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da Educação Ambiental no Ensino Fundamental

Aurora Maria Figueirêdo Coêlho Costa*

***** Educadora ambiental da Universidade Federal da Paraíba (UFPB – Prac), mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente – Educação Ambiental (Prodema – UFPB), coordenadora da Rede de Educação Ambiental da Paraíba (REA-PB).

1. 1. 1. 1.

1. Ubiratan D’Ambrósio, Tempo da escola e tempo da sociedade. In: Serbino, Raquel Volpato et al. (org.), Formação de professores, São Paulo, Unesp, 1998. 2.

2. 2. 2.

2. Michèle Sato, , , , , Educação para o ambiente amazônico, São Carlos, tese de doutorado, PPG- ERN/UFSCar, 1997.

Neste momento, discutir a formação de professores para a inclusão da Educação Ambiental (EA) em suas práticas pedagógicas é fazer eco ao som de discussões e questionamentos daqueles profissionais que estudam, atuam e refletem sobre essa temática. A esse respeito sabemos da existência de muitas perguntas para as quais não temos respostas. Acreditamos que não existe um modelo único, adequado às diferentes realidades de nossa sociedade plural. Todavia, acreditamos na possibilidade de se traçar um perfil do capacitador; eleger um elenco de conteúdos necessários ao conhecimento do educador ambiental; construir metodologias que possibilitem a continuidade do processo de preparação, avaliação e acompanhamento dos capacitandos no momento em que teoria e prática serão dialogicamente exercitadas.

Qual o professor que queremos formar? – perguntamo-nos freqüentemente. Certamente é aquele cuja atuação conta para melhorar a situação ambiental global, mesmo que atue numa classe multisseriada, onde o quadro de giz esburacado pouco conta, pois sua voz eleva-se acima das dificuldades e enleva as crianças e jovens ali presentes. Um professor que seja capaz de motivar seus alunos ao exercício da criticidade, da cidadania, do posicionamento e da atuação nas questões ambientais que os cercam. Concordamos com o pensamento de Ubiratan D’Ambrósio11111 quando este aponta três categorias importantes como qualidades num professor: emocional/afetiva; política; conhecimentos. O educador ambiental não pode prescindir dessas qualidades.

Temos atuado na formação de multiplicadores em EA em vários municípios paraibanos, seja pelo Programa de Meio Ambiente e EA, da Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários da UFPB, ou ainda por meio do Programa de Preparação de Multiplicadores que a Rede de Educação Ambiental da Paraíba (REA-PB) vem desenvolvendo desde a sua criação em 1998. As experiências vivenciadas permitem-nos atestar a necessidade de um investimento de peso nessa área. É evidente o enorme abismo que separa o interesse do professor na EA e a efetiva inserção desta às suas práticas pedagógicas. Quando questionados acerca dos fatores que obstaculizam essa inclusão, recebemos respostas diretas: “Não sabemos como fazer”. Nesta afirmativa, aparentemente simples, está contido o nosso desafio –“formar os formadores”–––––, como afirma Demo, citado por Sato.22222 Identificar os conteúdos mais adequados, as estratégias mais eficazes, as dinâmicas lúdicas e de socialização mais interessantes, este tem sido o alvo do nosso trabalho cotidiano.

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Algumas experiências na preparação de professores para a EA

Algumas tentativas de implantação da EA no ensino fundamental têm sido identificadas nos últimos anos. Lamentavelmente, todas, ou quase todas, levam à criação de uma nova disciplina. Esse fato também é observado no que tange à adoção dos temas transversais propostos pelos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs.33333 Pensamos que essas distorções se originam na falta de clareza dos professores acerca do conceito de meio ambiente. São privilegiados, nessas experiências, os conteúdos de ciências e ignorados os demais aspectos do ambiente. Nesse contexto, o professor de ciências é sempre apontado pelos atores escolares como o responsável pela EA na escola, ficando os demais isentos de qualquer responsabilidade sobre esse processo educativo. São ainda freqüentes propostas pontuais para EA, na forma de campanhas ou projetos de curta duração.

