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Essa temática está relacionada especificamente ao modelo de formação em alternância justaposta (Pedroso, 1996; Nascimento, 2002; Marcon, 2005), cons- tituído pelas experiências de trabalho que o estudante-professor tem durante o curso, que acontecem de forma paralela e simultânea à sua realização, tendo ou não relação com o curso. Também é importante destacar que com esse modelo de formação não ocorre articulação entre teoria e prática, pois a situação de trabalho se apresenta de forma autônoma, sem nenhum vínculo com o ensino superior (Pedroso, 1996; Nascimento, 2002; Marcon, 2005).

No que tange à pergunta do questionário relacionada ao envolvimento dos estudantes em atividade remunerada relacionada ao curso, todos os docentes afirmaram perceber que isso acontece com os estudantes, como DEF4:

Na minha opinião, sim. Em academias, em escolas, em hotéis, em eventos, em clubes, etc. [...].

DEF8 destaca as consequências do envolvimento nessas atividades profis- sionais:

Penso que os alunos muitas vezes precisam trabalhar e muitos fazem o que surge e isso deve ser respeitado no meu ponto de vista. Acredito que quando atuam profissionalmente têm possibilidades de aprender saberes profissionais que mesmo não sendo do ofício e nem da carreira que vamos abraçar têm seu valor e importância. Caso os alunos consigam atuar na área os saberes pré-profissionais são possibilitados e vivenciados.

DEF1 destaca a consequência dessa atuação profissional:

Colocar em prática conteúdos assimilados promove maior domínio de conheci- mento sobre o assunto, maior exploração de estratégias, criação de soluções e pensamento divergente, com maior fluência ideacional.

É interessante notar que tanto DEF3 quanto DEF2 apontam para a perspec- tiva do estágio remunerado, o auxílio de bolsas, como exemplo da atuação remu- nerada:

[...] a partir da metade do curso, sob a forma de estágio remunerado, naquelas atividades exclusivas da intervenção do profissional de Educação Física. Con- tudo há atividades paralelas, a exemplo, de arbitragem esportiva. (DEF3) Quanto aos estudantes, a maioria, com exceção de EEF4, EEF5 e EEF8, se envolveu com atividades remuneradas relacionadas ao curso de Educação Física.

Cabe destacar que, em estudo anterior, identificamos o mesmo cenário, ou seja, a maioria dos estudantes se envolveu com atividades remuneradas:

Sim, eu participei, eu dei aula de natação para crianças, dou aula de personal, sou estagiária de um colégio, trabalhei uma ou duas vezes como monitora. [EF1] (Brum, 2009, p.67)

Da mesma maneira, EF4 afirma ter trabalhado durante o processo de for- mação:

Trabalhei como recreacionista em um clube onde acontece colônia de férias, mas recreação mesmo atividades lúdicas com crianças de várias idades. (Brum, 2009, p.67)

Assim como o estudante EF5:

Eu trabalhei em recreação: monitoria e professora estagiária de dança. [EF5] (Brum, 2009, p.67)

No que concerne à pergunta sobre a participação dos estudantes em ativi- dade remunerada sem relação com o curso, apenas os docentes DEF6, DEF5 e DEF8 demonstraram ter compreendido a questão, que indaga apenas se os do- centes têm conhecimento do envolvimento dos estudantes e não se é permitido.

Nesse sentido, se destaca a fala de DEF6:

Com certeza. O fato dos alunos fazerem um curso de graduação em Educação Física não significa que eles estão limitados a atuar nessa área.

Temos alunos que vêm com vasto conhecimento de informática, ou organi- zação de eventos, ou outros. A natureza investigativa que o curso oferece dá con-

dições aos nossos alunos de atuarem em diferentes áreas. Conheço uma aluna que trabalha com consultoria em outra área em função do desenvolvimento na área de investigação aliada à natureza investigativa da própria aluna.

Nesse contexto, a maioria dos docentes justifica que os estudantes se en- volvem com atividades desvinculadas ao curso de formação por necessidade fi- nanceira:

Sim. Nem todos os alunos possuem os meios financeiros necessários para man- terem-se em uma cidade diferente da cidade natal. Com isto muitos alunos pre- cisam trabalhar nas mais diferentes áreas, como garçons, atendentes, etc. (DEF8)

Outros docentes destacam que a formação não pode ser comprometida diante da atuação profissional dos estudantes:

O problema de atividade remunerada, desde que não caracterizada como exer- cício ilegal da profissão, depende das condições de manutenção do estudante. Caso participe de tais atividades como forma única de sua manutenção, não há como negar-lhe tal possibilidade. Contudo, o ideal seria que o aluno tivesse todo o tempo para se dedicar ao curso, desde que, obviamente, o dedicasse. Há pro- fissionais muito bem formados que trabalharam e estudaram ao mesmo tempo. (DEF3)

Semelhantemente, DEF4 afirma:

Sim, desde que não atrapalhem sua formação.

