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Da predominância residencial ao novo dinamismo sócio-econômico

2 P ERFIL SÓCIO ESPACIAL DA Z ONA N ORTE

2.1 Da predominância residencial ao novo dinamismo sócio-econômico

De acordo com o exposto até então, fica claro que dois eventos foram significativos na consolidação da formação da Zona Norte, enquanto espaço urbano da cidade do Natal: a implantação do DIN e a expansão dos conjuntos habitacionais. Isso porque, além desses dois eventos terem esse encargo em comum, ambos pertencem à mesma natureza de atividade econômica, a indústria – a de bens não duráveis e a indústria da construção civil; e apresentam igualmente objetivos comuns – absorver contingentes populacionais provenientes do interior do estado, os quais demandavam emprego e moradia.

Enquanto o DIN representava oportunidade de emprego para a população que ora se instalava na Zona Norte, a expansão dos conjuntos habitacionais cumpria um duplo papel: o da oferta emprego e habitação, “garantindo” a possibilidade de fixação dessa mesma população na cidade do Natal, mais precisamente, nas proximidades do seu local de trabalho; e o da reprodução do capital imobiliário, que se projetava, dessa vez, no sentido norte da cidade do Natal. Ressaltamos que a referida população, cuja qualificação apresentava-se inapta às atividades urbanas, por ser originária do meio rural, significou uma maior oportunidade de exploração da força de trabalho por parte do capital industrial – representado tanto pelo DIN quanto pela construção civil. Em contrapartida, essa mesma população passou a consumir de forma direta, um dos produtos da atividade industrial – a habitação, produto da indústria da construção civil.

Identificamos então nesse processo, conforme Carlos (1994), o espaço apresentando

– representado pelo DIN e pela expansão da política habitacional do SFH; e a população, igualmente com uma dupla função para a reprodução do capital – a de produtora e a de consumidora.

A formação do espaço da Zona Norte é, portanto, resultado de uma intrínseca relação de dois setores da indústria, aparentemente distintos, mas interdependentes entre si. Uma via “perfeita” para a instalação do capital por meio do DIN e para a ampliação do seu processo de reprodução no meio urbano de Natal, pela expansão dos conjuntos habitacionais. Estava então sendo gerado um espaço favorável tanto para a produção quanto para o consumo.

Mas ambos os processos – produção e consumo – não se encerram apenas quando da formação inicial do espaço da Zona Norte. O ciclo tem continuidade, e resulta num processo de construção de um espaço propício à instalação de outras atividades econômicas, as quais evoluem segundo as necessidades da população e os interesses de reprodução do capital.

Até 1969, o espaço da Zona Norte permaneceu pouco modificado. Predominavam apenas atividades rurais, paralelas a vastas extensões de terras, pertencentes a poucos proprietários e uma população pouco expressiva; e ainda, podia ser percebida uma cobertura vegetal com elevada preservação. As transformações no referido espaço tiveram início dentro do contexto de expansão urbana da cidade do Natal, associado ao contexto espacial em desenvolvimento no espaço brasileiro, cujo processo de urbanização se fez em consonância ao de industrialização.

A Zona Norte foi então incorporada nesse contexto, por ser inerente ao processo de produção capitalista do espaço espraiar-se na mais vasta extensão, abarcar todas as possibilidades de reprodução. E mesmo em sua condição marginal, o referido espaço é “convocado” a inserir-se nele, quando a valorização de outras áreas da cidade inviabilizava a obtenção de lucros às empresas. Estamos assim visualizando o processo de especulação imobiliária que estava se processando na cidade do Natal.

A terra na Zona Norte, que até a década de 1970, pertencia a poucos proprietários e tinha ocupação tipicamente rural, passou a ser loteada e dividida entre diversas pessoas, assumindo a condição de solo urbano. Inicialmente, a área em questão apresentava características apenas de espaço residencial, associado ao industrial.

O processo de loteamento da Zona Norte teve início em 1957, com o loteamento Parque Floresta – correspondente hoje ao bairro Pajuçara –, transcorrendo nas décadas seguintes, com o objetivo de dar lugar à construção dos conjuntos habitacionais, sendo o último registro desse processo apresentado em 1984, com o loteamento Morada Panatis – hoje, bairro Potengi. No total, foram criados 56 loteamentos, apresentando uma maior subdivisão nas áreas dos conjuntos habitacionais, conforme observamos na tabela a seguir (Tabela 1).

Tabela 1 - Loteamentos da Zona Norte segundo os bairros – 1957-1984

BAIRRO NÚMERO DE LOTEAMENTOS

Potengi 11 NS Apresentação 15 Igapó 12 Lagoa Azul 3 Pajuçara 11 Redinha 3 Salinas 1 Total 56

Fonte: NATAL – SECRETARIA ESPECIAL DO MEIO AMBIENTE E URBANISMO, 2003c.

