• Nenhum resultado encontrado

Da Geografia Urbana ao Paradigma do Lugar: O Mundo em Movimento

LUGAR-MUNDO: A Dinâmica dos Lugares

CAPÍTULO 2 Da Geografia Urbana ao Paradigma do Lugar: O Mundo em Movimento

Tu sabes como é grande o mundo. Conheces os navios que levam petróleo e livros, carne e algodão. Viste as diferentes cores dos homens, as diferentes dores dos homens, sabes como é difícil sofrer tudo isso, amontoar tudo isso num só peito de homem... sem que ele estale.

Carlos Drummond de Andrade. Mundo

Grande. 1940.

or que trata-se de demonstrar a dissolução da geografia urbana? Porque a metamorfose do mundo assim determina. O mundo mudou e as ferramentas para compreendê-lo também devem se transformar sob pena de não o entender mais.

O século XXI é marcado pelo reino da técnica, da ciência e da informação. Esses imperativos que regem e se impõem como condições do presente foram denominados por Santos (2009 [1996]) como período histórico técnico-científico-informacional. Esse período institui um meio, é uma simbiose meio e período, como já foi mencionado anteriormente. O meio técnico-científico- informacional é a realidade do mundo em que se vive na contemporaneidade, funcionando como território usado da e pela globalização.

Essas características do período e do meio técnico-científico- informacional alteram e condicionam a dinâmica do cotidiano61. O homem é um

61 Sorre (1984 [1957]) já alertava para o estudo da vida cotidiana na crítica que fazia à definição de espaço subjetivo ao estudo da vida cotidiana das famílias operárias do meio urbano por P. Chombart de Lauwe. Ainda segundo Sorre (1984 [1957]) o cotidiano não dizia respeito à geografia diretamente, mas

sua discussão era realizada por meio de uma distinção entre espaço social e espaço geográfico. Sua

ser condicionado (ARENDT, 2018 [1958]). O meio ao qual se tem contato ao nascer torna-se natural, todo o objeto com o qual se tem contato quando se estar no mundo, instantaneamente, é natureza recebida (SANTOS, 2009 [1996]).

Por isso a geografia é um dado imprescindível da realidade, pois a relação entre os homens e o sistema de objetos e o sistema de ações é a base de toda e qualquer discussão das sociedades. Evidentemente, existem muitas disciplinas e ciências que se dedicam ao estudo dos objetos, mas a Geografia Nova e Renovada defende e investiga a indissociabilidade entre objetos e ações sociais.

No capítulo 1 revisitou-se sobre o conceito e categoria do lugar, neste capítulo faz-se a discussão sobre a passagem da abordagem da urbanização para a teoria do lugar.

A pesquisa inicial no acervo geográfico de teses da Universidade de São Paulo – USP encontrou um vasto banco de dados e interpretações sobre a cidade de São Paulo referentes à geografia urbana e suas abordagens, às resistências e ao uso da internet e mídias sociais.

Desde 2001 a base digital de teses e dissertações da USP disponibiliza seus documentos em formato digital, que totalizam 571 arquivos na área de Geografia Humana, entre teses e dissertações do Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia Humana – PPGH. Sobre a metrópole são quase 200 trabalhos produzidos! As temáticas e variedades metodológicas também estão presentes ora com estudos de caso sobre um município específico da região metropolitana, sobretudo aqueles circunvizinhos (como Osasco, Guarulhos, São Bernado do Campo ou São Caetano do Sul), ora aprofundando processos complexos e intrigantes da identidade e conteúdos da, literariamente conhecida, Paulicéia Desvairada.

Sobre os temas da geografia urbana a pesquisa, inicialmente identificou abordagens referentes à pobreza e periferia, “consumo do lugar” ou da metrópole, circuitos da economia urbana, flexibilidade tropical, Hip Hop, qualificação urbana

crítica ao espaço social e ao estudo de P. Chombart de Lauwe referia-se à leitura que este autor tinha sobre o espaço, qual seja o espaço social não era apenas uma percepção do individuo ou mesmo de um grupo.

(valorização e revitalização), centralidades. Há inúmeras reflexões sobre a metrópole sua periferia e a pobreza. Acerca do tema das redes sociais também consta estudos que na época faziam referência às relações sociais, ao comércio, a centralidade e mobilidade. Quanto ao papel da internet nas transformações do espaço geográfico as reflexões existentes analisam o nível nacional, ou a tangencia em relação ao conteúdo ao qual se aborda.

