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CAPÍTULO II – A Questão Energética Chinesa

2.1. Da Auto-suficiência à Contínua Dependência

A energia é um importante recurso para a sobrevivência humana e para o seu desenvolvimento. Ao longo da história da humanidade várias formas de energia contribuíram para o progresso e evolução das sociedades. A partir da revolução industrial do século XVIII, a utilização de fontes de energia modernas, como o carvão mineral, o petróleo, o gás natural, a hidroelectricidade e a energia nuclear, têm permitido o desenvolvimento industrial e económico mundial. Todavia, à medida que as economias crescem, o consumo de energia e a dependência de energia face ao exterior aumenta, tornando os países vulneráveis a uma eventual escassez da oferta ou de um aumento acentuado nos preços, podendo conduzir a efeitos negativos nas suas economia, na coesão social e na estabilidade política. Desta forma a energia pode, assim representar, simultaneamente, um factor potenciador e constrangedor do desenvolvimento económico e da estabilidade social e política de um país.

Na RPC, a adopção da política de “Portas Abertas” (Gaige kaifang) em 1978, e o subsequente desenvolvimento económico do país provocaram uma acelerada urbanização e mudanças nos padrões do consumo de energia. Após um período de longo de isolamento, a RPC abriu-se ao exterior, apostando no desenvolvimento e modernização do país e na liberalização da economia. O responsável por esta política de abertura económica, Deng Xiaoping compreendia a importância que a energia possuía no programa de reforma planificada para uma economia mais orientada para o mercado, ao salientar em 1980, que a energia era a questão primordial da economia. Por sua vez, o Presidente Hu Jintao no discurso de encerramento da sessão da Conferência Central do Trabalho Económico, proferido em Pequim, a 29 de Novembro de 2003, considerou pela primeira vez que a energia era, juntamente com as finanças, uma questão de segurança económica nacional (Kong, 2005, p. 129). Dois anos depois, o Primeiro-Ministro Wen Jiabao na primeira sessão do Leading Energy Group, afirmou que a energia era estrategicamente importante

68 para o crescimento económico chinês, para a estabilidade social e para a segurança nacional (China Daily, 2005).

Ao contrário de Mao Zedong que alcançou a auto-suficiência petrolífera do país, entre os anos 60 e inícios de 70, os líderes da quarta geração não só se preocupam com a crescente fome energética do país, mas também com os riscos e ameaças associados à contínua dependência externa de energia, sobretudo de petróleo. As suas preocupações com a segurança energética traduzem o receio pelo impacto que a escassez ou a falta de energia poderá ter para a economia chinesa, para a estabilidade político-social e para a segurança nacional.

Para compreender as preocupações com a dependência externa de energia, particularmente do petróleo, é importante examinar a evolução da exploração e a produção petrolífera chinesa. Desde os tempos remotos da história do Império do Meio que subsistem referências à existência de petróleo no território. Num livro de geografia escrito na Dinastia Pré-Han, há mais de 2000 anos, os autores descrevem as explorações primitivas de gás e de petróleo em Xinjiang, em Gansu, em Shanxi e em Sichuan (Kambara, 1974, p. 699). No entanto, até ao início do século XX, a produção de petróleo manteve-se exígua no território chinês. No início deste período, em 1907, foram feitos alguns achados, como a descoberta do poço Yanchang na bacia de Ordos, na província de Shanxi, o que permitiu um relativo aumento da produção petróleo. Contudo, a instabilidade interna, os reduzidos conhecimentos de geologia do petróleo no território, assim como o desinteresse das companhias petrolíferas internacionais foram factores condicionantes para o aumento limitado, tanto em termos de volume como de área geográfica. Em 1939 começou igualmente a ser explorado outro poço - o Yumen - localizado na província de Gansu. Entre 1907 e 1949, foram também descobertos outros campos de petróleo e de gás no território, mas não eram comparáveis em termos de dimensão, aos de Yanchang e de Yumen. Perante esta situação de limitada produção petrolífera interna, 90% do petróleo consumido na RPC era importado (Kambara, 1974, p. 700).

