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Das definições empregadas na pesquisa e categorias nativas

CAPÍTULO 1 – CONSTRUINDO A PESQUISA

1.1. Das definições da pesquisa

1.1.4. Das definições empregadas na pesquisa e categorias nativas

Outra questão fundamental diz respeito às categorias próprias do meio pesquisado e do tratamento que daremos a elas. Descrever fatos desse universo particular significa adentrar num rico léxico, detentor de denso repertório conceitual.

Por essa razão, muitos dos termos que empregarei são “nativos” e oriundos de diferentes origens: uns como situação de risco social e pessoal e vulnerabilidade social são do Serviço Social; outras advêm do Direito como Proteção Integral. Não tomo essas ideias como dadas, autoevidentes e procederei ao exame de algumas que considero interessantes para esse estudo. Umas analisarei mais detidamente, outras verei en passant, conforme a relevância para os objetivos deste trabalho. No entanto, em geral, tais categorias serão tomadas por empréstimo com seu significado êmico15,

sempre explicitado quando forem trazidas à exposição, uma vez que não nos propomos aqui a problematizar o repertório classificatório do meio pesquisado, mas mapear e estabelecer relações de causalidade ou afinidade entre certas representações simbólicas a serem delimitadas e outros elementos da realidade estudada que instigam nosso interesse.

Destarte, cada termo nativo será apresentado em itálico para demarcá-lo como tal. Há, pelo menos, mais uma razão pela qual destacarei a terminologia técnica e coloquial do campo de atendimento à infância e juventude. É evidente que é preciso nomear, classificar, categorizar, mas essas ações sempre incorrem em riscos para aqueles que as empregam de que por meio delas se opere “rotulações” e produção de estigmas para os que são alvo de sua ação classificatória. Exemplo disso é o conjunto de nomenclaturas elaborado historicamente para essa clientela até período bem recente. Estas classificações tiveram como sua marca a rotulação pejorativa e

15 A distinção entre categorias êmicas e categorias éticas é aqui buscada na tradição da Antropologia, na qual as

primeiras são conceitos lógico-empíricos de uso dos pesquisados, de caráter prescritivo, enquanto as últimas são as conceituações analítico-descritivas construídas pelo observador-pesquisador.

discriminatória. Como tal perigo é latente a tal exercício e pode em alguma medida se efetivar ainda hoje não me proponho a mesclar a terminologia daqueles que estudo com a da própria exposição de sua análise sob pena de incorrer no mesmo risco de reproduzir juízos de valor que venham a comprometer o distanciamento que se faz necessário buscar em uma pesquisa desse tipo.

Quanto às classificações feitas pelo meio investigado muito se avançou quanto ao tipo de rotulação a que me referi, entretanto, observando bem as expressões que suplantaram as do passado, os termos atuais expressam certa formalidade eufemista. Acredito que isso se deve, em parte, por conta da própria reflexão social que se processou sobre as categorizações precedentes, a partir de vários estudos já realizados.

Nesse processo de elaboração classificatória, parece-me que, inevitavelmente, ocorre mais uma maneira de dar forma, corporificar, certa negatividade presente em representações simbólicas e nos constrangimentos objetivos presentes nas situações vividas por aqueles que essa rede social examina e atende, como as situações de privação e de desproteção social.

Além da crítica feita sobre as formas de classificação de outrora, percebemos um consequente embate a essas noções que se faz na própria forma contemporânea de representar esses sujeitos de forma mais digna, o que só corrobora para se concluir que essas antigas formas de representação sobrevivem e lutam com as concepções hodiernas desse meio. Para ilustrar o que argumento, cito aqui que as reminiscências do período anterior ao advento do ECA são alcunhadas sob o termo de menorismo como referência a representação menor, identificada como estigma de criança e adolescente vinculado à situação de pobreza material, delinquência e abandono. Para que se nomear aquilo com que não se pode deparar? Pois tais concepções do passado em seu tempo já possuem um nome, a doutrina da situação irregular16, logo menorismo se refere a outra coisa: as

formas remanescentes dessa visão.

