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Enquadramento do tema na Teoria das Relações Internacionais

CAPÍTULO I – Enquadramento do Objecto de Estudo

1.3. Enquadramento Teórico

1.3.2. Enquadramento do tema na Teoria das Relações Internacionais

“Se dois homens desejam a mesma coisa, ao mesmo tempo em que é impossível a ela ser gozada por ambos, eles tornam-se inimigos. E, no caminho para o seu fim (...), esforçam-se por destruir ou subjugar o outro”.

Hobbes, 1988, p. 74-75

Para Fettweis (2009, p. 73), um dos momentos mais significantes da história da política internacional ocorreu em 1993, ano em que o crescimento económico do “Império do Meio” provocou um aumento de consumo que ultrapassou as fontes de aprovisionamento doméstico e em que a RPC se tornou num importador incessante de petróleo. O desequilíbrio entre o fornecimento doméstico e a procura significou que o governo chinês teve de abandonar o objectivo tradicional de auto-suficiência energética e procurar fontes de energia no exterior. Na década de 90 do século XX, a sua fonte de energia era fundamentalmente o petróleo mas, nos últimos anos, essa procura estendeu-se também ao gás e ao carvão. A demanda crescente de energia é uma preocupação tanto para as autoridades chinesas que procuram assegurar que o país possua energia suficiente para continuar o seu desenvolvimento económico, como para os analistas ocidentais que se preocupam com as implicações que essa necessidade chinesa de energia possa vir a ter na dinâmica das relações internacionais e na segurança internacional.

Para a RPC e para todos os países consumidores, a energia tornou-se uma questão de segurança nacional, quando começaram a depender de importações para garantir a continuidade das operações das suas economias, e a necessitar de fornecimentos de energia “constantes, acessíveis e ininterruptos”, para preservar a estabilidade interna em termos económicos, políticos e sociais. A energia é, deste modo, essencial para a maioria dos aspectos da vida civilizada, tornando-se numa questão central na política, tanto a nível internacional e como a nível nacional (Orttung & Perovic, 2010, p. 216).

56 A teoria realista, inspirada principalmente em Thomas Hobbes, com seu estado de natureza de “guerra de todos contra todos” (bellum omnes erga omnes), surgiu em contraposição ao idealismo, com seus primeiros autores como Edmund Carr, Reinhold Niebuhr e Hans J. Morgenthau. A partir da obra destes três autores, de acordo com João Cravinho (2006, pp. 140-142) podemos identificar as principais características do realismo:

i) Anarquia internacional (para o realismo a inexistência de um leviatão, uma força

superior que imponha a lei e garanta uma determinada ordem, implica que, em última instância, os participantes no sistema internacional dependem apenas de si próprios para a sua sobrevivência. O contexto anárquico é entendido como formal, as alianças podem ser conjunturais ou podem ter uma continuidade no tempo, mas nunca podem ser consideradas eternas); ii) Estatocentrismo (na visão realista os participantes no sistema internacional são apenas os Estados, qualquer outra entidade no palco internacional, pode aparentar alguma autonomia mas não passa de um agente ao serviço de um Estado ou de um conjunto de Estados); iii) Enfoque sobre o poder (a política internacional, tal como toda a política é considerada um jogo que consiste no uso do poder e na procura de poder. Nas análises realistas, o poder é simultaneamente o objectivo e o instrumento da participação no sistema internacional).

O realismo percebe os recursos e os bens à disposição dos indivíduos como escassos e não compartilháveis ou divisíveis, provocando, portanto, a permanente disputa36. Segundo Gal Luft e Anne Korin (2009, p. 340), os realistas de segurança energética vêm o mundo envolvido com um conjunto de desafios que tendem a piorar ao longo prazo. Um mundo com ameaças cada vez mais amplas, como o terrorismo, a proliferação de armas de destruição maciça, onde a divisão entre o Islão e o Ocidente é cada vez maior, no qual mais de três quartos das reservas provadas de petróleo convencional do mundo e quase a metade das reservas de gás natural estão concentradas em países muçulmanos. Reconhecem que o poder e a ameaça do cartel do petróleo, e distinguem nitidamente entre os recursos nacionalizados utilizados como ferramentas do Estado e os recursos detidos comercialmente por empresas internacionais que aderem a regras do mercado livre. Cépticos em relação à actual capacidade do mercado de energia

