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4 A RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO, QUANDO OCORRER A

4.4 DA POSSIBILIDADE DE INDENIZAÇÃO

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MELO, loc. cit.

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MEDAUAR, 2005, p. 149.

35

MATO GROSSO DO SUL. Tribunal de Justiça. Apelação cível nº 017270-8. Relator: Luiz Carlos Santini. Campo Grande, 11 de dezembro de 2007. Disponível em:

<http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/6054842/apelacao-civel-ac-17270-ms-2005017270-8- tjms/inteiro-teor> Acesso em: 05 set. 2010.

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Ministro de 1907 a 1921, Lessa é considerado um dos maiores nomes do Supremo Tribunal Federal. Embora datado de 1915, sob a vigência, portanto, da carta de 1891, seu livro é um importante ensaio sobre este poder e, sem dúvida alguma, uma referência obrigatória.

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Estabelecida à espécie de responsabilidade do Estado, qual seja, a objetiva, impõe-se a análise das hipóteses em que o prejuízo deverá ser reparado.

Impossível é que todo prejuízo seja gerador da obrigação de indenizar. O Estado ao exercer sua função administrativa para executar qualquer obra pública faz uso de sua legitimidade para, em nome da coletividade, causar pequenos incômodos aceitáveis a alguns, até porque caso assim não o fosse, tornar-se-ia inviável a construção de qualquer obra pública.

Existem obras cuja construção não ultrapassa os limites considerados normais em relação aos incômodos e danos naturais ocasionados pela vida em sociedade, como a exemplo, a construção de um aeroporto, pois mesmo que venha a ocasionar incômodo pelo barulho dos aviões, tal perturbação torna-se tolerável diante do desenvolvimento da região gerado pela obra, já que o bem estar social tem prevalência sobre os pequenos transtornos normais ocasionados aos particulares, riscos estes naturais de uma vida em sociedade.

Neste sentido já decidiu o Superior Tribunal de Justiça ao apreciar pedido de indenização no Recurso Especial nº 983.017 - SP (2007/0001174-7), na qual se discutia situação semelhante, em que o autor da ação postulou a reparação pelas perdas materiais, diante da redução da capacidade construtiva da faixa de terreno restante de seu imóvel após a desapropriação para construção de rodovia:

[...]

Sendo imposições de ordem geral, as limitações administrativas não rendem ensejo à indenização em favor dos proprietários.

As normas genéricas, obviamente, não visam a uma determinada restrição nesta ou naquela propriedade, abrangem quantidade indeterminada de propriedades. Desse modo, podem contrariar interesses dos proprietários, mas nunca direitos subjetivos. Por outro lado, não há prejuízos individualizados, mas sacrifícios gerais a que se devem obrigar os membros da coletividade em favor desta.

É mister salientar, por fim, que inexiste causa jurídica para qualquer tipo de indenização a ser paga pelo Poder Público. Não incide, por conseguinte, a responsabilidade civil do Estado geradora do dever indenizatório, a não ser que, a pretexto de impor limitações gerais, o Estado cause prejuízo a determinados proprietários em virtude de conduta administrativa. Aí sim, haverá vício na conduta e ao Estado será imputada a devida responsabilidade, na forma do que dispõe o art. 37 6º, da Constituição Federal.

[...].

(VI) a majoração em 50% (cinqüenta por cento) do valor do metro quadrado da área remanescente é inaceitável, porquanto (I) não restou comprovado que a poluição sonora e do ar interfira no valor da indenização e (II) o efeito

gerado pelas obras do Rodoanel é completamente o inverso, na medida em que são notórios os benefícios advindos da referida obra, [...].38

Entende-se, então, que se a construção da obra culminar em ampla valorização do imóvel, superando pequenos transtornos ou prejuízos ocasionados ao seu proprietário, não há obrigação de indenizar.

Porém, se em decorrência da construção da obra pública ocorrer a valorização do imóvel, mas ao mesmo tempo, prejuízo significativo ao seu proprietário, o benefício não pode servir de fundamento para o Estado requerer a compensação do valor, o qual somente pode ser cobrado na forma de contribuição de melhoria em relação ao quantum indenizatório. Isso porque, conforme já demonstrado anteriormente, quando houver valorização do bem, o Estado poderá cobrar a Contribuição de Melhoria. No entanto, havendo o prejuízo, deverá indenizar.

Neste sentido já decidiu o Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina ao apreciar recurso de apelação interposto contra sentença prolatada em ação de desapropriação direta, em que o Estado pleiteou a compensação dos prejuízos ocasionados pela obra por ocasião da valorização que sobreveio ao imóvel:

[...]

