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CAPÍTULO 3: OBJETIVOS, METODOLOGIA E TRABALHO DE CAMPO

3.2 Metodologia

Esta pesquisa é fundada em metodologia qualitativa, cujos dados foram coletados mediante realização de entrevistas aplicadas a número pequeno de sujeitos, como é de praxe em tais pesquisas. Portanto, não se tem a pretensão de produzir dados de cunho estatístico que possam ser generalizados, mas procura-se compor um quadro empírico e interpretativo para se analisar uma situação específica vivida por alunos da quarta série do curso de automação industrial. Apesar de tal limitação derivada do número de sujeitos, deve-se ressaltar que a análise dos objetivos propostos contribuirá para melhor entendimento das influências familiares na escolha do curso técnico, das avaliações dos filhos diante das orientações parentais, das expectativas de pais e filhos diante do ensino técnico, do modo como estes últimos avaliam essa modalidade de ensino e quais são suas aspirações profissionais.

A coleta de dados foi feita por meio da realização de entrevistas gravadas e transcritas na íntegra, orientadas por um roteiro semi-estruturado (APÊNDICE A), elaborado a partir dos diversos aspectos que a pesquisa pretende examinar: perfil dos alunos, relações dos adolescentes com a família, com a escola, aspirações frente ao trabalho, expectativas futuras de iniciar atividade profissional e/ou de ingressar no ensino superior.

A utilização da entrevista permite estabelecer uma relação mais próxima entre a pesquisadora e os sujeitos da pesquisa, criando um rapport positivo que facilita a obtenção de informações. Além da entrevista a pesquisadora utilizou anotações em diário de campo com observações acerca do bairro, da moradia, quando a entrevista foi realizada na casa do participante, de sua postura e reações durante a entrevista e de seus eventuais questionamentos acerca da pesquisa. Essa forma adicional de coleta de dados permitirá compor um quadro de referências, comumente utilizadas em pesquisas de caráter qualitativo, que servirão de elemento auxiliar para melhor delimitar as condições socioeconômicas da família.

Paralelamente à coleta de dados com os alunos, um membro da gestão escolar da unidade de Sertãozinho, também foi ouvido e forneceu informações sobre a escola, os cursos e os alunos.

Após a finalização da coleta de dados, na fase final de análise dos resultados, foi realizado novo contato com os participantes para que eles se auto-identificassem de acordo com os critérios de cor estabelecidos pelo IBGE e também para responderem quais atividades estavam realizando após a conclusão do ensino médio.

A solicitação dessas informações após a realização das entrevistas foi motivada por duas considerações e para ampliar os dados coletados e a análise.

A primeira delas refere-se à cor da pele dos participantes. O critério cor não havia sido previsto como dado a ser coletado e incorporado ao material empírico e à análise. Por isso, não há nenhuma discussão teórica sobre a questão racial e sua relação com o processo de escolarização.

Em relação à cor foi escolhida a classificação utilizada pelo censo do IBGE, que utiliza os seguintes critérios de cor: branca, preta, parda, amarela e indígena e que se que se baseia na auto classificação dos sujeitos, conforme apontado por Osório (2003).

Como a seleção dos alunos foi feita de modo casual não houve preocupação em incluir ou não alunos não brancos. No entanto, após a entrevista constatou-se que havia quatro alunos brancos, dois pardos e seis pretos. Por isso solicitou-se aos sujeitos que se auto-

classificassem em função dos critérios do IBGE para que essa classificação não ficasse submetida à avaliação da pesquisadora e a um possível viés subjetivo.

A autoclassificação da cor de cada um deles foi, portanto, incluída como um dado a mais para identificação dos sujeitos e para indicar que a maioria deles não é de brancos. Todavia, não se tem a pretensão de submeter esse elemento a uma análise mais apurada, já que como exposto acima, não houve discussão teórica para embasar uma interpretação da predominância de não brancos.

Acrescente-se ainda que tal predomínio ocorreu em uma única sala do curso de automação industrial e não se tem a intenção de generalizar essa constatação para o conjunto de alunos do Instituto. De qualquer modo, considerou-se importante incluir a cor dos alunos como dado que poderá ser melhor investigado em outras pesquisas para se avaliar se a presença de pardos e negros também ocorre em outros cursos do Instituto e mesmo em outras escolas.