Já DEF7 demonstrou não ter entendido o foco da questão:

Penso que usar “podem participar” não deva ser considerado, pois muitos não têm opção de escolha e independentemente da ação isso deve ser respeitado e valorizado.

Os estudantes, por sua vez, quando indagados no questionário sobre seu en- volvimento em atividades remuneradas sem vínculo com a área da Educação Fí- sica, todos, exceto EEF5, afirmaram não ter atuado em outras áreas profissionais. EEF5 afirma:

Sim, fiscal de prova e garçonete. Apenas as habilidades e competências.

No que se refere à atuação profissional dos estudantes, quando indagado na entrevista, DEF1 afirmou que há vantagens e desvantagens nesse envolvimento dos estudantes:

Essa pergunta tem dois modos de responder, se a gente for se ater apenas à for- mação para atuação futura, eu acho que tem sim, bastante envolvimento e diante desse envolvimento bastante repercussão positiva tendo em vista que inclusive ele é cobrado de diversas maneiras, não só sua forma de vestir, de atuar, de esco- lher as atividades mais adequadas, mas também a questão da pontualidade, de compromisso que tudo isso são elementos bastante importantes pra sua for- mação docente durante ou depois do seu envolvimento com a universidade; en- tretanto, esse envolvimento precoce, isto é, durante a formação pode acarretar também em prejuízo com muitas faltas nas disciplinas que têm a ver ou não com a atividade que foi vinculada, então trazendo também consequências negativas, então um ponto a se pensar se não haveria alguma forma da universidade ab- sorver em forma de estágio [...].

O docente DEF2 expressa a contribuição das atividades profissionais para o estudante:

[...] o aluno consegue visualizar mais aquilo que o professor tá falando em sala de aula porque ele tá vendo uma aplicação daquilo ele tá ele tá vendo exemplos disso então eu acho fica mais completo do que o aluno que não tem uma expe- riência direta em ter alunos em ser professor ele consegue fazer menos rela ções então lógico que muitas vezes diante desse contato profissional ele aprenda tam- bém o que não fazer, às vezes você vai lá no contexto profissional ele aprenda também o que não fazer, eu brinco com os meus alunos que o estágio não é só para aprender o que fazer, você também vai lá pra o que não fazer, às vezes você vai lá e vê que não é por aí, então eu acho que são atividades que contri- buem bastante para a profissão docente.

Para DEF3 é preciso considerar algumas variáveis:

Ela contribui desde que ela não se torne a principal atividade, primeiro ela deve estar ligada ao curso que está fazendo, então tá, nada contra uma atividade re- munerada só que é o seguinte: se ela não tiver atrelada ao curso ela não vai con- tribuir, segundo quantas horas eu dedico a isso, será que essas horas e será por

quanto tempo, será que trabalhar com recreação quatro anos? Como eu vejo pes- soas fazer desde o primeiro ano do curso, será que no segundo ano que eu estou lá vai somar alguma coisa ao meu desenvolvimento de saberes e competências, eu acho que não porque uma coisa é você vivenciar isso pra justamente a prática e a teoria se juntarem é como o estágio, uma Prática de Ensino mesmo e essa atividade tem um outro aspecto se ela não for supervisionada por um profis- sional ela é até ilegal então nós estamos falando de coisas, não importa se ela é remunerada ou não, o que caracteriza essa atividade é que ela deve ser supervi- sionada por um profissional presencialmente, caso contrário eu estou come- tendo até uma ilegalidade uma contravenção penal, porque eu ainda não sou formado [...].

Segundo DEF4, é necessário ter senso crítico para desenvolver aprendiza- gens dessa atuação profissional:

[...] ele está estudando e apesar de não ter um acompanhamento, ele é capaz de fazer essa ponte e eu acho que contribui sim, contribui, tanto na escola, mesmo na escola, porque o aluno vai fazer aí uma comparação, uma análise entre o que ele estuda e o que ele vê e ele tendo senso crítico, ele vai fazer essa ponte, agora, esse senso crítico não se constrói dentro das disciplinas da Educação Física, daí a importância das disciplinas de fundamentação, eu já falei anteriormente como a Sociologia e a História e a Filosofia e parece que o aluno não compreende muito isso, a importância dessas disciplinas nesse discernimento crítico [...].

