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IIª PARTE | ENQUADRAMENTO TEÓRICO

1. RELAÇÃO ENTRE O DESIGN GRÁFICO, A TECNOLOGIA E A CULTURA/ARTE

1.3 ESTILO MODERNO E O DESIGN COMO ACTIVIDADE

1.3.4 DADAÍSMO – A ANTI-ARTE, O DERRUBAR DE ESTRUTURAS

Na sua plenitude o dadaísmo para além de um movimento artístico também se caracterizou por ser um “estado de espirito” individual e colectivo. Este estilo negou e desafiou a estrutura da representação racional reduzindo drasticamente os conceitos tradicionais. Associado ao movimento anarquista, o Dadaísmo direccionou os designers gráficos a expandirem-se das restrições rectilíneas (ideia inicialmente cubista) e utilizarem a “letra” como experiência visual através do valor do humor e do chocante, minimizando desta forma o sentimento de apatia do observador perante «algo».

O Dadaísmo surgiu simultaneamente em Zurique e nos Estados Unidos da América. Foi um movimento provido de conteúdos artísticos contestadores e irónicos, o seu objecto de crítica era feito através da Arte. Para com a sociedade o vocábulo «função» diz respeito às características do objecto permitindo o seu uso, já a «fruição» designa-se à contemplação do objecto. Ou seja, quando nos referimos ao uso correlacionamos o valor da “peça” à sua função para a qual foi desenhado, e, se tivermos apenas em atenção o momento de fruição estamos na verdade avaliando única e exclusivamente a sua componente estética. Este conteúdo artístico era projectado em diferentes suportes, desde as artes plásticas, à pintura, à fotografia, à poesia e ao teatro.

Fig. 21 Roda da Bicicleta de Marcel Duchamp, de 1913 (réplica no Museu de Arte Moderna, Nova York). Hurlburt, A. (2002) Layout: o design da

página impressa. Nobel. São Paulo. p.20.

Em consonância com o século XXI, através do Design (em geral, desde gráfico, a interiores, industrial, etc.) implementado mundialmente, podemos ter um objecto que na sua totalidade funcione muito bem, contemplando a função para o qual foi concebido, e que paralelamente nos permita ter «prazer» de o ter e de o ver. No esponte máximo da era dadaísta, Marcel Duchamp demonstrou à sociedade os dois lados inerentes do objecto artístico, anulando a sua característica utilitária enaltecendo a estética como réstia de valor agregado ao objecto, variante da circunferência valorativa do que é a essência do Design. No ready made (Marcel Duchamp) “ a roda da bicicleta”, em 1913, o mentor dadaísta usa dois produtos

fabricados em série (banco e uma roda de bicicleta) e inverte-lhes o pendor utilitário, tornando-os meramente estéticos. Duchamp ao lhes retirar a função para os quais foram desenhados: das bicicletas para andar e dos bancos para sentar, o «artista ou anti-artista» prescinde da função, ausentando-a do que lhe foi previamente destinado, e o resultado obtido que sobra é a “fruição”. Neste sentido, a conceptualização do termo anti-arte surge no sentido de criar uma fruição do objecto através da ausência da função- quase que obrigatoriamente indiciado por Duchamp nesta peça. Nisto a “roda de bicicleta” de Duchamp é uma obra de arte, previamente enraizada nas várias descrições e tentativas de definição de Arte, ressalvando valores como «fruição» e «individualidade».

A influência dadaísta no design gráfico identifica-se através da sua performance de contestação como corrente artística, contra os modelos tradicionais das formas de expressão enaltecendo a linguagem visual um veículo de transmissão de informação eficaz, que nesse período histórico aplicava-se ao contexto socioeconómico em que se vivia face ao poder capitalista inerente. O modo como se trabalhava a tipografia segundo a cor, a forma, a espessura e a textura, foi um dos factores a destacar com relevância para o design gráfico, até à emancipação da tecnologia digital. O tratamento da tipografia terá sido um factor importante, porque na origem do Design, o suporte de criação visual era o impresso, apesar de rapidamente se ter adaptado à ferramenta digital.

Indexados a um pensamento pós-moderno, como todos os outros elementos figurativos do modernismo, o design atendeu às variadas demandas comerciais, excluindo (em parte) a individualidade do designer no seu estilo de trabalho, devido à pressão instalada no período da década de 70 e 80. Relativamente à tipografia desse tempo, foi adicionado ao código verbal de carácter interpretativo o uso da letra como base «gráfica» do aspecto visual da obra, segundo os princípios «estéticos» iniciados pelo Cubismo. Como referência exemplificativa da tipografia como objecto gráfico, contextualizado na fase pós- modernista do Design nos EUA, tem-se David Carson com a revista Ray Gun e a dupla Zuzana Lickos e Rudy Vander Lans através do estúdio de design Emigre Graphics, enquanto que na Inglaterra Neville Brody e, na Suiça Wolfganrt.

A crítica contra o capitalismo foi a directriz percussiva no desenvolvimento do design gráfico, adjacente ao período Dadaísta em relação aos movimentos anteriores do Cubismo e Futurismo. Desde os primórdios da história do Design Gráfico como actividade, até à sua actual vigência, será sempre de salientar a função do objecto como componente imprescindível da sua actividade projectual. Em analogia com a comunicação digital, a função do objecto também é a base residual e fulcral do que se pretende exteriorizar. Nisto,

para um projecto de programação visual a etapa principal a definir será a de comunicar uma mensagem, independentemente do seu teor artístico. Através dos elementos formais alcança-se a fruição do objecto. Citação, que de acordo com a escola alemã de psicologia experimental, a Gestalt, se valida conceptualmente desta ideia da «forma» como sentido de fruição:

“A arte se funda no princípio de pregnância da forma. E assim, no processo de criação de imagens, factores como equilíbrio, clareza e harmonia visual são imprescindíveis para o ser humano.”

Philip Meggs 14

Fig. 22 A influência do movimento dadaísta perdurará enquanto artistas e designers sentirem a necessidade de protestar, como evidencia o poster de 1966, do japonês Tadonari Yokoo. Hurlburt, A. (2002) Layout: o design da página

impressa. Nobel. São Paulo. p 23.

O movimento Dadaísta negou e desafiou a estrutura de representação racional em detrimento dos conceitos tradicionais. Segundo vários autores, este movimento artístico para além de um estilo foi um “estado de espírito” de forma anarquista. Inclusive, ajudou os designers gráficos a libertarem-se das restrições rectilíneas e a reforçarem a ideia cubista no uso da letra como uma experiência visual. Demonstrando ainda aos artistas gráficos o valor do humor e do chocante como a maneira de anular a «apatia» do observador perante «algo». Premissas posteriormente presentes nas influências surrealistas.

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