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Formação versus Atuação Profissional

5.1 – Análises dos questionários

Tema 3: Formação versus Atuação Profissional

A sexta e última questão, apresentada no questionário, solicita que os professores reflitam sobre suas reais necessidades na atuação profissional e que identifiquem os conhecimentos necessários para que a formação do futuro professor atenda essas necessidades. Identificamos que essa questão aborda, como temática, a relação entre a formação e a atuação profissional. Essa questão justifica-se, uma vez que identificamos que, em alguns momentos, a formação inicial dos professores não é tida como parte de um processo facilitador para as suas atuações como profissionais, apresentando conhecimentos estanques e distantes da realidade profissional.

A questão apresentada no questionário foi:

Quais conhecimentos relativos à Dança, você considera serem necessários para a atuação do professor de Educação Física, tendo em vista sua prática docente?

As unidades de significados, apresentadas a seguir, sugerem os conhecimentos que nossos professores pesquisados entendem ser necessários durante a formação do licenciado para que ele esteja preparado a inserir a dança entre seus conteúdos na escola. Importante lembrar

que os professores participantes dessa pesquisa, atualmente, exercem a docência da Educação Física no ensino básico; sendo assim, acreditamos que as unidades destacadas refletem suas vontades e reais necessidades frente às dificuldades que encontram em seu exercício docente.

Ressaltamos que alguns questionários apresentaram mais de um conhecimento necessário, portanto, a somatória das unidades de significado excede o número de professores participantes.

Conhecimentos sobre os ritmos.

- É necessário conhecer e saber trabalhar com o ritmo, com o tempo (...).

- Acredito que os conhecimentos básicos, uma razoável leitura musical e compreensão do que a melodia está transmitindo é suficiente para tal ação.

- Conhecimento dos ritmos, saber ouvir a música. - Os ritmos também (...).

- Noções de ritmo musical (...).

- Conhecimentos rítmicos, tipos variados de música e seus ritmos (...). - (...) Ritmos variados.

- A noção rítmica é a base, tem que ter, mais (...).

Metodologias de ensino aplicadas à dança.

- (...) saber metodologias para facilitar o aprendizado da dança de forma que as crianças gostem e contribuam para as aulas. É importante não saber receitinhas, mas sim como cativar, como estimular meus alunos. Esse “jeitinho” também pode ser aprendido.

- Metodologias do ensino da dança. Como trabalhar, estratégias.

- Acredito ser importante orientar sobre a vivência que trabalhamos com os alunos. O como fazer!

- É necessário aprendermos que não precisa ser bailarino para ensinar a dançar na escola.(...) Nem sempre a gente discute sobre como chegamos ao resultado da coreografia e principalmente se com as crianças aquilo daria certo.

- (...) visto que o professor de Educação Física não tem a função de formar nenhum Barishinikov, e sim de oportunizar aos alunos a vivência desse elemento. É preciso ensinar os caminhos para isso (...).

- (...) é necessário instrumentalizar o ensino. O que fazer com cada faixa etária?

Conhecimentos sobre elaborações coreográficas e os aspectos que abrangem sua formação.

- (...) saber montar coreografias (...). - Montagens coreográficas (...).

- Organização de formação coreográfica. Elaborar coreografias é o que mais se faz na escola. - Requisitos na elaboração de coreografias, de como adequar a música na coreografia.

Entendimento da dança como expressão corporal.

- Compreensão da expressão corporal (...) - Expressão Corporal.

- (...) a expressão corporal.

- As expressões corporais ritmadas.

Conhecimentos históricos da dança.

- (...) história da arte (dança, música, teatro) e assim por diante. - (...) história dos ritmos e da dança (...)

- História da dança, ritmos, danças étnicas (...)

Rodas cantadas.

- Cantigas de roda, rodas cantadas para trabalhar com os pequenos. - Danças e cantigas (...)

Danças regionais e comemorativas.

- Danças folclóricas, danças regionais (...)

- Justamente as danças que contextualizam as festas, (...) é exatamente isso que teremos que fazer na escola.

- As danças regionais(...)

Frente às unidades apontadas, temos, no Quadro 5, as categorias com as respectivas freqüências em que foram citadas.

Quadro 5 – Conhecimentos necessários para a formação do licenciado a partir dos docentes participantes.