Grande parte dos mais importantes termos do meio pesquisado já foram apresentados e definidos acima, como educador social, educador de rua, situação de risco, todavia restam ainda dois termos essenciais que precisam ser esclarecidos quanto a como os tomo nesta reflexão. O primeiro deles é representações, que entendo com o sentido compartilhado pela tradição sociológica, que encontra nessa expressão o seu objeto maior de reflexão, sejam enquanto as representações coletivas e individuais a que Durkheim (1970, 1978) faz referência, ou simplesmente as representações a que Weber (1983, 2004) e Marx (1998) se referem. Em suma, tomo representações simbólicas como as ideações concebidas pelos indivíduos e grupos sociais em suas interações e atividades, acerca de qualquer elemento material ou abstrato que representem em suas consciências e que assim orientem suas ações e julgamentos.

16 Conceito jurídico da legislação de atendimento ao referido público, anterior ao ECA, que criminalizava a situação

Também quando mencionar o termo jovem como público-alvo dos pesquisados, estarei me referindo ao grupo etário conhecido como adolescente, destacando-o assim do grupo juventude, da forma como este é definido pela legislação brasileira, como a faixa de pessoas compreendida entre 15 e 29 anos17, o que abrange grupos etários que fogem à cobertura do Estatuto e deste estudo.

Os pesquisados atendem crianças e adolescentes, conforme a definição do ECA, logo seus assistidos possuem entre 0 a 18 anos incompletos, excepcionalmente inclui-se entre esses jovens com até 21 anos, conforme o próprio Estatuto os trata ainda como alvo de sua preocupação.

O termo vulnerabilidade social, apesar de já citado em nota de rodapé, merece maior atenção por ser usado ao lado de situação de risco ou simplesmente risco, como se fossem sinônimos, quando na realidade não trazem exatamente os mesmos sentidos, logo, parecem, mas não representam, necessariamente, a mesma coisa. Assim apresento aqui uma definição correspondente ao seu uso êmico, extraída de um material de instrução sobre as políticas de assistência social. Conforme esse material, vulnerabilidade social inclui

[...] vulnerabilidades decorrentes da pobreza, privação (ausência de renda, precário ou nulo acesso aos serviços públicos...) e ou fragilização de vínculos afetivos – relacionais e de pertencimento social (discriminações etárias, étnicas, de gênero ou por deficiências) (SILVEIRA, 2004).

Apesar do emprego de ambos os termos juntos, risco e vulnerabilidade, aparecem, vez por outra, como se referindo aos mesmos fatos e em outras vezes enquanto coisas diferentes. Senão, vejamos como exemplo, a definição de situação de risco, conforme Eisenstein e Pagnoncelli de Souza18, que afirmam que se trata de:

[...] uma circunstância que oferece risco a toda uma comunidade ou subgrupo social. Por exemplo, as más condições de esgoto de um determinado bairro colocam em risco toda esta população, da mesma forma a permissividade ao uso das drogas põe em risco todos os jovens de uma determinada comunidade. A situação de risco transcende ao comportamento individual (1993, p. 19).

Como podemos ver é grande a semelhança entre risco e vulnerabilidade, presente em cada designação em termos como pobreza, privação (ausência de renda, precário ou nulo acesso aos serviços públicos), em um dos termos e más condições de esgoto de um determinado bairro que encontramos na conceituação do outro. Podemos encontrar outro exemplo de como os termos são muito similares, nessa passagem abaixo, de outro trabalho, em que suas autoras buscam diferenciar ambas as definições. O seu próprio esforço em tentar a diferenciação entre os conceitos já decorre,

17

Definição vigente a partir da recente aprovação da Proposta de Emenda a Constituição n°138-a, PEC 138-A, a chamada “PEC da Juventude”, proposta que assegura aos jovens prioridade em direitos como saúde, alimentação,

educação, lazer, profissionalização e cultura. Extraído de: http://cjsbh-

cursos.blogspot.com/2009_01_01_archive.html. Acesso em 11.08.2010. 18

inclusive, da confusão que é feita entre ambos, acontecimento a que elas se referem em outras passagens do seu artigo.

Atualmente, o conceito de vulnerabilidade é entendido como algo dinâmico, multidimensional, polissêmico, transdisciplinar e qualitativo, amplamente utilizado em diferentes áreas do conhecimento. Abrange os diferentes níveis de complexidade, podendo favorecer abordagens integradas e contribuir para ampliar o diálogo entre diferentes profissionais.

