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CAPÍTULO IV – A REPRESENTAÇÃO DO GÊNERO E DA DOCÊNCIA NA

4.2 Dados obtidos na pesquisa

Ao término da pesquisa de campo, foi possível constatar que o material de apoio utilizado pelos alunos e alunas do Curso de Pedagogia18, para expressar suas representações em relação a gênero e docência, era constituído, sobretudo, por papel com desenhos infantis: folhas de cadernos que continham figuras de super-heróis, flores, personagens de conto de fadas, ursinhos, entre outros, como podem-se visualizar nos gráficos abaixo:

Material de Suporte - 1º Ano

30%

70%

Papel comum Papel Infantil

18 Os alunos participantes da pesquisa estão matriculados no período matutino e noturno do

Material de Suporte - 2º Ano

29%

71%

Papel Comum Papel Infantil

Material de Suporte - 3º Ano

43%

57%

Papel Comum Papel Infantil

Material de suporte - 4º Ano

67% 33%

Papel Comum Papel Infantil

Por meio dos gráficos, percebe-se uma porcentagem altíssima referente aos materiais com motivos infantis, utilizados pelos alunos na elaboração da atividade solicitada:

– 1º ano: 70%; – 2º ano: 71%; – 3º ano: 57%; – 4º ano: 33%.

Os gráficos indicam que as representações em papéis com motivos infantis vão diminuindo no decorrer dos anos do curso mencionado, isto é, constatou-se que no quarto ano apenas 33% dos discentes permanecem utilizando cadernos com desenhos infantilizados. Esses dados representam, de certa maneira, uma relação muito forte dos alunos e alunas com materiais infantis. Contribuindo com essa análise, Oliveira (2003, p. 300) afirma que,

Na sociedade contemporânea, crescem as pessoas que, ultrapassando o estágio adolescente, permanecem presas à casa paterna. Adultos se divertem com desenhos e cadernos infantis, músicas de roda, ursinhos na cama e tantos outros índices de imaturidade, de dependência, de heteronomia. Na França, vários sociólogos e psicólogos como Jean-Claude

Kaufmann, autor de Ego – debruçam-se sobre o que denominam “genération régression” constituída pelos

chamados “kiddults”, pessoas com trinta e tantos anos que, incapazes de assumir plenamente o status de adultos, mergulham nos entretenimentos da infância – mistos de adultos e crianças.

Complementando a idéia acima, Casali (2005, p. 16) afirma que A modernidade (ou pós modernidade, para quem a prefere designar assim) é a cultura do espetáculo, o mundo das imagens e representações […] Esse espetáculo oculta sua índole totalitária […]

Os autores permitem dizer que o aspecto infantil presente no material de suporte utilizado pelos discentes nos faz pensar que a infantilização da sociedade contemporânea é movida por paixões que são específicas de nosso tempo. Segundo Furedi (2004, p. 4),

O desejo compreensível de não ter aparência de velho (a) cedeu espaço à busca consciente da imaturidade. No passado, as pessoas queriam parecer jovens e atraentes, mas não necessariamente comportar-se como crianças. A obsessão atual por coisas infantis pode parecer um detalhe trivial, mas a saudade onipresente da infância entre os adultos jovens é sintomática de uma insegurança profunda em relação ao futuro. A hesitação em aderir à condição adulta pode refletir uma aspiração reduzida à independência, ao compromisso e à experimentação.

No que se refere à linguagem utilizada no trabalho de pesquisa, os alunos e alunas puderam expressar suas representações através de textos e desenhos, como podem ser visualizados nos gráficos abaixo:

1º ano Linguagem 33% 67% Só texto Texto e Desenho 2º ano Linguagem 41% 59% Só texto Texto e Desenho

3º ano

Linguagem

36%

64%

Só Texto

Texto com Desenho

4º ano Linguagem 50% 50% Só Texto Texto e Desenho

Percebe-se, pelos dados acima descritos, que a maioria dos alunos do 1º, 2º e 3º anos expressou suas representações por meio de desenhos. No entanto, os alunos do 4º ano utilizaram 50% da linguagem conceitual e 50% da linguagem representacional.

