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3. DO PERCURSO ESCOLAR DE JOVENS COM DEFICIÊNCIA: DAS CONDIÇÕES E CONTEXTOS GERAIS ÀS ESPECIFICIDADES DO IFES.

3.1 DAS CONDIÇÕES DO ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO BRASILEIRO DO SÉCULO

Esta subseção visa a trazer uma reflexão sobre a questão da inclusão escolar na realidade brasileira. O sistema escolar brasileiro está diante do desafio de alcançar a educação que contemple a diversidade da condição humana e no anseio de uma inclusão que se efetive na prática de forma harmoniosa, consideramos necessário compreender a política e aspectos de sua operacionalização.

Conforme Anjos (2011), apesar do crescimento expressivo da produção científica na área de Educação Especial, o conhecimento que vem sendo produzido parece ter pouco impacto na definição dos caminhos que as políticas educacionais para a escolarização de crianças e jovens públicos alvo da educação especial têm assumido no país. Se analisarmos as propostas das políticas inclusivas, veremos que estas ressaltam a necessidade de mudanças de ordem estrutural, que vão do micro ao macroambiente, inserindo nesse contexto a responsabilidade de todos e não atribuindo somente à escola o mérito pelo sucesso ou fracasso escolar. Nesse sentido, deverá haver um maior envolvimento de quem formula planos educacionais e políticas públicas.

Desde 2005 a Secretaria de Educação Especial/MEC vem apoiando a criação do serviço de atendimento educacional especializado (AEE). As salas de recursos no Brasil foram criadas nos anos 80, embora tenha começado a ser pensada na década de 70, tendo como objetivo atender as pessoas com algum tipo de deficiência que estavam frequentando o ensino regular. Portanto, historicamente, a constituição da sala de recursos se deu no Brasil no ano de 1980, configurando-se em uma alternativa ao processo de segregação que as pessoas com deficiências enfrentavam no cotidiano.

De forma abrangente, a constituição da sala das salas de recurso multifuncional visa atender as pessoas que estão frequentando o ensino regular, buscando expandir seu conhecimento, oportunizando que os (as) estudantes possam desenvolver suas capacidades a fim de superar as lacunas que ainda existem no ensino regular.

As salas de recursos multifuncionais fazem parte da ação do MEC, sendo desenvolvida com os estados e municípios, constituindo-se em um espaço para atendimento educacional especializado (AEE), tendo como objetivo oferecer suporte aos alunos com necessidades dos alunos público alvo da educação especial, favorecendo seu acesso ao conhecimento, possibilitando o desenvolvimento de algumas competências e habilidades próprias.

O papel do AEE é de oferecer procedimentos educacionais específicos de acordo com cada tipo de deficiência, ou seja, as ações são definidas de acordo com cada aluno, numa perspectiva de complementar e/ou suplementar suas necessidades educacionais, não se configurando em reforço escolar.

Os professores que atuam nessas salas devem participar de maneira colaborativa com o professor da classe comum para a definição de estratégias pedagógicas que favoreçam o acesso ao aluno com deficiência ao currículo e a sua interação no grupo, entre outras ações para promover a inclusão deste aluno. Podemos afirmar que a sala de recurso multifuncional não pode ser um mecanismo de segregação das pessoas com algum tipo de deficiência que se encontram matriculadas no

ensino regular, mas sim atuar no sentido de propiciar o acesso, sucesso e permanência de todas as pessoas que frequentam o ensino regular escolar.

Em síntese o que esta literatura indica é que o processo de inclusão parece não ser algo que simplesmente acontece espontaneamente, mas algo que requer pensamento cuidadoso e bastante preparo. Muito ainda não é conhecido, mas já se sabe que o impacto deste tipo de prática sobre a educação comum requer uma implementação cuidadosa, debatida e monitorada (BUENO, 2012).

Bueno (2012) aponta que grande parte dos escritos acadêmicos sobre as políticas de educação especial implementadas após a promulgação da atual Constituição Federal e, mais especialmente, após a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, consideram que essas legislações propiciaram avanços significativos nos processos de escolarização de alunos com deficiência. Conforme o autor, a ênfase dada à inclusão seria o ponto central desses avanços.

