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2.2 A QUESTÃO DOS REFUGIADOS PERANTE OS DIREITOS

2.2.1 Os regimes internacionais de proteção a pessoa

2.2.1.1 Direito Internacional Humanitário

A primeira vertente é o direito Internacional Humanitário ou Direito Internacional dos Conflitos Armados16, que é uma construção marcadamente costumeira, portanto, resultado do acúmulo de diversos e sucessivos momentos, com surgimento formal simultâneo ao da Cruz Vermelha.

A história do direito internacional pode ser traçada a partir de dois conceitos fundamentais: a paz e a guerra, sendo um muitas vezes definido em função do outro. Conforme Jubilut (2007, p. 139) a tônica das relações internacionais foi a guerra, razão pela qual o Direito Internacional preocupou-se na maior parte de sua existência. A preocupação com a paz é muito recente, surgindo mais especificamente no século XX.

Assim, o Direito Internacional Humanitário vem a ser o ramo do Direito Internacional moderno que veio a regular a guerra, após a exclusão dessa como meio lícito de solução de conflitos na ordem internacional.

Conforme assinala Guerra e Proner (2008, p. 476) o Direito Internacional Humanitário pode ser entendido como um conjunto de normas consuetudinárias, criado de forma específica para ser aplicado nos conflitos armados, internacionais ou não internacionais, e que limita os métodos e meios utilizados na guerra para proteger o direito das partes e os bens afetados.

Com o Direito Internacional Humanitário, surge a efetiva preocupação com o ser o humano, separado da religião e do homem

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De acordo com Almeida (2001, p. 41) o adjetivo humanitário surge em 1755 como resposta dos filósofos iluministas a crença popular, corroborada por intelectuais, de que forças misteriosas haviam causado um terremoto em Lisboa, que destruiu a cidade e matou 200 pessoas, ou seja, que a história humana era fruto de causalidades irracionais. Os filósofos criaram então o adjetivo humanitário para designar os indivíduos que se entendem parte da humanidade e que como parte de um todo são responsáveis por ele.

político, fora do Estado, em caráter internacional, mas é um cuidado relacionado a uma situação especialmente difícil, muitas vezes localizada e não contínua da guerra17.

De acordo com Rezek (2005, p. 369-370) esse Direito Internacional humanitário, teve o surgimento no ano de 1864 com a primeira Convenção de Genebra e com a assinatura de 55 países. O conteúdo de seus dez artigos, no entanto, já eram postulados costumeiros praticados pelo menos desde o século XVI versando igualmente sobre a proteção das vítimas da guerra e exigindo que fossem poupados pelos beligerantes os feridos e os enfermos, os médicos, os enfermeiros e outras pessoas relacionadas ao trabalho de socorro, capelães, prisioneiros, população civil, enfermeiros e transportes hospitalares.

Embora considera-se importante os esses antecedentes na formação do direito internacional humanitário, ele só veio a ficar conhecido como tal a partir das Convenções de Genebra de 1949, sendo que, sua expansão e seu aperfeiçoamento devem-se, também, principalmente, ao Comitê Internacional da Cruz Vermelha, que é uma instituição internacional que pratica o Direito Humanitário considerada como sua integrante, além do Direito de Haia e complementando o Direito de nova York.

Conforme Swinarski (1990, p. 27) o Direito Internacional Humanitário possui três vertentes: o Direito de Haia, que busca limitar o recurso a métodos e meio de combate extremamente violentos, o direito

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Depois da metade do século XX outras organizações internacionais surgiram com preocupação humanitária e espírito de promover os direitos humanos, tal como Médicos Sem Fronteiras que foi criada em 1971 por um grupo de jovens médicos e de jornalistas cuja maioria tinha trabalhado como voluntária em Biafra, região da Nigéria, que, no final dos anos 60, estava sendo destruída por uma guerra civil brutal. A organização apareceu com o objetivo de levar cuidados de saúde para quem mais precisasse, independentemente de interesses políticos, de raça, de credo ou de nacionalidade. No ano seguinte, o MSF fez sua primeira intervenção, na Nicarágua, após um terremoto que devastou o país. Hoje, mais de 15 mil profissionais trabalham com Médicos Sem Fronteiras em cerca de 70 países.

de Genebra, que visa proteger as vítimas do conflito armado e o direito de nova York.

