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4.3 DA RELAÇÃO ENTRE A POLÍTICA E A RELIGIÃO

4.3.3 Da preferência pelo legislativo ou executivo

Em relação a esse ponto, questiona-se a existência de um campo de ação preferencial das lideranças políticas oriundas da hierarquia religiosa.

O questionamento se deu no sentido de procurar alguma relação para a atuação no parlamento ou na esfera do pode executivo. O pastor Oscar se posicionou da seguinte maneira:

Nós temos, na Câmara Federal, vários representantes evangélicos, né... Também, no legislativo tem evangélicos, aqui na câmara de vereadores também tem evangélicos, existem evangélicos, então... em todas essas áreas. Nós temos representantes evangélicos que estão lá é... trabalhando tá... como deputado federal, como estadual, vereador, até como prefeito nós temos. É... (Entrevistado 2. Pastor Oscar Domingos de Moura)

Observa que a gradação em referências ao legislativo foi maior no discurso do pastor Oscar apresentado acima. Parece que a tendência prevalece em direção aos parlamentos federal, estadual e municipal em detrimento do executivo.

O pastor Loureiro relativiza a presença pentecostal assembleiana nos parlamentos, porém, reafirma a ideia de que os cargos são ocupados na esfera pública no sentido de conquistar espaço e apoio para as instituições. Especialmente as que trabalham com questões sociais e aponta a carência de atenção por parte do governo como um ponto para melhoria na relação entre igreja e Estado.

Não, não importa onde esteja ocupando, seja no executivo, seja no legislativo, o importante é que quem governe, quem faça as leis, o faça com justiça, né... porque nós não queremos, eu vou repetir, não queremos privilégios. Porque eu sou deputado da AD eu quero privilégios para AD. Eu quero tratar com justiça. Que a igreja seja entendida como instituição que visa o bem pelo mundo e todos. Um igreja que tem os seus membros... a gente vê a dificuldade que passam as igrejas, que vem fazendo cantina, [...] arrecadando alimentos pra fazer uma obra social, pra manter uma casa de recuperação sem nenhum cruzeiro ou recurso público. Então, a gente vê e acompanha isso de perto, porque eu quero que a igreja seja inserida nesse projeto e ela vai ter muito para contribuir né, pra... para o governo,

principalmente na área social. Porque a área social é uma área carente né... e eu acho que.. acho não, tenho certeza que ninguém melhor faz a obra social, tão bem quanto a igreja. A gente vem com poucos recursos é... tratando de vida, cuidando de vida e a igreja... eu sempre digo, é melhor que se abra uma igreja....que... melhor que se abra uma igreja em cada esquina da cidade que um ponto de tráfico de drogas, a igreja tem muito mais a contribuir. Então, é... o governo tem que olhar melhor para as igrejas, e com certeza a igreja tem muito que contribuir com o governo (Entrevistado 3. Pastor Reginaldo Loureiro).

O candidato De Biase, confirma uma tendência para o poder legislativo. Afirma que isso se dá em função da rejeição ao discurso conservador, que é visto com certo receio por parte da população, especialmente por intelectuais e pela classe média. Também, pela forma como estão organizados os atores nos arranjos políticos construídos nas campanhas, bem como ao papel que representam os “puxadores de legenda”. Ao ser questionado, o entrevistado confirma tal suposição da seguinte maneira:

Principalmente legislativo. Por quê? Como político pentecostal ele tem uma atuação muito restrita ao seu meio evangélico. A rejeição dele com outros campos é enorme. Então, o político tal tem 30% dos votos, é dele, ninguém tira. Só que se ele for para o segundo turno no executivo ele não ganha. Porque a classe média não compra um discurso tão conservador, às vezes. E a classe intelectual combate com veemência. E acaba ele perdendo o público, os meios de opinião. Então, necessariamente é um voto que tem muita relevância na periferia, nas classes média-baixa, ou com menos instrução, gente boa, gente sincera, mas que não tem tanta oportunidade para estudar um pouco as propostas, conhecer, e a partir do momento que a população vai conhecendo as propostas, esse tipo de político perde um pouco o seu igual, mas mesmo assim ele tem um espaço. Por isso prefere o legislativo, porque lá pode fazer uma luta mais solta, assim... é aquilo, que ele não é, assim... não é um síndico né. Não é um prefeito, que tem que ficar ali mediando, não. Lá no legislativo eles juntam a bancada evangélica bate o pau num tema só e crescem com isso. Aí passa um ano, passam, tem três deputados, no outro tem dez, no outro tem quinze e vai aumentando a proporção com um puxador de legenda. Como é o caso que vai acontecer com o Feliciano agora em São Paulo, que provavelmente vai vir candidato a Deputado Federal e vai ser reeleito com quase um milhão de votos. Vai levar mais uns quatro da AD com ele. Então é... uma proposta para o legislativo. Já foram várias tentativas de se chegar ao executivo. Eu acho que não passa. Não tem como você chegar com um discurso restrito a um grupo só ao executivo. Isso é muito difícil (Entrevistado 4. Candidato Gustavo De Biase).

O depoimento tende à confirmação das análises que afirmam que a AD, nas suas práticas políticas, reproduz a cultura política brasileira de modo geral. Usa estratégias eleitorais consolidadas no modelo eleitoral em vigor que é regido por eleições proporcionais para os legislativos e utiliza o quociente eleitoral para o

preenchimento das cadeiras e a distribuição das sobras de vagas reservadas a determinadas legendas pelas quais se elegeram os candidatos.

Os pentecostais não se apresentam para as eleições do poder executivo, conforme explicou De Biase, porque não têm capital eleitoral para alcançar tal objetivo. Pensam para o grupo e conforme os arranjos institucionais que regem os acordos em função do grupo. Logo, não conseguirão de imediato alianças para eleições desse quilate.