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5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.2 DADOS DO QUESTIONÁRIO PCAP

Alguns módulos do questionário da Pesquisa de Conhecimentos, Atitudes e Práticas na População Brasileira (2008) foram contemplados conforme suas temáticas (secções) mais relevantes para alcance dos objetivos deste trabalho.

A secção “conhecimento sobre transmissão do HIV e outras DST” foi contemplada no Bloco D com o título “Formas de transmissão de algumas doenças” que revelou dados preocupantes acerca desses conhecimentos por parte dos adolescentes. Verificou-se que 89% deles erraram pelo menos uma das cinco questões e, portanto, apenas 11% atenderam aos critérios (o acerto das cinco questões). Dessa forma, a maior parte dos adolescentes demonstrou conhecimento incorreto sobre a transmissão do HIV, sendo a maioria do sexo masculino. Tais resultados confirmam os da PCAP (2008) que constatou que apenas 57,1% da população brasileira de 15 a 64 anos acertaram as cinco questões, sendo sua maioria também do sexo masculino. A PCAP revela ainda que os menores percentuais desses acertos foram obtidos pelos jovens de 15 a 24 anos (BRASIL, 2011).

Na Tabela 3, observa-se o indicador de conhecimento e sua relação com a iniciação sexual. Apesar de não se ter obtido uma associação significativa, é importante observar que dos adolescentes que se iniciaram sexualmente, somente 10,8% apresentaram o conhecimento correto, o que denota um grande risco à saúde dos mesmos. Por outro lado, os dados apontam que a maioria dos alunos (57,1%) que possuíam o conhecimento correto não se iniciou sexualmente, o que pode denotar que o acesso à informação está contribuindo para o adiamento da primeira relação sexual.

Tabela 3: Associação entre o indicador de conhecimento e a iniciação sexual. Natal, RN, 2014.

Já teve relações sexuais

p Sim (%) Não (%) Indicador de conhecimento Conhecimento incorreto 74 (42,5) 100 (57,5) 0,977 Conhecimento correto 9 (42,9) 12 (57,1)

Fonte: Pesquisa de campo, 2014.

Observou-se também que entre as cinco questões que correspondem ao indicador de conhecimento correto sobre a transmissão do HIV, as que obtiveram maior número de respostas erradas, inclusive para aqueles que já se iniciaram sexualmente, foram: desconhecer que “ter parceiro sexual fiel diminui risco de infectar-se com HIV” e que “compartilhar talheres e copos pode transmitir o HIV”. De acordo com a PCAP (2008), essas também foram as duas questões com maior porcentagem de erro na população em geral.

Dos que se iniciaram sexualmente, apenas pouco mais de 12% discordaram que ter parceiro fiel e não infectado diminui o risco de contaminação pelo HIV, o que parece estar relacionado com a associação significativa entre iniciação sexual e “namorando sério”, como foi observado nesta pesquisa.

O percentual de desconhecimento de outras questões acerca da transmissão do HIV também chamou a atenção neste estudo, assim como revela a pesquisa PCAP (2008). Uma parcela significativa dos adolescentes, assim como a população em geral, ainda acredita que através do uso do banheiro público é possível contaminar-se com o HIV e desconhecem, de forma mais expressiva, que “o tratamento durante a gravidez diminui o risco de infecção para o bebê no parto” – 26,34% dizem não saber e 2,4% não concordam com a afirmação.

A seção prevenção e controle de DST esteve presente nos blocos E e G. O bloco E foi intitulado como “Doenças Sexualmente Transmissíveis” e apresentou os seguintes resultados: do total de adolescentes do sexo feminino, 33,3% realizou exame ginecológico nos últimos

três anos e, o mais preocupante, a maioria delas, 49,3% referem nunca ter realizado, 10,1% realizou quatro a cinco anos atrás e 7,2% diz não saber quando realizou seu último exame. Das adolescentes que referiram ter realizado exame ginecológico nos últimos três anos, apenas 10% diz ter realizado o papanicolau, exame preventivo de câncer, enquanto que as demais não o realizaram ou a maioria não sabe se realizou (16,7%).

Do total de adolescentes, apenas 26% referiram algum problema que pode estar associado à infecção por DST, como corrimento, verrugas e bolhas nos órgãos sexuais, sendo mais frequente no sexo feminino. Desses alunos, quase todos (23,4%) afirmam ter realizado algum tipo de tratamento. No entanto, a maioria refere que a primeira pessoa que procurou foi “outra pessoa” que não o médico (16,7%) ou o farmacêutico (4,8%). Daqueles que realizaram algum tratamento na última incidência do problema, somente 39,1% afirmam ter recebido orientações sobre o uso regular de preservativo, sobre a necessidade de informar ao parceiro (28,6%), sobre fazer o teste HIV (17,4%) e realizar o teste de sífilis (9,1%).

Por meio do bloco G (acesso a preservativos), verificou-se que 44% dos sujeitos receberam ou pegaram camisinha gratuitamente na escola, 36% no serviço de saúde e somente 7% em uma ONG (organização não governamental). Quanto ao preservativo feminino, 95% dizem que o conhecem mesmo só de ouvir falar.

Já a secção testagem de HIV, contemplada no Bloco F (Teste de HIV), revelou que 88% dos sujeitos nunca realizaram o teste para HIV. Daqueles que realizaram, 70% o fizeram nos últimos 12 meses, sendo que 61% o realizou apenas uma vez. Em relação ao teste rápido de HIV, cujo resultado é emitido na hora, somente 11,8% já o realizaram. O principal motivo para a realização do último teste para HIV foi atribuído à doação de sangue e apenas um adolescente foi motivado por algum comportamento de risco. Dos adolescentes que fizeram o teste para HIV, todos dizem ter obtido resultado negativo, com exceção de um que não quis informar o resultado. Quanto à doação de sangue, a maioria, 91% nunca doou. Apenas 30% do total dos participantes sabem de algum serviço de saúde onde o teste de aids é feito gratuitamente.

