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CAPÍTULO 4: PERFIL DOS PARTICIPANTES DA PESQUISA

4.1 Daisy, preta, 17 anos, família nuclear

Este capítulo inicialmente descreve os perfis dos alunos, apresentados na sequência em que as entrevistas foram realizadas, de modo a apresentar dados gerais como idade, modalidade de arranjo doméstico, condição econômica da família, escolaridade e ocupação dos pais, arranjos familiares, local de residência e cor da pele dos sujeitos, e cuja síntese pode ser vista nos quadros 1 e 2 abaixo. Algumas informações serão recuperadas e analisadas nos capítulos seguintes.

Daisy Amanda Sara Vanda Cíntia

Idade 17 17 18 18 18

Cor Preta Branca Preta Preta Branca

Arranjo familiar Nuclear Nuclear Recomposta Nuclear Matrifocal Tipo de escola em

que realizou o ensino fundamental

Pública Pública Pública Pública Pública

Ocupação do pai Pedreiro Empreiteiro civil Pintor Pintor Encarregado em indústria

Ocupação da mãe Do lar Revendedora comercial Auxiliar contábil Auxiliar de limpeza Proprietária de cantina

QUADRO 1 - Características socioeconômicas e familiares das participantes do sexo feminino

André Daniel Jonas Cássio Alan

Idade 18 17 18 18 18

Cor Pardo Branco Pardo Branco Preto

Arranjo familiar Nuclear Nuclear Nuclear Recomposta Nuclear Tipo de escola em

que realizou o ensino fundamental

Particular Pública Pública Pública Pública

Ocupação do pai Mandrilhador Motorista Pedreiro

Profissional liberal em eletrônica

Pedreiro

Ocupação da mãe Do lar Diarista Cuidadora de idosos Secretária Diarista

QUADRO 2 - Características socioeconômicas e familiares dos participantes do sexo masculino

4.1 Daisy, preta, 17 anos, família nuclear

Daisy foi, no primeiro contato, a mais solícita a participar da pesquisa. Explicou a escolha por um local público, uma sorveteria com poucas pessoas presentes no momento da

entrevista, por achá-la de mais fácil acesso para a pesquisadora, embora esta tenha insistido que não havia necessidade disso.

Porém após o término da entrevista, já com o gravador desligado, ela comentou que foi melhor termos conversado em local diferente da residência, pois lá estariam a mãe e a irmã e não teríamos um local silencioso e longe dos ouvidos das duas para conversarmos. Essa postura sugere que ela não se sentia à vontade para conversar com a pesquisadora sobre o curso em sua própria casa o que e levanta questões importantes acerca não só do espaço físico onde se realiza a entrevista, mas da necessidade de se falar com outro em local em que familiares não estejam presentes. Nesse sentido, essa escolha, que também ocorreu em outras entrevistas, remete a problemas metodológicos que precisam ser esclarecidos e aprofundados, e que serão retomados adiante.

Entre todos os entrevistados é a única que não reside na mesma cidade em que está situada a escola. Ela mora em uma cidade com 28.496 habitantes, com Índice de Desenvolvimento Humano Municipal de 0,725, conforme dados do IBGE (2010b), e que também integra a região administrativa de Ribeirão Preto.

Daisy mora com os pais e duas irmãs, uma mais velha de 20 e a outra mais nova de 15 anos. O pai, 43 anos, não completou o ensino fundamental e trabalha como pedreiro, sendo o único responsável pelo sustento da casa e com rendimento entre dois e três salários mínimos12. Ao definir sua condição socioeconômica, ao invés de utilizar os termos comuns como “pobre”, “rica”, “classe média”, “classe baixa” ela se apropria da expressão próspera, cunhando um sentido que condiz com as expectativas expostas por ela ao final da entrevista, o de alguém que busca o crescimento e o autodesenvolvimento.

A mãe, 40 anos, completou o ensino fundamental e não exerce atividade remunerada, porém já trabalhou como doméstica e, segundo Daisy, abandonou a profissão a pedido do marido, por ciúmes dele e também porque percebia que na cidade não havia valorização desse tipo de serviço. A irmã mais velha formou-se recentemente em técnica em Administração por uma instituição de Sertãozinho - não a mesma em que Daisy estuda - trabalhou no setor terciário em uma lanchonete, porém, desde que se formou está à procura de emprego na área administrativa. A mais nova cursa o primeiro ano do ensino médio em escola estadual na cidade onde a família reside e chegou a prestar prova para ingressar no Instituto mas não foi aprovada.

Daisy descreve bom relacionamento com todos em sua casa, porém em sua fala faz ressalvas à irmã caçula, com quem tem algumas desavenças, causadas por uma sensação de que a caçula tomou seu espaço.

A mais próxima a ela é a mãe, a quem se refere como sua melhor amiga, e de quem recebe conselhos e com quem tem mais liberdade para conversar sobre relacionamentos, amizades e problemas. Com o pai sua relação já é mais afastada, conversando com ele apenas o essencial, dado o fato de achá-lo mais rígido, e com isso se sentir acanhada em comentar determinadas coisas com ele. A família, no momento da entrevista, se reunia somente nos finais de semana. Devido ao horário do estágio e das aulas ela se encontrava durante a semana somente com sua mãe e a irmã mais velha no período da tarde, momento em que nem o pai e nem a irmã caçula estavam presentes.

No momento da entrevista, ela estava completando os créditos do estágio obrigatório para formação no curso técnico em uma empresa de automação industrial em Sertãozinho de forma não remunerada, na qual era responsável pela inspeção final da qualidade dos produtos fabricados. Essa contribuição da escola para o trabalho é, segundo ela, muito importante por permitir que os alunos conheçam a prática da profissão, além da oportunidade de ser efetivada pela empresa.

4.2 André, pardo, 18 anos, família nuclear

O local escolhido pelo participante foi o próprio Instituto, porém dada a grande quantidade de pessoas que circulavam nas áreas comuns e na falta de sala de aula vazia disponível, a entrevista foi realizada na praça em frente à escola.

A opção por ser entrevistado fora da residência dos pais repõe a postura de Daisy, primeira entrevistada, e recoloca a mesma questão. Por que esses dois adolescentes não quiseram ser entrevistados na casa dos pais? E novamente, a mesma questão é posta em causa para pontuar a recusa em falarem com a pesquisadora no espaço doméstico.

No início da entrevista foi necessária uma intervenção mais efetiva da pesquisadora, de modo a reformular as perguntas ou criar formas de instigar o participante a se aprofundar mais em suas respostas, uma vez que ele respondia de forma direta e vaga às perguntas formuladas. Porém, no desenrolar do processo, e estabelecido o diálogo, André conseguiu ficar mais à vontade para desenvolver suas respostas.

O silêncio de André remete a duas considerações. A primeira refere-se ao próprio trabalho da pesquisadora que, frente ao primeiro interlocutor do sexo masculino, pode ter