APELAÇÕES CÍVEIS ¿ AÇÃO DE DESAPROPRIAÇÃO DIRETA.

RECURSO DO AUTOR - VALORIZAÇÃO DA ÁREA REMANESCENTE ¿ ABATIMENTO DO VALOR A SER INDENIZADO ¿ IMPOSSIBILIDADE ¿ DIFERENÇA A SER COBRADA MEDIANTE CONTRIBUIÇÃO DE MELHORIA - JUROS COMPENSATÓRIOS ¿? TERMO INICIAL ¿? DATA DA IMISSÃO NA POSSE ¿? SÚMULA 69 DO STJ - ENTENDIMENTO MAJORITÁRIO DESTE GRUPO DE CÂMARAS ¿ RECURSO NÃO PROVIDO.

Na desapropriação direta, não há que se cogitar de compensação entre a valorização da área remanescente com o valor a ser indenizado, pois poderá o ente público, através da instituição da contribuição de melhoria, buscar o ressarcimento dos gastos efetuados com a obra.

[...]

Para que se atenda à noção de justo preço, perfaz-se incabível compensar do quantum indenizatório o valor correspondente à valorização da área remanescente, eis que a restituição monetária ao Estado referente a mais- valia promovida pela rodovia deve ser feita por instituto próprio, qual seja a contribuição de melhoria. [...].39

38

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. RECURSO ESPECIAL Nº 983.017 – SP. Relator: Ministro Teori Albino Zavascki. Disponível em: <http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/7087765/recurso- especial-resp-983017-sp-2007-0001174-7-stj/relatorio-e-voto> Acesso em: 05 set. 2010.

39

SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça. Apelação civil n.º 024952-7. Relator: Wilson Augusto do Nascimento. Florianópolis, 16 de março de 2010. Disponível em:

<http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/8472830/apelacao-civel-ac-249527-sc-2008024952-7- tjsc/inteiro-teor> Acesso em: 05 set. 2010.

Mesmo que uma obra pública causadora de prejuízo a terceiros venha a acarretar benefícios aos mesmos, como a valorização do imóvel, não pode o Estado requerer a compensação já que está previsto em norma jurídica instituto específico para a restituição deste benefício ocasionado pela construção da obra pública.

Assim, percebe-se que ocorrendo prejuízo ou dano à pessoa particular, por decorrência da execução da obra pública, caberá à Administração indenizar os danos pelos quais foi responsável, mesmo que seu ato esteja sustentado no princípio da legalidade, ou seja, foi autorizado por lei. A administração não deve por natureza causar dano a nenhuma pessoa ou grupo de pessoas da sociedade, mesmo que em razão do bem de uma forma geral.

Esta proibição decorre do novo Código Civil que preceitua em seu artigo 927 “Aquele que, por ato ilícito (artigos. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo”.40

O Estado não foge a esta regra conforme prevê o mesmo Diploma legal em seu artigo 43:

As pessoas jurídicas de direito público interno são civilmente responsáveis por atos dos seus agentes que nessa qualidade causem danos a terceiros, ressalvado direito regressivo contra os causadores do dano, se houver, por parte destes, culpa ou dolo.41

Entende-se desta forma em decorrência da união de alguns princípios, tais como, o da igualdade o qual nas palavras de Moraes42 “é o que visa assegurar a isonomia de direitos e obrigações do particular para com a Administração e vice- versa.”

Neste sentido assevera Araújo:

A conotação do vocábulo responsabilidade é sempre estabelecida com a idéia da imputabilidade, a alguém, do desequilíbrio que esse alguém causou na ordem legal, regular ou natural das coisas, com a correspondente obrigatoriedade do ressarcimento ou recomposição desse equilíbrio pelo culpado direto ou indireto do dano material ou moral causado, ou seja, pelo responsável pela ação ou omissão danosa. Trata-se na realidade de princípio geral do Direito, e pedra angular do direito público: todos devem responder por seus atos, inclusive o Estado.43

Em sua atenção é vedada a prática de atos discriminatórios que favoreçam um particular em detrimento de outro, já que deve prevalecer uma

40

BRASIL. Lei n. 10.406, 10 de Janeiro de 2002. Institui o código civil. In: VADE Mecum. Obra coletiva da editora Saraiva com a colaboração de Antônio Luiz de Toledo Pinto, Márcia Cristina Vaz dos Santos Windt e Lívia Céspedes. 7. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 210.