Desta forma, a RPC emergiu de uma guerra civil em 1949, com a ambição de uma rápida modernização e industrialização, mas com uma base de produção de petróleo muito pequena (Daojiong, 2006, p. 179). A agravar esta situação, o Comité Coordenador para Controlar as Exportações Multilaterais, criado por países do bloco ocidental durante a

69 guerra-fria, impôs um embargo de petróleo à China desde os anos 50 a 70, como resultado do seu envolvimento na guerra da Coreia (1950-53). Até meados da década de 60, Pequim dependeu das importações de petróleo da União Soviética e dos países da Europa Oriental Contudo, com a descoberta dos campos de petróleo Daqing, Shengli e Liache no nordeste Chinês, alcançou a auto-suficiência energética, e a partir da década de 70, a capacidade de exportar pequenas quantidades de petróleo para o Japão, para a Tailândia, para as Filipinas e para outros países vizinhos.

Para além da ajuda da Hungria, da Polónia, da Roménia, da Alemanha Oriental e da Checoslováquia, foi igualmente importante para o desenvolvimento do sector petrolífero chinês durante o primeiro plano quinquenal da RPC de 1953-1957 (Zhōngguó Wǔnián

Jìhuà), o contributo da União Soviética. Esse apoio, fundamentalmente técnico e material,

foi essencial para o desenvolvimento do sector energético centrado na exploração geológica de novos campos de petróleo em mais de 51 locais. Para efectuar o levantamento extensivo gravimétrico e magnético foram criados grupos conjuntos de técnicos e de geólogos russo-chineses e, de acordo com Smil & Woodard (1977, p. 324), é possível que algum desses grupos tenha descoberto o campo de petróleo Daqing em 1956, embora Pequim nunca tenha confirmado a descoberta deste poço pelos técnicos russos. Durante o período do apoio soviético foi iniciada a produção dos campos de petróleo de Karamai e de Lenghu e reabilitado o campo de Yanchang. Foram também reconstruidas e expandidas quatro refinarias, nomeadamente a refinaria de Lanzhou43.

No primeiro Tratado de Assistência sino-soviética, datado de Fevereiro de 1950, foi estabelecida uma linha de crédito de 300 milhões de dólares, o que permitiu à RPC adquirir equipamento soviético para o desenvolvimento do sector petrolífero. Este tratado veio a permitir ainda que, a 17 de Março desse ano, tenha sido estabelecida a primeira joint-

venture chinesa, a Sino-Russian Petroleum Co. Ltd., para desenvolver os campos de

petróleo de Dushanzi, em Xinjiang, no nordeste do território (Advameg, Inc., 2011). Até meados da década de 60, o apoio soviético traduziu-se igualmente no fornecimento de petróleo e de produtos derivados essenciais para a implementação dos planos industriais das décadas 50-60. Kambara (1974, p. 702) refere que, durante esse período, a RPC

43 Onde estava localizado Instituto do Petróleo e a Instituto de Químicos que actualmente chama-se Lanzhou

70 importou a um custo superior a mil milhões de dólares, cerca de 24 milhões de toneladas de petróleo bruto e produtos derivados da União Soviética.

A separação sino-soviética (zhongsu polie), em 1960, foi pautada por repercussões negativas para o desenvolvimento da produção de petróleo na RPC. A passagem do controle da produção e da refinação para a China, a partida dos especialistas soviéticos e os limitados conhecimentos dos engenheiros e geólogos chineses da tecnologia petrolífera moderna foi sucedida pela diminuição da produção e de refinação petrolífera na RPC e, em alguns casos, pela própria suspensão da produção e de refinação, como aconteceu com o campo de Karamai e a refinaria em Nanjing. O corte nas relações comerciais entre os dois Estados conduziu a uma quebra do abastecimento petrolífero à RPC, visto que Pequim ficou sem o fornecimento de cerca de 50% do petróleo importado da União Soviética. Em 1964, foram feitos esforços para compensar essas perdas, através da importação de petróleo oriundo da Argélia. Perante a quebra de abastecimento aliada às graves consequências económicas do Grande Passo em Frente (Dayuejin, 1958-1960), principalmente, à estagnação da indústria do carvão, Mao Zedong instituiu a política de “auto-suficiência” energética (Zili Gengsheng).

