absolutamente destrutivos e mortferos, e a aproximaªo mªe/filho geraria grand e angœstia, patente em temas de destruiªo e morte.

A problemÆtica da perda de objecto e a elaboraªo depressiva sªo, de resto, factores centrais na investigaªo para a compreensª o do funcionamento psquico de qualquer sujeito. Nesta investigaªo, como no T.A.T ., deve se ter em conta a representaªo narcsica de si prprio, assim como o s movimentos identificatrios, dado que o reconhecimento em si mesmo de afectos depressivos serÆ um bom indicador para a compreensªo do lugar desta problemÆtica no sujeito a recusa da depressªo pode organizar uma defesa maior de tipo manaco.

Devemos ainda procurar desvelar a forma como o sujeito reage perante esta perda. Precisamos ver se ele imerge na depressªo para depo is se libertar atravØs de um luto, ou se, noutro sentido, constatamos que a perda do objecto traz consigo o fantasma jÆ

instalado que sinaliza a progressªo impossvel. Esta primeir a possibilidade aponta a

modalidade neurtica, que integra a ambivalŒncia do lao de amor ainda estabelecido com a representaªo do objecto, com o desejo do mes mo ainda presente, e o mandato da realidade que o superego impıe, como o fez aquando do dipo. Em contrapartida, num funcionamento de tipo narcsico, Ø um ideal do Ego que parece imperar, com a perda do objecto a ser sentida como uma ferida narcsica. A depressªo nªo Ø sentida com culpa, como na modalidade neurtica, mas com vergonha e inferioridade. O objecto, constata- se, Ø antes investido como duplo narcsico, alimento para o amor-prprio do sujeito, e nªo como alteridade. Perfilando este caminho, o sujeito psictico nªo enfrenta a depressªo como tal, mas antes como uma falha na pr pria representaªo unitÆria da sua identidade. Isto pode surgir num texto como percep ªo de deformaıes corporais na forma como uma personagem concebe o outro, com temas de destruiªo quando a agressividade Ø heterodirigida e parania quand o Ø autodirigida a mostrarem-se presentes.

Prosseguindo, a investigaªo do texto deve contar c om a compreensªo do lugar que a imagem materna ocupa no discurso do sujeito. Podendo ser vivenciada como uma instncia superegica, esta imagem tende a suscitar manifestaıes agressivas e libidinais

menos moduladas, pelo que o grau desta modulaªo de ve ser investigado. Em registos mais arcaicos, e na ausŒncia de uma consistŒncia superegica a pautar o funcionamento psquico do sujeito, esta imago materna pode ser vi vida de uma forma persecutria e mesmo intrusiva. Mais uma vez, a economia pulsional, nos seus ndices agressivo e libidinal face a esta representaªo constitui um in dicador precioso. Devemos estar por isso atentos a projecıes arbitrÆrias e massivas de afectos agressivos, mas tambØm libidinais.

O indicador principal da problemÆtica edipiana, a diferenciaªo de sexos e geraıes, serÆ sempre fundamental nestas contempla ıes. Quando esta problemÆtica surge adequadamente estruturada, este discernimento Ø claro e a relaªo com a imagem materna nªo evoca fantasmas incestuosos, ou origina estados de grande excitaªo ou desorganizaªo parcial.

No respeitante elaboraªo da relaªo pai-filho, a proximidade deverÆ estar presente em termos de ternura e de oposiªo, ou sej a, mais uma vez, de forma

ambivalente. A energia pulsional deve surgir intrincada, mas Ø comum o configuraªo de

cenÆrios em que a agressividade e a rivalidade sªo mais manifestas, ainda que integradas. Em contrapartida, quando o investimento libidinal Ø mais expresso, a relaªo pode resultar erotizada, no entanto, este movimento libidinal Ø o responsÆvel pela superaªo do conflito edipiano e pelo acesso mesma ambivalŒncia. Em suma, numa dimensªo adequada, «o pai pode ser um rival, mas o amor de que ele Ø objecto permite ligar a agressividade sentida por ele» (Shentoub, 1997/1990, p.72).

para uma maior compreensªo do lugar do sujeito ne sta relaªo com a representaªo paterna que devemos procurar apreciar a eventual existŒncia de uma angœstia de castraªo ou maior agressividade relaci onada com a dita representaªo. Este lugar irÆ privilegiar uma posiªo de um em relaªo a outro, activa ou passiva, com a agressividade de um lado e o amor do outro. A desintricaªo pulsional configura-se como uma via possvel de compreensªo quando hÆ uma clara tomada de posiªo perante o sujeito. Neste plano, a agressividade deixa de ser atenuada, e pode inscrever-se num sistema de funcionamento prØ-genital, onde dominam representaıes e afectos macios.