41

Ibid., p. 147.

42

MORAES, 2008, p. 37.

43

ARAÚJO, Edmir Netto de. Curso de direito administrativo. 3 ed. rev. atual. ampl. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 60.

espécie de “solidariedade social”, pois, é claro que para existir o bem estar da sociedade/comunidade em geral é preciso que alguns se sacrifiquem, porém, aqueles que forem vítimas de danos considerados como acima do aceitável devem ser ressarcidos por todos na personificação do Estado ou da Administração.

Outro princípio norteador do direito administrativo pelo qual são vedados atos e ações que causem o prejuízo de alguns em benefícios de outros é o da razoabilidade e proporcionalidade, que ainda no entendimento de Moraes44 “Na ação administrativa deve existir um equilíbrio entre o sacrifício a ser auferido com o sacrifício imposto a alguns. O ônus deve ser distribuído proporcionalmente à sociedade de modo a evitar sacrifícios maiores para uns em detrimento de outros”.

A indenização pode abranger o que o indivíduo perdeu efetivamente (dano), o que proporcionalmente não pode lucrar (lucros cessante), bem como, o que gastou a fim de minimizar os danos sofridos (danos emergentes), no decorrer da construção ou mesmo após a finalização da obra que veio a atacar seu patrimônio material.

É essencial para que surja a obrigação Estatal de indenizar, a existência da relação de causa e efeito entre o ato provocador da lesão e o prejuízo experimentado pela vítima, ou seja, a obra pública deve indubitavelmente ser a causadora certa e imediata dos danos causados. Trata-se da existência do nexo de causalidade.

Para que haja indenização é necessário que o prejuízo sofrido pela vítima, pessoa física ou jurídica tenha sido experimentado especificamente por ela ou por um grupo mínimo de pessoas. Ainda é necessário que este prejuízo, ou dano, seja considerado anormal, ultrapassando em muito os limites e os riscos, bem como, que as possíveis perdas econômicas sejam acima das suportáveis, dentro de um patamar tolerável aos padrões do convívio social.

Neste sentido retira-se da jurisprudência, conforme se verifica no acórdão nº.: 017270-8 do Tribunal de Justiça do Mato Grosso do Sul:

E M E N T A - APELAÇÃO CÍVEL -INDENIZAÇÃO -CONSTRUÇÃO DE PENITENCIÁRIA -DESVALORIZAÇÃO DE IMÓVEL -DANO JURIDICAMENTE REPARÁVEL -NÃO-CONFIGURAÇÃO -AUSÊNCIA DE NEXO CAUSAL -RECURSO IMPROVIDO.

[...]

"O Estado é obrigado a ressarcir prejuízos causados a particular, embora tais prejuízos sejam conseqüência indireta de atividade legitima do Poder Público" - (RT, 447:76, 543:102, RTJ, 95:434).

44

[...]

No infortúnio decorrente de obra pública municipal, para obter a indenização basta que o lesado acione a Fazenda Pública e demonstre o nexo causal entre o fato alegado e o dano, bem como seu montante. Presentes esses elementos, surge naturalmente a responsabilidade do Município, falecendo a tentativa de argüir a legitimidade passiva do Estado, que nenhuma influência teve na construção da área de escape pluvial produtora do evento."

[...]

Nesse passo, a licitude da ação administrativa é irrelevante, uma vez que, tendo o particular sofrido determinado prejuízo em razão da ação estatal no interesse da coletividade, é necessária a indenização, que se assenta no princípio da igualdade dos ônus e encargos sociais.

[...].45

Caracterizado o prejuízo por conseqüência da ação administrativa através de seus representantes, surge para o Estado a obrigação de indenizar, como preceitua o artigo 37, § 6.º, da CF que responsabiliza de forma objetiva o Estado, seus entes e agentes por danos causados a terceiros no exercício de sua função.46

Diante da inexistência de regra específica que regule o procedimento judicial a ser tomado por aquele que sofreu a desvalorização de seu imóvel em decorrência da construção de obra pública, deverá o prejudicado buscar a reparação do dano pela via ordinária, observadas as condições da ação elencadas no artigo 267, VI do Código de Processo Civil (CPC), quais sejam: “a possibilidade jurídica, a legitimidade das partes e o interesse processual”, assim como os requisitos do artigo 282 do Código de Processo Civil (CPC), in verbis:

A petição inicial indicará:

I - o juiz ou tribunal, a que é dirigida;

II - os nomes, prenomes, estado civil, profissão, domicílio e residência do autor e do réu;

III - o fato e os fundamentos jurídicos do pedido; IV - o pedido, com as suas especificações; V - o valor da causa;

VI - as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados;

VII - o requerimento para a citação do réu.47

No que diz respeito à prova constitutiva do seu direito, considerando o subjetivismo da sua apreciação, já que não existem critérios específicos para o autor da demanda fazer valer seu direito no caso em tela, deve este instruir com pedido com elementos probatórios, os quais permitam ao julgador a certeza quanto a

45

MATO GROSSO DO SUL, loc. cit.