O princípio da auto-suficiência implicava que a produção de energia fosse suportada por recursos endógenos, que incluíam o capital humano, o capital físico e os recursos naturais chineses (Zhang Jian, 2011, p. 5). A nível do sector petrolífero, indicava que Pequim teria de desenvolver a indústria de petróleo através dos recursos endógenos, em vez de recursos estrangeiros. A descoberta do campo de petróleo Daqing44 na província de Helongjiang, no nordeste chinês, a 26 de Setembro de 1959, patenteou que esse objectivo poderia ser alcançado. Este campo também conhecido como a “Grande

Alegria”, para além de proporcionar um novo impulso à produção petrolífera possibilitando com que, em 1971, a China passasse a país exportador, serviu de incentivo na procura de petróleo em outras áreas do território. Durante a Revolução Cultural (1966- 1976), o campo de petróleo Daqing foi divulgado como o centro modelo de uma grande indústria organizada em linhas maoístas, recebendo elogios pelo seu contributo para a auto-suficiência. Foi fonte de incentivo para que os trabalhadores, com técnicas

44 O campo Daqing está localizado na planície Songliao, no nordeste da China. É composto por 52 campos de

71 improvisadas, meios e equipamentos rudimentares desenvolvessem outros campos de petróleo.

O subsequente aumento de esforços veio a traduzir-se positivamente, com a descoberta de novos campos de petróleo. Em 1961 foi descoberto o campo Shengli (ou

“Vitória”) na província Shadong45, quatro anos mais tarde, o campo Dagang no distrito de Tianjin46 e, na década seguinte, os campos Changqing47, Huabei48 e Zhongyuan49. Em

1989, foi descoberto o último campo gigante50 de petróleo no território chinês, o campo Tarim, localizado na parte ocidental da Região Autónoma Uigure de Xinjiang (Xīnjiāng

Wéiwú'ěr Zìzhìqū).

Em 1963, Pequim considerou o país auto-suficiente energeticamente. Smil & Woodard (1977, pp. 318-319) salientam que o aumento da produção interna petróleo e o desenvolvimento da indústria do carvão, desde o início da década de 50, permitiram, não só absorver o choque provocado pela perda das importações de petróleo da União Soviética, como capacitar a RPC a ser auto-suficiente energeticamente. Em termos de petróleo, em 1963, o campo Daqing produziu 4,3 milhões de toneladas de petróleo bruto enquanto a produção total duplicou, aumentando de 3,73 milhões de toneladas em 1959 para 6,48 milhões de toneladas (Kambara, 1974, p. 705).

Apesar de importar alguns produtos petrolíferos da Europa Oriental, particularmente da Roménia, a China conseguiu aumentar a produção interna de petróleo e passar a país exportador. No início do 3.º Plano Quinquenal, em 1966, a produção de petróleo na China foi de 10 milhões de toneladas por ano. E em 1970, aumentou para 20 milhões de toneladas, atingindo três anos depois, 50 milhões de toneladas. Este

45 Este campo de petróleo é composto por cerca de 40 pequenos campos e fica localizado a sudeste de

Pequim, perto do Golfo de Chihli (Bo Hai) e a sul da foz do Rio Amarelo (Huang He). Equipas trazidas do campo Daqing começaram a perfuração do campo Shengli em 1964. O campo começou a produzir petróleo em 1966 e, na década de 1970, a sua produção foi ampliada consideravelmente. Posteriormente, foi construída uma refinaria de petróleo e um gasoduto de cerca de 1100 km de comprimento (concluído em 1979), que ligava os campos Renqin e Shengli com Nanjing (Encyclopædia Britannica Online, 2012).

46 A exploração do campo Dagang abrange vinte e cinco distritos, cidades e condados em Tianjin, Hebei e

Shandong, incluindo a área de exploração Dagang e a bacia Yoerdus em Xinjiang.

47 Localizado perto da bacia de Ordos, no noroeste do território da China. 48 Campo Huabei localizado na planície central da província de Hebei. 49 Localizado na parte central da China, na província de Henan.

50 De acordo com a Associação Americana de Geólogos de Petróleo (AAPG) podem ser chamados de

gigantes, apenas os maiores campos de petróleo que tenham recursos finais recuperáveis de pelo menos 500 milhões de barris (Associação Americana de Geólogos de Petróleo, 1980, cit. por Höök et al., 2010, p. 2)

72 crescimento prosseguiu entre 1971 e 1978, a uma taxa média anual de 16,5% (Kambara, 1974, p. 707). A generalidade dos analistas (Kambara, 1974; Smil & Woodard, 1977; Zhao Daojiang, 2006; Höök et al., 2010) considera que este cenário de crescimento se deve à quota de produção do campo Daqing, situada entre 20 a 50% da produção do território. Este campo manteve uma produção anual de mais de 50 milhões de toneladas durante 27 anos consecutivos e, de acordo com dados da China National Petroleum Corporation (CNPC, 2011b), o output anual de petróleo bruto do Daqing permanece acima de 40 milhões de toneladas.

