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Reflexões sobre o panorama da Educação Ambiental no ensino formal

***** Responsável pelo Setor de Biologia e Educação Ambiental do Centro de Divulgação Científica e Cultural da

Universidade de São Paulo-USP/ São Carlos.

A formação de professores em Educação Ambiental A formação de professores em Educação Ambiental A formação de professores em Educação Ambiental A formação de professores em Educação Ambiental A formação de professores em Educação Ambiental possibilita o exercício desta no ensino formal?

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O que é capacitar em Educação Ambiental o professor O que é capacitar em Educação Ambiental o professor O que é capacitar em Educação Ambiental o professor O que é capacitar em Educação Ambiental o professor O que é capacitar em Educação Ambiental o professor do ensino fundamental?

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Capacitar em EA, independentemente do público-alvo, é, em um primeiro momento, levar o indivíduo a repensar a sua relação com o meio, a fim de garantir mudanças de atitudes em prol da melhoria da qualidade de vida de sua sociedade.

Para que essa mudança ocorra, é fundamental que o indivíduo se reconheça como parte integrante do ambiente, se sensibilize com os problemas e se sinta responsável por eles. Entendendo os conceitos que regem a sua dinâmica, poderá agir de forma efetiva.

Em um segundo momento, atendo-se então para os professores do ensino fundamental, faz-se necessário que a capacitação proporcione uma formação adequada para que estes se sintam seguros para inovar e reformular suas práticas, incorporando a questão ambiental ao programa escolar. Para isso devem-se considerar as questões ligadas à realidade local e, a partir daí, refletir sobre as de âmbito regional, nacional e global. É com essa visão que o Programa de Educação Ambiental é desenvolvido pelo Setor de Biologia e Educação Ambiental do Centro de Divulgação Científica e Cultural da Universidade de São Paulo, campus de São Carlos.

Considerando que o trabalho em Educação Ambiental deve ser desenvolvido por uma equipe multidisciplinar (áreas ambientais, humanas, exatas, etc.) cujos integrantes devem estar aptos e conscientes dos problemas ambientais e, ainda, estar convictos da importância do processo educativo como instrumento de participação do gerenciamento ambiental, faz-se necessário que estes passem por um processo de capacitação para padronização de conteúdos e de linguagem e para que conheçam a filosofia do trabalho aqui desenvolvido.

Atualmente o setor possui uma equipe composta por ecólogos, biólogos, matemáticos, historiadores, químicos, engenheiros, geógrafos, pedagogos, etc., os quais são bolsistas ou voluntários, tendo como coordenadora a responsável pelo setor, única funcionária da instituição. Vale ressaltar que alguns dos integrantes da equipe são professores da rede pública de ensino que participaram como alunos de projetos/cursos desenvolvidos por nós.

Os programas estão ligados às diretorias de ensino e às secretarias estadual e municipal de educação, com exceção de

34 Panorama da Educação Ambiental no Ensino Fundamental orientação a projetos específicos solicitados por professores,

diretores ou coordenadores das unidades escolares.

Objetivos e metodologia

Os conteúdos abordados objetivam a homogeneização de conceitos básicos da dinâmica ambiental e a discussão/reflexão sobre o conflito existente entre esta dinâmica e as tendências comportamentais de uso irracional do meio, a fim de proporcionar aos participantes a possibilidade de escolha consciente de quais caminhos de desenvolvimento devem ser seguidos e quais as conseqüências dessa escolha.

Durante o período de 1996 a 1998, a capacitação ocorreu dentro de projetos extracurriculares, financiados pela Vitae, Fapesp (Ensino Público e Pró-Ciências), CNPq e Secretaria Estadual de Educação. Nesses projetos, os cursos foram ministrados fora dos horários de aulas dos professores (sábados, durante períodos de férias, etc.), com exceção do financiado pela Secretaria (Programa de Educação Continuada), nos quais os professores foram capacitados em serviço, isto é, foram dispensados das aulas para participar dos cursos.

