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Para que haja responsabilidade civil, é preciso que o ato seja realizado ou pelo próprio agente ou por terceiros, como já demonstrado no tópico anterior. Essa conduta humana que faz gerar a prática do ato danoso a outrem, ou seja, a causadora do dano faz surgir o dever de reparar.

A conduta humana em si, independente de culpa ou dolo, se caracteriza pela necessidade do agente estar consciente do que está praticando. O agente age voluntariamente, o que se chama de capacidade de autodeterminação, tendo autonomia nas suas decisões, levando em conta a sua forma de agir.

O artigo 927, caput, e parágrafo único, do Código Civil brasileiro de 2002 aporta a fundamentação da Responsabilidade Civil:

Art.927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.

Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.

Assim, para que configure um dever de indenizar (reparar), resultando da responsabilidade civil, é preciso que haja um nexo de causalidade entre o dano sofrido pela vítima e a conduta do agente ou terceiro.

O nexo causal, também chamado de relação causal, é o vínculo que une a conduta do agente ao dano, sendo assim, um dos principais elementos para que se constitua a responsabilidade civil, seja qual for a espécie de responsabilidade civil. Sergio Cavalieri Filho (2012. p. 67) define o nexo causal como “elemento referencial entre a conduta e o resultado. É através dele que poderemos concluir quem foi o causador do dano”.

O autor deixa visível que, entre a conduta e o resultado produzido, o nexo causal é o principal elemento, pois ao analisar o mesmo descobrimos quais condutas positivas ou negativas foram praticadas, dando causa a um resultado. Então para que seja compreendido, provado que alguém de fato cometeu um ato danoso, faz-se necessário essa ligação.

Também nessa perspectiva, Sílvio de Salvo Venosa (2003, p.39) define o nexo de causalidade como:

O conceito de nexo causal, nexo etimológico ou relação de causalidade deriva das leis naturais. É o liame que une a conduta do agente ao dano. É por meio do exame da relação causal que concluímos quem foi o causador do dano. Trata-se de elemento indispensável. A responsabilidade objetiva dispensa a culpa, mas nunca dispensará o nexo causal. Se a vítima, que experimentou um dano, não identificar o nexo causal que leva o ato danoso ao responsável, não há como ser ressarcida.

Desta feita, independentemente da teoria que se adote, objetiva ou subjetiva, caberá ao juiz à análise do caso concreto, estudar as provas e interpretá-las como conjunto e estabelecer claramente se houve violação do direito alheio, cujo resultado

seja danoso, e se existe um nexo causal entre esse comportamento do agente e o dano verificado (STOCO, 2007, p. 152).

Prevê nosso ordenamento jurídico, no artigo 186 do Código Civil, o seguinte:

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

Assim, mesmo no tocante às condutas omissivas, quando há um dever de agir do agente e esse deixa de realizar a conduta a que estava obrigado, resta claro que a causa se constitui.

Para um melhor entendimento da conduta omissiva, de exemplificar o caso em que uma enfermeira que, tendo que medicar paciente em coma de hora em hora, permanece dormindo ou inerte, o que acaba de ocasionar a morte deste.

Verifica-se, pois, que por meio do nexo de causalidade, delimita-se a extensão do dano a indenizar em todas as espécies de responsabilidade civil, sendo assim, o nexo causal é indispensável até mesmo na responsabilidade civil por omissão. (CRUZ, 2005, p. 24-25).

2.2.1 Da Culpa

Dentro da responsabilidade civil a culpa é um dos principais pressupostos, nesse sentido, preceitua o artigo 186 do Código Civil de 2002, que a ação ou omissão do agente seja “voluntária” ou que haja, pelo menos, “negligência” ou “imprudência” (GONÇALVES, 2017, p. 372).

O autor deixa evidente que, para uma obrigação de indenizar é preciso que o agente do fato que gerou o dano tenha agido de forma ilícita, violado direitos de outra pessoa, ou desrespeitando uma lei de interesses particulares, assim, para que haja essa obrigação de indenizar é imprescindível que o sujeito tenha agido com culpa, o que remete ao artigo acima referido.

A culpa assume duas concepções, a lato sensu e a stricto sensu, a primeira que abrange tanto a atuação desastrosa do agente que é procurada, querida, almejada e diz-se, assim, dolosa, como aquela que embora não querida, não procurada, resulta da falta de diligência do agente. A segunda concepção, de outra feita, abarca somente esta última situação e se caracteriza, assim, pelo prejuízo da vítima decorrente de um comportamento negligente, imprudente do agente (GONÇALVES, 2017, p. 373).

Nesse sentido reforça o autor Rizzardo, que o dolo corresponde a “conduta voluntária de um dever legal, onde o agente atua deliberadamente no equilíbrio e ordem natural das coisas, de tal forma que a infração é pretendida e repercute em maior gravidade nas suas consequências” (RIZZARDO, 2009).