O crescimento da produção petrolífera na China coincidiu com o retomar das relações diplomáticas com os EUA, em 1971, e o alargamento das relações económicas com o Japão, a partir de 1973. Perante um aumento de produção de petróleo que ultrapassou a capacidade de refinação e as necessidades de consumo interno, Pequim começou a exportar petróleo bruto para o Japão: 1 milhão de toneladas em 1973, ampliado para 4 milhões de toneladas em 1974 e 8 milhões de toneladas, em 1975. Para além deste facto, aproveitou os efeitos negativos da crise petrolífera de 1973 para começar a exportar pequenas quantidades de petróleo bruto e gasóleo para a Coreia, Vietname, Hong-Kong, Filipinas e Tailândia (Smil & Woodard, 1977, p. 320).

Seguindo o mesmo trajecto que a produção interna de petróleo, a indústria de refinação também foi ampliada e, no final de 1970, a China era já o quinto maior país a nível mundial. Através de uma combinação de intensos investimentos e de fluxos de tecnologias estrangeiras oriundos do Japão, dos EUA e da Europa ocidental, Pequim conseguiu refinar 4,1 milhões de b/d de petróleo bruto no final de 1970 (Lim Tai Wei, 2009b, p. 2). É de salientar que a energia passou a ser uma commodity de exportação possibilitando que, em troca, Pequim obtivesse tecnologia e planos industriais dos países desenvolvidos. Como alude Zhao Daojiang (2006, p. 180) “o petróleo e o carvão serviram

como um valioso objectivo estratégico para Pequim, pois permitiram renovar os laços com as economias do mundo industrializado”.

Quando o Primeiro-Ministro Zhu Rongji aboliu o Ministério da Energia em 1993, esperava-se que o país continuasse a ser auto-suficiente energeticamente. Todavia, a maturidade dos poços, como o de Yumem, que forneciam metade do petróleo consumido no país, a não descoberta de fontes de substituição internas e o aumento de consumo de

73 energia a partir da liberalização da economia dos anos 80, contribuíram para que, nesse mesmo ano, a RPC passasse a ser um país importador de produtos derivados de petróleo e, três anos mais tarde, um país importador de petróleo bruto. Com o abandono da auto- suficiência e com o contínuo aumento do volume das importações de petróleo, a necessidade externa de energia começou a emergir como uma preocupação para os líderes chineses (Zhang Jian, 2011, p. 10). Inicialmente, as quantidades de importadas eram pequenas e o mercado internacional de petróleo tinha amplos fornecimentos, a preços estáveis e baixos, não apresentando uma grande ameaça para a segurança energética chinesa. Contudo, depois do 11 de Setembro e com o início da Guerra do Iraque, a fonte mais importante de importação de petróleo Chinesa - o Médio Oriente - começou a ser percebida como insegura. Como sustenta Zhai Bian (2003, p. 19), “a China depende

demasiado das importações do Oriente Médio (...) as principais preocupações que influenciam a segurança energética são a origem e rota de transporte para essas importações, especialmente quando essa área de fornecimento é considerada tão insegura”.

Por seu turno, o consumo interno de petróleo aumentou drasticamente. De acordo com Wang Haibo (2010, p. 3), entre 1980 e 1990, a taxa de crescimento anual do consumo de petróleo foi de 2,75%, aumentando para 6,93% entre 1990-2000, e atingindo os 7,04% durante 2000-2008. Em termos de produção, entre 1980 e 2008, assistiu-se a um aumento de 106 milhões de toneladas para 190 milhões de toneladas, com uma taxa de crescimento anual de apenas de 2,1% (Cf. Gráfico I). Em 2000, a importação de petróleo líquido foi cerca de 76 milhões de toneladas e a taxa de dependência externa de 27,4%; oito anos depois, a importação tinha aumentado para 218 milhões de toneladas e a taxa de dependência externa já era superior a 50%. Em 2003, a RPC ultrapassa o Japão e passa a ser o segundo maior consumidor de petróleo a nível mundial, a seguir aos EUA51,

51 Em 2003, para lidar com a crescente demanda energética, sobretudo de petróleo, o governo chinês lançou

um documento político intitulado “Estratégia do Petróleo no Século XXI”, alocando USD$ 100 biliões para um “sistema estratégico futuro de petróleo” na China. A demanda energética também foi um tema importante no 10.º Plano Quinquenal da China (Zhōngguó wǔ nián jìhuà (2001-2005), tendo sido a política energética chinesa foi identificada com o objectivo de “garantir a segurança energética, optimizar o mix

energético, melhorar a eficiência de energia, proteger o ambiente” (National People’s Congress of China,

Portuguesa: Angola, Brasil e Timor-Leste

74 Gráfico I. Produção e Consumo de Petróleo na RPC (1980-2008)

Fonte: Adaptado de Wang, 2010, p. 2.