DEF5 também destaca a necessidade de não ocorrer prejuízo com o envolvi- mento do estudante no curso e da possibilidade de haver uma supervisão dessas atividades, no que DEF8 concorda.

Para DEF6 e DEF7, o envolvimento dos estudantes nas atividades profis- sionais não apresenta prejuízo, como pode ser observado pela fala de DEF7:

[...] eu fiz o magistério e comecei a atuar como professora da educação infantil e anos iniciais, e foi por causa do meu trabalho profissional que eu tive condições de pagar minha universidade e me formar, e é interessante porque eu entrei um pouco mais velha no curso porque eu até fiz magistério parei um tempo e depois eu fui fazer Pedagogia; era muito interessante como o exercício da minha ação profissional me ajudava muito a teorizar aquilo que eu via na universidade. Nossa, a universidade pra mim eu aproveitei muito, nossa eu acho que eu tava madura para estudar, pra estudar aquilo que eu tava me propondo a fazer, apro- veitei o máximo que eu pude, me ajudou muito quando eu consegui trabalhar na

área e ajudou a construir a própria identidade profissional; eu tive a sorte nessa minha história de vida, assim, conhecer uma professora que quando eu estagiei foi pra mim uma modelo de professora de anos iniciais e eu aprendi muito com essa professora a ser professora [...].

Com a opinião de EEF2, observamos que a atuação profissional possui van- tagens e desvantagens, como alguns docentes frisaram:

Quando eu fui estagiário do Sesi foi remunerado e me ajudou bastante, e não atrapalhou em nada, é, às vezes acabava atrapalhando um pouco porque eu dei- xava de fazer alguma coisa da faculdade porque eu tinha que fazer alguma coisa do trabalho, porque às vezes nem era, era compromisso do trabalho mesmo [...] e conversando com os meus colegas do estágio você percebia que algumas coisas, como lidar com muita criança, essas coisas, eu que tava no Sesi já não era um susto assim pra mim, já tava mais acostumado e às vezes eu via que o pessoal que tava na minha turma e que não tinha essa vivência sentia mais, eu aprendi como abordar, como lidar, até como planejar, às vezes por experiência que eu tive lá e na hora de planejar minhas aulas no estágio eu já sabia como planejar, como or- ganizar, coisa que eu aprendi antes de quando eu fui fazer um projeto.

EEF5 destaca que geralmente a atuação não está relacionada ao curso: É que no nosso curso, na área escolar a gente não pode atuar, né? Só o que acaba acontecendo é do pessoal ir para outras áreas de atuação, por exemplo, recreação. Eu acho que essas pessoas acabam tendo uma maior compreensão do público, de como se comportar diante daquele grupo, a relação, né, aprende melhor o jogo de cintura que se que ter quando você vai conduzir uma atividade.

Os demais estudantes também relataram que a atuação profissional pode in- centivar, estimular, sendo capaz de desenvolver aprendizagens profissionais. Também foi possível constatar com as declarações que a maioria dos estudantes, com exceção de EEF4, EEF5 e EEF8, se envolveu com atividades remuneradas relacionadas ao curso de Educação Física. Assim, podemos afirmar que o modelo de formação em alternância justaposta é desenvolvido no curso de formação.

No projeto pedagógico do curso, esse modelo de formação não é considerado, pois a proposta curricular não prevê o envolvimento dos estudantes com ativi- dades remuneradas sem relação com o curso.

Nascimento (2006) menciona que o ingresso no ensino superior na área da Educação Física é, geralmente, acompanhado pelo envolvimento a curto prazo

dos estudantes no mercado de trabalho de maneira informal e mal remunerada, o que, em contrapartida, pode permitir que a formação analise essas situações de trabalho vivenciadas e também estimule o desenvolvimento do senso crítico nos estudantes no que tange às relações sociais e condições de trabalho profissional.

No que diz respeito ao vínculo dos estudantes com atividades sem relação com o curso, apenas uma estudante afirmou ter atuado profissionalmente nessas condições. Essa constatação se transforma quando o questionamento diz res- peito ao envolvimento dos estudantes com atividades profissionais remuneradas relacionadas ao curso de Educação Física. Foi possível perceber, tanto no estudo atual como em estudo anterior (Brum, 2009), que os estudantes universitários permanecem atuando remuneradamente na área de formação.

As atividades profissionais e o