O termo risco remonta à origem incerta e antiga. A partir do século XVI, o vocábulo passa a ter um emprego definido, ligado às transações comerciais no âmbito do direito marítimo. No entanto, esse conceito passou por transformações radicais ao longo do tempo, desde a sua conotação neutra, quando relacionado à probabilidade de ganho e perda. Na Idade Moderna, em torno do século XVI até a metade do século XIX, o sentido de risco foi largamente utilizado como sinônimo de perigo. Na atualidade, o risco passa a ter uma conotação moral, que leva o indivíduo a optar entre uma forma de vida e outra. Dessa forma, o conceito de risco alcança hoje praticamente todas as dimensões da vida e está além dos contextos biomédico-epidemiológicos e da saúde ocupacional. Na literatura, encontram-se vários estudiosos que tratam do assunto (GIRONDI et al, 2010, p.2).

Mesmo com o esforço das autoras, ainda se percebe grande semelhança entre os elementos de uma e de outra formulação. Um conceito (vulnerabilidade) é dinâmico, o outro (risco) passa por transformações radicais ao longo do tempo, da mesma forma o primeiro é multidimensional e o segundo alcança hoje praticamente todas as dimensões da vida, e assim por diante. Todavia, apesar de não terem apresentado grandes distinções, a não ser a de que risco estaria associado a uma conotação mais moral, delimitam que ambos os termos tratam de questões distintas, apesar de próximas. O momento em que os dois conceitos parecem ser melhor diferenciados no texto é quando afirmam que

o risco busca expressar as chances de adoecimento de um indivíduo, enquanto que a vulnerabilida- de expressa os potenciais de adoecimento/não-adoecimento relacionados a cada indivíduo, apre- sentando uma compreensão ampliada em relação aos fenômenos da saúde, envolvendo comporta- mentos individuais, questões subjetivas, condições sociais, políticas, econômicas e culturais, como também a oferta de serviços de saúde (Id. Ibid., p. 23).

Apesar da volta das aparentes repetições (chances, potenciais), vulnerabilidade aparece aqui como um termo que permite uma visão mais sistêmica, englobando todos os aspectos do indivíduo.

Ambos os trabalhos citados são direcionados à questão da saúde de crianças e adolescentes. Porém, apesar de, por exemplo, esse último trabalho se situar dentro dos debates da Enfermagem, trata sob enfoque diferente do mesmo conceito de que trato aqui, até porque os conceitos do campo a ser examinado aqui são em parte objeto de certa ascendência do campo da saúde sobre as políticas dirigidas a clientela dos educadores sociais. As autoras deixam claro que tratam do mesmo conceito vulnerabilidade de que trato, por exemplo, nessa passagem:

Entende-se que a vulnerabilidade às doenças e às situações adversas da vida, tais como acidentes, violência, riscos ocupacionais e ambientais, expande-se ainda de maneira diferente, segundo os indivíduos, regiões e grupos sociais, e relacionam-se também à pobreza, às condições socioeconômicas, ao nível educacional e ao local de moradia, entre outros (Idem, ibidem, p.23).

O termo vulnerabilidade, com o tratamento conceitual que ele confere ao objeto, parece- me estar se apresentando como alternativa à abordagem representada pelo termo risco, que ainda parece estabelecer conexões de sentido de forte cunho moral: risco enquanto perigo, não apenas a que o sujeito em situação de risco estaria exposto, mas perigo que ele também poderia representar a outros. O termo já possui histórico nesse sentido: grupo de risco, área de risco, população de risco.

Existe uma alternância “natural” entre termos para se referir a algumas mesmas classes de fenômenos, assim, durante as décadas de 60 e 70 ouviu-se muito falar em marginalidade na América Latina, nos anos 80 e 90 se trabalhou muito com a noção de exclusão. Nas discussões sobre a realidade socioeconômica, o conceito de vulnerabilidade vem sendo empregado cada vez mais em debates sobre empregabilidade e condições de trabalho no lugar da noção de exclusão social, à qual muitos autores vêm chamando a atenção para seus limites explicativos (MTE,/DIEESE, 2007, pp. 9-10). Mas o próprio estudo em que me baseio afirma que este conceito de vulnerabilidade é o mesmo que adquiriu, com o tempo, um papel destacado na análise das questões sociais em geral (Idem, ibidem pp. 10-11).

