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4.2 AS BASES LEGAIS DE PROTEÇÃO AOS REFUGIADOS

4.2.2 Lei 9.474/97: Direitos e Deveres dos Refugiados

4.2.2.1 Da criação do CONARE

Como já salientado, o Brasil se destaca no tema de proteção dos refugiados pro ter uma legislação abrangente e todo um arcabouço instrumental para lidar com a questão.

Além da proteção oferecida pela Lei 9.474/79, também possui o Comitê Nacional para os Refugiados (CONARE). Órgão de deliberação coletiva, com sede em Brasília, vinculado ao Ministério da Justiça e responsável pela análise dos pedidos de reconhecimento do status de refugiado, bem como, pela coordenação da proteção, assistência, integração local e apoio jurídico aos refugiados no Brasil conforme o disposto no artigo 12º da Lei 9.474/97). É composto pelos seguintes órgãos. 1 – Ministério da Justiça, que o preside; 2 – Ministério das Relações Exteriores que atua como vice-presidente; 3 – Ministério do Trabalho e Emprego; 4 – Ministério da Saúde; 5 – Ministério da Educação e do Desporto; 6 – Departamento da Polícia Federal; 7 –

Cáritas Arquidiocesana de São Paulo e Rio de Janeiro74 e – ACNUR (GUERRA, 2007).

Segundo Portela (2009, p. 734):

O Conare – Comitê Nacional para os Refugiados –, órgão da Administração Pública brasileira criado pela Lei 9.497/97, é o responsável por receber os requerimentos e determinar se os solicitantes reúnem as condições necessárias para serem reconhecidos como refugiados.

Após a aprovação da lei 9.474/97 e do estabelecimento de um órgão administrativo encarregado da análise das solicitações de refúgio, o Acnur , em 30 de dezembro de 1998, deixa de exercer o papel de responsável de fato pela aplicação da lei e passa a exercer o papel de supevisor da aplicação da lei, não deixando de colaborar com o governo brasileiro (JUBILUT, 2007). Tanto é que conforme afirma Almeida (2001c, p. 132) “será sempre membro convidado para as reuniões do Conare, com direito a voz, sem voto.”

Assim sendo, com a posse do Conare, dispensa-se a presença do Acnur, enquanto organismo responsável pela eleição e proteção dos refugiados, pois o governo brasileiro passa a ser o responsável de modo integral pela implementação da convenção de 1951 no plano normativo e no fático, de forma a criar um procedimento brasileiro para elegibilidade de casos individuais e um sistema de proteção jurídico e social, ambos sob a responsabilidade do Conare.

Salienta-se que, desde 1999, o Acnur firmou um convênio com a organização não governamental de Brasília, o Centro para proteção Internacional dos Direitos Humanos, vinculado ao curso de Relações Internacionais da Universidade de Brasília e presidido pelo Prof. Antônio Augusto Cançado Trindade, para exercer o papel de supervisor e colaborador no desenvolvimento dos trabalhos feitos pelo Conare.

Para Barreto (2007, p. 5), o Conare é um “órgão de elegibilidade representativo e democrático.”

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ONG de cunho religioso que se dedica à assistência e proteção aos refugiados no Brasil.

Os trabalhos desenvolvidos por esse órgão podem ser encontrados no, site do Ministério da Justiça bem como sua finalidade, prevendo que:

O Comitê Nacional para os Refugiados tem por finalidade:

I – analisar o pedido sobre o reconhecimento da condição de refugiado;

II – deliberar quanto à cessação "ex officio" ou mediante requerimento das autoridades competentes, da condição de refugiado;

III – declarar a perda da condição de refugiado; IV – orientar e coordenar as ações necessárias à eficácia da proteção, assistência, integração local e apoio jurídico aos refugiados, com a participação dos Ministérios e instituições que compõem o CONARE;

V – aprovar instruções normativas que possibilitem a execução

da Lei nº. 9.747/97.19. (CONARE, 2011). Também é importante salientar que uma das funções do Conare (órgão encarregado da determinação da condição de refugiado) é:

Em consonância com a Convenção sobre o Estatuto dos Refugiados de 1951, com o Protocolo sobre o Estatuto dos Refugiados de 1961 e com as demais fontes do direito internacional dos refugiados [...] orientar e coordenar as ações necessárias à eficácia da proteção, assistência e apoio jurídico aos refugiados. (BARRETO, 2010, p.56).

Pode-se dizer, assim, que o ordenamento jurídico brasileiro, para os refugiados, se coaduna com o sistema internacional vigente. Por conseguinte, o Brasil, com o advento desse diploma legal, passou a ter um sistema lógico, justo e atual de concessão de refúgio, razão pela qual Jubilut (2007, p. 196) afirma que ele tem sido apontado como paradigma para uniformização da prática do refúgio na América do Sul, apesar de sempre haver espaço para melhoras e aperfeiçoamentos.

Vê-se, portanto, que o CONARE é uma instância da sociedade brasileira que vem se esforçando para cumprir com o seu rol estabelecido pela lei 9474/97, qual seja, brindar proteção àquelas pessoas estrangeiras perseguidas pelos seus países de origem, de acordo aos propósitos da Convenção de 1951 das Nações Unidas sobre refugiados e de seu Protocolo de 1967, acrescido das conquistas mais modernas do campo do direito internacional dos refugiados. Diga-se de passagem, um belo trabalho que só reforça a imagem do Brasil na sociedade internacional como um país que efetivamente se preocupa com a causa humanitária.

Além disso, é importante salientar a presença da Cáritas Arquidiocesana, que representa a sociedade civil organizada perante o Conare. Vinculada à Igreja Católica, a Cáritas Brasileira atua principalmente em São Paulo e no Rio de Janeiro, onde está a maioria da população de solicitantes e de refugiados no país. Além disso, há uma Rede Solidária de Proteção a Migrante e Refugiados formados por cerca de 50 instituições da sociedade civil nas cinco regiões do país. Dentre estas organizações, cabe destacar o Instituto Migrações e Direitos Humanos (IMDH), que tem exercido liderança no debate e nas ações da sociedade civil75.

Pelo exposto, verifica-se que a lei nacional é uma evolução do sistema internacional de proteção aos refugiados, inovando no estabelecimento de um procedimento claro e sistemático, por meio da criação do CONARE, com análise de solicitações de refúgio. Ou seja, pode-se dizer que o Brasil passou a ter um sistema lógico, justo e atual de concessão de refúgio.

Através dessa breve reconstrução histórica sobre as “ações” realizadas pelo governo brasileiro, podemos verificar a posição do Brasil frente aos institutos internacionais criados em matéria de proteção aos direitos do homem culminado na proteção internacional e interna dos refugiados.

Resta evidente que o Brasil é titular de uma legislação rica e desenvolvida quanto à temática dos refugiados desde a confecção da Lei

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Com sede em Brasília, o IMDH edita uma das poucas publicações periódicas sobre refugiados e migrantes no país, o Caderno de Debates Refúgio, Migrações e Cidadania (INSTITUTO MIGRAÇÕES E DIREITOS HUMANOS, 2011).

9474/97, que ampliou o conceito de refugiado, determinou a criação do CONARE, estendeu a condição de refúgio a determinados parentes, assegurou a concessão de documento de trabalho e livre acesso ao mercado, entre outros direitos.

Dessa forma, faz-se necessário analisar qual o procedimento interno para a concessão do instituto do refúgio, para posterior análise da efetivação dos direitos.

4.3 O DIREITO DO TRABALHO AOS REFUGIADOS SEGUNDO