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4 CONTEXTUALIZAÇÃO

5.4 IMPACTOS NOS RECURSOS ORGANIZACIONAIS APÓS A MUDANÇA 128

5.4.3 Impactos nos sistemas e processos

O fato de o novo modelo de gestão possibilitar a existência de feedback foi

um dos principais impactos identificados. Não era prática difundida na empresa o

fornecimento de retorno com relação ao trabalho realizado, e isso sofreu drásticas

transformações após a implantação do modelo de gestão por competências,

afetando inclusive a produtividade da organização: “o grande diferencial é

exatamente esse, ele (o modelo de gestão por competências) possibilita a existência

do feedback. Isso faz com que ele (o funcionário) produza resultados melhores

devido a possibilitar uma troca de experiências e informações. A produção no meu

setor cresceu (80 para 200 chamadas, em média!).” (G7). Esse impacto, de acordo

com a categoria de recursos, pode ser considerado como um impacto nos sistemas

e valores da organização, pois foi o formato do aparato comunicacional que sofreu

profunda alteração. Além de modificar o formato comunicacional existente até então,

o modelo de gestão por competências incluiu na pauta de preocupações uma série

de assuntos que até então não eram abordados, entre eles questões de processo e

de resultado:

“nesse método de avaliação tinha questões que até então a gente não tinha

discutido. Essa ferramenta tinha questões contemplando a questão do tempo,

melhorias de processo, foco nas pessoas, por exemplo, e as tomadas de

decisão passaram a ser feitas com base nessas questões, procurando se alinhar

aos objetivos da organização. A gente entendeu que tudo aquilo que estava

descrito na ferramenta era o que era importante para a organização” (G1).

De acordo com a categoria de recursos que embasa essa pesquisa, os

recursos impactados estão relacionados à introdução de alguns fatores na gama de

preocupações e discussões dos gestores, podendo ser considerados enquanto

práticas de tomada de decisão, portanto sistemas e processos de tomada de

decisão, e ainda conhecimentos, habilidades e experiências, pelo fato de incluírem

novas informações no processo de tomada de decisão (MILLS et al., 2002).

Nos depoimentos dos gestores ficou evidente a despersonalização que houve

nos processos de tomada de decisão: “o modelo possibilitou acontecer a

despersonalização das tomadas de decisão, ou seja, a tomada de decisão apoiada

em uma base de informações possibilitada pela ferramenta de avaliação. O que é

fundamental. É a geração de uma transparência em todo o processo” (G8). O novo

modelo de gestão implicava na realização, em um determinado momento, da

avaliação das competências dos indivíduos/gestores (ZARIFIAN, 2001, p. 66), o que

gerou questionamentos pelo fato de não ser um procedimento com o qual estavam

acostumados: “dos dois lados estava o questionamento, como eu vou avaliar, pelo

que estou sendo avaliado?” (G5).

As ferramentas proporcionadas pelo modelo de gestão adotado realmente

parecem ter possibilitado a aproximação entre gestores e subordinados, bem como o

aumento da clareza nessas relações:

“a ferramenta tem ajudado a praticar uma coisa que na minha área é

importante, que é o olho no olho, as pessoas gostam muito disso, a área de

manutenção é muito sentimental. São pessoas difíceis de lidar e é preciso

saber entender isso. A ferramenta abriu as portas para que o diálogo aberto

fosse estabelecido. Isso dói, porque quando você abre essa possibilidade

você abre para a pessoa falar, as pessoas vão se queixar, mas você adquire

um entendimento sobre a situação” (G1).

A forma como passaram a ser tratadas as questões detalhadas pelos

gestores deixa clara a mudança no formato e no funcionamento dos

sistemas/processos após a implantação do novo modelo de gestão de pessoas.