A partir das críticas aos limites do conceito de exclusão social, alguns estudos passaram a apontar a existência de uma “zona de vulnerabilidade”, formada seja por setores pobres que buscam alter- nativas para estar incluídos ou por setores médios empobrecidos que tem perdido canais de inclu - são. Para Castel, a vulnerabilidade social é uma zona intermediária instável que conjuga a precari- edade do trabalho e a fragilidade dos suportes de proximidade. Se ocorrer algo como uma crise econômica, o aumento do desemprego, a generalização do subemprego, a zona de vulnerabilidade dilata-se, avança sobre a zona de integração e elimina a desfiliação. Os estudos sobre vulnerabili - dade social, especialmente os que se aplicam à realidade dos países menos desenvolvidos, estão associados também à ideia de risco frente ao desemprego, à precariedade do trabalho, à pobreza e à falta de proteção social (Id., Ibid., p. 13).

Eu também destacaria como particularidade dos países industrialmente menos desenvolvidos, no tocante a aplicação do conceito de vulnerabilidade social, que estes trazem um contexto diferente do cenário europeu, na medida em que a discussão não necessita de uma crise ou outro tipo de mudança de impacto para que então a categoria mencionada entre em ação. Isso porque os problemas de que ela trata se apresentam, nesses países, via de regra, por outras razões: devido a processos históricos que remetem à formação dessas sociedades, devendo-se a ordenamentos socioeconômicos e culturais que legaram impasses e problemas estruturais específicos a esses povos, apesar de esses fenômenos estarem ligados a processos mais gerais e globais, que também apontam para problemas estruturais envolvendo todo o sistema econômico

moderno.

Curiosamente, também as especificidades desse grupo de países são reparadas e são argumentadas em favor do recurso ao conceito de vulnerabilidade social para o seu caso específico:

O conceito de vulnerabilidade, pela sua capacidade de apreensão da dinâmica dos fenômenos, tem sido, na opinião de muitos autores, apropriado para descrever melhor as situações observadas em países pobres e em desenvolvimento, como os da América Latina, que não podem ser resumidas na dicotomia, pobres e ricos, incluídos e excluídos. Neste sentido, o termo vulnerabilidade seria o que descreveria melhor a realidade dos mercados de trabalho e da sociedade dos países latino america- nos, conseguindo apreender o dinamismo do processo de desigualdade de forma mais ampla. (Gar- cia, 2006) (MTE,/DIEESE, Op. cit., pp. 13-14).

Quanto ao conceito de exclusão social, por considerá-lo transversal nessa discussão, até porque o alvo aqui não são os meninos em situação de rua, mas as representações de seus cuidadores, não insistirei nessa conceituação. O seu papel foi mais de situar as bases de um termo que permeia as representações do meio pesquisado e análises feitas sobre este mesmo.

Para encerrar, apresentarei uma última definição de vulnerabilidade, trazendo para demarcações feitas em nossa realidade particular, apresentando uma definição do conceito feita pela Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados e Estatísticas (SEADE), que construiu seu próprio indicador de vulnerabilidade denominado IPVS (Índice Paulista de Vulnerabilidade Social). Na elaboração do IPVS a vulnerabilidade foi concebida como uma “noção multidimensional, na medida em que afeta indivíduos, grupos e comunidades em planos distintos de seu bem-estar, de diferentes formas e intensidade” (SEADE apud MTE/DIEESE, 2001). Como se pode ver, essa definição se aproxima da apresentada por Girondi e outras autoras, mesmo cada uma sendo feita para contextos de pesquisa e em áreas de saber diferentes.