46

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, loc. cit.

47

existência do ato estatal, do dano sofrido e principalmente do nexo causal entre ambos.

A fim de demonstrar-se o subjetivismo do entendimento da análise dos julgadores quando da apreciação dos elementos comprobatórios da desvalorização imobiliária em decorrência da construção de obras públicas analisa-se a divergência entre desembargadores do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso do Sul quando do julgamento da apelação civil n.º 017270-8 de 2005 em que o autor da ação postulou indenização pela desvalorização de seu imóvel em decorrência da construção, pelo Estado, de um presídio no terreno vizinho:

E M E N T A - APELAÇÃO CÍVEL -INDENIZAÇÃO -CONSTRUÇÃO DE PENITENCIÁRIA -DESVALORIZAÇÃO DE IMÓVEL -DANO

JURIDICAMENTE REPARÁVEL -NÃO-CONFIGURAÇÃO -AUSÊNCIA DE NEXO CAUSAL -RECURSO IMPROVIDO.

No presente caso, parece-me induvidoso o nexo de causalidade entre a ação estatal (construção do presídio) e o dano sofrido pelo particular (queda brusca no valor venal do imóvel). E, ao contrário do afirmado pela sentença recorrida, a desvalorização é imutável e permanente e o dano experimentado pelo apelante excedeu os incômodos da vida em sociedade, afinal, ninguém suspeita dos transtornos advindos do fato de se ter como vizinho um presídio de segurança máxima.

Indenizar significa compensar o dano causado à vítima, tanto quanto possível. Pois bem, foram juntados aos autos dois laudos técnicos realizados por um corretor de imóveis (f. 16-7) e um engenheiro civil (f. 18- 9). Ambos constataram a desvalorização do bem e embasaram o pedido de indenização.

E, muito embora os laudos tenham sido encomendados unilateralmente pelo apelante, observo, em uma análise detida dos autos, que, ao contestar o pedido, o Estado limitou-se a discordar do valor apresentado, de forma simples. Nem sequer juntou parecer técnico ou laudo pericial que descaracterizasse o direito do autor.

Resta, portanto, aproveitar os elementos concretos disponíveis nos autos, até porque estes permitem adequada aferição do quantum o imóvel foi desvalorizado, permitindo assim a fixação da indenização.

Enfim, por vislumbrar diminuição patrimonial sofrida pelo particular, decorrente de obra pública, ainda que realizada no interesse da coletividade, a indenização é devida. Fixo-a, então, com base no princípio da livre apreciação da prova, no valor apurado da desvalorização, qual seja, R$ 16.962,00, com correção pelo INPC a partir desta data e juros da mora de 6% a.a. desde a citação.

CONCLUSÃO

Por todo o exposto, voto no sentido de dar provimento à apelação para julgar procedente o pedido deduzido na inicial, fixando a indenização por perda e danos em R$ 16.962,00 (dezesseis mil, novecentos e sessenta e dois reais), com incidência de juros de 1% ao mês, a partir da citação, e correção monetária calculada pelo INPC, desde esta data até o efetivo pagamento.

Pela sucumbência, fica o apelado condenado nos honorários advocatícios que, nos moldes do § 4º do art. 20 do CPC, fixo em R$ 2.000,00 (dois mil reais). Sem custas, diante da isenção legal.

O Sr. Des. Luiz Carlos Santini (Revisor) Peço vênia ao Relator para dele divergir.

Versam os autos sobre indenização relativa à desvalorização do imóvel do autor após a construção da Penitenciária de Segurança Máxima -Harry

Amorim Costa. Para tanto, argumenta que, antes da construção, seu imóvel era avaliado em R$ 25.700,00, e, após a construção, passou a valer R$ 8.738,00, conforme um dos laudos apresentados, e R$ 9.625,00, segundo o outro laudo de avaliação.