57 de garantir o abastecimento a longo prazo, defendem que os países estão predispostos a perseguir os seus próprios interesses usando todos os aspectos do seu poder nacional. Desta forma, os realistas de segurança energética tendem a ver a energia como um subconjunto da política do poder global e um instrumento legítimo de política externa. Apontam que ao longo da história, algumas commodities, em particular a energia, os minerais, a água e os alimentos, tiveram um valor estratégico para além do seu preço de mercado e, como tal, foram usados reiteradamente como ferramentas da política externa por parte dos países exportadores e têm sido um dos principais catalisadores para o conflito armado.

A análise realista da política internacional da energia baseia-se no pressuposto de recursos energéticos estão mundialmente a diminuir enquanto o consumo energético a aumentar. A crescente diferença entre produção e o consumo energético, e a necessidade de energia para manter a estabilidade e a segurança dos Estados consumidores, poderá compelir à adopção de medidas com o intento de aceder e controlar os recursos energéticos. Para os realistas, o conflito é inevitável e as políticas internacionais constituem um jogo que soma zero. No caso da China, os analistas do realismo clássico sugerem que o poder económico crescente de China será inevitavelmente transformado em poder militar, o qual, combinado com a sua nova sede de petróleo, levará à expansão e talvez mesmo ao conflito com os outros grandes consumidores. Defendem que aceder a fontes de energias é vital para o contínuo desenvolvimento económico, para a estabilidade social e para a manutenção do Estado chinês. Daí que Pequim possa vir a utilizar todos os meios para assegurar as necessidades crescentes de recursos energéticos, o que poderá vir a destabilizar a ordem regional e mundial.

Nas suas análises, os analistas realistas vêm a necessidade de controlo dos recursos energéticos mundiais como factor de competição entre os grandes consumidores mundiais de energia, como a China, a Índia, o Japão e os EUA. Essa competição, segundo Schwarz Henrique (2007, p. 22) poderá conduzir a “conflitos de interesses” (num sentido profundamente realista), entre grandes países consumidores, que tendem a se agravarem à medida que a energia fóssil disponível se torna menor, face a uma procura com uma expansão imparável. Este autor (2007, p. 22) classifica as “guerras de recursos” energéticas em três tipos consoante a natureza dos actores que se defrontam nas recentes décadas: as primeiras são os “confrontos políticos e militares” entre potências

58 consumidoras e países produtores; as segundas, as “guerras civis entre grupos ou facções” que, no interior das nações produtoras, competem pela partilha dos rendimentos da venda dos combustíveis fósseis; e as terceiras e últimas, os “conflitos de interesses” entre grandes países consumidores que tendem a se agravarem à medida que a energia fóssil disponível se torna menos capaz de fazer face ao aumento da procura.

Segundo Thrassyvoulos N. Marketos, do Center for Diplomatic and Strategic Studies (C.E.D.S.-Paris) (2012, p. 1) “a diminuição dos recursos energéticos terá um papel

mais importante futuramente nas Relações Internacionais e será uma fonte para o aumento do conflito entre os grandes poderes”. Myers e Lewis (2002) e Haider (2005)

defendem que, quando grandes forças mundiais, que também são maiores consumidores mundiais de petróleo, competem por recursos que começam a escassear, poderão ter dificuldades em coexistir. Gal Luft (2004) utiliza a história como modelo, dizendo que as potências têm dificuldade de coexistir quando disputam por recursos escassos, comparando, na competição por uma dominação global, a China actual com o Japão de antes da 2.ª guerra mundial e a sua expansão agressiva para assegurar as necessidades energéticas, defendendo que a procura crescente de fontes de energia chinesa pode ser uma ameaça na medida poderá criar um conflito pelos recursos energéticos com outros países consumidores, incluindo pelo petróleo.

