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CAPÍTULO IV – A REPRESENTAÇÃO DO GÊNERO E DA DOCÊNCIA NA

4.1 Preliminares Metodológicas

Ao considerar que os alunos do curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Londrina possuem saberes, concepções e imagens sobre o gênero e a docência, que influenciam o seu ser e o seu fazer pedagógico, e que estes são construídos ao longo de um percurso escolar e profissional, abordou-se neste estudo a pesquisa qualitativa com alguns subsídios da pesquisa quantitativa, centrada na análise do discurso dos sujeitos pesquisados. Segundo Bogdan (1994), é essa metodologia qualitativa que melhor possibilita a compreensão das experiências e ações a partir das perspectivas dos sujeitos da investigação. Os dados qualitativos são designados por Bogdan como aqueles

ricos em pormenores descritivos relativamente a pessoas, locais e conversas. As questões a investigar não se estabelecem mediante a operacionalização de variáveis, sendo, outrossim, formuladas com o objetivo de investigar os fenômenos em toda a sua complexidade e em contexto natural […] privilegiam, essencialmente, a compreensão dos comportamentos a partir da perspectiva dos sujeitos da investigação, mas sem desconsiderar o espaço social onde esses atores sociais atuam e se interagem. (BOGDAN, 1994, p. 16).

A escolha do caminho a ser seguido ao longo de uma pesquisa representa, sem dúvida, importante passo para o sucesso do trabalho. Por se tratar de uma pesquisa de cunho social, optou-se, como melhor caminho para o seu desenvolvimento, a abordagem da pesquisa qualitativa, pois permite ao investigador maior aproximação ao fenômeno estudado, por meio da interação entre sujeito pesquisador e sujeito pesquisado.

Segundo André e outros (1999, p. 39),

É captando o movimento que configura a dinâmica de trocas, de relações entre sujeitos – que por sua vez reflete os valores, símbolos e significados oriundos das diferentes instâncias socializadoras – que se pode visualizar melhor como a escola participa do processo de socialização dos sujeitos que são, ao mesmo tempo, determinados e determinantes. Todo esse processo se materializa no cotidiano, quando o indivíduo se coloca na dinâmica de criação e recriação do mundo.

A compreensão de como os alunos do Curso de Pedagogia – totalizando 185 mulheres e 07 homens – compreendem a representação entre gênero e docência, presentes no currículo do Curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Londrina, convida a uma leitura para além das questões teóricas levantadas tanto pelos estudos de gênero quanto pelas teorias de currículo. Tal empreendimento necessita de uma abordagem que, baseada no referencial da teoria, alcance o domínio da práxis dos sujeitos em destaque.

Sendo assim, utilizou-se como metodologia a Análise do discurso. Essa teoria interessa, por possibilitar estudar as práticas de linguagem num terreno em que intervêm questões relacionadas à ideologia, à história e ao sujeito. (PÊCHEUX (1988, 1990) e ORLANDI (1989).

Desse modo, a Análise de Discurso (AD), segundo Orlandi (1989), não trata da língua, nem da gramática, embora todas essas coisas lhe interessem. No entanto, o objeto de estudo central é o discurso e sua forma de produção de sentido: “O discurso é assim palavra em movimento, prática de linguagem: com o estudo do discurso observa-se o homem falando” (ORLANDI, 1989, p. 15). A língua é estudada, portanto, enquanto “trabalho

simbólico” e entendida como constitutiva do homem e da sua história. A

linguagem materializa o discurso que possibilita a interação do homem com o mundo e a sociedade onde vive. Assim, para Orlandi, de modo fundamental, “o trabalho simbólico do discurso está na base da produção da existência humana” (ORLANDI, 1989, p. 15).

Para tanto, as dimensões que se configuram nesse estudo, embora não sejam, de forma alguma, momentos estanques, permitiram uma leitura dos dados da pesquisa à luz dos estudos teóricos sobre a Análise do Discurso e as representações dos alunos do Curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Londrina, que a embasaram. Denominaram-se-as, respectivamente:

• Material de Apoio; • Linguagem;

• Conteúdo.

O material de apoio refere-se às folhas de caderno que os alunos e alunas do Curso de Pedagogia utilizaram para realizar a pesquisa solicitada.

Em relação à Linguagem, teve-se como finalidade identificar como os alunos representavam a sua compreensão de gênero e docência, isto é, se era através de desenhos ou textos.

No que consiste ao conteúdo, o objetivo central refere-se à forma de representação dos alunos e alunas. Nesse momento, foi possível identificar uma aproximação do gênero e da docência com os aspectos de infantilização e feminização do magistério.

Faz-se necessário ressaltar que a análise de conteúdo fundamenta-se na capacidade de se produzir entendimento entre diferentes formas de discurso e linguagens heterogêneas, resultando na produção de um “texto” ou “desenho”, que é simultaneamente uma recriação do objeto interpretado e a tradução de uma internarratividade, na qual a “linguagem” do investigador também se faz sentir. Como refere Habermas (1987), a tradução é sempre uma produção que transcende a nossa individualidade e a dos outros, não podendo, por isso, ser exata, nem estabelecer uma mera correspondência entre códigos lingüísticos; a tradução incide sobre um todo que é a linguagem e sobre as práticas sociais a ela associadas, isto é, sobre as formas de vida e o seu sentido.

Não se tratando de produzir verdades científicas sobre a realidade educativa, o trabalho de tradução dos discursos empíricos, embora recorrendo a procedimentos técnicos, construiu-se, sobretudo, através da sua integração, numa prática argumentativa. A análise de conteúdo considerou, por isso, a importância de não dicotomizar a interpretação entre perspectivas estritamente estruturais ou subjetivas.

É imprescindível destacar que o estatuto epistemológico do material empírico não se fundamenta num monólogo, mas, sim, no diálogo que com ele se estabeleceu, questionando-o e deixando-se guiar pelo

questionamento que se provoca. Embora as formas de discurso em análise se revelassem profundamente heterogêneas, em termos da estrutura gramatical, semiótica e semântica, encontram-se na unidade temática, enquanto unidade mínima de significação, as possibilidades de adequar os procedimentos técnicos a essa heterogeneidade. A unidade temática foi identificada por núcleos de sentido capazes de possibilitar a configuração de indicadores e a produção de inferências, não coincidindo necessariamente com uma unidade léxico-sintática, podendo ser representada tanto por uma palavra como por um conjunto de frases ou até mesmo por uma imagem. A unidade de informação semântica foi identificada, não só pela sua inserção no discurso, mas também pela significação que adquiria pela sua inscrição na problemática que se ia constituindo.

A realização técnica da análise de conteúdo teve como parâmetro o material de apoio (folhas de cadernos utilizadas pelos alunos e alunas), que possibilitou aos discentes do Curso de Pedagogia a produção de textos (conceitual) e desenhos (representacional), referentes à representação que eles tinham a respeito das questões relacionadas ao gênero e à docência. Sobre a validade interna das categorias e quanto à sua exaustividade, foi analisada a totalidade do material empírico, codificando as unidades de significação que mais se destacaram na coleta de dados; são elas: infantilização e feminização.