Antes de existir a ferramenta de avaliação e as possibilidades de análise geradas

por ela, os sistemas e processos de controle do desempenho das pessoas eram

feitos de outras formas, muitas vezes incipientes. Após a implantação do modelo das

competências, sistemas e processos de controle e avaliação do desempenho, bem

como das demais dimensões do trabalho, abriram novas possibilidades para a

franca e aberta comunicação entre gestores e subordinados, facilitando o

entendimento: “no modelo de gestão por competência, as pessoas conseguem

saber o que será avaliado nela, e ela consegue avaliar qual a visão futura da

organização” (G7).

Na implantação da primeira etapa do novo modelo de gestão de pessoas, os

impactos gerados apareceram de forma confusa para alguns gestores:

“não sei se surtiu algum impacto proveniente dessa implantação, mas tivemos

impacto na gestão. Muitos gestores mudaram de posição, e muitas mudanças

ocorreram durante a implantação do novo modelo. O novo setor de processos

e de qualidade veio, com pessoas muito fortes gerindo, trazendo ferramentas

que ainda não tinham sido aplicadas. As pessoas passaram a trabalhar

visando a atingir resultados, metas, e quanto ao novo modelo de gestão, as

avaliações foram preenchidas e se esqueceu o assunto. Foi gerada uma

expectativa, mas não veio nenhum resultado” (G2).

Identifica-se aqui um impacto nos sistemas de gestão, pois os gestores

passaram a trabalhar visando atingir resultados.

A responsabilidade pela manutenção dos documentos exigidos pelo novo

modelo fez com que as pessoas se relacionassem com suas documentações

comprobatórias de forma completamente diferente do que vinha sendo feito. No

formato de gestão anterior não havia necessidade de se evidenciar as realizações

no exercício da função. Com a implantação do modelo de gestão por competências

isso passou a ser necessário, pois ao realizar a avaliação, sua ou de seu

subordinado, o gestor precisava comprová-la com evidências, e essas deveriam ser

concretas e pontuais, o que se demonstrava através de documentos: “o que eu

achei interessante nesse processo é definir as responsabilidades e fazer com que as

pessoas preparem a documentação exatamente de acordo com o que elas fazem,

que reflita o que elas fazem. Os processos e sistemas sofrem um impacto direto da

forma como são geridos os documentos” (G2).

Apenas um gestor afirmou que não houve impacto nos sistemas e processos

organizacionais: “a parte de processos mudaria bastante se a empresa começasse a

trabalhar com metas, hoje a gente vai dançando conforme vai a musica, mas não

houve impacto porque não houve continuidade” (G4).

A relação entre os aspectos tangíveis e intangíveis, presente na categoria de

recursos do modelo conceitual escolhido, sobressaiu-se nas entrevistas: “como o

intangível sofre impacto, esse impacto afeta as questões de processos, por exemplo,

quando o funcionário percebe que a opinião dele é importante, ele passa e externar,

com relação ao tangível. É uma conseqüência, você acaba ganhando em todos os

setores e é quase que imperceptível” (G5). Esse foi um dos pontos mais

interessantes, para a pesquisadora, detectados nas entrevistas.

Apesar de tratar dos recursos de processos e sistemas, não há como não

considerar a dimensão comportamental. Impactos resultantes de mudanças nos

sistemas e processos podem ser gerados por alterações nos comportamentos, e

vice versa: “sem dúvida impactou, a partir da implantação você começa a avaliar um

monte de coisas, te dá clareza, isso impacta um monte de sistemas, o

comportamento das pessoas” (G6). E considerando períodos de tempo variáveis, o

impacto é visível pelos gestores:

“creio que depois de algum tempo o impacto mude, mas agora está

acontecendo impacto nesse tipo de recurso (sistemas e processos). Os

sistemas estão melhorando, do mais simples até o mais complexo. Por

exemplo, desde o sistema de organização das pessoas até nos sistemas de

produção. Está acontecendo uma mudança certamente, claro que não

somente devido ao modelo de gestão por competências. Creio que a gestão

da Posigraf está mudando. Quando eu entrei aqui era tudo muito centralizado,