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Da inclusão à sustentabilidade nas iniciativas locais para o desenvolvimento

Parte II. Governação para o desenvolvimento Local

5. Estratégias para desenvolvimento (local) do concelho: análise e considerações em torno do

5.3. Da inclusão à sustentabilidade nas iniciativas locais para o desenvolvimento

No presente estudo assume-se que o desenvolvimento de carácter inclusivo assenta essencialmente na valorização de três componentes distintas, mas interligadas entre si: dinamização e eficiência económica, respeito pelo equilíbrio ambiental e luta contra a pobreza e exclusão social. Por se entender que estas “metas sociais” são indispensáveis ao equacionamento de estratégias sustentadas para o território, um desenvolvimento inclusivo não pode ser alheio às premissas de um desenvolvimento sustentável.

Para dar conta dessa interdependência, a análise da dimensão da inclusão desdobrou-se precisamente nessas duas sub-dimensões: inclusão e sustentabilidade.

Com a sub-dimensão inclusão pretendeu aferir-se a importância atribuída às medidas inclusivas no desenho de projectos e iniciativas locais e as vantagens resultantes da sua adopção. Na sua aplicação em contexto de entrevista, esta questão contou com pouco sucesso na medida em que a maioria dos agentes locais demonstrou desconhecimento sobre a temática da inclusão. Para tal, foram dados exemplos de forma a facilitar a compreensão da questão para a recolha de informações.

Apesar dessa limitação, foi possível verificar que é atribuída importância às medidas inclusivas, embora apenas duas entidades assumam ter incluído medidas dessa natureza nos projectos executados ou nas actividades que desenvolvem. Nesta questão salienta-se o facto dos agentes locais reconhecerem a sua importância, mas não concretizarem esse propósito. O mesmo foi verificado, como já foi referido, quando analisada a participação da população.

Neste ponto foi também tido em conta se iniciativas locais implementadas (ou em execução) previam a criação de postos de trabalho ou a realização de acções de formação. Nos casos em que foi possível apurar essas informações concluiu-se que as mais-valias produzidas por essas iniciativas não são expressivas: poucos foram os empregos criados, ocorrem apenas algumas formações e não foram assinaladas medidas para a integração de grupos vulneráveis à pobreza e à exclusão social.

Atendendo à premissa da equidade e justiça social subjacente ao modelo de desenvolvimento sustentável, pode concluir-se que embora algumas estratégias locais de desenvolvimento tenham previsto a dimensão inclusiva, os seus resultados não podem considerar-se como relevantes para o contexto sócio-económico local.

A dimensão inclusiva do desenvolvimento local, que na opinião de Albagli (2006:17) deverá passar pela inovação, informação e aprendizagem, não é suficientemente valorizada na condução e gestão das iniciativas locais de desenvolvimento. A desvalorização da componente inclusiva do desenvolvimento traduz até uma visão muito economicista do desenvolvimento, o que foi possível também comprovar pelo discurso dos agentes locais.

Considerando que os processos de desenvolvimento local possuem uma relação de complementaridade com as estratégias para a promoção de um desenvolvimento sustentável, cujos propósitos ambos se direccionam para a promoção da qualidade de vida das populações,

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a sub-dimensão da sustentabilidade contemplou a análise da adopção de mecanismos ecológicos por parte dos agentes locais, através da qual se analisou a importância conferida aos recursos naturais do concelho.