A amplitude de conceitos como situação de risco social e pessoal e de vulnerabilidade abarca tanto clientelas das instituições que pesquisamos quanto outras que não perfazem o perfil de atendimento que enfocamos. Existe um repertório de categorias do meio pesquisado que classifica diferentes tipos de vitimização que as crianças e adolescentes que as crianças e adolescentes podem sofrer. Abaixo reproduzo um quadro com essas categorias extraído de uma cartilha informativa publicada pela Secretaria dos Direitos Humanos do Ministério do Desenvolvimento Social sobre o Disque 100, serviço nacional de atendimento a denúncias sobre essas formas de violência.

Apesar dessa grande abrangência e indiferenciação que as expressões em questão encerram, as instituições e políticas sociais diferenciam muitos perfis dentro dessas categorias maiores. Alguns assistidos se encontram em mais de um desses perfis. Por exemplo, uns podem ser considerados em situação de rua, e se encontrarem nessa condição por abandono ou vitimização de violência, todas estas configurando também outras situações de risco, além da situação de se estar desabrigado e sem responsáveis, que já é uma situação de risco.

Gráfico 1 – Categorização nacional tecida sobre os tipos de violências cometidas contra crianças e adolescentes

Fonte: Cartilha Disque Denúncia Nacional (SDH, 2010)

Não posso também deixar de comentar que ambos os termos trazem implicações problemáticas. Vulnerabilidade pode trazer a pecha de “coitadinhos”, de dependência, como termos tais como carente, necessitado, desfavorecido, descamisado, que pode afetar negativamente a autoestima de quem é assim rotulado, estigmatizar esses grupos, além de se adequar a estratégias de resolução do problema por via meramente assistencial, que não vise à promoção social desses segmentos a uma condição de autonomia. O termo risco parece dúbio, pois a quem se refere? Quem corre risco? Aquele que é nomeado como nessa situação ou este é que representa risco para os outros? Sua dubiedade pode se comunicar no imaginário das pessoas a uma extensa família de representações que tomam os sujeitos desviantes como ameaça, tais como classes perigosas. A própria Equipe Interinstitucional, desmascarando tal ambiguidade e seu potencial alarmista, utiliza em seus e-mails e folder de apresentação a frase "criança não é risco é oportunidade".

Posteriormente, deparei-me com as formulações que dão conta da necessária distinção da amálgama de situações enumeradas por essas expressões e que fundamentam tal separação, às quais apresentarei agora. Primeiramente, a política social em questão é ligada ao campo da assistência social, e esta, a política de proteção social, se divide em proteção social básica e proteção social especial. A proteção social básica, segundo o Plano Nacional de Política Pública de Assistência Social – PNAS (2004, p.19) tem como objetivo prevenir situações de risco por meio do desenvolvimento de potencialidades e aquisições, e o fortalecimento de vínculos familiares e comunitários. E é direcionado a grupos que vivenciam situações de vulnerabilidade social do tipo

pobreza, ausência de renda, privação ou acesso restrito a serviços públicos, ou vítimas de discriminação étnica, de gênero, por razão de deficiência entre outras ou de fragilização de vínculos afetivos, no caso, presumivelmente, familiares e comunitários, principalmente. Finalmente uma diferenciação clara, na qual a vulnerabilidade envolve situações que antecedem as consideradas de risco, estas podendo se suceder a partir das fragilidades apresentadas na primeira condição, que é de menor gravidade.

Portanto, a proteção social básica possui essencialmente caráter compensatório, preventivo e pode se articular com a proteção social especial. Esta modalidade de proteção social pode abranger abordagem de rua e abrigos para outros públicos em outras situações diferentes dos enfocados aqui19.

Mas a modalidade que interessa aqui é a proteção social especial, definida no PNAS como a modalidade de atendimento assistencial destinada a famílias e indivíduos que se encontram em situação de risco pessoal e social, por ocorrência de abandono, de maus tratos físicos, e, ou, psíquicos, abuso sexual, uso de substâncias psicoativas, cumprimento de medidas socioeducativas, situação de rua, situação de trabalho infantil, entre outras.

Esta modalidade ainda desprende-se em duas: proteção social especial de média e de alta complexidade. O diferencial de um tipo para o outro é que o de média complexidade trata de sujeitos com direitos violados, mas estes ainda preservam laços familiares e comunitários, mesmo que fragilizados, tanto que a sua clientela pode ser só indivíduos como pode ser famílias, enquanto