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Da permanência

No documento rafaelareisazevwdodeoliveira (páginas 115-119)

3. A EXIGIBILIDADE DO DIREITO À EDUCAÇÃO EM JUIZ DE FORA:

3.1 Juiz de Fora: breve descrição da cidade

3.2.3 Da permanência

Os problemas percebidos em Juiz de Fora nesses 14 anos pesquisados nos jornais sobre a permanência no sistema de ensino são, sobretudo, relativos à evasão escolar. O índice de evasão no município tem sido muito alto, principalmente na zona rural e no turno noturno entre as 5ª e 8ª séries do Ensino Fundamental. As justificativas para evasão vão desde a necessidade da criança e do adolescente de trabalhar para aumentar o orçamento familiar; passando pela gravidez precoce e sem planejamento; chegando aos casos em que o aluno abandona porque considera a escola um ambiente chato32. Há ainda o problema que crianças e adolescentes na zona rural enfrentam – o de terem que caminhar longas distâncias até chegarem às escolas.

Reportagens que merecem destaque nessa categoria são as publicadas nos anos de 1998, 2006 e 2007. Em 1998, por exemplo, noticiou-se um movimento que os pais de alunos fizeram pelo recomeço das aulas que estavam suspensas pela greve dos professores municipais havia 55 dias. Naquela situação, o Conselho Tutelar Sul - Oeste, diante da reivindicação de quatro pais, entrou com petição junto à Promotoria da Infância e Juventude a fim de que os alunos tivessem garantida a conclusão do ano letivo escolar. Para o ex-

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Promotor, entrar com ação contra a prefeitura não caberia, pois o ensino regular estava sendo oferecido, nem mesmo contra o sindicato dos professores, pois o órgão não teria legitimidade para obrigar os professores filiados a retornarem às escolas33. Em outra reportagem, enfatizando a preocupação dos pais, destaca-se a fala de uma mãe que traduz bem a questão do presente trabalho: “Os professores têm o sindicato que luta pelos seus direitos, a Prefeitura tem seus assessores, e os alunos, quem irá lutar pelos direitos deles?” 34

Como o próprio Promotor da Infância e Juventude assinalou, a greve dos professores não indicava a ausência de oferta do ensino no município; contudo, a situação não deixava de ser preocupante. Ela poderia indicar, em última instância, a ofensa aos princípios e fins da educação nacional no que tange à valorização do profissional da educação escolar; e na perspectiva dos pais e alunos, a preocupação de que tenham acesso aos conteúdos mínimos para o seu processo de formação. Ressaltou-se, assim, a fala da mãe preocupada com a educação de seu filho que questiona quem irá lutar por ele. Esta mãe chegou a recorrer ao Conselho Tutelar, que tem legitimidade para solucionar problemas que envolvam violação de direitos. Contudo, sabe-se que ainda são poucas as pessoas que possuem plena consciência de seus direitos e que sabem quem pode defendê-las, como, por exemplo, o Ministério Público.

As notícias dos anos de 2006 e 2007 podem ser apresentadas em conjunto, haja vista que a notícia de 2006, além de identificar um ganho na Justiça que permitiu a permanência de uma aluna da rede privada de ensino do nível superior estudando, influenciou também outro caso, semelhante, um ano após o primeiro episódio. A reportagem publicada no ano de 2006 conta a história da aluna Raquel Anunciata Mendes, do curso de pedagogia do Centro de Ensino Superior – CES em Juiz de Fora, que ganhou na Justiça o direito de ter um acompanhante de libras em sala de aula. Para os familiares da aluna, a expectativa era de que o caso servisse de exemplo, e isso fez com que a família aceitasse a exposição na mídia. Na reportagem, o pai da aluna, Nilton José Mendes, diz: “Aceitamos nos expor dessa forma porque queremos que outros surdos tomem conhecimento de seus direitos e lutem por eles, mesmo que tenham que recorrer à Justiça”. O pai da aluna afirmou ainda que, apesar de a causa beneficiar especificamente a sua filha, ela é uma causa coletiva; e conclui: “Recorri à Justiça porque não agüentava mais ver a minha filha sofrer. Faço isso também por todos os outros surdos, que passam pelas mesmas dificuldades, e, quase sempre, desistem dos estudos”.35

