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4. DA PENHORA ON LINE

4.2. Origem e evolução técnico-jurídica

4.2.1. O novel artigo 655-A do CPC

A utilização de meios eletrônicos para a constrição de dinheiro do executado junto às instituições bancárias já existia desde o ano de 2001, quando foi firmado o primeiro convênio

entre o Banco Central do Brasil, o Superior Tribunal de Justiça e o Conselho de Justiça Federal para a utilização do sistema Bacen Jud. O tal medida encontrava respaldo legal nos artigos 798111

e 655, I, ambos do CPC, bem como no artigo 9º, I, da Lei nº 6.830/80, em caso de execuções fiscais. Posteriormente, conforme já ressaltado, com a edição da Lei Complementar nº 118/2005, que acrescentou o artigo 185-A no Código Tributário Nacional, passou a vigorar a regra específica para as execuções fiscais, tornando-se, assim, o fundamento jurídico da penhora on line nessas execuções e no âmbito trabalhista, por força do disposto no artigo 889 da CLT.

O novel artigo 655-A, inserido no Código de Processo Civil pela Lei nº 11.382/2006, institucionalizou de forma expressa a penhora on line de ativos financeiros como regra geral nas execuções por quantia certa contra devedor solvente. Confira-se a redação deste dispositivo:

Art. 655-A. Para possibilitar a penhora de dinheiro em depósito ou aplicação financeira, o juiz, a requerimento do exeqüente, requisitará à autoridade supervisora do sistema bancário, preferencialmente por meio eletrônico, informações sobre a existência de ativos em nome do executado, podendo no mesmo ato determinar sua indisponibilidade, até o valor indicado na execução.

§1o As informações limitar-se-ão à existência ou não de depósito ou aplicação até o

valor indicado na execução.

§2o Compete ao executado comprovar que as quantias depositadas em conta corrente

referem-se à hipótese do inciso IV do caput do art. 649 desta Lei ou que estão revestidas de outra forma de impenhorabilidade.

§3o Na penhora de percentual do faturamento da empresa executada, será nomeado

depositário, com a atribuição de submeter à aprovação judicial a forma de efetivação da constrição, bem como de prestar contas mensalmente, entregando ao exeqüente as quantias recebidas, a fim de serem imputadas no pagamento da dívida.

§4o Quando se tratar de execução contra partido político, o juiz, a requerimento do

exeqüente, requisitará à autoridade supervisora do sistema bancário, nos termos do que estabelece o caput deste artigo, informações sobre a existência de ativos tão-somente em nome do órgão partidário que tenha contraído a dívida executada ou que tenha dado causa a violação de direito ou ao dano, ao qual cabe exclusivamente a responsabilidade pelos atos praticados, de acordo com o disposto no art. 15-A da Lei no 9.096, de 19 de

setembro de 1995.

Segundo parte da doutrina, não se trata, a rigor, de penhora propriamente dita, mas sim de informações sobre a existência de depósitos ou aplicações financeiras em nome do executado, bem como de ordem de bloqueio de tais valores até o limite do valor exeqüendo.112 Efetivada a

indisponibilidade, a quantia permanece à disposição do juízo até a ultimação dos atos de execu- ção. Na acertada opinião de Odete Grasselli, trata-se de “eficaz instrumental disponibilizado aos

111 Art. 798. Além dos procedimentos cautelares específicos, que este Código regula no Capítulo II deste Livro, po-derá o juiz determinar as medidas provisórias que julgar adequadas, quando houver fundado receio de que uma parte, antes do julgamento da lide, cause ao direito da outra lesão grave e de difícil reparação.

