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Da ordem legal de preferência

3. DA PENHORA

3.7. Da ordem legal de preferência

O artigo 655 do Código de Processo Civil estipula uma ordem de preferência de bens para a realização da penhora, no intuito de que a execução se desenvolva de forma mais proveitosa para o credor, porém com o menor sacrifício para o executado, observando, dessa forma, o princí- pio da economicidade da tutela jurisdicional executiva. De fato, trata-se de uma orientação para que a eleição dos bens penhoráveis não seja arbitrária, nem para o oficial de justiça, nem mesmo para as partes da execução93.

Confira-se a redação do referido dispositivo, in verbis:

Art. 655. A penhora observará, preferencialmente, a seguinte ordem:

I – dinheiro, em espécie ou em depósito ou aplicação em instituição financeira; II – veículos de via terrestre;

III – bens móveis em geral; IV – bens imóveis;

V – navios e aeronaves;

VI – ações e quotas de sociedades empresárias; VII – percentual do faturamento de empresa devedora; VIII – pedras e metais preciosos;

IX – títulos da dívida pública da União, Estados e Distrito Federal com cotação em mercado;

X – títulos e valores mobiliários com cotação em mercado; XI – outros direitos.

§ 1o Na execução de crédito com garantia hipotecária, pignoratícia ou anticrética, a penhora recairá, preferencialmente, sobre a coisa dada em garantia; se a coisa pertencer a

92 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Op. Cit. p. 264. 93 Ibidem. p. 265

terceiro garantidor, será também esse intimado da penhora.

§ 2o Recaindo a penhora em bens imóveis, será intimado também o cônjuge do

executado.

Com efeito, deve-se atentar para o fato de que a penhora deverá recair, em primeiro lugar, sobre “dinheiro, em espécie ou em depósito ou aplicação em instituição financeira”. Não haven- do dinheiro suficiente, a constrição deverá recair sobre veículos de via terrestre, depois sobre bens móveis, imóveis, navios e aeronaves e assim por diante. Nesse aspecto, matéria bastante controvertida consiste na atual redação do inciso I do artigo 655, conferida pela Lei nº 11.382/2006, ao prever, sem ressalvas, que o primeiro bem na ordem de preferência legal para constrição poderá ser tanto o dinheiro em espécie como aquele depositado em instituições finan- ceiras94, também teve o condão de afastar a necessidade de exaurimento das tentativas de locali-

zação de demais bens do executado para a realização da penhora eletrônica.

Outra matéria ainda não pacificada na doutrina e na jurisprudência consiste na indagação de que a ordem de preferência estipulada no artigo supracitado seria ou não absoluta para a efeti- vação da penhora.

Alexandre Freitas Câmara defende que “a penhora feita fora da ordem estabelecida no art. 655 do CPC é inválida, salvo se com ela concordar o exeqüente (art. 655, I), que poderá preferir requerer a substituição do bem penhorado por outro”.95 Por outro lado, Luiz Guilherme

Marinoni sustenta que “poderá o juiz deixar de aplicar a ordem prevista no art. 655 ao verificar que outra é a situação do mercado ou que os princípios do resultado e do menor sacrifício impõem outra condição de preferência” 96. Outrossim, acrescenta este último autor que a regra do artigo 655 é apenas um “parâmetro indicativo” para a atividade judicial, sendo certo que a or- dem de preferência pode ser alterada fundamentadamente diante das particularidades do caso. A propósito, antes mesmo das recentes reformas implantadas no Código de Processo Civil, o pro- fessor Leonardo Greco já atentava para o fato de que a gradação do artigo 655 não é absoluta. Isto porque, conforme leciona o eminente professor:

[...] é notório que algumas espécies de bens às quais esse dispositivo confere prioridade já não encontravam no mercado de bens cotações que satisfaçam o seu valor presumido, 94 Muitos estudiosos do direito defendem que a Lei nº 11.382/2006 só veio esclarecer a redação ao inciso I do

artigo

655 do CPC, vez que a possibilidade de penhora de saldos de contas e ativos financeiros sempre existiu. Tanto é assim que o grande volume de requisições nesse sentido enviado ao Banco Central do Brasil incentivou a criação do sistema BACEN JUD, a fim de otimizar os serviços da autarquia federal.

95 CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de direito processual civil. Vol. II. 14. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007. p. 305

como as pedras preciosas e os títulos da dívida pública. Ademais, essa preferência pode freqüentemente chocar-se com outras regras de preferência, como as dos incisos III e IV do artigo 656 (bens do foro da execução e bens livres e desembargados).

Na escolha dos bens, a prioridade deverá determinar- se em favor daqueles que mais fa- cilmente, com o menor custo e com a maior rapidez, sejam aptos a alcançar comprador por preço correspondente ao valor justo, a fim de que o credor seja seguramente satisfei- to e o executado não seja prejudicado mais do que o necessário. [...]

O devedor observará a gradação do artigo 655, salvo se existir motivo ponderável, em face dos parâmetros indicados, que justifique a inobservância dessa ordem de priorida- des.97

Nesse aspecto, a jurisprudência predominante dos Tribunais Superiores é no sentido de que:

A gradação estabelecida para efetivação da penhora (CPC, Art.656, I; Lei 6.830/80, Art. 11), tem caráter relativo, já que o seu objetivo é realizar o pagamento do modo mais fácil e célere. Pode ela, pois, ser alterada por força de circunstâncias e tendo em vista as peculiaridades de cada caso concreto e o interesse das partes, presente, ademais, a regra do Art. 620, CPC. 98

Aliás, é justamente por conta disso que a própria redação do artigo 655, do Código de Processo Civil, dispõe que a penhora deverá, “preferencialmente”, obedecer à ordem estabelecida, o que afasta, desde logo, a obrigatoriedade de sua observância.