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2.3. Decisões jurisprudências acerca do tema

2.3.2 Da Responsabilidade Do Empregador

Na decisão seguinte, ressalta-se que, baseada na primeira decisão encontrada do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, relacionada com o tema do direito do aprendiz, no sentido de entender quem se enquadra como jovem aprendiz, tendo sido configurada pela Constituição, chegando ao ponto de visualizar a responsabilidade do empregador caso não contrate o jovem aprendiz, adentrando com vias recursais judiciais, por esses motivos, analisa-se a seguinte ementa:

CONTRATAÇÃO DE MENOR APRENDIZ - INOBSERVÂNCIA DO ART. 429 DA CLT - INCIDÊNCIA DE MULTA ADMINISTRATIVA - Constitui infração à legislação trabalhista a omissão da empresa em contratar menor aprendiz na forma determinada no art. 429 da CLT, sob a alegação simplista de que as vagas oferecidas pelo SENAC são incompatíveis com seus serviços. É que a insuficiência de vagas ofertadas pelo SENAC pode ser suprida por outras entidades qualificadas em formação técnico- profissional metódica, indicadas no art. 430 da CLT. Inexistindo nos autos prova de haver a empresa autora diligenciado junto às entidades elencadas nos inciso I e II do referido art. 430 consolidado acerca das vagas existentes

para formação profissional metódica, mantém-se a multa aplicada pelo Ministério do Trabalho e Emprego. (CONTRATAÇÃO DE MENOR APRENDIZ, TRT-3 - RECURSO ORDINARIO TRABALHISTA, 2007)

O julgado exposto diz respeito ao recurso contra decisão de primeiro grau, no qual o requerente, inconformado, pede a nulidade/cancelamento dos autos de infração recebidos pelo Ministério do Trabalho, tenta reformá-la, aduzindo que compareceu a uma das entidades mencionadas pelo Art. 430, II da CLT (SENAC), e lá constatou que as vagas oferecidas pela entidade são incompatíveis com os serviços da recorrente, o que a desobriga de contratar aprendizes.

O Tribunal Regional do Trabalho da Terceira Região, por sua Sétima Turma, analisou o dispositivo do disposto no Artigo 429 da CLT, no qual se normatiza que os estabelecimentos de qualquer natureza são obrigados a empregar e matricular nos cursos dos Serviços Nacionais de Aprendizagem número de aprendizes equivalente a cinco por cento, no mínimo, e quinze por cento, no máximo, dos trabalhadores existentes em cada estabelecimento, cujas funções demandem formação profissional. (Redação dada pela Lei nº 10.097, de 19-12-2000) e o Art. 430 CLT dispõe que na hipótese de os Serviços Nacionais de Aprendizagem não oferecerem cursos ou vagas suficientes para atender à demanda dos estabelecimentos, esta poderá ser suprida por outras entidades qualificadas em formação técnico-profissional metódico.

Em contrapartida, não se pode acatar como pretexto para deixar de cumprir com a obrigação de contratação legal de menor aprendiz, a indisponibilidade de vagas no SENAC, valendo lembrar que poderia, ainda, a autora, nos termos do artigo 431 da CLT, contratar menores aprendizes diretamente, buscando, em caso de dúvidas, orientações junto ao Ministério do Trabalho e Emprego.

Veja-se, portanto, que a ausência de entidades de formação/qualificação profissional, por mais que não haja na localidade, não desobriga as empresas com obrigação de contratação de jovens aprendizes dentro da cota estabelecida, sendo sujeito a sanções administrativas, a recorrente foi punida duas vezes no seu estabelecimento situado no Shopping Del Rey, por se recusar a contratar

aprendizes, em ocasiões diferentes - a primeira vez em 23/11/04 e a segunda em 23/06/05 (fls. 20 e 67), portanto a autuação do Ministério do Trabalho manteve-se.

CONCLUSÃO

O trabalho do aprendiz é um tema bastante complexo, tendo em vista que inclui o trabalho do menor, ou seja, o trabalho infantil de forma lícita. É instigante conhecer a história em nível nacional e internacional do trabalho crianças e adolescentes, fazendo-se um recorrido das conquistas que, consequentemente, hoje, possibilitam a conciliação do aprendizado juntamente com o trabalho. Entretanto, a falta de conhecimento dos direitos e deveres entre as partes dessa relação, no que é permitido ou proibido no mundo do trabalho, faz-se criar conflitos e desconhecimentos que podem afetar o efetivo crescimento e desenvolvimento do jovem. Isso pode prejudicar o desenvolvimento físico e mental das crianças e adolescentes, porém é uma forma de diminuir a exploração da mão de obra, a criminalidade, marginalidade e incluir de forma adequada o aprendiz.

As formas de trabalho infantil permitidas, dentro da legalidade, são defendidas pela Carta Magna, mas não se pode deixar de ter a devida cautela, a conscientização dos contratantes e responsáveis, de modo constante, para que o trabalho do jovem seja, sempre, adequado, permitido e garantindo os direitos e garantias dos menores. Que os empregadores coloquem acima da atividade laboral, a prioridade da educação, aprendizado e a saúde do indivíduo.

Por outro lado, as formas de trabalho infantil, proibidas pela legislação, necessitam ser extintas e, sempre que houver, que sejam punidas. Para tal ato, é importante que haja o envolvimento de todos, não somente o jovem e o empregador, mas, sim, da família, da sociedade, em conjunto com o Estado, principalmente pelos governantes, para combater esse exercício ilícito.

Excepcionalmente, conclui-se que é possível, no contexto atual, a inclusão do jovem menor no mundo do trabalho, mas ainda encontramo-nos, enquanto Estado, em busca de uma eficaz erradicação da exploração do trabalho infantil, pois a sociedade ainda não se afastou da cultura que se fez na Revolução Industrial.

O combate que busca a OIT, assim como a Comissão dos Direitos Humanos, bem como as políticas de governo, em distanciar as crianças, adolescentes e jovens dos trabalhos elencados como as piores formas de trabalho infantil, tem, agora, com resultado do esforço e conquista do Estado, a inclusão do jovem no mundo do trabalho de maneira regulamentada e amparada legalmente, pelo Contrato de Aprendizagem.

Contudo, a busca pela erradicação da exploração do trabalho do menor é constante e, acima de tudo, a sociedade deve impor-se, pois todos somos sujeitos de direitos, dignos de proteção e respeito, principalmente crianças e adolescentes, que são as futuras gerações.

REFERÊNCIAS

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