Há, no contexto concelhio, uma clara consciência sobre a importância que assume a preservação ambiental, traduzida quer pelo reconhecimento dessa prioridade, quer também pela adopção, por parte dos agentes locais, de um conjunto de procedimentos e equipamentos tais como painéis solares; estações de tratamento de águas residuais; hortas biológicas; aproveitamento dos resíduos lenhosos das florestas e matas; aproveitamento dos soros (leite) para alimentação dos animais; reciclagem. A estas atitudes e procedimentos “amigos do ambiente” acrescentam-se ainda outros, como por exemplo:

“Nós temos, temos preocupação de poupança e melhoria do ambiente. E temos uma magistratura de influência junto dos projectos e dos parceiros para justamente mantermos um elevado nível de qualidade ambiental.” (Entrevista a ASSOCIAÇÃO 2-A2).

e1- “Nós aqui a reciclagem tentamos fazer sempre. Em termos de electricidade, temos sempre a preocupação de desligar os equipamentos, de não os deixar em stand by. Temos a atenção com a água também, tudo o que são “pingos de água” tentamos remediar logo.”(Entrevista aEMPRESA 2-E2).

Relativamente à promoção de um modelo de desenvolvimento sustentável em Penamacor não pode descurar-se a implementação do Programa Agenda 21 Local no município. Recorde-se um dos objectivos operacionais definidos no âmbito do relatório referido (enumerados no capítulo 5.1) centra-se na promoção da gestão ambiental sustentável e inclui quatro planos de acção: 1) Implementar um sistema de gestão ambiental na autarquia; 2) garantir a boa qualidade da água; 3) dinamizar a gestão eficiente dos resíduos; 4) impulsionar a gestão sustentável da floresta e 5) efectivar a optimização energética.

Devem, neste âmbito, focar-se dois aspectos: por um lado, a elaboração do relatório relativo ao Programa Agenda 21 Local traduz uma intenção - e no caso concreto uma intenção da autarquia - para a definição de um modelo adequado às especificidades do território concelhio. Por outro lado, este documento tem servido para a concretização de algumas acções no terreno, embora não se possa considerar que o mesmo tenha vindo a ser feito integralmente, ou seja, o mesmo não foi implementado na sua globalidade. Assim, embora não sejam conhecidos planos de acção concretos relativamente a estas orientações, no terreno foi possível verificar que estão a ser implementadas algumas políticas e medidas de sustentabilidade local, nomeadamente através da instalação de parques eólicos, a manutenção do controlo das águas para consumo humano, a instalação de uma mini-hídrica para assegurar a conclusão do regadio que serve o concelho, são promovidas recolhas de lixos depositados nas matas das florestas, entre outras.

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Segundo o relatório acima mencionado, a cobertura da rede de tratamento de águas residuais estima-se em 90% (superior à média da sub-região BIS) e o número de ecopontos por habitante é superior às metas nacional e europeia (IPI, 2007:148).

Em suma, esta consciencialização ambiental é evidente no concelho, o que de resto permite perceber que os recursos naturais são valorizados e rentabilizados de forma equilibrada pelos agentes locais. A esta questão pode estar associado o facto da Reserva Natural da Serra da Malcata ser parte integrante do concelho e existir, desde cedo em contexto escolar, um despertar para a questão ambiental. De resto, a imagem de Penamacor é frequentemente associada a esta reserva, bem como à sua diversidade em termos de fauna e flora. Sendo também um concelho com uma actividade industrial reduzida, não existem actividades aí sediadas às quais estejam associados níveis de poluição expressivos.

De uma forma simples, a leitura e análise das informações recolhidas nesta dimensão da governação, parece ter um carácter duplo, se não mesmo contraditório:

É notório o contributo dos agentes locais para a promoção de um desenvolvimento sustentado do concelho, especialmente se tivermos em conta a componente ambiental. Não obstante, a dimensão social da sustentabilidade parece sair esquecida neste contexto, na medida em que a promoção da equidade, a integração dos grupos socialmente excluídos ou vulneráveis à pobreza e exclusão social, a promoção da aprendizagem e o estímulo à informação na comunidade não está a ser valorizada nas dinâmicas locais.

Desta forma, não se pode considerar que as dimensões desenvolvimento económico, coesão social e protecção do ambiente, que se pretendem complementares para a implementação de um desenvolvimento sustentável no concelho, estejam em sintonia.

5.4. A Performance dos agentes locais: organização e