Conforme Bueno (2012, p.289), na busca de uma melhor operacionalização desse princípio o Conselho Nacional de Educação promulgou as Diretrizes Educacionais da Educação Especial na Educação Básica, em que se estabeleceu a inclusão escolar como forma preferencial de escolarização, mas abriu a possibilidade de encaminhamento para classes e escolas especiais para os casos em que se verificasse a impossibilidade (permanente ou temporária) de inclusão em classes regulares; essa Resolução estabeleceu os seguintes princípios:

– o sistema escolar deve assegurar condições necessárias para a oferta de educação de qualidade para todos os alunos, criar sistemas de informação para conhecimento da real demanda, bem como, setores responsáveis dotados de infraestrutura e de pessoal “que viabilizem e deem sustentação ao processo de construção da educação inclusiva”;

– a identificação dos alunos com deficiência deve ser efetuada pela equipe escolar, envolvendo o setor responsável, bem como serviços de Saúde, Assistência Social, Trabalho, Justiça e Esporte e, se necessário o Ministério Público;

– a inclusão demanda corpo docente qualificado, expresso pela formação de professores capacitados e professores especializados;

– a distribuição dos alunos com deficiência deve ser efetivada em diferentes salas de aula, dentro do princípio de educar para a diversidade;

– devem ser implementadas flexibilizações e adaptações curriculares que atendam as características específicas das distintas deficiências; e

– devem ser criados serviços de apoio pedagógico, para desenvolver atuação colaborativa entre o professor regente de classe e o professor

especialista, o que exige condições de trabalho diferenciadas para ambos os docentes.

Sobre as condições necessárias para a implementação da política de inclusão escolar, Bueno (2012, p.290) enfatiza que:

O primeiro requisito para se implementar, de fato, uma educação inclusiva de qualidade com relação a alunos com deficiência ou distúrbios refere-se à implementação de políticas que possam incluir a todos os alunos, ou seja, a busca de melhor qualidade de escolarização de alunos com deficiências ou distúrbios deve se subordinar à melhoria da qualidade do ensino em geral, na perspectiva de atendimento da diversidade do alunado que hoje.

De acordo com o autor, as pesquisas na área se restringem a descrever e constatar as dificuldades enfrentadas pelo professor regente em sala de aula, sem que se amplie a análise para as condições efetivas que os diferentes sistemas oferecem para que a inclusão possa ser efetuada com qualidade.

Sobre a questão da identificação e do diagnóstico, Bueno (2012, p. 290) chama nossa atenção para a seguinte constatação:

Ora, se boa parte de nossos estudos tem constatado a precariedade da formação da equipe escolar frente a esse alunado, como podemos considerar que a identificação desses alunos possa estar nela centralizada? Por outro lado, mesmo com essa precariedade, qual o apoio efetivo que a escola recebe, tanto do setor responsável pela educação especial do respectivo sistema, quanto dos serviços de saúde para essa identificação?

Bueno (2009) nos alerta para a necessidade da intersetorialidade entre as áreas da saúde, da assistência e da educação no sentido de se promover um atendimento coletivo e amplo, no sentido de atender não só as necessidades específicas do alunado publico alvo da educação especial, mas de todos os alunos da escola.

Sobre esse aspecto, Bendinelli (2012) destaca que no âmbito da educação, pouco se sabe sobre o que são e como se efetivam redes de apoio, uma vez que essa discussão é ainda escassa em nosso país, principalmente na área da educação especial. Em sua pesquisa a autora assume a rede de apoio compreendendo- a como “a articulação de diversas instâncias públicas e privadas, que possuem interface com a educação especial, por meio da institucionalização de trabalho intersecretarial para planejamento, implantação e avaliação de políticas públicas em

prol da inclusão escolar de alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação.”(BENDINELLI, 2012, p.25)

Desta forma, após investigar as formas com que o município de São Paulo, por meio de suas diferentes secretarias, organiza atendimentos a esse público-alvo e averiguar se tais ações se constituíram como redes de apoio, segundo o sentido dado em nossa análise, a autora chegou a conclusão de que os documentos legais analisados das Secretarias Municipais da Saúde, Assistência Social e da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida estabeleciam ações articuladas com a educação. Os resultados da pesquisa localizaram também, algumas redes de apoio pontuais que atenderam uma parcela restrita da população, não garantindo a cobertura e acesso aos direitos sociais do público-alvo da educação especial como um todo, e outras mais estruturadas, por parte da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo.

Neste contexto, cabe à Educação Especial enquanto área de conhecimento científico, aprofundar o conhecimento sobre o assunto produzindo mais e mais pesquisas sobre a temática da inclusão escolar, sem perder de vista que sua verdadeira missão é de investigar como prover a melhor educação possível para as crianças e jovens com necessidades educacionais especiais.

3.2 DO ATENDIMENTO EDUCACIONAL DO INSTITUO FEDERAL DE