Michael Klare, professor no Hampshire College, é um dos melhores exemplos da análise realista sobre as políticas internacionais em termos de energia. Klare defende que após o final da guerra-fria, com o final da luta ideológica entre socialismo e capitalismo e com a ascensão de novos poderes económicos, as tentativas de acesso aos recursos naturais valiosos, nomeadamente energéticos e do seu controlo, é uma das maiores fontes de conflito entre os Estados poderosos, tais como, entre outros, os EUA, a China, a Rússia, Japão, Índia. Ao analisar, por exemplo, as revindicações opostas sobre os recursos de petróleo e gás no mar do sul da China, Klare (2001) defende que estas poderão implicar conflitos armados entre a China e outros países asiáticos, como o Japão e o Vietname. Mas é com os EUA, que Klare observa ser a maior possibilidade de conflito para a China. Num artigo intitulado “China: Energy Superpower” (2011), ao analisar a futura crescente necessidade de petróleo e perante a necessidade de encontrar fornecedores seguros e de longo prazo para os dois grandes importadores mundiais, Klare refere que a constante sede

59 energética chinesa pode levar a atritos e conflitos com os Estados Unidos, especialmente na concorrência global para fontes de petróleo cada vez mais escassas. Defende que à medida que a grande dependência da China sobre o petróleo importado aumenta, maior é o risco de conflito com os Estados Unidos.

Esta visão é corroborada por David Zweig & Jianhai Bi (2005) que sustentam que, “apesar de novas necessidades de energia da China não necessitar de ser uma fonte grave

de conflito com o Ocidente, a longo prazo, Pequim e Washington irão sentir-se especialmente desconfortáveis com a situação. Enquanto a China esforça-se para gerenciar os desafios aos seu crescimento, os Estados Unidos, como a potência hegemónica do mundo, deve de alguma forma dar espaço para que gigante possa subir, caso contrário, a guerra vai tornar-se uma séria possibilidade”. Na revista Liaowang Dongfeng, no artigo publicado em 2003, intitulado “Sino-U.S. War of Competition for

Resources Will Become more intense,” delineia-se que a próxima maior Guerra “será

provavelmente mais uma guerra sobre recursos do que o resultado do choque de civilizações” (Liaowang Dongfeng, 2003, citado por Tang, 2006, p. 2).

A China é também frequentemente retratada como um actor potenciador de conflitos por recursos em parte porque investe em países arredados da presença ocidental, como o Sudão, o Zimbabwe e o Irão. Para aceder a esses recursos constrói alianças com os países produtores, sobretudo com os países africanos, através de pacotes de oferta de “armas por petróleo”. Esta análise interliga-se com a teoria segundo a qual a presença de recursos naturais tem impacto negativo para o nível de democracia (Ross, 2001, p. 356), para o ritmo de crescimento económico e taxa de desemprego, sendo maior a probabilidade de guerras civis e conflitos internos nesses países (Ross, 2008). O petróleo é o recurso natural que mais está associado ao início do conflito (Kaldor, 2007; Le Billon & El Khatib, 2005). Em particular, o petróleo aparece ligado aos conflitos separatistas no Sul do Sudão e na província de Cabinda, em Angola. Paul Collier e Anke Hoffler (2002) defendem que a possibilidade de ganhar as rendas disponíveis do petróleo por um grupo não-estatal ou por um país estrangeiro é um incentivo financeiro para iniciar um conflito. Esse incentivo

60 parece ser maior quando a população é menos educada e quando o valor económico do recurso natural é mais difícil de estimar37.

Michael Klare, numa entrevista a Barry S. Zellen (2008, p. 2), advoga que a competição entre os EUA e a China está contribuir para a perpetuação dos conflitos armados no mundo, porque ambos os poderes, procuram muitas vezes cimentar os seus laços com os fornecedores potenciais de recursos no mundo em desenvolvimento, fornecendo-lhes armas e outras formas de assistência militar, que muitas vezes são usadas em conflitos internos. Klare aponta, como exemplo, a procura de acesso ao petróleo sudanês pela China, e em que, para consolidar laços com o governo de Cartum, forneceu uma grande variedade de armas, supostamente usadas na campanha de “terra queimada” (scorched earth)”38 contra o Exército Popular de Libertação do Sudão (sigla em inglês SPLA). Refere que, por sua vez, os EUA também apoiaram o governo nigeriano na sua ofensiva contra os militantes tribais na região do Delta do Níger, o principal centro de produção de petróleo da Nigéria e ainda que tanto os Estados Unidos como a China também estão a fornecer armas e apoio militar aos regimes da Ásia Central, “reforçando a

tendência de esses regimes de contar com força e da repressão para governar, em vez de permitir uma maior participação democrática”.