Cabe ainda considerar que a maior quantidade de alunos pardos e pretos surgida no decorrer da pesquisa remete ao que DaMatta (1981, p. 168) denominou de anthropological blues, ou seja, os fatos insólitos e imprevisíveis que emergem no trabalho de campo e que ampliam e enriquecem os referenciais empíricos abrindo novos caminhos interpretativos. Assim, é possível “(...) recuperar este lado extraordinário e estático [imprevisto] das relações entre pesquisador/ nativo.” (DAMATTA, 1981, p. 173). De modo semelhante, Fonseca (1999) também sugere que dados inesperados podem ser utilizados para alargar a análise dos temas pesquisados, introduzindo esses referenciais empíricos em novo corpo interpretativo.

Em segundo lugar, a solicitação para que os estudantes informassem se estavam trabalhando ou se haviam ingressado em algum curso superior também resultou do fato de que a análise dos dados ocorreu após eles terem concluído o curso no Instituto. Julgou-se importante oferecer tal informação para ampliar a análise.

Por se tratar de pesquisa com alunos que estão na faixa etária entre 15 e 17 anos, os pais ou responsáveis legais foram consultados para darem permissão a seus filhos para participarem da pesquisa. Foi explicado a eles, assim como aos adolescentes, os objetivos da pesquisa e a garantia de anonimato de seus filhos. Em seguida os pais ou responsáveis assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, em duas vias, uma das quais ficou em seu poder e a outra com a pesquisadora. Nesse documento constava o telefone da pesquisadora para contato com aqueles que o desejassem.

Os participantes menores de idade também assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e aqueles com 18 anos assinaram, eles próprios, o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Os entrevistados não serão identificados, já que seus nomes foram alterados a fim de se manter seu anonimato e sua privacidade e, ao longo da pesquisa, eles gozaram de total liberdade para interromper sua participação caso sentissem necessidade.

Este projeto foi enviado ao Comitê de Ética da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo e aprovado em 04 de março de 2013, conforme Parecer n°210.659 (ANEXO E).

3.2.1 Análise dos dados

Em um primeiro momento as entrevistas foram transcritas e analisadas de modo parcial, sendo levantados alguns aspectos relacionados aos objetivos propostos. Em momento posterior as entrevistas foram classificadas em dois eixos temáticos, família e escola, trabalho e expectativas analisados utilizando-se referenciais teóricos da sociologia da educação, apresentados na Introdução e no Capítulo 2. A análise procurou apreender os capitais cultural, econômico e social da família, como eles são transmitidos para os filhos, como estes efetuam a escolha do curso técnico e como organizam seus projetos quanto à futura carreira.

Procurou-se encontrar conteúdos em comum expressos pelos sujeitos, a fim de se organizar o conjunto das informações de modo integrado. Além dos conteúdos mais recorrentes e significativos das entrevistas, também buscou-se eventuais particularidades dos entrevistados, que os distinguissem dos demais. Esses elementos permitem caracterizar, por oposição, o conjunto dos sujeitos e ampliam o campo da investigação permitindo aprofundar a análise do material empírico. As notas do diário de campo contribuíram para complementar os dados das entrevistas, tanto oferecendo maiores informações obtidas nas entrevistas quanto relativizando as mesmas.

3.2.2 Sujeitos da pesquisa: critérios de inclusão e escolha dos sujeitos

Foram entrevistados dez alunos, cinco do sexo masculino e cinco do sexo feminino, matriculados na quarta série do curso técnico de automação industrial. A opção por alunos desta série é por ela corresponder ao último ano do curso e exigir estágio obrigatório em alguma empresa, o que coloca os estudantes mais próximos da realidade do mercado de

trabalho. Desse modo, partiu-se do pressuposto que os alunos cursando a quarta série já têm conhecimento do ensino que estão recebendo e das possibilidades oferecidas pelo mercado de trabalho além da possível escolha por outra alternativa, qual seja, de prestar vestibular para ingresso no ensino superior.

A inclusão de dois grupos baseada na diferença de sexo permite a análise comparativa dos afastamentos e aproximações que levam homens e mulheres a ingressarem no ensino técnico, a(s) forma(s) como a família influencia mais ou menos cada um desses grupos e as particularidades das expectativas em relação ao futuro de cada um deles.

Os sujeitos foram escolhidos de modo casual a partir da lista de alunos regularmente matriculados no curso de automação industrial e buscou-se respeitar o limite de idade de até 18 anos no momento da entrevista. A partir dessa listagem os sujeitos foram selecionados através de contato com alunos regularmente matriculados no último ano do curso de automação industrial do Instituto. Todos os participantes são de camadas populares apesar desse não ter sido um critério prévio de seleção dos sujeitos.