***Do meio geográfico ao meio técnico-científico-informacional***

O meio é um conceito de origem geográfico. “Desviado de seu significado

geométrico original, o termo meio refere-se ao conjunto das condições exteriores da vida do indivíduo ou do grupo (SORRE, 1984: p. 31 [grifo no original])”. É um

complexo composto por três aspectos, o biológico, o climático e o social (SORRE, 1984). A força da natureza não artificializada era o imperativo que se empunhava sobre os grupos humanos. Santos (2009 [1996]: p. 234) resgata uma periodização dos meios geográficos “Podemos admitir que a história do meio geográfico pode

ser grosseiramente dividida em três etapas: o meio natural, o meio técnico, o meio técnico-científico-informacional.”

A partir da agregação de técnica e tecnologias ao meio técnico-científico- informacional é possível distinguir variados usos do território: o território fluído (que serve às empresas), o território viscoso e rarefeito (usado por muitos dos brasileiros), o território como recurso (do interesse hegemônico), o território como abrigo (SOUZA, 2010). O território como abrigo é o uso de todos os brasileiros, mas, sobretudo, daqueles que o usam a partir da constituição dos lugares como resistência, os quais se investiga nesta tese. Esses são os principais usos do território decorrentes do estudo da categoria de análise social do território usado.

Sendo o meio técnico-científico-informacional acessado pelo uso do território. Então para se trabalhar com o território na geografia refere-se à categoria de território usado. Souza (2010: p. 55) a aprofunda e operacionaliza. “É

lugares, que dão à pessoa o sentimento de pertencimento, da existência e de liberdade.”

Hartshorne (1978) já advertia para a importancia da filosofia e da teoria no acompanhamento das mudanças do antigo ecúmeno e sobre o “mundo” do homem no tocante à possivilidade da exploração do espaço sideral. Quando segundo ele a discussão estava sendo projetada sobre a extensão dos limites do mundo do homem para além da atmosferam o termo terra seria possível à expansão do limite até a lua questiona o referido autor. “O problema não será

resolvido apenas pela Etimologia ou pela Lógica, mas sim pelo uso

(HARTSHORNE, 1978: p. 26).”

Mas antes de se aprofundar essa questão sobre os usos do território pelos lugares se constituindo como resistência às desigualdades, que possui um capítulo à parte (capítulo 12) é preciso entender a transição da geografia urbana para paradigma do lugar. Essa transição se dá devido às transformações do meio geográfico até o meio técnico-científico-informacional. E, como será visto, somente devido à chegada ao meio técnico-científico-informacional foi possível à descoberta do lugar e a semente do Período Popular da história trazida por ele.

O meio técnico-científico-informacional é a mediação entre a vida humana e a natureza cada vez mais artificializada para a realização da vida. É a transformação da natureza em natureza humana, pois é impossível o homem viver sem o meio.

Ainda sobre a ideia de meio como um conceito abstrado de mediação entre o espaço geográfico, os lugares e o uso do território vale-se da revisão de Hartshorne (1978: p. 46 [grifo no original]) sobre o meio (environment) envolve o homem. “Para ilustrar a ‘ilusão de pensar-se em meio à parte daquilo que ele

envolve, ao invés de ‘meio para envolver o que’”.

Mas há um desafio, a diversidade entre os grupos humanos quando a geografia se tornou um saber imperioso por excelência forçosamente exibia um mundo distribuído desigualmente no então meio geográfico62. Com a marca do

62 A distribuição desigual dos homens sobre o planeta, as formas diferenciadas de ocupação dos

grupos, os variados sistemas econômicos podem ser encontradas em George (1976). Neste exemplar extraí-se essa inspiração.

mercantilismo e a sua acumulação o meio técnico passou a vigorar. Era possível enxergar o mundo (chamado de ecúmeno) e distingui-lo do planeta, do denominado meio natural. Mas atualmente dada à complexidade do meio técnico- científico-informacional a distinção entre ecúmeno e planeta fica cada vez mais difícil.