Gal Luft e Anne Korin (2009, p. 340) advogam que os liberais, são mais optimistas que os realistas e que acreditam que a guerra por controlo de territórios que contenham combustíveis fósseis continuará a ser no futuro um fenómeno muito raro. Chris Fettweis (2009, p. 71) explica que a luta sobre a energia é inútil, uma vez que ficará sempre mais

37 Nas últimas décadas têm sido apresentados muitos trabalhos quantitativos e qualitativos sobre a relação

entre recursos naturais e conflito, designadamente sobre a causalidade entre abundância de recursos e conflitos civis. Collier e Hoeffler (1998, 2002) consideraram que os recursos naturais não só encorajam o conflito civil, como a sua disponibilidade e abundância aumentam a probabilidade da sua ocorrência. De Soysa (2000) observa uma correlação semelhante entre a riqueza de recursos e os conflitos civis, enquanto Addison (2003) diz que em África, assim como em outras regiões com países em desenvolvimento, os recursos minerais são potenciadores de conflito. Ross (2004) analisa a ligação entre o petróleo, recursos não fósseis e os conflitos civis, concluindo que a presença deste recurso fóssil tende a aumentar o risco para a eclosão de conflitos civis. A relação entre recursos naturais e conflito é muito complexa e a existência de recursos naturais não constitui per se um factor de risco para o surgimento de conflitos. Existe sim, uma pluralidade de factores indutores de conflito. O petróleo, como recurso natural não renovável, pode ser um desses factores, quando associado a um conjunto de outros factores de ordem económica, política, social e geográfica que transformam os países ou as regiões em “barris de pólvora” (Fernandes, 2012).

38 Conceito que deriva da tradução do chinês Jiao Tu (焦土), uma prática de negar fontes de alimento aos

61 barato comprar petróleo no mercado do que disputá-lo, argumentando que o petróleo é negociado no mercado global, e que qualquer interrupção de fornecimento pode afectar o preço em todos as regiões. A perspectiva liberal enfatiza que o futuro energético dos grandes consumidores mundiais está intimamente ligado. Na sua óptica, tal como os Estados consumidores compartilham desafios comuns, como a vulnerabilidade à flutuação dos níveis de produção e dos preços, também podem compartilhar interesses comuns e promover relações de cooperação. Xia Yishen, director do China Energy Strategy Center, refere que a necessidade cada vez maior de importações de petróleo pela China poderá levar ao confronto com outros países que também procuram garantir o seu abastecimento. Todavia, segundo este think-tank chinês “isso seria prejudicial para todos os envolvidos, e

por isso, a necessidade de cooperar para compartilhar riscos e reduzir os custos de uma forma multilateral está a ganhar cada vez mais relevância” (Yishen, 2005 citado por

Aiyar, 2006).

Embora os interesses dos países produtores e dos países consumidores sejam divergentes sobre o que será o preço certo, ambos querem que os preços se mantenham relativamente estáveis. Qualquer conflito numa área rica em recursos que interrompa o fornecimento e aumente o preço virá a ser contraproducente, por isso os interesses dos consumidores e dos produtores podem não ser conflituosos. Todas as partes envolvidas na produção de petróleo têm interesse na manutenção da estabilidade, e isso reflecte o princípio fundamental do idealismo segurança energética: forte fé no poder dos mercados e no conceito de “interdependência” como a chave para garantir a segurança energética (Luft & Korin, 2009, p. 341).