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SMBMMM – Tribuna de Minas – 11/11/1998, caderno cidade, p. 4. 34

SMBMMM – Tribuna de Minas – 14/11/1998, caderno cidade, p. 1, (grifos nossos). 35

A respeito do pedido individual feito pelo pai da aluna e os ganhos coletivos apontados por ele, Carolina Martins Marinho, discutindo a justiciabilidade dos direitos sociais, diz que:

Por mais que um pedido seja feito de forma individual (uma vaga no ensino médio, por exemplo), o desfrute do ensino público institucionalizado não é individual, mas coletivo. Não se pleiteia um professor específico para uma criança. O ensino se dá de forma coletiva em uma escola. Ou, no caso de não haver vaga, a condenação a um pedido individual pode, no extremo, levar à re-elaboração de toda a política pública para a construção de uma escola, contratação de professores, diretores, material, transporte, alimentos, etc, o que beneficiará não só a criança solicitante, mas também diversas outras que sequer constavam do pedido inicial (MARINHO, 2009, p.8).

Já a reportagem de 2007, trata de uma liminar concedida pela Juíza da Infância e Juventude, Maria Cecília Stephan, determinando que o Colégio Machado Sobrinho contratasse um professor de libras para fazer o acompanhamento escolar de uma aluna de 13 anos, que cursava a sexta série do Ensino Fundamental. A notícia ressaltava que esse era o segundo caso em menos de um ano envolvendo a rede privada. O advogado da família, na ocasião, afirmou que sua argumentação foi construída em cima da lei que reconhece a Libras, da LDB, da Constituição Federal e do ECA.36

Essas duas reportagens refletem o processo que é analisado neste trabalho: o da judicialização da educação. Nesses casos especificamente, tratou-se da exigibilidade, através da justiça, do direito das alunas de permanecerem nas respectivas instituições de ensino com apoio de um profissional especialista em libras para que tivessem condições de acompanharem as aulas e se formarem. Embora o caso esteja relacionado à rede privada de ensino, não se pode esquecer que o direito à educação é legítimo ao cidadão, independente da rede escolhida para sua formação e, se para isso se faz necessário o acompanhamento de um profissional especializado, cabe ao Estado contribuir para essa garantia. Nesses casos, o Poder Judiciário entendeu que o pedido era constitucionalmente legal e deferiu a favor das alunas mencionadas nas reportagens.

Sobre a questão da “Permanência” na rede de ensino em Juiz de Fora, é possível afirmar que a causa tem sido objeto de luta tanto dos Conselhos Tutelares quanto da Promotoria da Infância e Juventude, que, inclusive, em uma oportunidade, determinou a exigência do comprovante de matrícula e o atestado da frequência escolar para a concessão das carteiras de menor – exigidas em entradas de festas e clubes pelo comissariado do

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menor37. Vale observar ainda que programas assistencialistas do governo federal, como é o caso da Bolsa Família, exigem do beneficiário a frequência escolar dos filhos, com o intuito de diminuir os índices de evasão escolar. Porém, os índices de evasão em Juiz de Fora ainda são bastante altos, conforme é possível observar no gráfico a seguir:

Gráfico 4 – Evasão (%) no Ensino Fundamental de Juiz de Fora Fonte: Secretaria Municipal de Educação de Juiz de Fora

Aqui, vale dizer que o trabalho de parceria entre Conselhos Tutelares, escolas e Ministério Público precisa ser firme, na medida em que a denúncia da evasão ou infrequência escolar deve partir inicialmente das escolas. Entende-se que diante do problema seja necessária uma atuação mais eficaz não só destas instituições, como também dos poderes públicos, que devem agir na causa, contribuindo com programas suplementares a fim de que esse problema possa ser erradicado. Dos problemas com a permanência, percebe-se que os Conselhos Tutelares tem sido o ponto forte que torna o problema público, e acredita-se que isso aconteça porque ele seja esse elo entre as escolas e o Ministério Público. Houve nos casos analisados a ameaça ou o acionamento do Ministério Público ou ainda da justiça por conta das denúncias, embora seja possível identificar apenas os casos das alunas da rede privada, no qual já foi dito, tiveram o direito deferido pela justiça.

Por fim, segue-se para os dados obtidos a respeito da qualidade do ensino em Juiz de Fora.

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