No relatório da Agência Internacional de Energia de Junho de 2010, a RPC foi considerada o maior consumidor de energia do mundo, retirando o domínio aos Estados Unidos. Segundo a mesma fonte, em 2009, o consumo energético chinês foi de 2252 biliões de toneladas métricas equivalente de petróleo (TPE) na forma de crude, de carvão, de gás natural, de energia nuclear e de fontes renováveis, ou seja, cerca de 4% mais do que os Estados Unidos (Swartz, 2010) (Cf. Anexo X). Alguns analistas que estudam as questões energéticas na China (Kong, 2005; Direcção de Serviços de Prospectiva, 2006; Yi-Chong, 2006; Raibo, 2010; Zhang, 2011, Low, 2011), defendem que as causas desse crescimento do consumo de energia na China foram a rápida urbanização (Chengzhenhua), a industrialização e a electrificação e, mais recentemente, a motorização da mobilidade.

Quando a China iniciou as reformas económicas na década de 70 era essencialmente uma sociedade rural. No entanto, depois de três décadas de crescimento económico, assistiu-se a um impressionante e massivo crescimento urbano. Entre 1978 e 2008, a população urbana passou de 185 para 607 milhões, um aumento médio anual de 14 milhões (Yeh et al., 2011, p. 1). Hodiernamente, a China é o país mais populoso do

75 mundo, possuindo um sétimo da população mundial no seu território. Em 2010, tinha 1,3 biliões de habitantes, dos quais cerca de 51%, aproximadamente 629 milhões era urbana (United Nations, 2012). O crescimento urbano é acompanhado pelo aumento no número e área das cidades chinesas. Entre 1978 e 2008, o número de cidades aumentou de 193 para 655, e a área de 2008 é 5 vezes maior que a de 1978 (Yeh et al., 2011, pp. 6-7). Embora subsista diferenças nas projecções em termos de valor52, parece ser consensual que a

população urbana chinesa continuará a aumentar e que este crescimento implicará o aumento do consumo energético nos centros urbanos.

A urbanização processa-se de forma diferenciada no território chinês, com as regiões orientais a serem objecto de um maior nível de urbanização, seguidas pelas regiões centrais e ocidentais. Há também variações entre as províncias, sendo as mais urbanizadas as zonas costeiras e as do noroeste chinês, como a de Heilongjiang, a de Liaoning, a de Jilin e a Mongólia Interior. Por sua vez, estas áreas de maior urbanização são as que possuem o maior desenvolvimento industrial, a maior concentração de PIB per capita53 e também as de maior consumo de energia (Cf. Mapas I e II). O consumo de energia nas áreas urbanas é de cerca de 3.5 a 4 vezes maior do que entre a população rural. Este consumo revela novos hábitos e novas necessidades, que gradualmente vão acompanhando o aumento de melhorias de vida e o aumento de uma classe média chinesa. Presentemente, esta classe média corresponde a 12% da população chinesa, mas de acordo com as projecções do Banco Mundial, em 2030, poderá já representar 70% da população chinesa, patenteando a criação de um maior mercado mundial de consumo (Kharas, 2011)54.

52 Por exemplo, as Nações Unidas projectam que a população urbana aumentará para 1037 milhões em 2050,

enquanto, McKinsey Global Institute (2009) prevê um aumento para 926 milhões em 2025, atingindo um bilião em 2030. Por sua vez, o World Urbanization Prospects de 2007, refere que poderá atingir os 900 milhões em 2030 (Xiaoyu Yan, 2010, p. 655).

53 O PIB está concentrado na zona este da China, em que 51% do PIB do país está concentrado nas

províncias de Guangdong, de Jiangsu, de Hebei, de Shandong, de Zhejiang, de Henan, de Shanghai (BES, 2011, p. 8).

54 A RPC já ultrapassou os Estados Unidos como o maior mercado do mundo para certos artigos

Portuguesa: Angola, Brasil e Timor-Leste

76 Mapa I. Regiões Desenvolvidas e Grandes Cidades na China, 2009

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