CATEGORIAS

Somatória da freqüência encontrada

1 Conhecimentos sobre os ritmos 8

2 Metodologias de ensino aplicadas à dança 6

3 Conhecimentos sobre elaborações coreográficas e os aspectos que abrangem sua formação

4

4 Entendimento da dança como expressão corporal 4

5 Conhecimentos históricos da dança 3

6 Rodas cantadas 3

7 Danças regionais e comemorativas 3

As categorias acima, (Quadro 5), fazem com que nos deparemos com conhecimentos sugeridos pelos docentes de ordem tanto conceituais, quanto procedimentais e

atitudinais. Neste quadro, encontramos um roll de conhecimentos nem tão abrangente e nem tão diferente daquele que os profissionais disseram já terem tido em sua formação inicial. As categorias representadas pelos números 2 e 5 são as que mais se diferenciam dos conhecimentos apontados anteriormente.

Os professores evidenciam, com a categoria 2, que, como futuros professores, precisam, além de vivenciar as atividades propostas, compreender a ação metodológica para todos os segmentos de ensino, bem como para cada conteúdo a ser abordado.

“É necessário aprendermos que não precisa ser bailarino para ensinar a dançar na escola. Na faculdade rimos muito com as aulas em que todos dançavam. É preciso saber o que é a dança. O problema é que nem sempre a gente discute sobre o que foi feito, sobre como chegamos ao resultado da coreografia e, principalmente se com as crianças aquilo daria certo”. (Professor formado em 2006 pela Instituição C).

As estratégias metodológicas e a organização do processo de ensino e de aprendizagem da dança tornam-se necessárias para a formação de futuros professores. É importante que tenhamos uma reflexão pedagógica comprometida sobre as ações vivenciadas durante a formação. Não basta vivenciarmos as atividades propostas, mas sim entendermos os caminhos que levam ao resultado dessas atividades.

Não se trata de organizar um manual com receitas previamente testadas, mas as estruturas organizacionais das aulas devem ser discutidas, orientadas, estimuladas.

Sborquia e Pérez Gallardo (2006, p. 55) afirmam que:

[...] o ensino superior deve propiciar mais atenção ao currículo, às características organizacionais e às práticas pedagógicas que definem a formação inicial, dando importância à abordagem reflexiva na formação de professores, porquanto a formação dos docentes deve ter por principais finalidades os desafios e problemas concretos do seu trabalho cotidiano na escola, para uma renovação permanente da prática pedagógica.

Já a categoria 5, traz-nos uma conotação conceitual e que acreditamos trazer atitudes diferenciadas nos futuros professores. Compreender o valor histórico e cultural das atividades propostas pode propiciar uma valorização das manifestações. Fazer por fazer ou apenas reproduzir determinadas ações trazem pouco sentido à prática.

Conhecer e entender os sentidos e significados das danças propiciam um resgate histórico que valoriza nossa própria cultura e nos proporciona prazer em dar novos significados de acordo com nossas experiências.

Mas trazer este roll de conhecimentos não basta para contribuir nem tampouco garantir uma construção significativa junto aos conhecimentos da dança para o futuro professor. O trato com esses conhecimentos é que serão capazes de contribuir para uma formação diferenciada. Afinal, um mesmo conhecimento pode ser tanto trabalhado de forma emancipatória, quanto repressiva.

Cotidianamente, em nossa prática docente, deparamo-nos com a instrumentalização deste conhecimento e, frente a esse olhar, acreditamos na necessidade de uma formação inicial que realmente contribua para que o professor seja um profissional autônomo, crítico e capaz de transformar, constantemente, sua ação docente. Não é possível vislumbrarmos profissionais críticos se a formação inicial desses professores não priorizar tal ação.

Atribuir à formação de professores um caráter contínuo e sistemático significa aceitar que ela aconteça com freqüência e regularmente, desde as primeiras experiências da formação do futuro professor, até aquelas que se prolongam por toda sua vida profissional. (SBORQUIA e PÉREZ GALLARDO, 2006, p. 53).

Infelizmente, é corriqueiro percebermos que o senso comum que o acadêmico traz, ao entrar na faculdade, nem sempre é superado. Nem sempre, durante a formação inicial, o aluno é levado a refletir e a discutir sobre os conhecimentos expostos, não oportunizando, assim, que ele transcenda uma linearidade já trazida pelas suas experiências anteriores.

Acreditamos que a formação inicial do licenciado em Educação Física deva oportunizar conflitos cognitivos que leve o acadêmico a refletir sobre a realidade na qual está inserido e, a partir dela, que seja capacitado a resolver problemas.