112 DONIZETTI, Elpídio. Inovações Tecnológicas a Serviço do Credor – Aspectos da Penhora por Meio Eletrônico

– Lei nº 11.382/2006. Revista Dialética de Direito Processual (RDDP). São Paulo: Oliveira Rocha, nº 51, junho,

Juízes para que, por meio dele, possam praticar o ato material de apresamento de numerários. Este sim consistindo na penhora sob o aspecto técnico-jurídico”.113

O § 1º do dispositivo em comento dispõe que as informações requeridas e prestadas pelas instituições financeiras limitar-se-ão à existência ou não de depósito ou aplicação até o valor da execução. Tal norma visa a evitar a quebra do sigilo bancário, protegido pela Constituição Fede- ral. Assim, depois de realizado o bloqueio eletrônico, a penhora somente será efetivada com a transferência do dinheiro bloqueado para conta judicial. Desses atos deverá ser intimado o deve- dor, na forma do artigo 652, §1º, para, inclusive, comprovar se as quantias depositadas na conta corrente sobre a qual incidiu o bloqueio encontram-se revestidas por eventual impenhorabilidade. Assim, a redação do § 2º do artigo 655-A, do CPC, consagra a idéia de que “o ônus de compro- vação de eventuais prejuízos ou desproporções recai sobre o executado, os quais não podem ser presumidos pelo julgador”.114

O novel artigo 655-A trata, ainda, em seu § 3º, da penhora em percentual de faturamento de empresa, na qual é designado pelo juiz um depositário, que pode ser um dos sócios ou dirigen- tes da empresa, e que estará incumbido de submeter à aprovação do juízo a forma de efetivação da penhora, bem como prestar contas mensalmente, repassando ao exeqüente as quantias recebi- das, a fim de serem imputadas como pagamento do débito exeqüendo. Nesse contexto, alerta Car- los Alberto Silveira Lenzi, no sentido de que “há que cuidar, nos casos de penhora de fatura- mento de empresas, para que não se inviabilize o funcionamento e a administração, que poderá ser levado à quebra, se não houver obediência das formalidades legais, indisponibilizando capi- tal de giro”115. De fato, conforme será demonstrado adiante, o uso indiscriminado do mecanismo da penhora on line pode, eventualmente, ocasionar expressivos prejuízos às empresas que são rés nas demandas judiciais, em que pese represente um importante aliado dos magistrados na efetiva- ção da constrição judicial.

Cumpre ressaltar, ainda, que a Lei nº 11.694, de 12 de junho de 2008, incluiu o §4º, no artigo 655-A do CPC, para estabelecer que, nas execuções em face de partidos políticos, a re- quisição do juiz às instituições bancárias será unicamente a fim de obter informações sobre re- cursos financeiros do órgão partidário que tenha contraído a dívida. Isso significa que, “se um

113 GRASSELLI, Odete. Op. Cit. p. 58.

114 DI SPIRITO, Marco Paulo Denucci. A diretriz da participação séria do devedor na nova execução civil:

balizas para a aplicação do art. 620 do CPC à penhora on line. Jus Navigandi, Teresina, ano 11, n. 1454, 25 jun.

2007. Disponível em: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=10047. Acesso em: 16/04/2008. 115 LENZI, Carlos Alberto Silveira. Op. Cit. p. 132.

candidato a vereador, causar danos, em nome do partido político, a responsabilidade civil será do diretório municipal, sem possibilidade de atingir recursos partidários em nível nacional”.116

Na penhora on line não há lavratura de auto ou termo de penhora, tampouco nomeação de depositário do bem penhorado117, tal como na penhora comum. O que ocorre, em regra, é a lavra-

tura de um termo simplificado, pelo escrivão, certificando que a ordem de bloqueio foi devida- mente cumprida, o que representa uma considerável desburocratização do procedimento constriti- vo, se comparado com a complexidade do ato realizado pelo oficial de justiça, analisado no capí- tulo anterior. Isso comprova, mais uma vez, a nítida intenção do legislador das recentes reformas

do Código de Processo Civil em adotar os paradigmas de celeridade e praticidade no direito pro- cessual civil brasileiro, especialmente na tutela jurisdicional executiva, em razão de sua eminente função satisfativa dos direitos. Por isso, diz-se que o direito à penhora on line é corolário do direi-

to fundamental à tutela jurisdicional efetiva. Segundo Luiz Guilherme Marinoni, “não há duvida de que a penhora on line é a principal modalidade executiva destinada à execução pecuniária, razão pela qual não se pode negá-la ao exeqüente”118.