Essa realidade tem norteado a eleição dos conteúdos trabalhados durante nossas experiências como capacitadores de professores para a EA. A construção do conceito de meio ambiente, desenvolvimento sustentável, globalização, interdisciplinaridade, transversalidade e cidadania, entre outros mais específicos à realidade ambiental das diferentes regiões do nosso estado, preenche o momento inicial dos eventos de capacitação. Buscamos ainda fazer um resgate histórico da apropriação da natureza pelo homem, as conseqüências dessa prática e, em contrapartida a essa situação de degradação ambiental criada pela humanidade, foram sendo discutidas, em nível mundial, propostas visando à garantia de vida no planeta. Esse processo culminou com o surgimento da Educação Ambiental.

Neste ponto, fazemos um apanhado histórico do surgimento da EA, os caminhos trilhados no Brasil, desde os idos de 1542 com a primeira Carta Régia,44444 destacando os avanços conquistados a partir da segunda metade do século XX,55555 até a atualidade quando trabalhamos os PCNs, enfocando principalmente os temas transversais. São ainda discutidos o trabalho conjunto da escola com a comunidade, o papel dos atores sociais, além de dinâmicas lúdicas e de socialização.

Um breve olhar sobre os PCNs

Trabalhar este documento parece-nos de caráter obrigatório. Primeiro, pelas manifestações contraditórias dos professores com relação aos temas transversais. Segundo, pela crítica que fazemos a algumas propostas metodológicas e de conteúdo inseridas nesta proposta. No que diz respeito aos professores, observa-se, comumente, um misto de interesse e satisfação pela aquisição do documento, ao mesmo tempo em que é evidente a inabilidade em colocar em prática o que está posto nos PCNs.

3. 3. 3. 3.

3. Brasil, Ministério da Educação e do Desporto, Parâmetros Curriculares Nacionais,,,,, Brasília, MEC, 1996.

4. 4. 4. 4.

4. Genebaldo Freire Dias, Educação Ambiental: princípios e práticas, São Paulo, Gaia, 1992. 5.

5. 5. 5.

5. Aurora Ma F. C. Costa,

Educação Ambiental: da reflexão à construção de um caminho metodológico para o ensino formal. Dissertação de mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente – Educação Ambiental, João Pessoa, Universidade Federal da Paraíba, Prodema, 1999.

Com respeito aos temas transversais, questionamos a compartimentalização proposta pelos PCNs. Questionamos ainda: A ética como abordagem comportamental não estaria contemplada numa proposta abrangente de Educação Ambiental para a escola? A Educação Ambiental não estimula uma nova ética global no que diz respeito ao ambiente e às relações entre os seus componentes?

É importante ressaltar que desde o surgimento dos primeiros documentos internacionais balizadores da EA o respeito pela pluralidade cultural é ressaltado, até porque a EA surgiu para atender à demanda dessa sociedade plural em todos os seus aspectos.

Um outro ponto a ser comentado é o fato de que alguns conteúdos apontados como temas transversais se referem a conteúdos do elenco das disciplinas tradicionais, indicando, portanto, a necessidade da construção de procedimentos metodológicos de abordagem desses conteúdos com a intenção de atingir os objetivos que motivaram a eleição dos temas transversais.

Além disso, a segmentação de aspectos particulares do meio ambiente em temas é vista como um passo na direção oposta à proposta interdisciplinar para a EA no ensino, bastante discutida por pesquisadores da área. Constitui-se também uma contradição ao conceito de meio ambiente assumido pelo próprio documento. Questões relativas à saúde do ambiente e dos seus componentes poderiam constituir-se tema gerador, em torno do qual seriam levantadas as discussões e contemplados os conteúdos das disciplinas. Enfim, os temas transversais apontados, além de outros que possam surgir, poderiam estar contemplados numa proposta interdisciplinar de Educação Ambiental para a escola.

