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2. A TUTELA JURISDICIONAL EXECUTIVA E AS REFORMAS DO

2.3. Das reformas do Código de Processo Civil

2.3.3. Da Lei nº 11.232/2005

A Lei nº 11.232, de 22.12.2005 é apontada pela doutrina como uma grande inovação em prol da celeridade e efetividade da prestação jurisdicional, tendo em vista que alterou substancialmente o processo de execução de títulos judiciais, de modo a tornar mais próxima a obtenção do bem da vida almejado.

O referido diploma legal introduziu, no ordenamento jurídico, o procedimento denominado cumprimento de sentença para as obrigações de quantia certa, nos artigos 475-I e seguintes do Código de Processo Civil, em lugar do processo autônomo de execução. Assim, a “efetivação da sentença condenatória deixou de ser por meio de processo autônomo para apenas uma fase, com aperfeiçoamento técnico, ou seja, o magistrado, ao proferir a sentença não mais põe fim ao processo, mas a uma fase”.46 É, portanto, a partir daí que se conclui que o princípio do sincretismo fixou-se de forma definitiva na tutela jurisdicional executiva, com a unificação de processos de cognição e execução para obrigações de quantia certa, de fazer, não fazer ou de dar coisa.

Também foi alterado o dispositivo referente à liquidação de sentença, a qual deixou de ser um processo incidental, embutido no processo de execução, para se tornar um procedimento inserido no próprio processo de conhecimento, nos moldes do artigo 475-A e seguintes do CPC.

Desse modo, para dar início à fase de cumprimento de sentença, a Lei nº 11.232/05, estabelece a necessidade de requerimento do exeqüente, não se tratando, pois, de uma petição inicial, e não havendo necessidade de citação do executado. Assim, por ser a liquidação da sentença um procedimento inserido no próprio processo de conhecimento, torna-se desnecessária uma nova citação pessoal do réu, bastando apenas sua intimação na pessoa de seu advogado para o início do cumprimento do julgado.

Com o novo regime, o devedor de quantia certa terá o prazo de 15 dias para cumprir espontaneamente a obrigação, na forma do artigo 475-J do CPC e, caso assim não o faça, o valor da condenação será automaticamente 47 acrescido em 10%, a título de multa e, a requerimento do

credor, será expedido mandado de penhora e avaliação. Caso tenha sido “efetuado o pagamento

46 FREITAS, Antonio Carlos de Oliveira. A penhora, efetivada por meio eletrônico. Faculdade ou dever do

Magistrado? Considerações após a EC 45/2004, Leis 11.232/2005, 11.277/2006 e 11.280/2006. Revista de Processo. São

Paulo, n. 144, p. 138, fev. 2007.

parcial no prazo previsto no caput deste artigo, a multa de dez por cento incidirá sobre o restante” (artigo 475-J, § 4º, do CPC).

Depois de realizada a penhora e avaliação dos bens, o executado será intimado pessoalmente (por carta ou mandado) ou na pessoa de seu advogado (por publicação no Diário Oficial ou por carta registrada), para oferecer impugnação no prazo de 15 (quinze) dias. Com efeito, deve-se ressaltar que os embargos à execução deixaram de existir nas execuções de títulos judiciais em virtude da referida alteração legislativa, cabendo, então, ao executado apresentar suas objeções por meio de impugnação, de natureza incidental, sem que seja criada uma nova relação jurídica processual. No entanto, permanecem limitadas as matérias sobre as quais poderá versar a impugnação, passando as mesmas, com o advento da Lei nº 11.232/05, a estar elencadas nos incisos do artigo 475-L do CPC. 48

Na opinião de Humberto Theodoro Junior, “a abolição dos embargos, longe de dificultar a defesa do executado, virá a facilitá-la, pois poderá fazê-lo de maneira singela e imediata, sem os condicionamentos e ônus da resposta por via de ação incidental de conhecimento” 49. De fato,

a impugnação consiste em um meio mais ágil e prático de defesa do devedor, sem a necessidade de garantia do juízo e sem a suspensão do curso da execução, que ocorrerá somente em casos excepcionais. Além disso, a impugnação não é mais julgada por sentença, deixando, portanto, de ser recorrível por apelação para tornar-se hipótese de cabimento de agravo de instrumento.

A propósito, vale ressaltar o entendimento do ilustre doutrinador acerca da unificação dos processos de conhecimento e de execução em razão da Lei nº 11.232/05, no sentido de que:

A reforma que unifica o processo de condenação e execução, aliás, cumpre com propriedade a garantia de duração razoável e observância das medidas de aceleração da prestação jurisdicional, em boa hora incluída entre as garantias fundamentais pela Emenda Constitucional nº 45/2004, com a instituição do inciso LXXVIII adicionado ao art. 5º da Constituição.50

No entanto, em que pese as inúmeras vantagens do processo sincrético, introduzido de

48 Art. 475-L. A impugnação somente poderá versar sobre:

III – penhora incorreta ou avaliação errônea; IV – ilegitimidade das partes; V – excesso de execução;

VI – qualquer causa impeditiva, modificativa ou extintiva da obrigação, como pagamento, novação, compensação, transação ou prescrição, desde que superveniente à sentença.

49 THEODORO JUNIOR, Humberto.Op. Cit., p. 16 50 THEODORO JUNIOR, Humberto.Op. Cit., p. 17.

fato pela Lei nº 11.232/05, voltado eminentemente para a busca da efetividade da tutela jurisdicional e a observância das garantias fundamentais do processo, deve-se salientar que as referidas alterações legislativas não são suficientes para solucionar todos os problemas da demora na concretização dos direitos, na medida em que subsiste, ainda, a imperiosa necessidade de modernização dos órgãos do Poder Judiciário a fim de garantir a correta aplicação das disposições legais recém implantadas.

Cumpre salientar, por fim, que um dos maiores óbices à rápida concretização dos direitos consiste no fato de que as inovações processuais em destaque não se aplicam à execução movida contra a Fazenda Pública, que permanece regida pelo disposto nos artigos 730 e 731 do Código de Processo Civil, ou seja, ainda persiste a sistemática da execução autônoma, na qual a sentença

é cumprida por precatórios, esbarrando em discussões infindáveis e na difícil posição do Poder Judiciário em intervir nos Estados e Municípios, bem como na adoção de meios coercitivos para cumprir as sentenças proferidas contra a Fazenda Pública. 51