3 METODOLOGIA
3.3 DELIMITAÇÃO E DESIGN DA PESQUISA
3.3.3 Dados: fonte, coleta, tratamento e análise
Por se tratar de um estudo de caso qualitativo e descritivo, os dados foram
coletados em diversas fontes, o que exige planejamento e preparação (YIN, 2005).
Neste trabalho os dados primários e secundários foram coletados
considerando: pesquisa documental, observação não participante, e entrevistas. Os
documentos são considerados primários quando produzidos por pessoas que
vivenciaram diretamente o evento que está sendo estudado, e, secundários quando
coletados por pessoas que não estavam presentes por ocasião da sua ocorrência
(GODOY, 1995b, p. 22).
A pesquisadora, além de fazer uso de documentos optou por um caso que foi
estudado em profundidade. Na análise, a pesquisadora buscou compreender as
características, estruturas e/ou modelos que estão por trás dos fragmentos de
mensagens tomados em consideração.
[...] Qualquer comunicação que veicule um conjunto de significações de um
emissor para um receptor pode, em princípio, ser decifrada pelas técnicas
de análise de conteúdo, ela parte do pressuposto de que, por trás do
discurso aparente, simbólico e polissêmico, esconde-se um sentido que
convém desvendar (GODOY, 1995b, p. 23).
O esforço do analista é então duplo: entender o sentido da comunicação
como se fosse o receptor normal, e, principalmente, desviar o olhar,
buscando outra significação, outra mensagem, passível de se enxergar por
meio ou ao lado da primeira (GODOY, 1995b, p. 23).
Foram utilizadas fontes primárias, a saber: slides utilizados nas reuniões de
validação das competências organizacionais e individuais, slides utilizados nos
workshops de implantação do modelo de gestão de pessoas por competência,
documento contendo o “jogo de competências” utilizado na fase anterior a aplicação
da avaliação simulada, lista dos avaliadores selecionados para realização das
avaliações simuladas das competências, avaliações simuladas das competências,
“[...] para uma análise do processo de avaliação de desempenho de uma empresa, o
exame dos formulários utilizados pode ser muito útil” (GODOY, 1995b, p. 23),
planilhas de tabulação das avaliações simuladas das competências, resultados das
avaliações simuladas das competências, documento contendo as observações dos
gestores sobre as avaliações simuladas das competências e manual de
desenvolvimento e avaliação de competências.
Além disso, foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com os gestores
da empresa. Do ponto de vista metodológico, é possível observar a aceitação da
entrevista como uma estratégia fundamental da investigação qualitativa (GODOY,
1995a, p. 61). A experiência vivenciada durante a implantação do modelo na
organização ofereceu aspectos relativos à observação não-participante do local e
dos entrevistados o que propiciou apreender aparências, eventos e/ou
comportamentos (GODOY, 2006).
A participação da pesquisadora como observadora não participante ocorreu
nos workshops de validação das competências individuais. Nesses eventos
participavam o grupo de modelagem, responsável por modelar e sugerir estratégias
de implementação do sistema, e o consultor externo. Esse sistema será detalhado
no capítulo cinco.
Segundo Godoy (1995b, p. 24), a utilização de análise de conteúdo prevê três
fases fundamentais: pré-análise, exploração do material e tratamento dos resultados.
A pré-análise pode ser identificada como uma fase de organização. Nela se
estabeleceu um esquema de trabalho com procedimentos bem definidos, embora
flexíveis. A segunda fase, de exploração do material, nada mais é do que o
cumprimento das decisões tomadas anteriormente. Cabe ao pesquisador ler os
documentos selecionados, adotando procedimentos de codificação, classificação e
categorização. Assim, num movimento contínuo da teoria para os dados e
vice-versa, as categorias vão se tornando cada vez mais claras e apropriadas aos
propósitos do estudo. A terceira fase do processo de análise do conteúdo é
denominada tratamento dos resultados e interpretação. O pesquisador condensa os
resultados em busca de padrões, tendências ou relações implícitas. Esta
interpretação deve ir além do conteúdo manifesto dos documentos, pois interessa ao
pesquisador o conteúdo latente, o sentido que se encontra por trás do
imediatamente apreendido.
[...] é importante ressaltar que a análise documental pode ser utilizada
também como uma técnica complementar, validando e aprofundando dados
obtidos por meio de entrevistas, questionários e observação (GODOY,
1995b, p. 25).
O momento da análise dos dados é um processo complexo que envolve
retrocessos entre dados pouco concretos e conceitos abstratos, entre raciocínio
indutivo e dedutivo, entre descrição e interpretação. São significados ou
entendimentos que constituem as constatações de um estudo. As unidades de
análise podem variar: alguns pesquisadores escolhem a palavra, outros optam pelas
sentenças, parágrafos, e até mesmo o texto. A forma de tratar tais unidades também
se diferencia, alguns contam as palavras ou expressões, outros procuram
desenvolver a análise da estrutura lógica do texto ou de suas partes, ou ainda,
concentram sua atenção em temáticas determinadas.
