• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 2 – O REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 O ENSINO DE FÍSICA MODERNA E CONTEMPORÂNEA NO ENSINO MÉDIO

2.1.1 D OCUMENTOS O FICIAIS B RASILEIROS E O ENSINO DE F ÍSICA M ODERNA E

CONTEMPORÂNEA NA EDUCAÇÃO BÁSICA

Os documentos oficiais brasileiros para a educação, a saber, LDB (BRASIL, 1996), os PCNEM (BRASIL, 1998) e as PCN+ (BRASIL, 2002) corroboram com as propostas de inclusão da FMC no ensino médio e também evidenciam a sua necessidade.

A LDB (BRASIL, 1996), em seu artigo 35, inciso IV, ao estabelecer as orientações para a educação básica, afirma como uma das finalidades do ensino médio “a compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos dos processos produtivos,

relacionando a teoria com a prática, no ensino de cada disciplina.” Também orienta, no artigo 36, em seu § 1º, incisos I e II, ao estabelecer as diretrizes para estruturação do currículo, especifica que conteúdos e metodologias devem ser organizados de forma que o educando ao final do ensino médio demonstre “domínio dos princípios científicos e tecnológicos que presidem a produção moderna”, além de um “conhecimento das formas contemporâneas de linguagem” (BRASIL, 1996, p.14).

As orientações dos artigos 35 e 36 da LDB são reforçadas pela Resolução nº 2/2012, que estabelece as novas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio em seu artigo 4º inciso IV e no artigo 12, inciso III, alíneas a) e b), respectivamente, propondo uma educação científica para a atualidade na formação do estudante deste nível de ensino (BRASIL, 2012).

Os PCNEM apresentam também orientações para o estabelecimento de um

Ensino Médio que, sem ser profissionalizante, efetivamente propicie um aprendizado útil à vida e ao trabalho, no qual as informações, o conhecimento, as competências, as habilidades e os valores desenvolvidos sejam instrumentos reais de percepção, satisfação, interpretação, julgamento, atuação, desenvolvimento pessoal ou de aprendizado permanente, evitando tópicos cujos sentidos só possam ser compreendidos em outra etapa de escolaridade (BRASIL, 1998, p.4).

Tais orientações remetem a uma reflexão e conduzem ao estabelecimento de um novo sentido para o Ensino de Física nessa etapa da educação básica, apontando cada vez mais para uma abordagem mais atual para essa ciência, coerente à contextualização da FMC.

No que se relaciona diretamente aos conhecimentos de Física, os PCNEM orientam que o ensino desse componente curricular deve contribuir para formação de uma cultura científica efetiva, assentindo as discussões atuais acerca da FMC no ensino médio ao apresentar a Física como:

um conhecimento que permite elaborar modelos de evolução cósmica, investigar os mistérios do mundo submicroscópico, das partículas que compõem a matéria, ao mesmo tempo que permite desenvolver novas fontes de energia e criar novos materiais, produtos e tecnologias. Incorporado à cultura e integrado como instrumento tecnológico, esse conhecimento tornou-se indispensável à formação da cidadania contemporânea (BRASIL, 1998, p.22).

O documento ainda ressalta a importância de uma renovação nas abordagens dos conteúdos em sala de aula, comumente restritos à Física Clássica, e aponta a necessidade de “rediscutir qual Física ensinar para possibilitar uma melhor compreensão do mundo e uma formação para a cidadania mais adequada” (BRASIL, 1998, p.23), e propõe dar ao Ensino de Física novas dimensões que vão além da mera organização curricular de conteúdos, promovendo um “conhecimento contextualizado e integrado à vida de cada jovem” (BRASIL, 1998, p.23) e, sobretudo uma educação científica atual ao:

Apresentar uma Física que explique a queda dos corpos, o movimento da lua ou das estrelas no céu, o arco-íris e também os raios laser, as

imagens da televisão e as formas de comunicação. Uma Física que

explique os gastos da “conta de luz” ou o consumo diário de combustível e

também as questões referentes ao uso das diferentes fontes de energia em escala social, incluída a energia nuclear, com seus riscos e benefícios. Uma Física que discuta a origem do universo e sua evolução (BRASIL, 1998, p. 23 - grifo nosso).

Ao considerar o ensino médio “um momento particular do desenvolvimento cognitivo dos jovens” (BRASIL, 1998, p.23), os PCNEM afirmam que o aprendizado de Física favorece uma construção de sentidos práticos e conceituais que conduzem o estudante ao desenvolvimento de habilidades e competências caracterizadas por um olhar mais crítico sobre a realidade vivenciada, capaz de emitir opiniões relevantes em relação aos aspectos físicos observados nos fenômenos (BRASIL, 1998).