Alguns cartıes remetem, como foi jÆ referido, para a problemÆtica da perda de objecto, mas existe ainda um em particular 13B que procura colocar o sujeito perante

a solidªo. A solidªo pode levar ao aparecimento de associaıes com cargas fantasmÆticas mais ou menos intensas, por vezes da cena primitiva mas mais geralmente Ø o abandono na relaªo mªe/criana o tema subjacente mais inten samente solicitado. Com a angœstia de separaªo e de perda de objecto cabea, serÆ n atural encontrar em situaıes destas, ou seja, em que o sujeito se sente ou percepciona como estando s , afectos depressivos. Daqui, Ø natural assistir construªo de defesas d e ndole manaca, sinal de uma luta antidepressiva.

Num contexto em que o sujeito represente de forma arcaica a imagem materna, o simbolismo materno e tudo o que o envolve terÆ uma atmosfera de precariedade ou deterioraªo, que pode surgir associada ou nªo a te ndŒncias reparativas. Na eventualidade destes movimentos reparativos nªo se encontrarem ef ectivamente presentes, testemunhando uma significativa desintricaªo pulsi onal, serÆ de esperar que os fantasmas persecutrios e/ou destrutivos assolem o discurso do sujeito.

Finalmente, a questªo da organizaªo egica no que respeita separaªo entre o dentro e fora, pela evocaªo de um continente e um meio que permitam a projecªo do bom e do mau. A consistŒncia do funcionamento psquico do sujeito Ø passvel de ser investigada atravØs da forma como este admite o bom no seu interior e consegue expulsar o mau. Ademais, esta realidade externa Ø outro indicador fundamental, com a nossa investigaªo a dever incidir no uso que o sujeito f az dela: Ø suporte (anacltica), Ø afiada (crispaªo narcsica), ou Ø assumidamente diferente (na sua alteridade). nesta dinmica como que membranosa que se funda o pensamento, e estÆ patente na carga fantasmÆtica imposta linguagem.

Em jeito de conclusªo da sntese de problemÆticas a partir das quais elaborÆmos os œltimos parÆgrafos, registamos aqui os principais temas que os cartıes T.A.T. abordam: o cartªo 1 perscruta a sensibilidade cas traªo, o 2 a capacidade de autonomia, o 3BM investiga a depressibilidade, 4, 10 e 13MF a relaªo do casal (com este œltimo a ser particularmente sensvel capacidade de gestªo da intrincaªo pulsional), o cartªo 7BM permite uma maior atenªo relaªo homossexual e o 8BM contempla a agressividade dirigida ao pai, com os cartıes 11 e 19 a remeterem para angœstias mais arcaicas.

Posto isto, referimos as principais questıes nos qu ais a nossa investigaªo irÆ incidir:

como estÆ configurado o conflito edipiano, na sua componente de diferenciaªo perante os outros, no sexo e na geraªo?

a intricaªo ou desintricaªo pulsional: o afecto e xiste? Ø expresso de forma manifestamente ertica ou agressiva? ou a sua expre ssªo Ø integrada na ambivalŒncia?

que gestªo Ø feita da capacidade ou incapacidade do alcance do sucesso, na relaªo com a angœstia de castraªo, e na possibili dade de acesso fruiªo e ao prazer?

a perda do objecto Ø renunciada e este Ø reevocado, sentido como intrusivo e impossibilitando a progressªo psquica ou a elabora ªo depressiva do luto estÆ instalada como serÆ visvel pela ambivalŒncia?

o objecto Ø investido na sua unidade alteritÆria, Ø sentido como abandnico e por tal alimento para o amor prprio do sujeito (anÆclise) ou mostra ainda ser a sombra de um fantasma, de um objecto arcaico, primÆrio, causa de uma profunda ferida narcsica que origina vergonha e inferiorida de (crispaªo narcsica)?