Assim, a culpa em sentido amplo, como uma violação de um dever jurídico, atribuído a alguém e em decorrência de fatos intencionais ou mesmo de omissão, negligencia e imperícia, o que caracteriza o dolo violando o dever jurídico, e a culpa em sentido estrito (GONÇALVES, p.373).

Podemos notar que há uma grande diferença entre o dolo e a culpa, é de forma explicita que o dolo é mais grave que a culpa, porque se define como uma infração voluntária, consciente e intencional, com o propósito de causar dano a outrem o que abrange a conduta e o efeito lesivo. A culpa em sentindo estrito refere- se à vontade do agente, ao fato causador da lesão, onde se observa que o mesmo não queria o resultado, mas assumiu o risco mesmo assim.

Pelo exposto, é nítido que a culpa e o dolo nascem da conduta voluntária do agente, o que os diferenciam é a intenção do agente, quando o fato ilícito ocorre, mas o causador esperava que fosse ocorrer de outra forma (culpa), e quando a intenção é realmente praticar o ato e obter o resultado, ele age de forma ilícita esperando que o resultado final se concretize (dolo).

Para a responsabilidade civil é necessário que haja um fator chamado dano, que é o prejuízo causado a outrem, lesando um bem jurídico protegido.

Maria Helena Diniz destaca em sua obra que não pode haver responsabilidade civil sem a existência de um dano a um bem jurídico, “sendo imprescindível a prova real e concreta dessa lesão”. Ou seja, deverá ser comprovado a existência de um dano, seja patrimonial ou moral, para que a indenização pleiteada seja devidamente restituída. (DINIZ, 2004, p.64).

Agostinho Alvim, citado por Gonçalves, define o dano como:

Dano, em sentido amplo, vem a ser a lesão de qualquer bem jurídico, e aí se inclui o dano moral. Mas, em sentido estrito, dano é, para nós, a lesão do patrimônio; e patrimônio é o conjunto das relações jurídicas de uma pessoa, apreciáveis em dinheiro. Aprecia-se o dano tendo em vista a diminuição sofrida no patrimônio. Logo, a matéria do dano prende-se á indenização, de modo que só interessa o estudo do dano indenizável (ALVIM, p. 171-172 apud GONÇALVES, 2017 p. 421).

Nesse contexto, Gonçalves afirma que indenizar a vítima significa reparar o dano sofrido na sua integralidade. Se possível restaurando o status quo ante, que significa devolver a vítima ao estado em que se encontrava antes da ocorrência do ato ilícito. Como, todavia, na maioria dos casos isto não se mostra possível, uma forma de buscar a compensação é o pagamento de uma indenização monetária (GONÇALVES, 2017, p. 422).

Assim, para que haja a responsabilização do agente é necessário que se comprove o dano, podendo ser ele patrimonial ou moral, um ato ilícito que lesou um patrimônio, fazendo com que haja o dever de indenizar e reparar as vítimas.

Dessa forma, para um melhor entendimento, o autor Carlos Roberto Gonçalves (2017, p.422-423) apresenta em sua doutrina, um claro exemplo de dano indenizável:

Embora possa haver responsabilidade sem culpa, não se pode falar em responsabilidade civil ou em dever de indenizar se não houve dano. Ação de indenização sem dano é pretensão sem objeto, ainda

que haja violação de um dever jurídico e que tenha existido culpa e até mesmo dolo por parte do infrator. Se, por exemplo, o motorista comete várias infrações de trânsito, mas não atropela nenhuma pessoa nem colide com outro veículo, nenhuma indenização será devida,malgrado a ilicitude de sua conduta.

Nessa linha de pensamento, Cavalhieri Filho conceitua o dano moral como a dor, o vexame e a humilhação, algo que foge da normalidade e que interfere diretamente no comportamento psicológico da vítima, o que vem a causar angustia, aflição e desiquilíbrio em seu bem-estar. Nada mais é do que ferir a dignidade humana, ou seja, a agressão e o desrespeito que geram a violência e a prática do ato danoso (CAVALHIERI FILHO, 2008).

Já o dano patrimonial, para Cavalhieri Filho, é caracterizado pelo dano que atinge os bens do patrimônio do indivíduo, um conjunto de relações jurídicas de uma pessoa apreciáveis em um montante. Também, nesse contexto, entra a violação de bens personalíssimos como a reputação, o nome, a saúde, a imagem e a honra que também poderá repercutir no patrimônio da vítima, gerando despesas ou perdas de receitas (CAVALHIERI FILHO, 2008).

Levando-se em consideração esses aspectos, conclui-se que o dano é um elemento essencial para a configuração da responsabilidade civil, onde enseja à reparação deste e consequentemente a indenização a vítima, referente à ofensa moral ou patrimonial, ou seja, independe de sua natureza.

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