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4.4 PERSPECTIVAS INSTITUCIONAIS SOBRE UM PROJETO POLÍTICO

4.4.1 Entre o voto na urna e o voto pentecostal assembleiano no

Os evangélicos ocupam uma boa parte do Congresso Nacional, assim como, dos parlamentos capixabas.

No cenário nacional, apresenta-se um quadro de situações na esfera social e política, como a emergência de movimentos sociais e segmentos da sociedade lutando por transformações na estrutura social, por melhores condições de vida e subsistência, bem como maior participação nas decisões políticas de modo geral.

O cenário local reproduz os reflexos do plano nacional. O cenário para o representante político pentecostal tradicional não é, de todo, amistoso. No entanto,

61 Apesar de não ser aparecer nos depoimentos, o jornal A Tribuna informa um caso de denúncias de

desvio em uma igreja AD que chegaria a seis milhões de reais. Dois pastores foram investigados e indiciados: Délio Nascimento, presidente da Assembleia de Deus na Serra e o primeiro tesoureiro, Amazildo Gonçalves. Foram denunciados por apropriação indébita de dinheiro do dízimo e ofertas de fiéis. TORRE, Luisa. Denúncia de desvio na Assembleia de Deus. Delegado investiga dois pastores por suposto uso indevido de R$6 milhões do dízimo para viagens e compra de imóveis. Cidades. Investigação Policial. A Tribuna. Vitória, terça-feira, 28 de fev. de 2012.

os pentecostais tem ampliado sua participação no processo eleitoral com grande taxa de sucesso desses candidatos.

Em relação a atuação parlamentar, existe o questionamento de como o político pentecostal se posicionaria em relação a seu voto em matérias no parlamento. O pastor Oscar reafirma o papel da Comissão Política e comenta que a:

[...] comissão politica que pede Curriculum Vitae, pede informação acerca do candidato e ele nos dá informação. Quais são os melhores que estão concorrendo e a gente transmite para os irmãos. Cada pessoa que vai concorrer e a sua... e a sua conduta. (Entrevistado 2. Pastor Oscar Domingos de Moura)

A comissão política da AD só examina se o candidato tem ficha limpa, mas não pergunta sobre sua visão da sociedade. A indicação de candidatos oficiais coage os que se candidatam por fora e coage os membros da igreja a votarem naqueles que foram “ungidos”, ou seja, escolhidos como candidatos oficiais.

Ao se questionar se há uma consulta sobre candidatos feita à base eleitoral, no caso de acordos ou decisões coletivas no âmbito da esfera municipal, na esfera estadual, ou mesmo na esfera federal, o pastor Oscar responde da seguinte maneira:

É, porque cada cidadão... ele é assegurado pela constituição [...] que ele tem o direito de escolher e votar em quem ele quiser. Então, eu não estou, como pastor, autorizado até pela lei de estar influenciando quem tem que votar em A ou B. Eu coloco as pessoas lá à disposição. Eu digo, “esse aqui nós conhecemos, fulano, fulano, fulano”. E esse, que “nós fizemos um levantamento lá e a conduta dele é essa e essa, agora a escolha é com vocês”. Eles, o nosso eleitorado, irmãos da igreja, é que escolhem. Porque nós não temos o direito de polir o direito de cada cidadão. (Entrevistado 2. Pastor Oscar Domingos de Moura)

Mesmo se referindo ao questionamento dessa forma, uma entrevista realizada pela

revista Comunhão62 em fevereiro de 2010, ao mencionar a reeleição do pastor para

a CADEESO, destaca que estavam presentes o prefeito de Vitória, João Coser (PT), o de Vila Velha, Neucimar Fraga (PR), além do vice-governador Ricardo Ferraço, que hoje é senador pelo PMDB/ES, apoiado pelo pastor na ocasião e eleito com 1.557.409 votos (maior votação da história do estado), entre outros personagens.

62 PR. OSCAR DOMINGOS DE MOURA. Matéria. Comunhão. 3 de fev. 2010. Disponível em:

<http://www.comunhao.com.br/index.php?option=com_k2&view=item&id=2604:pr-oscar-domingos-de- moura&Itemid=106>; Acesso em: 28 de jul. 2010.

Ao ser questionado sobre a possibilidade de consulta sobre o direcionamento das propostas do candidato pela base eleitoral, ou mesmo ao partido ao qual o parlamentar se elegeu, o pastor afirma o seguinte:

Mas as igrejas não têm essa base não meu filho… a igreja tem essa base não. A igreja tem seus membros; que a igreja não é partidária, certo? A igreja não é partidária, a igreja não tem partido, o nosso candidato que nós defendemos e ganhou é Jesus, esse aí nós defendemos, defendemos porque ele é o único, nosso candidato que nos traz salvação para nós. Agora, consulente a candidatos políticos, políticos nós não temos base partidária, a igreja não tem partido, ela não é membro de partido. Se você amanhã ou depois se candidatar a qualquer cargo eletivo ou político, você está tendo uma conduta ilibada, a gente conhecendo, sabendo quem você é, e se você tem princípios cristãos na tua vida, cabe a nós reconhecer isso. Nós podemos... a pessoa quando tem uma conduta, cada uma pessoa dá informação: olha aquele ali é gente boa! Aquele ali é bom! E um vai passando para o outro: aquele ali é bom! Sem dúvida nenhuma quando chegar na hora da votação você será lembrado. Agora, o que nós não podemos fazer é um partidarismo. Ah! fulano é partido tal. Nós somos do partido tal, tal... porque nós não temos partido. O nome já está dizendo partido, e partido é retalhado. E o nosso partido é Jesus que não está partido. Está inteiro. (Entrevistado 2. Pastor Oscar Domingos de Moura) O pastor Reginaldo Loureiro, afirma que a decisão sobre o voto do representante é pessoal. Mas, que sua decisão segue os pressupostos morais e princípios defendidos pela igreja. O candidato menciona o seguinte:

Olha, ele decide pela sua consciência. Aquilo que você acha que vá atentar contra a família, que vá atentar contra os bons costumes, aquilo que vá atentar... contra aquilo que você sempre pregou e sempre viveu você não vai votar. Então, o voto... é, natural que você vote da sua consciência, daquilo que você ache que... a Bíblia diz que todas as coisas me são lícitas, mas nem todas me convém, é uma avaliação que a pessoa tem que fazer. Cada um faz sua avaliação e aí o Espírito Santo, com certeza, vai te orientar naquilo que é certo e o que é errado (Entrevistado 3. Pastor Reginaldo Loureiro).

O candidato De Biase afirma que o voto pentecostal é direcionado. Em seu depoimento destaca o seguinte:

Olha, o voto, principalmente na igreja pentecostal, ele é muito direcionado... se na véspera da eleição o pastor falar: “Igreja, o candidato é esse!”, eu já ouvi falar isso já. “E quem for contra quem está falando aqui vai sentir a mão de Deus na sua vida!”. [...] Ele decide muito seu voto como, pensando como que a população que o elegeu, ele e os assembleianos, os pentecostais, vão pensar. Então, ele pode até concordar com o projeto, por ex.. “Ah! Não tem problema o gay casar no cartório, ter união civil igualitária...” mas ele não vai votar favorável porque ele sabe que quem

votou nele tem um pensamento contraditório com relação a isso. Então, ou ele faz um trabalho de base para mudar o pensamento e tentar avançar em algumas questões ou ele vai ficar sempre refém ou causador dos problemas né. A orientação da votação neles, principalmente, é totalmente... esquecemos de colocar aqui, é principalmente nas questões morais e tradicionais, é totalmente direcionado pra aquilo que é colocado pelo... aí pelo senso comum evangélico. Agora, nas questões públicas, não tem nenhum direcionamento do povo. Por exemplo, código florestal – a maioria da bancada evangélica votou a favor para devastar tudo, a favor do Novo Código. Reforma agrária – ninguém aqui na bancada evangélica é a favor da reforma agrária. Ficha limpa – os caras, só depois que o negócio virou mídia que eles foram a favor. Então, em questões pequenas, de pouca relevância para o povo evangélico, mas que tem uma grande publicidade eles votam e fazem mídia. Agora, quando é pra... de fato para fazer a politica real e votar projetos que beneficiam o povo mesmo, como taxação de grandes “fortunas” ele não fazem. Não estão nem aí, vendem voto e quando é necessário vota mesmo... e o povo não acompanha as votações... o povo acompanha só a questão das drogas, aborto e casamento gay, passou disso.. eles estão liberados (Entrevistado 4. Candidato Gustavo De Biase).

O relato do candidato apontado acima destaca os princípios morais defendidos pela instituição como bandeiras eleitoreiras para alguns candidatos. Ilustra o cenário onde estão inseridos os representantes pentecostais assembleianos.

Em uma pesquisa sobre o comportamento do eleitorado pentecostal no Rio de Janeiro, Smiderle (2013), destaca que quanto maior o grau de “pentecostalização” do eleitor, mais facilmente ele se identificará com os seus candidatos devido à centralidade da religião na vida do sujeito.

A pentecostalização implica, pois, um reforço da concepção mágica (encantada) do mundo, esse seria o elemento-chave para explicar a especificidade do ator evangélico brasileiro frente a seus contemporâneos. Enquanto a típica sociabilidade moderna leva os atores individuais à crescente necessidade de administrar lógicas distintas e eventualmente díspares, num mundo segmentado e fragmentado, o ator evangélico brasileiro atualiza um mundo concebido como totalidade lógica, hierarquizada, com a divindade ocupando um lugar central para a explicação de todas as ordens de fenômenos (SMIDERLE, 2014, p. 65). O grau de pentecostalização se reflete na centralidade que o indivíduo atribui a elementos religiosos no seu ato de se posicionar e atuar na esfera pública em temas políticos. Isso reforça a identificação religiosa do fiel com os candidatos oficiais escolhidos pela cúpula das igrejas na hora da escolha nas urnas (SMIDERLE, 2013, p. 98).