Atualmente os projetos têm sido desenvolvidos diretamente com as escolas, nas quais a capacitação tem ocorrido, preferencialmente dentro do horário de trabalho pedagógico da unidade escolar, a fim de garantir a participação de todos os professores. Eventualmente algumas atividades são desenvolvidas fora desses horários.

Independentemente de projetos e financiamentos, todos os cursos têm se realizado de forma continuada, pelo período mínimo de um ano.

O método proposto está pautado em temas geradores que levem toda a comunidade escolar a levantar seus problemas, conhecer seu meio e buscar, pelo conhecimento, soluções simples e eficazes para algumas questões ligadas à degradação ambiental local.

As atividades programadas e desenvolvidas pelo Programa de Educação Ambiental seguem os princípios básicos gerais da Educação Ambiental citados por Smith (1995, em Sato, 1997) e estão descritas a seguir:

Sensibilização: processo de alerta, é o primeiro passo para

alcançar o pensamento sistêmico sobre a dimensão ambiental e educativa.

Práticas relacionadas à sensibilização: percepção ambiental (meio físico, biológico e antrópico).

Compreensão: conhecimento dos componentes e dos

mecanismos que regem o sistema natural.

Práticas relacionadas à compreensão: delimitação da área de estudo, visualização de relevo, definição de ocupação e uso do solo, determinação das áreas verdes e porcentagem de impermeabilização do solo, levantamento histórico-econômico da ocupação, determinação dos eixos de expansão, grau de impactos

ambientais (água, solos, vegetação, fauna, resíduos sólidos, etc.) e possíveis limites de recuperação.

Responsabilidade: reconhecimento do ser humano como principal

protagonista para determinar e direcionar a manutenção do planeta. Práticas relacionadas à responsabilidade: estudo e interpretação das Constituições (federal e estadual), das legislações ambientais (federal, estadual, municipal), dos códigos específicos (florestal, pesca), das políticas públicas (recursos hídricos, meio ambiente, resíduos sólidos), das normas e resoluções (federal, estadual) e da Lei Orgânica Municipal.

Competência: capacidade de avaliar e agir efetivamente no

sistema.

Práticas relacionadas à competência: elaboração e aplicação de projetos de atuação direta no meio (recuperação, manutenção, criação de áreas verdes, etc.), viabilização de uma ação de fiscalização integrada da comunidade com os órgãos executivos competentes (Polícia Florestal, DEPRN, Cetesb, SAAE, Prefeitura Municipal).

Cidadania: capacidade de participar ativamente, resgatando os

direitos e promovendo uma nova ética capaz de conciliar a natureza e a sociedade.

Práticas relacionadas à cidadania: efetivação de ações comunitárias, elaboração de metas, programas e políticas locais.

As etapas de compreensão e competência, para que sejam efetivas e confiáveis, carecem de parcerias com outros órgãos (Legislativo, Executivo, Judiciário, de pesquisa, etc.).

Vale ressaltar que, para que os projetos/programas sejam efetivados nas unidades escolares, faz-se necessário que toda a comunidade escolar (direção, coordenação, administração, serventes, zeladores, etc.) se sensibilize com a questão e se envolva. Para tanto, torna-se necessário que esse pessoal também passe por um processo de capacitação.

Acredita-se que, para essa efetivação, cada instituição (secretarias e diretorias de ensino, unidades universitárias de áreas afins em educação, unidades escolares particulares e públicas, órgãos ambientais, etc.) possua uma equipe mínima de profissionais responsáveis pelo estudo, projeto e capacitação dos funcionários da área educacional e de atendimento público em questão.

Avaliação AvaliaçãoAvaliação AvaliaçãoAvaliação

Apesar das dificuldades encontradas para avaliar projetos dessa natureza, procura-se fazer uma avaliação constante, durante todas as fases do processo (sensibilização, compreensão e atuação do capacitando nas causas ambientais locais).