O desafio é exatamente como trabalhar e distinguir a diversidade entre os homens63, entre as sociedades e culturas, e as desigualdades socioespaciais para combatê-las e extingui-las. Uma vez que o capitalismo usa as diversidades como sinônimo de desigualdades e assim registra-se e reproduz sua falácia de que pobres podem se tornar ricos.

Essas falácias são disseminadas pela psicoesfera e tecnoesfera. Max. Sorre (1984: p. 43) já chamava a atenção para o efeito do elemento psicológico na análise do geógrafo sobre as dinâmicas do urbano e seus gêneros de vida à época “Nosso objetivo é mais modesto: limita-se a investigar em que medida o

meio social se reflete na psicologia diferencial dos grupos humanos”. Em outras

palavras do mesmo autor: “Encontramos, em todos os compartimentos da

sociologia, a necessidade de introduzir dados da psicologia, imagens geradoras da ação (SORRE, 1984: p. 152)”. Segundo esse autor não se tratava apenas de

simples percepção, uma vez que, além disso, eram introduzidos juízos de valores, desejos, vontades. Por isso ele afirma que “Devemos guardar disto tudo algo mais

que a terminologia, ou seja, a necessidade de nunca perder de vista o elemento psicológico (SORRE, 1984: p. 153).

Esse caráter psicológico, no contexto do presente, é incluído nas dinâmicas da redutibilidade da tecnoesfera e psicoesfera, pois não existe mais gêneros de vida, eles se transformaram.

La Blache (apud SORRE 1984: p. 103) define gênero de vida como “Conjunto de técnicas, os gêneros de vida são formas ativas de adaptação do

grupo humano ao meio geográfico”. Como o progresso das primeiras civilizações

estava mais ligado ao progresso dos instrumentos houve uma evolução na produção dos gêneros de vida. Os grupos humanos passaram a se diversificar, e

por sua vez, se fragmentar. Pois os gêneros de vida diziam respeito à lida dos grupos humanos com o meio geográfico da época, e esse enfrentamento da natureza provocava uma homogeneidade na paisagem produzida pelo uso e na aparência dos grupos. Então, os gêneros de vida era o termo geográfico para lidar com os grupos humanos e sua exploração, ocupação e uso do território, quando a força da natureza era imperiosa e os grupos humanos despendiam de técnicas para a adaptação ao meio, transformando com isso as paisagens que repercutiam expressando os elementos constituídos dos grupos que as produziam.

Mas “Esse gênero de vida sofreria mudanças profundas com a supressão

da escravidão, com a expansão do capitalismo e desenvolvimento das culturas industriais [...] (SORRE, 1984: p. 113)”. Sorre (1984) falava de um gênero de vida

específico, qual seja os grupos brancos que exploravam as colônias sob o regime de plantations. O autor ainda insiste na permanência dos antigos gêneros de vida e na criação de novos gêneros de vida pelos agentes da circulação do mundo novo, o mundo industrial. O crescimento urbano traria o advento dos gêneros de vida urbano. Então, para Sorre (1984) os gêneros de vida urbano dizem respeito à atividade coletiva dos grupos humanos que moram nas cidades, ainda que tenham milhões de “almas” disputando o seu uso.

O entendimento e visão de mundo defendida neste trabalho de tese afirmam que os gêneros de vida foram extintos. A complexização do mundo pela difusão do meio técnico-científico-informacional provocou a constituição de lugares, ou seja, o descolamento do lugar com o local devido à aceleração do tempo, conforme já argumentado no primeiro capítulo. A aceleração do tempo, metamorfose do capitalismo não mais industrial, e sim financeiro, provocou uma transformação na constituição do espaço geográfico e, com isso, nas formações socioespaciais (particularizações do espaço geográfico se repercutindo em cada país) e, consequentemente, na constituição dos lugares vivenciados pelos indivíduos.

Outro processo que ocorreu com as transformações do capitalismo foi a individualização. A psicoesfera e tecnoesfera do egoísmo, da corrida pela posse dos objetos modernos e do destaque ou sucesso na ascensão social. Não se entrará no aprofundamento dessa questão porque a tese é sobre a constituição

dos lugares como resistências, defendendo que o lugar é uma dimensão da política. Faz-se menção para exibir a divergência sobre a permanência dos gêneros de vida que inexistem. Uma descoberta que liquida com a noção de gênero de vida é a de LUGAR-MUNDO. A partir do momento em que essa possibilidade de experiência ocorre no mundo, devido às conexões geográficas (SOUZA, 1993), os gêneros de vida se pulverizaram. Mas pode-se considerar que o lugar tem uma origem ligada aos gêneros de vida. Seria, pois, uma evolução dos gêneros de vida.