Os adeptos da corrente liberal acreditam que a cooperação ocupará o lugar do conflito como marca predominante do sistema internacional. Rejeitam os objectivos em favor de uma maior independência energética, defendendo no seu lugar, a interdependência económica, como sendo capaz de dar resposta a impasses como o da redução das reservas disponíveis de recursos estratégicos. Como Daniel Yergin (2006, p. 71) defendeu na revista Foreign Affairs, “é necessário deixar de lado o sonho de independência energética

e abraçar a interdependência”. Robert Keohane e Joseph Nyle (1989) os autores do

conceito de “Interdependência complexa”, aludem que nas diversas e complexas relações transnacionais de interdependência entre os Estados e as sociedades, o uso da força militar

62 está a diminuir. Alegam que a diminuição da força militar como instrumento de política e o aumento das formas económicas de interdependência deverão aumentar a probabilidade de cooperação entre os Estados. Dada à interdependência económica, a China e outros consumidores partilham as consequências económicas, caso haja uma interrupção no fornecimento de energia. Podem também ser afectados pelas mesmas consequências ambientais transfronteiriças que emergem da dependência dos combustíveis fósseis. A partilha destes desafios poderá definir um cenário de cooperação nas necessidades de diversificar a matriz energética, levar a mudanças para fontes de energia alternativas, no sentido de melhorar a eficiência energética (Garrison, 2009). Os dois maiores consumidores globais de energia, os EUA e a RPC, partilham preocupações semelhantes quanto aos riscos de disrupção de fornecimento, à volatilidade dos preços e à necessidade de garantirem fornecimentos estáveis e acessíveis. Como maiores importadores mundiais de petróleo partilham ainda o interesse na estabilização das regiões exportadoras de petróleo e na segurança marítima das importações através do Oceano Índico, do Estreito de Malaca e do Mar do Sul da China.

Em alternativa à análise da procura de recursos energéticos pela China como um prelúdio para conflito com os países consumidores e como uma “ameaça”39 de longo prazo

39 Na teoria da ameaça chinesa (Zhongguo weixie) o crescimento chinês é um factor de ameaça à ordem

internacional. A RPC é entendida como o país que mais ameaças apresenta à ordem mundial, que desde o final da guerra-fria é dominada pelos EUA. No livro The China Threat, Bill Gerzt (2000, p. 199) refere que “uma lição fundamental do século XX é que as democracias não podem coexistir pacificamente com regimes

totalitários ambiciosos e poderosos. No momento, a República Popular da China é a maior ameaça à segurança nacional dos Estados Unidos e permanecerá num futuro próximo”. O desenvolvimento

económico e das capacidades militares chinesas têm provocado debates, nomeadamente sobre as possíveis implicações deste desenvolvimento para a política internacional e para a estabilidade global. Existem dois polos opostos nesta discussão, o que vê a China como uma ameaça e o que vê a China como uma oportunidade, o que vê como uma potência conservadora comprometida a manter o seu status quo e o que vê como uma potência revisionista, que vai tentar mudar, se não reverter, a ordem regional e, possivelmente, a ordem do mundo, ajustando-a de acordo com seus interesses. Para este objectivo, a RPC pode tentar expandir territorialmente, aumentar a sua influência sobre outros países, criar novas instituições, reescrever as regras das instituições existentes e estabelecer novas normas comportamentais. Em oposição com esta teoria, as autoridades chinesas afirmam que o país está a desfrutar de uma “ascensão pacífica”, e que não representa nenhuma ameaça para os países, nomeadamente os países vizinhos. A teoria da ascensão pacífica (Zhōngguó

hépíng juéqǐ), substituída em 2004 pela de desenvolvimento pacífico da China (Zhōngguó heping fāzhǎn),

enfatiza que a ascensão da RPC não será uma ameaça para a paz e estabilidade mundial, e que outras nações irão beneficiar do seu crescente poder e influência. A doutrina enfatiza também a importância do soft power e baseia-se em parte da premissa de que as boas relações com os seus vizinhos vão aumentar em vez de diminuir o poder compreensivo abrangente da RPC. Luís Tomé advoga (2006, pp. 1-2, 23) que a “China

representa uma importante incógnita estratégica”, em que as imagens produzidas pela emergência da China

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