O desenho, enquanto primeira manifestação gráfica, estética e da cultura na história da humanidade, é uma das primordiais formas de expressão deixadas pelos vestígios e produtos culturais, contendo importantes revelações da luta do homem em manifestar sua evolução. Segundo Brasil (1987, p. 463), o desenho é

uma forma, quase arquetípica, que surge como forma de comunicar aspectos do mundo circundante, de sua experiência, sua memória e sua imaginação, em uma relação de espaço- tempo imediato. É um grande esforço de abstração, a partir da socialização e da comunicação, na tentativa de fixar, em um suporte físico duradouro, situado fora do seu próprio cérebro, fragmentos de suas percepções e experiências no mundo. Isso posto, quando identificada a expressão da linguagem através de desenhos, pode-se constatar que os alunos, em sua grande maioria, apresentam dificuldades de sistematizar suas idéias por meio de textos, utilizando, dessa maneira, a arte do desenho.

Foi possível constatar que todas as respostas dadas através dos textos e desenhos baseavam-se numa linguagem que pode ser denominada de senso comum. Gramsci (1984), ao referir-se ao senso-comum, relaciona-o à “Filosofia espontânea”, popular, peculiar a todos os homens, que está contida não só no senso comum, mas também na linguagem, no bom senso e na religião popular. Essa filosofia, situada ao nível do inconsciente, do pensamento desagregado e ocasional, é apenas uma concepção de mundo “imposta” mecanicamente ao homem pelo ambiente exterior, a qual ele aceita subalterna e passivamente e da qual partilha, no pensar e no agir acrítico, num determinado grupo social.

Esse sujeito descrito por Gramsci é o homem-massa, aquele que, não possuindo consciência do significado da sua própria ação, não pode avaliar criticamente sua forma de participação no processo histórico. Sua concepção de mundo, subalterna e heterogênea, reflete, fundamentalmente, os padrões impostos pela classe dominante e influi diretamente sobre sua ação, impedindo-o de agir de modo crítico e coerente.

Contribuindo com essa reflexão, Adolfo Sánchez Vásquez afirma que

senso comum é o ponto-de-vista do praticismo; prática sem teoria, ou com o mínimo dela. Na consciência de senso comum o prático - entendido num sentido estritamente utilitário - contrapõe-se à teoria. Esta se faz desnecessária ou nociva para a prática, o ponto-de-vista do senso comum docilmente de desdobra aos ditames ou exigências de uma prática esvaziada de ingredientes teóricos. Em lugar destes tem-se uma rede de preconceitos, verdades estereotipadas e, em alguns casos, superstições de uma concepção irracional (mágica ou religiosa) do mundo. Para o senso comum a prática se basta a si mesma (VÁSQUEZ, 1982, p. 13).

No entanto, os discentes do Curso de Pedagogia da Instituição pesquisada, para superar a linguagem do senso comum, tendo como parâmetro a teoria de Gramsci (1984, p. 16), necessitam buscar

a superação das paixões bestiais e elementares por uma concepção da necessidade que fornece à própria ação numa direção consciente. Seu desenvolvimento e sua transformação em algo unitário e coerente é que permite a ascensão do homem aos níveis mais elevados da cultura: o bom senso e a filosofia.

Em relação aos conteúdos presentes na coletada de dados, identificou-se que a predominância dos alunos em relação à representação de gênero e docência, teve como base dois aspectos: infantilização e feminização, o que pode ser percebido nos gráficos a seguir:

1º ano Conteúdo 40% 60% Femnização Infantilização 2º ano Conteúdo 37% 63% Feminilização Infantilização

3º ano Conteúdo 52% 48% Feminização Infantilização 4º ano Conteúdo 80% 20% Feminização Infantilização

Para os alunos do 1º e 2º anos, a representação do gênero e da docência está predominantemente marcada no aspecto da infantilização, isto é, 1º ano: 60% e 2º ano: 63%.

Já nos alunos do 3º e 4º anos do curso de Pedagogia, predomina o aspecto de feminização, ou seja, 3º ano: 52% e 4º ano: 80%.

Partindo desse pressuposto, serão analisadas a seguir as representações dos alunos e alunas no que se refere ao gênero e à docência.