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C ARDIOVASCULAR E M EDIDAS D E P REVENÇÃO 1.1 J USTIFICAÇÃO D O T EMA D O P ROJETO

1.5. D IABETES M ELLITUS

A DM é uma doença crónica e progressiva caracterizada pelo aumento dos níveis de glicose na circulação sanguínea. Esta hiperglicemia deve-se, em alguns casos, à produção insuficiente de insulina, noutros à insuficiente ação desta hormona e, frequentemente, à combinação destes dois fatores. Existem, por isso, vários tipos de DM, sendo os principais a DM tipo 1, a DM tipo 2 e a diabetes gestacional.

A diabetes gestacional é uma forma de intolerância à glicose detetada pela primeira vez no decurso da gravidez, ao contrário da DM na gravidez, que é pré-existente.37 A DM tipo 1 é uma doença auto-imune que se caracteriza pela falta de produção de insulina, devida a uma destruição quase total das células β das ilhotas de Langerhans do pâncreas. É um tipo de DM relativamente raro (cerca de 10% dos casos), atingindo na grande maioria crianças ou jovens e não está diretamente relacionada com maus hábitos de vida ou de alimentação. Por outro lado, a DM tipo 2 (90% dos casos de DM) está fortemente associada a um estilo de vida pouco saudável, de onde se destaca a má alimentação e o sedentarismo, apesar de muitas das vezes já existir uma predisposição genética para o desenvolvimento deste tipo de DM.38

Segundo a DGS, 55,4% das pessoas obesas têm DM, sendo já sabido que a obesidade está diretamente relacionada com o fenómeno de resistência à insulina. Os adipócitos hipertróficos da zona abdominal desencadeiam uma resposta de stress em conjunto com macrófagos, que culmina na secreção de moléculas promotoras da resistência à insulina, como a resistina. Atingindo a circulação sanguínea, estas moléculas atuam em inúmeros órgãos, nomeadamente no fígado, músculo esquelético e células endoteliais, perpetuando este ciclo de resistência à insulina ligada à obesidade.

O procedimento de diagnóstico de DM encontra-se listado abaixo (Tabela 6), de acordo com as normas da DGS,39 sendo que por sintomas clássicos se consideram a polifagia, poliúria, polidipsia, xerostomia e perda de peso involuntária. A DM é uma doença com importantes co- morbilidades associadas, pelo que os diabéticos tendem a desenvolver várias complicações microvasculares em diversos órgãos do organismo, como é o caso do pé diabético, da retinopatia diabética, da nefropatia diabética e da doença periodontal. É importante reduzir os danos através de um controlo rigoroso da glicémia, da PA e com a vigilância periódica dos órgãos mais

Ana Telma da Silva Pereira Leal, abril de 2019

sensíveis. No entanto, é também responsável por causar complicações macrovasculares, que podem conduzir a EAM e a AVC, sendo um importante fator de risco.

Em Portugal, dados da DGS mostram existir uma prevalência na população de 9,8% de diabetes (estando acima da média europeia) e estimam haver ainda 44% da população por diagnosticar. A DM é responsável por aproximadamente 7% das mortes dos portugueses.40 Além de todas as dicas de prevenção já conhecidas, durante os rastreios que efetuei procurei mostrar aos participantes a realidade destes números preocupantes, factos esses que se encontram igualmente mencionados no panfleto que elaborei sobre a DM (Anexo XI) e distribuí a todos os utentes.