Inicialmente cumpre destacar que o autor nem sequer menciona quando a penitenciária foi inaugurada, a fim de se ter um parâmetro certo a respeito da data da avaliação do imóvel sub judice, antes e depois da implantação do presídio.

Destarte, cabe destacar que, sobre a desvalorização do imóvel, se é que houve, importante é considerar que todo o pedido relativo à desvalorização fundamenta-se em riscos futuros, melhor esclarecendo, situações futuras, tais como fuga, rebeliões etc, de forma que não vejo como haver possível indenização por suposta desvalorização de imóvel a ser ocasionado pelos atos já referidos nesse parágrafo.

Necessário também afirmar que a regra geral é no sentido de haver valorização de imóvel em razão de obras públicas; com a edificação do presídio, levou-se ao local energia elétrica, pavimentação e outros melhoramentos que a perícia alegada nem sequer levou em consideração, isto porque a chamada perícia nada mais é do que uma manifestação de corretores e engenheiros; manifestação sem fundamento fático, porque não trouxe elementos anteriores à edificação do presídio e elaboração de melhoramentos públicos referentes ao valor patrimonial daquela época. Assim, não fosse, entendo que a desvalorização do imóvel pela construção do presídio não figura dano indenizável, porquanto a ordem jurídica não garante a um determinado sujeito o direito à manutenção da valorização de seu imóvel, mesmo porque trata-se de risco inerente ao próprio mercado imobiliário.

Portanto, ainda que se tenha configurado um dano patrimonial, não configura dano juridicamente reparável, por inexistir lesão a um direito amparado pela lei garantindo como um direito do indivíduo, característica essa, imprescindível ao dever de indenizar.

Ante o exposto, nego provimento ao recurso. A Srª. Desª. Tânia Garcia de Freitas Borges (Vogal)

Acompanho o revisor. Entendo que para ensejar essa indenização, deveria haver uma prova irrefutável de que houve tal desvalorização, que o imóvel anteriormente tinha outro valor e vir atestado que foi em razão da construção deste presídio. Questões meramente hipotéticas não poderiam servir de lastro para condenação do Estado.

DECISÃO

Como consta na ata, a decisão foi a seguinte:

POR MAIORIA, VENCIDO O RELATOR, NEGARAM PROVIMENTO, NOS TERMOS DO VOTO DO REVISOR.48

Para que o autor tenha sua demanda reconhecida é fundamental o embasamento da tese defendida pelo demandante com laudos técnicos emitidos por peritos, em que fique claro o valor do imóvel em data anterior ao da construção da obra pública e o posterior, pois, tais laudos são amplamente utilizados pela jurisprudência para a comprovação e valorização do dano, como se retira do acórdão n.º: 022084-3 do TJSC:

APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO ORDINÁRIA DE INDENIZAÇÃO - PAVIMENTAÇÃO DE RODOVIA ESTADUAL - DEPRECIAÇÃO DE IMÓVEL RURAL [...] PERÍCIA BEM FUNDAMENTADA E CRITERIOSA -

DEMONSTRAÇÃO DA QUANTIA CORRESPONDENTE À

48 MATO GROSSO DO SUL, loc. cit.

DESVALORIZAÇÃO DO IMÓVEL [...] RECURSO VOLUNTÁRIO DESPROVIDO E REMESSA PARCIALMENTE PROVIDA. [...].

A perícia realizada no transcorrer da instrução processual foi enfática

ao afirmar que tanto a elevação do nível da Avenida Sete de Setembro quanto o aterro executado no interior do imóvel com o intuito de proporcionar estabilidade (tecnicamente desnecessário se devidamente dimensionado) ao muro de contenção (arrimo) executado tornou inviável a exploração comercial da edificação, que se apresenta parcialmente aterrada e em nível significativamente abaixo do leito da avenida. Não bastasse, apurou-se, na propriedade da autora, "o surgimento de inúmeras trincas e rachaduras originárias das movimentações nas fundações da edificação, conseqüência do adensamento do aterro executado e surgimento de pressões negativas atuantes, conforme apresentado no item"Conseqüências da Execução dos Aterros" (fl. 196).49 (grifo nosso).

Assim conclui-se que o laudo pericial é essencial a fim de comprovar a desvalorização, sendo que somente através deste instrumento probatório é que se terá uma visão do “antes” e do “depois” da construção da obra pública, no que se refere a desvalorização imobiliária, comprovando também o nexo causal entre a construção da obra e a perda do valor pecuniário do imóvel vizinho.

Com a realização da pesquisa, conclui-se que o Estado tem a

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