Nessa pesquisa, cada incidente identificado foi discutido em relação ao seu
impacto, às circunstâncias que o precederam e aos seus efeitos na percepção
individual do sujeito e no seu trabalho (GODOY, 1995c, p. 69). Na análise dos
conteúdos das transcrições, procurou-se identificar os temas comuns, comparados
com o objetivo de identificar similaridades e diferenças nas respostas dos gestores
entrevistados. A discussão do plano de análise dos dados deve ter diversos
componentes, pois consiste em uma extração dos sentidos de textos e imagens
(CRESWELL, 2007, p. 194). Envolve preparar os dados para análise, conduzir
análises diferentes, aprofundar-se cada vez mais no entendimento dos dados, fazer
representação dos dados e fazer uma interpretação do significado mais amplo dos
dados. Segundo Creswell (2007, p. 195-199), os passos utilizados na análise e
interpretação de dados em estudos qualitativos são os seguintes:
Passo 1 – Organizar e preparar os dados para análise, o que envolve transcrever
entrevistas, fazer leitura ótica de material, digitar notas de campo ou classificar e
organizar os dados em diferentes tipos, dependendo das fontes de informações;
Passo 2 – Ler todos os dados, onde um primeiro passo geral é obter um sentido
geral das informações e refletir sobre seu sentido global. Que ideias gerais os
participantes expõem? Qual é o tom dessas ideias? Qual é a impressão geral
sobre profundidade, credibilidade e uso das informações? Algumas vezes, os
pesquisadores qualitativos fazem anotações nas margens ou começam a registrar
considerações gerais sobre os dados nesse estágio;
Passo 3 – começar a análise detalhada com um processo de codificação, que é o
processo de organizar materiais em grupos antes de dar algum sentido a esses
grupos. Isso envolve tomar dados em textos ou imagens, segmentar as frases (ou
parágrafos) ou imagens em categorias e rotular essas categorias com um termo,
geralmente baseada na linguagem real do participante (conhecido com in vivo);
Passo 4 – Usar o processo de codificação para gerar uma descrição do cenário ou
das pessoas além das categorias ou dos temas para análise, o que envolve
fornecimento de informações detalhadas sobre pessoas, locais ou fatos em um
cenário. Os pesquisadores podem gerar códigos para essa descrição. Essa
análise é útil na elaboração de descrições detalhadas para estudos de caso,
etnografias e projetos de pesquisa narrativa. Depois, usa-se uma codificação para
gerar um pequeno número de temas ou categorias, talvez de 5 a 7 categorias para
um estudo de pesquisa. Esses temas são os que aparecem como principais
resultados nos estudos qualitativos e são expressos sob cabeçalhos separados
nas seções de resultado dos estudos. Eles devem mostrar perspectivas múltiplas
das pessoas e ser fundamentados por citações diversas e evidências específicas;
Passo 5 – Prever como a descrição e os temas serão representados na narrativa
transmitir os resultados da análise. Pode ser uma discussão que mencione uma
cronologia dos fatos, a discussão detalhada de diversos temas (completa, com
subtemas, ilustrações específicas, perspectivas múltiplas das pessoas e citações)
ou uma discussão com temas interconectados. Muitos pesquisadores qualitativos
também usam elementos visuais, figuras ou tabelas como complemento para as
discussões;
Passo 6 – um passo final na análise de dados envolve fazer uma interpretação ou
extrair significado dos dados, ou seja, quais foram as lições aprendidas, e se
captura a essência dessa ideia. Essas lições podem ser a interpretação pessoal
do pesquisador, expressa no entendimento individual que o investigador traz para
o estudo a partir de sua própria cultura, sua historio e suas experiências. Também
pode ser um significado derivado de uma comparação de resultados com
informações extraídas da literatura ou de teorias existentes. Dessa forma, os
resultados confirmam informações passadas ou divergem delas. Isso também
pode sugerir novas questões que precisam ser respondidas, questões levantadas
por dados e análises que o investigador não previu no começo do estudo.
(CRESWELL, 2007, p. 195-199).
O estudo de caso representa uma estratégia para pesquisa empírica
empregada para a investigação de um fenômeno contemporâneo, em seu contexto
real, possibilitando a explicação de ligações causais de situações singulares. As
chances de sucesso de uma pesquisa baseada no estudo de caso aumentam
significativamente tanto quanto seu design for bem feito. Ou seja, a constituição de
uma pergunta clara e objetiva, proposições orientadoras para o estudo, definição de
unidades de análise e definição de critérios de interpretação dos achados
alinhavados com o referencial teórico (YIN, 2005).
A validade do constructo e as definições conceituais e operacionais dos
principais termos e variáveis do estudo definiram o que se pretendia estudar. Para
alcançar a validação desse constructo, o cuidado com os aspectos internos e
externos foram tomados. A validade interna, ou seja, o estabelecimento de relações
causais que explicaram por que determinadas condições levaram a outras situações
(efeitos), ou seja, o teste da coerência interna entre as proposições iniciais,
desenvolvimento e resultados encontrados. A validade externa, que estabeleceu o
campo sobre os quais os resultados podem ser generalizados, que representou o
teste de coerência entre os resultados do estudo e resultados de outras
investigações semelhantes. E finalmente, a confiabilidade, que procurou demonstrar
que o estudo pode ser replicado. Neste caso, o protocolo do estudo de caso e a
base de dados do estudo são fundamentais para os testes de confiabilidade. O
protocolo é, portanto, uma estratégia que prevê os procedimentos e regras a serem
seguidos. A função do protocolo é servir como guia ao investigador, aumentando
assim a confiabilidade da pesquisa. O protocolo deve conter os seguintes
elementos: a informação sumária sobre o referencial teórico que sustenta o estudo e
o documento que informa aos entrevistados quais são os objetivos da pesquisa, e
suas questões orientadoras iniciais (YIN, 2005).