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3.3 – A dança como conhecimento a ser tratado na formação do Licenciado em Educação Física

A dança, conforme citado por diversos autores, é um dos conhecimentos a ser contemplado pelas aulas de Educação Física na escola. Entre esses autores podemos citar: Pérez Gallardo (2003); Coletivo de Autores (1992); Ehrenberg (2003); Sborquia e Pérez Gallardo (2002), entre tantos outros.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), por sua vez, não apontam diretamente a dança como um conteúdo e, sim, indicam que as “Atividades Rítmicas e Expressivas” é que deveriam estar contempladas nas aulas de Educação Física.

Não concordamos com tal documento por acreditarmos que seu conteúdo é contraditório e equivocado, pois no mesmo capítulo em que considera a dança como linguagem artística a ser contemplada pelos professores de Artes, o documento lista uma série de sugestões de “dança” a serem abordadas e, segundo ele, adaptadas para as aulas de Educação Física, tais como: “danças brasileiras: samba, baião, valsa, quadrilha, afoxé, catira, bumba-meu-boi, maracatu, xaxado etc.” (BRASIL, PCN – EDUCAÇÃO FÍSICA, 1997, p.53).

Dessa forma, partiremos do pressuposto que a dança é um conhecimento a ser contemplado na escola, como conhecimento da Educação Física. No entanto, para alguns autores, pode sofrer variações quanto à nomenclatura. Assim, entendemos que as disciplinas relacionadas à dança estão, ou deveriam estar presentes, nos currículos dos cursos de formação há muitos anos. O entrave é que elas nem sempre atendem, de fato, as necessidades do futuro professor, de modo a transcender um ensino técnico, pautado apenas em estruturas rítmicas. Não queremos aqui afirmar que estudar os padrões rítmicos não seja importante, mas acreditamos que as aulas que preparam professores para atuarem nas escolas deveriam se aproximar um pouco mais da realidade escolar e das necessidades reais do futuro professor.

Acreditamos que a dança, assim como os demais conhecimentos com os quais a Educação Física trabalha na escola, são expressões e representações do mundo e que o ser humano foi e é responsável por sua produção e transformação ao longo da história. Concordamos com Daolio (1998), quando afirma que esses conteúdos devem ser vistos como fenômenos culturais e não como expressões de natureza exclusivamente biológica do homem, ou seja, o que dá sentido a esses conteúdos é o contexto onde eles se realizam e isso deve ser levado em conta ao definirmos se determinada ação é digna ou não de um trato pedagógico. Dessa forma, no momento de sua aplicação, os alunos terão uma compreensão maior dos códigos simbólicos pelos quais os elementos culturais organizam-se e estruturam-se.

Antes de passarmos a analisar os currículos de formação junto à disciplina de dança, julgamos pertinente identificar o que consideramos como saberes necessários ao futuro professor para que ele sinta-se capaz de trabalhar a dança no contexto escolar.

Para abordarmos o tema proposto, é fundamental elucidarmos que somos sujeitos dessa história. Antes como professora de Educação Física, em escolas de ensino básico, que buscava contemplar a dança como conteúdo das aulas para além das festinhas comemorativas; e hoje, como professora em nível superior, atuando diretamente na formação de futuros professores junto a disciplinas relacionadas à dança.

Se, em pesquisa anterior, Ehrenberg, (2003) apontou que o aluno na escola deveria vivenciar os elementos da cultura corporal, tendo como objetivo principal que eles entrem em contato com esses elementos, entendemos então que o futuro professor deverá estar preparado para conseguir alcançar tais objetivos. Assim, o professor deverá possibilitar a incorporação de muitas técnicas específicas, permitindo a transferência do conhecimento aprendido para várias outras situações ou contextos nos quais o aluno vive. Podemos entender o professor como criador de processos metodológicos que busquem facilitar o ensino e a aprendizagem de seus alunos.

Após a pesquisa na dissertação de mestrado, pudemos conferir e comprovar a aplicabilidade de alguns conteúdos na escola junto à dança. (EHRENBERG, 2003). Acreditamos que os objetivos e conhecimentos necessários para a formação profissional do professor de Licenciatura de Graduação Plena em Educação Física devem ser os seguintes:

• Oferecer a oportunidade de vivenciar os diferentes conteúdos da dança, compreendendo as características das diferentes linhas desde sua gênese até suas modificações mais recentes;

• Proporcionar a vivência das diferentes formas de organização social, partindo do trabalho individual ao trabalho coletivo presentes nas diferentes danças;

• Proporcionar os conhecimentos acerca do domínio conceitual das danças; • Incentivar aos alunos a procurar variadas informações sobre as danças;

• Vivenciar o aumento da complexidade de integração grupal, discutindo e solucionando problemas acerca dessa questão;

• Oferecer sugestões e fomentar discussões que possibilitem a descoberta de formas de adequação dos conteúdos da dança à realidade da atuação profissional nos diferentes segmentos de ensino;

• Facilitar a integração dos conteúdos da dança para a formulação de composições coreográficas.

Como processos metodológicos, acreditamos que as vivências devam ser constantes, as experimentações devam fazer parte integral do processo até para possibilitar a quebra do paradigma culturalmente criado que considera, a dança, como conhecimento acessível a poucos. As discussões, leituras e vídeos também deveriam ser contemplados na formação, inclusive como processo norteador dessas vivências.

Lembrando das palavras de Kincheloe (1997), a possibilidade de refletir sobre a atuação deverá estar presente a todo o momento. A criticidade e discussão acerca do fenômeno cultural da dança devem fazer parte das aulas na formação profissional, pois só assim o futuro professor poderá estar liberto de algumas raízes e preconceitos fortemente estabelecidos socialmente.

Quanto às atitudes esperadas, essas não poderão se pautar por apresentações de modelos estereotipados e, sim, pela manifestação das experiências dos alunos, pela possibilidade de criação e interpretação dos conhecimentos oferecidos e vivenciados na aula, objetivando as possibilidades de tratarmos a dança como um conhecimento relevante ao contexto escolar. Como um dos exemplos possíveis, podemos citar a estruturação de um festival temático em que os alunos deverão, não simplesmente deverão elaborar composições coreográficas para apresentar, mas sim realizar toda a organização da estrutura prévia, as composições, além da avaliação pós- evento quando discutirão e analisarão as possibilidades de o evento estar inserido no contexto escolar. Acontecimentos dessa natureza podem ser facilmente incorporados à escola como resultado final de um processo em que é possível verificarmos a incorporação dos alunos frente ao domínio conceitual.

Entendemos que, dessa forma, seja possível agregarmos, às aulas de dança, sentidos e significados próprios da atuação profissional a que se destinam esses alunos. Por outro lado, em aulas desconectadas da realidade escolar, geralmente, os alunos que já possuem uma identidade com o conhecimento, envolvem-se e os demais, que não se identificam previamente,

continuam por resistir, deixando, muitas vezes, de transmitir esse conhecimento aos seus futuros alunos.

O que deve ficar muito claro para o aluno da licenciatura de graduação plena em Educação Física é que a dança é um conteúdo da área da Educação Física e que ele deve estar preparado para socializar este conhecimento na escola.