O processo de loteamento da Zona Norte foi um elemento importante na implantação do DIN e dos conjuntos habitacionais, pois a partir da década de 1970, com a instalação do DIN no entorno da Zona Norte – municípios de São Gonçalo do Amarante e de Extremoz –, a conhecida “Estrada Natal/Ceará-Mirim”, à época, cedeu lugar a atual Avenida Tomaz Landim, figurando como um corredor de acesso às atividades industriais. Assim como a “Estrada Natal/Redinha” passou a abrigar, em eixos perpendiculares, ao longo de sua

extensão, os numerosos conjuntos habitacionais, cedendo lugar para a atual Avenida João Medeiros Filho.

No quadro anteriormente exposto, percebemos expressões que atestam o caráter de espaço rural da Zona Norte, ainda não integrado ao conjunto da cidade do Natal. São as denominações “Estrada Natal/Ceará-Mirim” e “Estrada Natal/Redinha”, que indicam a inexistência da Zona Norte como parte integrante do espaço urbano da cidade do Natal, até o início da década de 1970. Apreendemos, igualmente, o modo diverso de uso do espaço em relação ao atual, que no decorrer do processo de ocupação, o rural cedeu lugar ao urbano, passando tais “estradas” à denominação de “avenida”, própria do espaço urbano.

Contribuíram para a intensa subdivisão da terra urbana da Zona Norte, a instalação do DIN, cujas melhorias urbanas requeridas para o seu funcionamento valorizaram a região, atraindo para a mesma o processo de especulação imobiliária; e a expansão da política habitacional do SFH, que definiu a Zona Norte como área prioritária para projetos habitacionais (RN – SECRETARIA DE ESTADO DA ADMINISTRAÇÃO E DOS RECURSOS HUMANOS, 1976) para as camadas populares, em função do preço do solo ser acessível. A leitura da tabela a seguir, nos permite identificar a relação entre o maior número de loteamentos efetivados e o número de conjuntos habitacionais construídos (Tabela 2).

Tabela 2 – Zona Norte: relação loteamentos/conjuntos habitacionais

BAIRRO LOTEAMENTOS CONJUNTOS

Potengi 11 11 NS Apresentação 15 5 Igapó 12 5 Lagoa Azul 3 5 Pajuçara 11 15 Redinha 3 2 Salinas 1 0

Fontes: NATAL – SECRETARIA ESPECIAL DO MEIO AMBIENTE E URBANISMO, 2003.c; RN – SECRETARIA DE ESTADO DA ADMINISTRAÇÃO E DOS RECURSOS HUMANOS, 2003.

A tabela ainda nos permite inferir que os bairros Potengi, Nossa Senhora da Apresentação e Pajuçara tiveram o maior número de loteamentos por terem a função de abrigar os conjuntos habitacionais. Com exceção apenas dos bairros de Lagoa Azul que, mesmo sendo formado por conjuntos habitacionais, teve um pequeno número de loteamentos; e de Igapó, que não teve relevância na implantação de conjuntos habitacionais, por ser um bairro de formação anterior à implantação da política habitacional, mas que apresentou um grande número de lotes. Isso, ao nosso ver, deveu-se à presença do DIN, que requereu tal processo de loteamento, em função das indústrias que ora estavam sendo instaladas. Enquanto que os bairros Redinha e Salinas tiveram a sua ocupação de forma espontânea, com predominância da auto-construção, apresentando um pequeno número de loteamentos.

Para entendermos melhor a formação desses bairros e dos espaços de sub-moradias sobre os quais trataremos no decorrer do nosso estudo, explicitamos a nossa compreensão sobre auto-construção. O processo de auto-construção se inicia pela aquisição de um terreno na periferia da cidade, para em seguida, proceder à construção, que se dá em família e entre amigos, nos finais de semana, resultando assim num sobre-trabalho para aqueles que moram no espaço urbano e não têm acesso à moradia que é comercializada no mercado. Esta é a solução de acesso à moradia para grande parte da classe trabalhadora que mora nas cidades brasileiras, por não ter conseguido se inserir no circuito de comercialização da moradia capitalista (RODRIGUES, 1988, p. 30).

É importante resgatar o pensamento de Rodrigues (1988, p. 34) a respeito da temática em foco, pois esta afirma que

A auto-construção reproduz – ao reproduzir casas em lugares sem infra- estrutura e com sobre-trabalho individual – as condições gerais de reprodução do espaço urbano. Onde é possível morar, de que modo é possível morar, definindo e redefinindo o lugar de cada um na cidade (grifo da autora).

O referido processo de loteamento ocorrido na Zona Norte, resultou, no nosso entendimento, em três eixos espaciais estruturantes, bastante diferenciados, tendo em vista a dinâmica sócio-espacial que se processa no entorno de cada um destes (Mapa 2).

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