Essa avaliação tem sido realizada por meio de relatórios de atividades desenvolvidas no curso, relatórios das tarefas que os professores desenvolvem com os alunos, apresentação de seminários, participação nas atividades e nas discussões/reflexões durante a apresentação dos temas apresentados, questionários e elaboração de projetos na unidade escolar.

36 Panorama da Educação Ambiental no Ensino Fundamental Os projetos propostos pela unidade escolar devem apresentar

fundamentação dos conceitos ambientais gerais, método apropriado à realidade da escola, práticas compatíveis com a infra- estrutura local e a busca e obtenção de parcerias comunitárias e públicas.

Salienta-se que a busca pela qualidade de vida extrapola o cotidiano da unidade escolar. portanto não encerra, por si só, mudanças prático-pedagógicas de cunho formal, mas sim mudanças de atitude de ordem pessoal (casa/comunidade).

Fase de acompanhamento e avaliação após o curso de capacitação

Terminado o curso, o acompanhamento realiza-se por meio de visitas às escolas para verificar se os projetos propostos estão sendo desenvolvidos e, assim, monitorar cada seqüência trabalhada, a fim de garantir a funcionalidade dos métodos propostos. Considerando que a aplicação do conteúdo junto aos alunos faz parte das atividades previstas, é no acompanhamento pós-projeto que se pode avaliar se realmente houve mudanças de atitudes e se o conteúdo trabalhado foi incorporado pelos professores em suas atividades, agora por vontade própria. Deve- se considerar ainda que a capacitação em Educação Ambiental, como já dito anteriormente, deve assumir uma postura de mudanças de valores pessoais e não somente posturas pedagógicas. Por sua vez, se houve efetivamente essas mudanças pessoais, elas acabam por ser incorporadas nas práticas pedagógicas.

Essas mudanças podem ser observadas de diferentes maneiras, como, por exemplo:

- reestruturação dos planos pedagógicos da unidade escolar incluindo as questões ambientais;

- busca e articulação de parcerias para efetivação de projetos pedagógicos ambientais;

- cobranças de responsabilidades do aluno com relação ao professor, do professor com relação à coordenação/ direção, desta com órgãos e instituições de apoio, de responsabilidades públicas, etc., demonstrando que o processo de Educação Ambiental desencadeado é muito rico em direitos e deveres e que basta que um dos componentes inicie/altere uma postura para que todos os outros componentes sofram o reflexo.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais de Meio Ambiente e os cursos de capacitação

Os PCN de Meio Ambiente são um documento que trata de orientações sobre grandes tópicos ambientais, apresentando uma nova maneira de se enxergar e trabalhar as realidades locais cotidianas que estavam apagadas do ensino convencional.

desse documento, mesmo porque é uma forma de mostrar para os professores que essa é uma proposta oficial do MEC para todo o Brasil e que sua aplicação não deve ficar restrita a atividades paralelas, como, por exemplo, palestras, plantio de árvores, coleta seletiva, etc., mas sim estar incorporado ao conteúdo escolar.

Os PCN de Meio Ambiente tornam-se um desafio saudável, já esquematizado, de cada unidade escolar produzir o seu próprio parâmetro curricular voltado à realidade local.

Sob a perspectiva de transversalidade, a Educação Ambiental deve estar incluída na proposta pedagógica da unidade escolar, pela qual todas as disciplinas devem desenvolver seus conteúdos não de forma compartimentalizada, mas sim compondo a noção do todo (visão holística).

Os projetos aqui desenvolvidos, num primeiro momento, buscaram capacitar professores de diferentes áreas que tinham interesse em trabalhar com Educação Ambiental e de diferentes unidades escolares. A dificuldade encontrada foi implementar o processo dentro de cada unidade escolar, visto que os professores capacitados não receberam apoio.

A partir dessa experiência, buscou-se implementar projetos envolvendo toda a unidade escolar (diretores, coordenadores, professores e funcionários), garantindo um comprometimento e uma seriedade maiores e, conseqüentemente, melhores resultados.

Referência bibliográfica

SATO, M. Educação Ambiental. São Carlos: PPG-ERN/UFSCar, 1997.