Nesse sentido, apontando para uma abordagem coesa à FMC, o documento afirma que, para alcançar o almejado desenvolvimento dessas habilidades e competências, a escolha dos conteúdos e temas a serem trabalhados é de suma importância, de modo que o aprendizado de Física estimule o estudante a:

acompanhar as notícias científicas, orientando-os para a identificação sobre o assunto que está sendo tratado e promovendo meios para a interpretação de seus significados. Notícias como uma missão espacial, uma possível colisão de um asteróide com a Terra, um novo método para extrair água do subsolo, uma nova técnica de diagnóstico médico envolvendo princípios físicos, o desenvolvimento da comunicação via satélite, a telefonia celular, são alguns exemplos de informações presentes nos jornais e programas de televisão que deveriam também ser tratados em sala de aula (BRASIL, 1998, p.27).

No intuito de dar mais amplitude às propostas dos PCNEM e orientar sua implementação, no ano de 2002 foram publicados os PCN+ que estabeleceram

orientações complementares e mais objetivas para a ação didático-pedagógica. Para o Ensino de Física, o documento fortalece a ideia de uma atualização curricular e sugere seis temas estruturadores para organizar os conteúdos que potencialmente desenvolveriam habilidades e competências nos alunos, propostas nos PCNEM. São eles: 1. Movimentos: variações e conservações; 2. Calor, ambiente e usos de energia; 3. Som, imagem e informação; 4. Equipamentos elétricos e telecomunicações; 5. Matéria e radiação; 6. Universo, Terra e vida.

Não se trata, certamente, da única releitura e organização dos conteúdos da Física em termos dos objetivos desejados, mas serve, sobretudo, para exemplificar, de forma concreta, as possibilidades e os caminhos para o desenvolvimento das competências e habilidades já identificadas. Exemplificam também como reorganizar as áreas tradicionalmente trabalhadas, como Mecânica, Termologia, Eletromagnetismo e Física Moderna, de forma a atribuir-lhes novos sentidos (BRASIL, 2002, p. 71).

Dentre tais temas estruturadores, chamamos atenção para dois deles que remetem à FMC mais especificamente: os temas Matéria e Radiação e Universo, Terra e vida. O tema estruturador Matéria e Radiação afirma que, a dependência cada vez mais intensa de tecnologias – baseadas no uso de radiações e nos constantes avanços na área da micro e nanotecnologia – presentes no cotidiano contemporâneo favorece a discussão do tema, sugerindo que se promovam nos estudantes,

competências para, por exemplo, ter condições de avaliar riscos e benefícios que decorrem da utilização de diferentes radiações, compreender os recursos de diagnóstico médico (radiografias, tomografias etc.), acompanhar a discussão sobre os problemas relacionados à utilização da energia nuclear ou compreender a importância dos novos materiais e processos utilizados para o desenvolvimento da informática (BRASIL, 2002, p. 77).

Esse tema estruturador chama atenção para a discussão de tópicos específicos da FMC, uma vez que uma boa parte dos fenômenos envolvidos no desenvolvimento tecnológico depende da forma como a radiação interage com a matéria. Dessa forma, a compreensão de tais interações e de como elas possibilitam a constituição dos mais distintos materiais associados às tecnologias contemporâneas pode favorecer a construção de “uma concepção mais abrangente do universo físico” (BRASIL, 2002, p. 77).

De acordo com as PCN+, “confrontar-se e especular sobre os enigmas da vida e do universo” (BRASIL, 2002, p. 78) constitui boa parte das preocupações frequentemente presentes entre os estudantes nessa etapa de ensino, e considerando tal interesse sugerem o estudo da Cosmologia no tema estruturador “Universo, Terra e Vida”, salientando sua importância, com o objetivo de propiciar aos estudantes,

[...] uma visão cosmológica das ciências que lhes permita situarem-se na escala de tempo do Universo, apresentando-lhes os instrumentos para acompanhar e admirar, por exemplo, as conquistas espaciais, as notícias sobre as novas descobertas do telescópio espacial Hubble, indagar sobre a origem do Universo ou o mundo fascinante das estrelas e as condições para a existência da vida como a entendemos no planeta Terra (BRASIL, 2002, p. 78).

Com a abordagem, o documento sugere o entrelaçamento de tópicos da FMC, pois a Cosmologia além de envolver sistemas de grande escala como planetas, estrelas e galáxias, ocupa-se também das discussões em torno da origem e da formação do Universo, evidenciando as relações entre o mundo das partículas elementares, suas interações e seus modelos microscópicos. Além de possibilitar o estudo das radiações através dos meios de pesquisa utilizados para as comprovações dos modelos de Universo existentes (BRASIL, 2002).

Desse modo, a Cosmologia se torna um tema unificador para que o estudante possa “conhecer as teorias e modelos propostos para a origem, evolução e constituição do Universo, além das formas atuais para sua investigação e os limites de seus resultados no sentido de ampliar sua visão de mundo” (BRASIL, 2002, p. 79), ao passo que é possibilitada a reflexão e o conhecimento dos aspectos relacionados à evolução dos modelos da ciência para explicar a constituição do Universo ao longo do tempo, correlacionado matéria e radiação, bem como suas interações e especificidades associadas ao modelo aceito atualmente (BRASIL, 2002).

Como evidenciamos, documentos oficiais da educação brasileira sinalizam para a importância da inserção da FMC no cotidiano escolar da disciplina de Física do ensino médio, todavia, colocar tais orientações na prática de sala de aula ainda se revela um grande desafio.