Ou seja, sob o ponto de vista formal, o Direito Internacional Humanitário pode ser visto segundo um conjunto de regras que se convencionou chamar direito de Genebra, direito de Haia e direito de Nova York. O primeiro deles foi fundamentado nas quatro convenções ocorridas naquela cidade da Suíça, em 12 de agosto de 1949, das quais a primeira procura aliviar a sorte dos militares em campanha terrestre; a segunda se preocupa com os mesmos militares em campanha no Mar; a terceira regra o tratamento a ser dispensado aos prisioneiros de guerra e a quarta e última visa à proteção dos civis durante a guerra (DEL´OMO, 2002, p. 2880).

As quatro Convenções de Genebra, de 1949, sobre Direito Internacional Humanitário foram todas promulgadas pelo mesmo Decreto de No. 42.121 de 21 de agosto de 1957, conforme segue (BRASIL, 2011):

 Convenção Melhoria da sorte dos feridos e enfermos dos exércitos em campanha I, 1949;

 Convenção Melhoria da sorte dos feridos, enfermos e náufragos das forças armadas no mar II, 1949;

 Convenção Relativa à proteção dos prisioneiros de guerra III, 1949;

 Convenção Relativa à proteção dos civis em tempo de guerra.

Assim conforme Borges (2006, p. 29) o direito de Genebra se caracteriza pela proteção das vítimas dos conflitos armados, seja eles combatentes, náufragos, prisioneiros, enfermos, quer seja não combatentes feridos e enfermos, procurando estabelecer normas de proteção as vitimas da violência da guerra.

No que tange ao Direito de Haia, diferentemente do Direito de Genebra, procurava estabelecer regras de modo a limitar os métodos e meios utilizados em combates armados, tendo como ponto central a Declaração de São Petesburgo de 1986, que vem a ser o primeiro documento internacional que limita métodos e meios de combate armado.

Segundo Guerra e Proner (2008, p. 79) pode-se citar ainda como documentos internacionais que fazer parte do Direito de Haia

 Primeira Conferência Internacional da Paz de Haia, em 1899;

 Segunda Conferência Internacional da Paz de Haia, em 1907;

 Convenção de Haia para a proteção dos bens culturais em caso de conflito armado em 1954.

Em relação ao direito de Nova York, são normas concebidas no âmbito das Nações Unidas, a partir de 1945, com o objetivo de defesa dos princípios de Direitos Internacional Humanitário, comumente chamado de Direitos Humanos aplicados aos conflitos armados.

Importante assinalar que conforme Borges (2006, p. 31) inicialmente a ONU não se preocupou com o Direito Internacional Humanitário, somente fez uma abordagem indireta a esse direito quando tratou de dois temas específicos: a criação de tribunais penais internacionais para julgamento de crimes cometidos durante a Segunda Guerra Mundial e a proliferação de armamentos atômicos de elevado potencial de destruição.

Mas, com a ocorrência da Conferencia de Teerã, em 1968, este quadro se modifica com a adoção da resolução de n. XXIII a qual corresponde ao respeito dos direitos humanos em tempo de guerra.

Posterior a isso, várias outras iniciativas foram patrocinadas pelas Nações Unidas em prol dos Direito Internacional Humanitário:

 Resolução 2603 sobre a condenação do uso de armas químicas e biológicas , em 1969;

 Resolução 2675 sobre a proteção da população civil durante conflitos armados, 1970;

 Convenção sobre proibição de armas biológicas e a Resolução 2936 sobre a condenação do uso da força e de armas nucleares, em 1972;

Essas normas que são concebidas no seio das Nações Unidas e que são conhecidas como Direito de nova York, foram importantes para a convergência do Direito de Genebra e do Direito de Haia, consolidando, através desses três direitos, o Direito Internacional Humanitário.

Sendo que, de acordo com Swinarski (1990) o ápice dessa convergência acontece no ano de 1977 com a Conferência Diplomática sobre Reafirmação e o Desenvolvimento do Direito Internacional Humanitário Aplicável Sobre proibições ou restrições ao uso de certas

armas convencionais em 1980; a Convenção sobre a proibição do uso de armas químicas em 1993 e a Convenção sobre a proibição de minas antipessoal em 1997.

Ainda conforme assevera Swinarski (1990, p. 90) “o propósito dos Direitos Humanos é, antes de tudo, o de garantir ao indivíduo a possibilidade de desenvolver-se como pessoa para realizar seus objetivos.”

Assim sendo, as questões humanitárias passaram a ter grande relevo no âmbito das Nações Unidas e por conseqüência, nos direitos humanos, sendo necessário fazer um paralelo com o direito internacional dos direitos humanos.