Por fim, a temática sobre práticas sexuais e uso de drogas estão contidas no Bloco H (Iniciação Sexual) e no bloco I (comportamento sexual). No que diz respeito à iniciação sexual, 42,6% dos adolescentes afirmam já terem tido sua primeira relação sexual, a maioria deles (81%) com 15 anos ou mais. A média de idade para a primeira relação sexual da amostra foi de 15,96 anos, sendo para o sexo feminino a média de 16,43 anos e para o sexo masculino 15,79 anos, ou seja, os meninos se iniciaram sexualmente com menor idade.

A literatura aponta que a média para a primeira relação sexual tem sido de 15 anos para ambos os sexos (BORGES; SCHOR, 2005; HUGO et al., 2011) e outros apontam para a média de 14 anos (CRUZEIRO et al., 2008; PAIVA et al., 2008). Entretanto, corroborando os dados encontrados, a maioria das pesquisas assinalam diferenças entre os sexos e apontam que os meninos se iniciam sexualmente mais cedo, geralmente antes dos 15 (GUBERT; MADUREIRA, 2008) e as meninas a partir dos 15 anos (VONK; BONAN; SILVA, 2013). Percebe-se, portanto, prevalência das influências culturais sobre a iniciação sexual masculina, mesmo em regiões do Sul e Sudeste do Brasil, onde ocorre a maioria desses estudos, contrariando a ideia de que o machismo na região Nordeste se sobrepõe às demais.

Quanto ao sexo seguro, mais da metade, 63,9%, refere ter feito uso da camisinha na primeira vez. Outros estudos evidenciam que na primeira vez o uso do preservativo tem sido mais frequente (GUBERT; MADUREIRA, 2008; PAIVA et al., 2008). Entretanto, verifica-se que quase 40% dos adolescentes participantes desta pesquisa apresentaram comportamento sexual de risco, ou seja, não praticou sexo seguro.

Quanto ao número de parceiros sexuais, 54,2% disseram já terem tido mais de um parceiro sexual e 17,8% mais de 10 parceiros. Apenas 14,6% referem já ter tido relação com pessoas do mesmo sexo. Desse percentual, apenas 3 adolescentes afirmam manter relações sexuais atualmente com homens e mulheres e 5 deles dizem manter apenas com o mesmo sexo.

No que se refere às experiências sexuais nos últimos doze meses, quase a totalidade (98,8%) manteve relações sexuais nesse período. Na última relação sexual, 63,7% dizem ter usado a camisinha. Nota-se, portanto, que não houve diferença significativa entre a porcentagem do uso de camisinha na primeira e na última relação, o que parece confirmar a literatura (TEXEIRA et al., 2006), quando evidencia que os comportamentos associados à primeira vez tendem a refletir o comportamento sexual ao longo da vida. De acordo com Paiva et al. (2008), é relevante e significativo o incremento no uso de preservativo na primeira relação sexual para diminuição da vulnerabilidade ao HIV, já que em sua pesquisa constatou que jovens que não usaram camisinha na última relação sexual apresentaram iniciação sexual mais cedo.

Em relação às experiências sexuais nos últimos 12 meses, 78,8% afirmaram ter mantidorelação sexual com parceiros (as) fixos (as), ou seja, namorado (a), noivo (a), esposo (a), companheiro (a). No entanto, 44,4% apenas dizem ter usado camisinha em todas as vezes, o que revela que ter parceiro fixo parece reduzir a preocupação em utilizar a camisinha.

Já os adolescentes que tiveram relação sexual com parceiros (as) casuais, ou seja, com paqueras, “ficantes”, rolos, nesse mesmo período de tempo, representaram 46,9%. Desses, 18,4% referem terem tido relação com mais de cinco parceiros casuais. Durante o período de 12 meses, 61,3% afirmam ter usado camisinha em todas as vezes com esses parceiros sexuais. Sobre já ter tido relação sexual com pessoas que conheceu na internet, 18,5% dos adolescentes afirmam que sim e que apenas um não utilizou camisinha na última vez com essa pessoa. Percebe-se então que adolescentes que praticaram sexo com parceiro fixo utilizaram menos o preservativo (todas as vezes) do que aqueles que praticaram sexo com parceiro casual. Por outro lado, um número significativo, quase 40%, praticou sexo inseguro com parceiros casuais, o que aumenta o risco de infecção por HIV/aids e outras DST.

Sobre hábitos e costumes, a PCAP chama a atenção para a relação entre práticas sexuais inseguras e o uso de drogas. Desta forma, foi perguntado aos adolescentes se eles concordavam com a afirmativa: “o uso de álcool ou drogas pode fazer com que as pessoas transem sem usar camisinha”. Do total, a maioria, 87,4% respondeu que sim e 7,1% disseram que isso já havia ocorrido com eles.

Sobre o consumo de drogas lícitas e ilícitas, observou-se que 74,4% já bebeu álcool alguma vez na vida e 26% bebe atualmente; 23% já fumou cigarro alguma vez na vida, enquanto que atualmente apenas 3% continuam; que 13,1% dos adolescentes já usaram maconha alguma vez na vida e 2% ainda usam e que 3% afirmam já ter cheirado cocaína e atualmente disseram não utilizar mais. Não houve afirmativa para o uso de cocaína injetável e crack.

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