Tabela 6 - Critérios de diagnóstico de DM e identificação de categorias de risco aumentado para diabetes - Adaptado39

Classificação Critérios de diagnóstico

Diabetes Mellitus

Glicémia de jejum  126 mg/dL + Sintomas clássicos Glicémia ocasional  200 mg/dL + Sintomas clássicos

Glicémia  200 mg/dL às 2h na Prova de Tolerância à Glicose Oral com 75g de glicose

Hemoglobina Glicada A1c  6,1% Anomalia da Glicémia de Jejum Glicémia de jejum ≥ 110 e < 126 mg/dL

Tolerância Diminuída à Glicose Glicémia às 2h na Prova de Tolerância à Glicose Oral ≥ 140 e < 200 mg/dL

1.6.D

ISLIPIDÉMIAS

O colesterol é uma gordura essencial que, nas quantidades corretas, tem várias funções fundamentais ao bom funcionamento do nosso organismo, como por exemplo a manutenção de membranas celulares e a produção de hormonas, vitamina D e ácidos biliares, que ajudam a digerir os alimentos. O colesterol pode ser de origem endógena, se produzido pelo fígado, ou então de origem exógena, se obtido através da alimentação e pode apresentar-se em excesso devido a qualquer uma das suas origens. Habitualmente, o excesso é de causa genética se for endógeno, ou então, devido a maus hábitos alimentares, como a ingestão excessiva de gorduras saturadas de origem animal, se a sua origem for exógena.

A prevalência de colesterol elevado nos portugueses entre os 25 e 74 anos é cerca de 63,3%, segundo os dados mais recentes da DGS,31 o que é preocupante, dada a facilidade de se desenvolver o processo de aterosclerose e as consequências daí resultantes (detalhado no ponto 1.2.).

Existem essencialmente dois tipos de colesterol na nossa circulação sanguínea: o “bom colesterol” correspondente ao c-HDL (Colesterol da Lipoproteína de Alta Densidade) e o “mau colesterol”, c-LDL (Colesterol da Lipoproteína de Baixa Densidade). Tal como os nomes vulgares indicam, o c-LDL é aquele que se deposita na parede das artérias, provocando aterosclerose, por isso, quanto mais elevado o seu nível no sangue, maior é o RCV. Por outro lado, as c-HDL têm como papel a limpeza das artérias, assim, quanto mais elevadas no sangue, menor é o risco de surgir DCV.41 Determinadas estas diferenças, os valores recomendados para o CT, c-HDL e c-LDL encontram-se representados na Tabela 7, tendo em conta o RCV.42 Desde logo, torna-se

Ana Telma da Silva Pereira Leal, abril de 2019

necessário conhecer estratégias que diminuam o c-LDL e aumentem o c-HDL de forma a obtermos benefícios para a saúde. Sabe-se que existem vários fatores modificáveis que alteram este equilíbrio, como por exemplo os listados na Tabela 8. Apesar disso, existem também os fatores não modificáveis, que tal como o nome indica, não se alteram com mudanças no estilo de vida. São exemplos disto a predisposição genética e a menopausa.43

Ao longo do contacto com os participantes do rastreio, nomeadamente aqueles que analisaram o CT em jejum, elucidei-os destes factos e da importância do papel do colesterol no RCV e nas DCV. Tal como para os outros fatores de risco, também complementei a informação acerca do colesterol com um panfleto (Anexo XII) que foi entregue a todos os participantes desta intervenção.

Tabela 7 - Valores de referência recomendados para os vários escalões de RCV - Adaptado42

Sem RCV ou SCORE 1% e <5% SCORE 5% e <10% SCORE 10%

CT <190 mg/dL <175 mg/dL <175 mg/dL

c-LDL <115 mg/dL <100 mg/dL <70 mg/dL

c-HDL Homens >35 mg/dL

Mulheres >45 mg/dL >40 mg/dL >40 mg/dL

Tabela 8 - Alterações no perfil lipídico com alguns fatores dietéticos e não dietéticos - Adaptado44,45

Fator c-LDL c-HDL

Gorduras saturadas Aumento Aumento

Gorduras polinsaturadas Diminuição Aumenta ou mantém

Gorduras monoinsaturadas Diminuição Aumenta ou mantém

Fibras Diminuição Aumento

Perda de peso Sem alteração significativa Aumento Álcool (consumo moderado) Sem alteração significativa Aumento

Tabaco Sem alteração significativa Diminuição

Exercício físico Sem alteração significativa Aumento