Como o meio técnico-científico-informacional é um conceito prático, uma condição geográfica sem a qual é impossível a vida humana na Terra. É o intermediário do espaço geográfico (sistema de objetos e sistema de ações, sinônimo de mundo em movimento) com a constituição dos lugares através dos usos do território. Isso quer dizer que os lugares se constituem através do meio técnico-científico-informacional, como Santos (2008) ensinou, segundo os níveis de densidades técnicas, densidades informacionais e densidades comunicacionais. Os lugares usam o território pela sua constituição a partir das densidades do meio técnico-científico-informacional (SOUZA, 2003b)64.

Por isso que esta abordagem não considera mais os gêneros de vida. E nesse sentido sugere-se a transição dos gêneros de vida para o estudo dos lugares. Assim, a discussão a seguir é sobre a evolução do conceito de espaço geográfico como fator social, levando aos estudos do fato urbano, e, em sequência, à nova teoria de estudo da cidade, e outros temas, conforme será visto.

Ainda segundo Sorre (1984: p. 153): “O espaço geográfico, entretanto,

definido em seu sentido mais amplo, corresponde àquilo que Durkheim denominou de substrato dos fatos sociais”.

64 Souza (2003b) é a primeira quem afirma que são os lugares que usam o território. Dá-se sequência

ao estudo da teoria do lugar e assim se compreende que são os lugares como dimensão que usam o território, ao entrarem em contato com o meio técnico-científico-informacional constituem um LUGAR- MUNDO. Sendo o meio técnico-científico-informacional o intermediário entre espaço geográfico e lugar. Mas é o lugar quem usa o território. Somente pela constituição dos lugares que as pessoas usam o território.

Evocar a compreensão de Sorre, acima, refere-se ao que Santos (2008 [1979]) inicialmente chamou de força do espaço, ou o espaço como fator social. Prossegue-se com o raciocínio de Sorre (1984) que na época defendia o estudo dos geógrafos a partir dos gêneros de vidas em seus respectivos meios geográficos tão bem defendeu, em seu contexto, o atributo e especificidade geográficos. No caso do meio urbano a vida cotidiana estaria contemplada na investigação dos conteúdos dos gêneros de vida urbanos.

Quando Souza (2003b) expõe o método para estudo do território usado, sobre os pares dialéticos densidade e rarefação e fluidez e viscosidade, está falando sobre o método para estudo também do meio técnico-científico- informação através dos usos do território. Souza (2003b) sofistica a tradição geográfica exibida também por Dollfus (1975) que falava sobre as densidades. A compreensão da densidade e rarefação ou a fluidez e viscosidade sempre esteve ligada ao estudo geográfico.

Assim, o meio técnico-científico-informacional possui a redutibilidade da psicoesfera e tecnoesfera e é por elas que se ler a semiótica das paisagens. Psicoesfera, tecnoesfera são conteúdos da constituição dos lugares. O período técnico-científico-informacional cria uma psicoesfera e tecnoesfera que são dois pilares de introdução e difusão do meio. Os objetos geográficos que se implantam nos locais são imbricados de técnica, ciência e informação, ou seja, em si os objetos são intencionalidades.

Então, a psicoesfera é o “[...] reino das idéias, crenças, paixões e lugar da

produção de um sentido [...] (SANTOS, 2009 [1996]: p. 256)”. A tecnoesfera se

adere ao território como uma prótese, isto é, ela “[...] é o mundo dos objetos, a

psicoesfera é da ação (SANTOS, 2008: p. 159). “Tecnoesfera e psicoesfera são dois pilares com os quais o meio científico-técnico65 introduz a racionalidade, a irracionalidade e a contra-racionalidade, no próprio conteúdo do território

(SANTOS, 2009 [1996]: p. 256)”.

65 Embora se trate do meio técnico-científico-informacional no texto original encontra-se com essa

troca. Bem verdade que na obra Natureza do Espaço o autor menciona três meios: natural, técnico e técnico-científico-informacional. O que revela um erro de digitação nesse trecho.