Essas observações reforçam o investimento que empreendemos nessa temática. Da forma como estão postas as orientações nos PCNs, corremos o risco de que a Educação Ambiental seja assumida – como estão sendo gradativamente assumidos os PCNs – numa perspectiva distorcida daquela preteritamente orientada pelos documentos internacionais e nacionais, surgida como proposta para o desenvolvimento sustentável.

Uma proposta metodológica

Estamos exercitando, juntamente com professores do ensino fundamental, com os quais trabalhamos em eventos de capacitação, um planejamento de curso, adotando uma proposta metodológica,66666 inspirada nas idéias de Paulo Freire,7 que visa à adoção de um tema gerador principal, eleito pela comunidade escolar e oriundo da realidade ambiental vivenciada pelos atores da escola. As ações da escola devem estar voltadas à discussão e à reflexão da problemática contida no tema escolhido. O tema gerador principal pode e deve originar vários outros temas secundários, aos quais estarão vinculados os conteúdos das disciplinas tradicionais. Os vários temas

6. 6. 6. 6.

6. Esta proposta foi construída durante pesquisa e vivência em uma escola de ensino fundamen- tal de João Pessoa – PB durante o mestrado. Consta de nossa dissertação (nota da autora). 7.

7. 7. 7.

7. Paulo Freire, Pedagogia do

oprimido, 22a ed., Rio de Janeiro,

86 Panorama da Educação Ambiental no Ensino Fundamental secundários oferecem ao professor a possibilidade de migrar entre um tema e outro todas as vezes em que for necessário, no sentido de encaixar melhor os conteúdos tradicionais.

Um aspecto bastante positivo desta proposta é a obrigatoriedade de um planejamento envolvendo todos os professores de uma mesma série. Ao mesmo tempo, essa condição sine qua non representa um desafio para os professores, considerando que a indisponibilidade de tempo é uma das justificativas de alguns para resistir às mudanças.

Essa atividade constitui-se um dos pontos mais efervescentes dos encontros de capacitação de professores para a EA. O momento possibilita obter informações reais acerca do interesse, da flexibilidade e das habilidades do professor. Paradoxalmente, encontramos maior dificuldade entre os professores de 1a a 4a séries, que a rigor deveriam exercitar naturalmente a interdisciplinaridade. Já com os professores de 5a a 8a séries, essa atividade tem fluído mais facilmente.

Encerrando o bate-papo sem concluir o assunto

Para nós, está claro o fato de que nossa proposta metodológica não é um modelo definido, pronto e acabado. Todavia, temos a certeza de que estamos buscando alternativas que, certamente, se constituem instrumentos importantes, capazes de contribuir para que os professores possam mudar sua prática pedagógica, no que tange à inclusão da EA nos currículos das escolas.

Temos a convicção de estarmos “mexendo” com a cabeça dos professores com os quais trabalhamos, estimulando-os a

8. 8. 8. 8.

8. Paulo Freire, Novos tempos, velhos problemas, In: Serbino, Raquel Volpato et al. (org.), Formação de professores, São Paulo, Unesp, 1998.

refletir sobre o fato de que já “não é possível fazer uma educação que esconda verdades. A educação do homem e da mulher, como seres fazedores e refazedores do mundo, é a educação que desoculta, e não a que oculta”, como afirmou Paulo Freire.88888 Finalizando, deixamos algumas palavras que exprimem a tenacidade daqueles que acreditam naquilo que fazem, que investem suas vidas em seus ideais, independentemente do que pensa a maioria.

Se me perguntas por que faço, te digo que faço porque acredito que tanto participam do processo os que fazem como os que se omitem. Melhor participar fazendo. Se me perguntas por que insisto, te digo que insisto porque tenho um ideal... (((((Aurora Costa, João Pessoa-PB, agosto de 1998)))))