A constituição dos lugares é tema central para a contemporaneidade. O lugar como dimensão do espaço geográfico, alteridade do espaço é a dimensão diária da vida humana, sendo por isso mesmo imprescindível para qualquer ciência social o seu conhecimento e seu estudo. São os lugares que realmente importam, porque os homens não vivem isolados. Nem mesmo os animais, a vida em si é coletividade, mas os homens em si podem se isolar. Por isso o estudo das emoções66 é fundamental para compreender a constituição da psicoesfera e tecnoesfera.

São as emoções um tipo de consciência humana que dão sentido às coisas e por elas os indivíduos podem constituir uma consciência dos lugares que vivenciam. Então o sentido dos lugares passa por uma compreensão de como as emoções interferem na constituição dos mesmos, ou seja, de como a relação lugar e mundo se estabelece.

Por que se faz a crítica da geografia urbana? O Lugar há muito tempo foi confundido como localização ou ocupação. Entretanto, em seu germe sempre foi uma dimensão espacial. Assim como Marx e Engels escreveram no Manifesto do

Partido Comunista que “A história de toda a sociedade até nossos dias é a história da luta de classes.” (MARX; ENGELS, 2010 [1848]: p. 23), ela, a luta de

classes sempre existiu como tal, sendo que o elemento decisivo para a deflagração da luta de classes no sistema capitalista foi o domínio da burguesia e a simplificação da oposição entre duas classes basicamente opostas, a burguesia e o proletariado.

Com o lugar ocorre similarmente o mesmo do que Marx e Engels (2010 [1848]) elucidam no Manifesto sobre a luta de classes. Usa-se essa aproximação teórica, porque o lugar como o espaço do acontecer solidário sempre foi uma dimensão espacial do cotidiano, uma alteridade, um tempo espacial. Contudo essa realidade ficava escondida junto ao local ou as localidades, devido não apenas à dinâmica do tempo, mas também à constituição do mundo e seus processos civilizatórios, modernizadores e urbanizador.

66 Que não é apenas em caráter psicológico. Ver Sartre (2009 [1939]) onde emoção é diferente de

A possibilidade da conexão entre as localidades e a simultaneidade tempo-espaço, ou seja, a convergência dos momentos nos dizeres de Santos (2011 [2000]) implicam num dado da contemporaneidade que carece de esforço científico para acompanhar e compreender as suas mutações.

Estudar geografia é compreender a dispersão dos objetos, ou melhor a difusão do meio técnico-científico-informacional a partir dos seus pilares difusores, a redutibilidade da psicoesfera e tecnoesfera.

No mundo do presente não há mais gêneros de vida de qualquer espécie. O mundo se transformou. Mundo aqui como sinônimo de espaço geográfico. Vale lembrar que a relação dos lugares com o mundo é sempre subjetiva, mas a constituição do espaço geográfico é objetiva. A relação entre o espaço geográfico, através da constituição do meio técnico-científico-informacional pelo uso do território, a partir da dinâmica dos lugares demanda da Geografia atualização de conceitos e categorias.

***O urbano, a urbanização e os lugares como resistência***

A partir da constituição e difusão do meio técnico-científico-informacional as características da fluidez territorial beneficiam o aprofundamento das desigualdades socioespaciais. Assim, a constituição e dinâmica dos lugares como resistência se dá pelo acesso ao meio técnico-científico-informacional.

A fluidez territorial está ligada à difusão dos transportes, às autopistas e estradas vicinais, fazendo com que a circulação seja fácil e fluída. Essa fluidez do território intensifica ou gera uma divisão territorial do trabalho. “E essa fluidez do

território tem como conseqüência [sic] uma acessibilidade (física e financeira) maior dos indivíduos. (SANTOS, 2009 [1993]: p. 57)” Os indivíduos que acessam

em maior número tendem a ser aqueles que possuem maiores ganhos de salário. A divisão territorial seria maior pela propensão à consumir e produzir, maior tendência ao movimento e à criação de riqueza. Não é que a fluidez cria ou gera a divisão territorial do trabalho, mas pode ser consequência.

O caso é que Santos (2009 [1993]) fala em involução metropolitana. Não há essa involução metropolitana, não é a metrópole quem regride; a dinâmica a se averiguar é outra. É uma contradição, pois o meio técnico-científico- informacional vai se densificando e se transformando em condições para o novo

Documentos relacionados